O PROFISSIONAL DO FUTURO
24 de Janeiro de 2019, 19:08 - sem comentários aindaO PROFISSIONAL DO FUTURO - Michelle Schneider
TED’S TALK - FAAP….YOUTUBE. Jun/2018.
Especialistas prevêem que o profissional do futuro – daqui a 20, 30 anos – terá um perfil sofisticado, inteligente e técnico, mas também humano e emotivo… Muito ao contrário do que afirmam os brucutus da Escola Sem Partido…. Ele terá que ser mais humano, mais criativo e ter um pensamento crítico, democrático e social, trabalhando em equipe. (abstract).
A tecnologia vai excluir dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo…. Este é um problema global que afeta todo o planeta….muita gente não faz idéia do tamanho e importância desta cultura tecnológica que está para acontecer….. a mudança já começou e vai se intensificar demais nos próximos 10, 20 anos….. EM 20 ANOS 47% DOS EMPREGOS TERÃO DESAPARECIDO, segundo a Universidade de Oxford…… e não é só motorista, operadores de telemarketing e condutores…. Professores, médicos e advogados também estão nesta lista….um site de saúde nos EUA já recebem mais visitas do que todos os médicos americanos….. mesma coisa robôs resolvem conflitos na área de direito substituindo advogados e juízes…..O VATICANO CONCEDEU A PRIMEIRA LICENÇA DIGITAL em um aplicativo chamado CONFISSÃO ajudando as pessoas a se prepararem para confessar…. De um lado milhões de empregos estão desaparecendo…..muitos novos empregos vão surgir….mas existe um ponto….
Se olharmos para a trajetória da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL em que trabalhadores foram substituídos pelas máquinas….isto geralmente aconteceu em trabalhos de baixa qualificação….os trabalhadores agrícolas (que eram 80% das vagas de emprego) passaram a ocupar as vagas na INDÚSTRIAS….nas linhas de montagem…..QUANDO ESTES EMPREGOS DAS LINHAS DE MONTAGEM COMEÇARAM A SER AUTOMATIZADOS TAMBÉM…. Eles passaram da linha de montagem para os SERVIÇOS de baixa qualificação, que é onde eles estão hoje. ….OU SEJA, a economia sempre deu um jeito…. E o desemprego no futuro ? Inteligência artificial substituindo humanos em empregos de alta qualificação ? No futuro a exigência é de alta qualificação…. Isto faz com que o mundo caminhe para uma DESIGUALDADE jamais vista antes…. Porque os mais afetados serão as pessoas de baixa qualificação e de baixa renda…. E aí o que que a gente faz com tanta gente que vai ficar sem emprego ? Muita gente fala que a solução para isso seria criar uma renda básica universal….
Grandes nomes do Vale do Silício são a favor desta medida….forma de compensar o desemprego gerado pela automação….. MAS não está claro o que é universal e nem o que é básico…. Imaginem vocês que a IA vai excluir milhões de trabalhadores escravos em Bangladesh… quem vai pagar a renda básica deles ? Será que EUA e Europa vão recolher impostos para pagar renda básica dos habitantes de lá ? Isto não vai acontecer….. e o que é básico? Alimentos, educação ? E quem tem PHD ? O que compõem esta cesta é uma questão delicada. A gente está falando de uma enorme classe de pessoas ociosas… e ainda tem as questões que vão surgir, tipo stress, suicídio, etc. Que vão se agravar com a falta do que fazer…..
ENTÃO COMO A GENTE SE PREPARA PARA ESTE MUNDO QUE A GENTE AINDA NEM SABE O QUE VAI SER ?….. Afinal quais são os empregos do futuro ? Ainda não se sabe ao certo…. Mas há 12 anos atrás ninguém sabia que ia surgir o UBER, p.ex…. a gente ainda não tem como dizer quais serão os empregos do futuro.
65% DAS CRIANÇAS HOJE - ALUNOS DO ENSINO BÁSICO E MÉDIO - VÃO TRABALHAR EM PROFISSÕES QUE AINDA NÃO EXISTEM.. (Fonte: Forum Econômico Mundial)….. Mas então como as pessoas das Universidades se preparam diante de um futuro tão incerto ? Tem muita coisa acontecendo, muita coisa interessante…. p.ex. no Vale do Silício, existem escolas sem professores, crianças super dotadas que aprendem com projetos… etc…. Mas o que mais me chamou a atenção foi uma escola chamada Minerva School, eles tem um foco muito grande em desenvolver habilidades comportamentais de seus alunos….. foi a primeira vez na vida que eu ouvi dizer que as profissões do futuro não terão apenas habilidades técnicas…. e sim as habilidades comportamentais…. Uma vez que com a IA os robôs poderão aprender qualquer habilidade técnica….mas não tão cedo poderão desenvolver suas habilidades comportamentais…. O World Economic Forum reportou e apresentou quais seriam as 10 mais importantes habilidades do futuro e confirmou que todas elas sem exceções serão habilidades comportamentais….
VEJAM A LISTA DAS 10 MAIS IMPORTANTES HABILIDADES PARA O FUTURO:
1. Resolução de Problemas Complexos;
2. Pensamento crítico ;
3. Criatividade;
4. Lideranças e gestão de pessoas;
5. Trabalho em equipe;
6. Inteligência Emocional;
7. Julgamento e tomada de decisões;
8. Orientação a serviços;
9. Negociação;
10. Flexibilidade cognitiva.
Esse profissional do futuro vai ter que saber COMO pensar e não mais O QUE pensar. A maioria das universidades ensina o que pensar, mas não COMO…. Isto não quer dizer que não vamos desenvolver habilidades técnicas….vamos sim….e as chances das novas habilidades vão ter ligações com a tecnologia….
PORÉM o profissional do futuro vai ter que aprender para sempre…. Sempre se atualizando e aprendendo até muitas outras novas profissões…. Dizem que o profissional do futuro vai ter até 5 carreiras ao longo da vida…. Alvin Tofler disse que o analfabeto do século 21 será aquele que não souber aprender a reaprender, desaprender e aprender novamente….
Nós humanos hoje estamos ficando cada vez melhores em entender o cérebro e a inteligência…. As pessoas confundem INTELIGÊNCIA com CONSCIÊNCIA…. Inteligência é a capacidade para resolver problemas e consciência é a capacidade de sentir….A GENTE ESTÁ CRIANDO INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL MAS A GENTE NÃO ESTÁ CRIANDO CONSCIÊNCIA ARTIFICIAL… Em 2019 um computador vai se tornar tão inteligente quanto nós seres humanos… e em 2045 um único computador vai ser mais inteligente do que toda a humanidade junta…. PORÉM não há nenhum indício de que estes computadores vão se tornar CONSCIENTES… eles não vão poder sentir… porque é isso que vai diferenciar a gente do computador…. do robô… a gente está cada vez mais desenvolvendo nossas técnicas e esquecendo de olhar pra dentro da gente… cada vez mais nos cobram para ser mais competitivo, mais inteligente, mais técnico…. Mas ninguém ensina a gente a lidar com nossas EMOÇÕES….
SE A GENTE NÃO APRENDER QUE A FELICIDADE NÃO ESTÁ EM TER MAS TAMBÉM EM SER nós vamos continuar mais e mais robôs não humanos… não é preciso ter um robô para agir como humano… Quem será o profissional do futuro ? Pra mim o profissional do futuro vai sim desenvolver as habilidades técnicas mas se ele não desenvolver o seu perfil interno….a chance dele ter uma vida medíocre e infeliz será muito grande…. EM OUTRAS PALAVRAS O PROFISSIONAL DO FUTURO NADA MAIS É DO QUE O SER HUMANO DO FUTURO…. Como profissional eu, particularmente respondia demandas… demandas da sociedade, da família, do trabalho… menos as minhas…. Até porque eu não tinha a menor idéia de quais eram minhas próprias vontades… e só atendia as expectativas dos outros…. E HOJE QUANDO ME PERGUNTAM O QUE É QUE ME FEZ ACORDAR DE TUDO ISSO…. EU DIGO QUE FOI O AMOR…. O amor em perceber, descobrir e aceitar as belezas de minhas próprias imperfeições…...E vocês ?
OBRIGADA (Michelle Schneider).
A ELITE DO ATRASO - trechos do livro de Jessé Souza
5 de Dezembro de 2018, 20:09 - sem comentários aindaA ELITE DO ATRASO - trechos do livro de Jessé Souza.
(Livro: A Elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato. Um livro que analisa o pacto dos donos do poder para perpetuar uma sociedade cruel forjada na escravidão. Jessé Souza. Editora Casa da Palavra. Rio, 2017.)
RACISMO, CULTURALISMO E A TEORIA DA MODERNIZAÇÃO.
A colonização da elite brasileira mais mesquinha sobre toda a população só foi e é ainda posssível pelo uso, contra a própria população indefesa, de um racismo travestido em culturalismo que possibilita a legitimação para todo ataque contra qualquer governo popular.
Todo racismo, inclusive o culturalismo racista dominante no mundo inteiro, precisa escravizar o oprimido no seu espírito e não apenas no seu corpo. Colonizar o espírito e as idéias de alguém é o primeiro passo para controlar seu corpo e seu bolso.
No mundo moderno, a dominação de fato tem que ser legitimada cientificamente. Quem atribui prestígio hoje em dia a uma idéia é o prestígio científico, assim como antes era o prestígio religioso ou supostamente divino. É a ciência hoje, mais que a religião, quem decide o que é verdadeiro ou falso no mundo. Por conta disso, toda informação midiática, no jornal ou na TV, procura se legitimar com algum especialista na matéria que esteja sendo discutida. ….é a posse do que é tido como verdadeiro que permite também se apoderar do que é percebido como justo e injusto, honesto ou desonesto, correto ou incorreto, bem ou mal e assim por diante…...Não por acaso, a dominação do culturalismo racista é um efeito da dominação americana a partir do século XX…..o racismo cultural americano vai substituir – com enormes vantagens – o racismo fenotípico ou racial do racismo científico que vigorou no colonialismo europeu…
O novo racismo culturalista americano foi implementado como política de Estado e não foi deixado à ação espontânea de ninguém. A teoria da modernização recebeu dinheiro pesado do departamento de Estado americano sob o comando de Harry Truman no pós-guerra, para se tornar paradigma universal. A partir daí, a teoria da modernização americana virou uma espécie de coqueluche mundial. Milhares de trabalhos foram realizados nas duas décadas seguintes… e os EUA viraram modelo universal para o planeta. Todos os outros países eram uma espécie de realização incompleta desse modelo. ….. Mas no Brasil onde a comparação com os EUA foi a obsessão de todos os intelectuais desde o começo do século XIX, a elaboração de nosso culturalismo racista invertido (contra nós mesmos) foi realizada por mãos nativas...a elaboração de teorias racistas que nos rebaixam e humilham foi relativamente independente do movimento internacional…..
Assim enquanto na década de 1930, Talcott Parsons dava os primeiros passos em seu engenhoso esquema da teoria da modernização no mundo e construia a imagem dos americanos superiores como objetivos, pragmáticos, antitradicionais, universalistas e produtivos…..no Brasil a sua contraparte “vira-lata”…nossos pensadores mais influentes iriam construir o brasileiro como pré-moderno, tradicional, particularista, afetivo e com uma “tendência irresistível à desonestidade.”…. Gilberto Freyre foi a figura demiúrgica desse período…. Freyre foi o criador do paradigma culturalista brasileiro vigente até hoje dominado pelas falsas idéias da continuidade com Portugal e da emotividade como traço singular dessa cultura. ….Freyre literalmente construiu a versão dominante da identidade nacional em um país que, antes dele, não tinha construído nada realmente eficaz nesse sentido. … Sérgio Buarque de Holanda vai aproveitar todas as idéias de Freyre…. Todo o esforço de Freyre em ver aspectos positivos ou pelo menos ambíguos no que ele via como “legado brasileiro” foi invertido e transformado em unicamente negativo…. Sérgio Buarque constrói a idéia do “homem cordial” como expressão mais acabada do brasileiro…. O culturalismo racista, na versão vira lata de Buarque se torna o porta-voz oficial do liberalismo conservador brasileiro. …. a legitimação perfeita para o tipo de interesse econômico e político da elite econômica que manda no mercado e se tornaria a interpretação dominante da sociedade brasileira até hoje.
Sérgio Buarque ao negar Freyre, aceita a vira-latice do brasileiro como lixo da história de bom grado e degrada e distorce a percepção de todo um povo como intrinsecamente inferior. E ainda tira onda de crítico, seguido por cerca de 90% da intelectualidade nacional, por ter supostamente descoberto as razões da fraqueza nacional. O embuste se torna completo por ter também inventado o conceito mais fajuto e mais influente de todo o pensamento social brasileiro , que é a noção de patrimonialismo. O patrimonialismo defende que o Estado no Brasil é um alongamento institucionalizado do homem cordial e tão vira lata quanto ele. Abriga elites que roubam o povo e privatizam o bem público…. Essa noção é um contrabando malfeito da noção weberiana inutilizável no caso brasileiro…..mas esta noção se tornou dominante…. É a própria interpretação dominante dos brasileiros sobre si mesmo, seja na direita seja na esquerda do espectro político. ….os discípulos apenas repetem o paradigma….é a visão da singularidade brasileira a partir do homem cordial, do homem emotivo como negatividade e como potencialmente corrupto, já que dividiria o mundo entre amigos e inimigos e não de modo “impessoal”…. O Estado patrimonialista seria a principal herança do homem cordial e principal problema nacional. ….. está criada a ideologia do vira lata brasileiro, inferior, posto que percebido como afeto e, portanto, como corpo, opondo-se ao espírito do americano e europeu idealizado, como se não houvesse personalismo e relações pessoais fundando todo tipo de privilégio também nos EUA e Europa. …..
A emoção nos animalizaria, enquanto o espírito tornaria divinos americanos e europeus.
Como seres divinos os americanos seriam seres especiais que põem a impessoalidade acima de suas preferências, explicando com isso a excelência de sua democracia, assim como sua honestidade e incorruptibilidade. O capital do homem cordial é o capital de relações pessoais, ou aquilo que Roberto DaMatta, discípulo de Sérgio Buarque como quase todos, chamaria mais tarde de “jeitinho brasileiro”, uma suprema bobagem infelizmente naturalizada pela repetição e usada como explicação fácil em todos os botecos de esquina do Brasil. …. Sua explicação nega portanto a origem de toda a desigualdade que separa classes com acesso privilegiado aos capitais econômico e cultural das classes que foram excluídas de todo acesso a esses capitais.
Mas Sérgio Buarque cria muito especialmente a “Geni” brasileira….que seria o Estado sempre corrupto. O mercado é divinizado pela mera oposição com o Estado definido como corrupto, e sua corrupção tanto “legal” quanto “ilegal”, tornada invisível. Sérgio Buarque ao localizar a “elite maldita” no Estado, torna literalmente invisível a verdadeira elite de rapina que se encontra no mercado. O Estado se torna o suspeito preferido de todos os malfeitos…..essa idéia favorece os golpes de Estado baseados na corrupção seletiva…. Como acontece até hoje, essa concepção tornou possível fazer do mote da corrupção apenas do Estado o núcleo de uma concepção de mundo que permite a elite mais mesquinha fazer todo um povo de tolo. Todo brasileiro aprende na formação escolar a perceber o Brasil com os pressupostos envenenados desta teoria culturalista e da corrupção só no Estado e assim não perceber os reais problemas brasileiros. É por meio desses “óculos” composto por idéias que se tornam tão óbvias que não mais refletimos sobre elas, que não mais percebemos o mundo que nos rodeia.
Restou à mídia apenas o trabalho facilitado de selecionar contra quem seria mobilizado o ataque moralista conservador que nossos intelectuais construíram contra o povo e em benefício de uma ínfima elite….. Sem esse consenso intelectual prévio a mídia não poderia ter sido tão eficaz na sua obra de fraudar sistematicamente a realidade para a legitimação da trama do golpe de 2016.
A ESCRAVIDÃO MODERNA….O excluído, majoritariamente negro e mestiço, é estigmatizado como perigoso e inferior e perseguido não mais pelo capitão do mato, mas, sim, pelas viaturas de polícia com licença para matar pobre e preto. E essa continuação da escravidão com outros meios se utilizou e se utiliza da mesma perseguição e da mesma opressão cotidiana e selvagem para quebrar a resistência e a dignidade dos excluídos. O resumo dessa passagem dramática entre as duas formas de escravidão pode ser visto deste modo: como a escravidão exige a tortura física e psíquica cotidiana como único meio de dobrar a resistência do escravo a abdicar da própria vontade, as elites que comandaram esse processo foram as mesmas que abandonaram os seres humilhados e sem auto estima e autoconfiança e os deixaram à própria sorte. Depois, como se não tivessem nada a ver com esse genocídio de classe, buscaram imigrantes com um passado e um ponto de partida muito diferente para contraporem o mérito de um e de outro, aprofundando ainda mais a humilhação e a injustiça. Esse esquema funciona até os dias de hoje, sem qualquer diferença. Esse abandono e essa injustiça flagrante é o real câncer brasileiro e a causa de todos os reais problemas nacionais.
O Brasil passou de um mercado de trabalho escravocrata para formalmente livre, mas manteve todas as virtualidades do escravismo na nova situação. Os ex-escravos da “ralé de novos escravos” continuam sendo explorados na sua “tração muscular”, como cavalos aos quais os escravos de ontem e de hoje ainda se assemelham. Os carregadores de lixo das grandes cidades são chamados literalmente, de cavalos. O recurso que as empregadas domésticas usam é, antes de tudo, o corpo, trabalhando horas de pé em funções repetitivas, com a barriga no fogão quente, do mesmo modo que faxineiras, motoboys, cortadores de cana, serventes de pedreiros, etc. Uma classe reduzida ao corpo, que representa o que há de mais baixo na escala valorativa do Ocidente. ….essa mesma classe, do mesmo modo que os escravos, é desumanizada e animalizada. A ralé de novos escravos será não só a classe que todas as outras vão procurar se distinguir e se afastar, mas, também, vão procurar explorar o trabalho farto e barato.
NADA DE NOVO EM RELAÇÃO AO PASSADO ESCRAVISTA. Ela permite que todas as classes acima se sintam superiores a ela e possam explorá-la se possível sem limites legais. A reação violenta da classe média à lei das empregadas domésticas, que procura limitar e garantir direitos mínimos, comprova sobejamente o que estamos dizendo. A grande questão econômica, social e política do Brasil é a existência continuada dessa ralé de novos escravos….. A escola republicana igual para todos, conquistada pelos franceses a partir da Revolução Francesa, jamais aconteceu entre nós. Iniciativas como a escola de tempo integral de Brizola, foram destruídas no nascedouro com apoio da mídia elitista, como sempre, com a Rede Globo à frente. A tentativa light petista de melhorar minimamente as condições dessa classe levou ao golpe de 2016 com amplo apoio midiático da classe média e até de setores populares. ….. se um governo existir para redimí-los (a ralé de novos escravos) deve ser derrubado sob qualquer pretexto de ocasião. … pois é necessário continuar a escravidão com outros meios….. é isso que explica o golpe recente no seu conteúdo mais importante e mais assustador. … Por que nossa elite trata a ralé dos novos escravos como sub-humanos com tamanha violência material e simbólica e não os consideram seres humanos ? Essa é a principal herança da escravidão para o Brasil moderno….a naturalização de um ódio tão mesquinho em circunstâncias modernas…..essa é a grande questão brasileira do momento… nenhuma outra se compara a ela em magnitude e urgência.
A OPERAÇÃO LAVA-JATO foi desde seu começo uma caça aos petistas e a seu líder maior, como forma de garantir e assegurar a mesma distância social em relação aos pobres que não os torne tão ameaçadores como eles haviam se tornado com Lula. O maior perigo representado pelos pobres foi quando eles começaram a poder entrar para a universidade pública, reduto dos privilegiados da classe média, pois durante a administração do PT aumentou de 3 para 8 milhões o número de matriculados. Se não fosse essa a razão, o que faria os “camisas amarelas” ficarem em casa quietinhos, agora, em meados de 2017, quando a corrupção real mostra sua pior face ? Se fosse a corrupção que indignasse esse povo, o panelaço deveria ser ensurdecedor agora, não concorda, caro leitor ? É a seletividade da corrupção não só apenas no Estado, mas apenas dos partidos de esquerda, que querem diminuir a distância entre as classes sociais, o que verdadeiramente move e comove nossos “camisas amarelas”.
PATRIMONIALISMO E ESCRAVIDÃO. A noção de patrimonialismo passa a ser fundamental exatamente por sua imprecisão conceitual. Ela está no lugar da noção de escravidão e serve para tornar invisíveis as relações sociais de humilhação e subordinação criados nesse contexto. ….Somos nós brasileiros, portanto, filhos de um ambiente escravocrata, que cria um tipo de família específica, uma Justiça específica, uma economia específica. Aqui valia tomar a terra dos outros à fôrça para acumular capital, como acontece até hoje, e condenar os mais frágeis ao abandono e à humilhação cotidiana. Isso é herança escravocrata e não portuguesa. O patrimonialismo, percebido como herança portuguesa, substitui a escravidão como núcleo explicativo de nossa formação. Essa é sua função real. Por conta disso, até hoje, reproduzimos padrões de sociabilidade escravagistas, como exclusão social massiva, a violência indiscriminada contra os pobres, chacinas contra pobres indefesos que são comemoradas pela população, etc. O patrimonialismo esconde as reais bases do poder social entre nós…..uma noção do senso comum, uma noção absurda, mas tida como verdade acima de qualquer suspeita – a noção de que a elite poderosa está no Estado, com isso invisibilizando a ação da elite real, que está no mercado. O conceito de patrimonialismo serve para encobrir os interesses organizados no mercado. A real função da noção de patrimonialismo é fazer o povo de tolo e manter a dominação mais tosca e abusiva de um mercado desregulado completamente invisível.
A elite do atraso e seu braço midiático fazem parte, portanto, do mesmo esquema de depenar a população em seu benefício. É o que explica a constante necessidade de criar espantalhos para desviar a atenção do público do que lhe é surrupiado e explicar a penúria que seu saque provoca por outras causas. O espantalho da criminalização da política só serve para que a economia dispense a mediação da política e ponha seus lacaios sem voto e que se vangloriam de sua impopularidade vendida como cartão de visitas para a elite do atraso,…. Já o espantalho da criminalização da esquerda e do princípio da igualdade social só serve para que a justa raiva e o ressentimento da população, que sofre sem entender os reais motivos do sofrimento, percam sua expressão política e racional possível.
MÍDIA E BOLSONARO. Foi assim que a mídia irresponsável possibilitou e pavimentou o caminho para a violência fascista do ódio cego dos bolsonaros da vida. O ódio fomentado todos os dias ao PT e a Lula produziu, inevitavelmente, Bolsonaro e sua violência em estado puro, agressividade burra e covarde. Agora, uma população pobre e à mercê de demagogos religiosos está minando as poucas bases civilizadas que ainda restam à sociedade brasileira. Essa dívida tem que ser cobrada da mídia que cometeu esse crime. …. A conta do ódio aos pobres foi o empobrecimento de todos. Será que valeu a pena tudo isso para pagar salários de fome às empregadas domésticas e não ver mais pobres nos aeroportos, nos shopping centers e, principalmente, nas universidades ? Afinal, a educação, a saúde e a previdência, agora sucateadas pelo Estado capturado, abrem caminho para que essas áreas se tornem o novo negócio dos bancos…. Será que vale a pena tudo isso para manter os escravos no seu lugar ?
Daniel Miranda Soares é economista, ex-professor e mestre pela UFV.
Militarismo com neoliberalismo - tragédia no governo Bolsonaro.
6 de Novembro de 2018, 16:35 - sem comentários aindaMilitarismo com neoliberalismo, tragédia para a economia.
por Pedro Rossi* — publicado 24/10/2018 18h51, última modificação 24/10/2018 18h54.
Há uma nítida contradição entre o desejo do mercado financeiro e as promessas de Bolsonaro de fortalecer a segurança pública e as Forças Armadas.
A leitura do programa econômico do Bolsonaro aponta para dois eixos centrais e contraditórios. De um lado uma proposta de redução substancial do Estado, de outro, o militarismo. Essa combinação não deve atender às expectativas de ajuste fiscal, tampouco gerar emprego e crescimento econômico. Trata-se de um projeto de Estado máximo para a segurança e mínimo para os direitos sociais. Tudo para dar errado.
O militarismo é mensagem evidente no programa. São oito menções à palavra “guerra” e uma forte ênfase em um “Brasil livre do crime, da corrupção e de ideologias perversas”. Trata-se do que há de mais genuíno no projeto de Bolsonaro e teria tudo para ser prioridade em seu governo.
Diferentemente de Temer, que abraçou por inteiro a agenda do mercado financeiro, Bolsonaro teria um capital político a zelar e se lançaria em uma estratégia militarista com intuito de apresentar resultados aos seus apoiadores no campo da segurança publica e do combate à corrupção.
Para além dos custos humanos e sociais, esse militarismo tem um custo fiscal que vem do fortalecimento das carreiras ligadas à justiça e à segurança publica, investimentos em equipamentos, tecnologia e inteligência, e do aumento do encarceramento dada a dimensão da “guerra ao crime” e as propostas do seu programa de “redução da maioridade penal para 16 anos”, “acabar com a progressão de penas e as saídas temporárias” e a obsessão em “prender e deixar preso”.
O aumento de gastos públicos, para financiamento do encarceramento em massa e da guerra ao crime organizado, estaria em conflito permanente com a estratégia neoliberal. Sua viabilidade dependeria da revogação do teto de gastos ou de um forte corte de despesas nas áreas sociais, o que incluiria a desvinculação de recursos de saúde e educação e a exoneração de servidores públicos. Ambas as opções seriam custosas politicamente, seja pela desaprovação dos mercados financeiros seja por seus impactos sociais e políticos dadas as inevitáveis mobilizações contrárias.
A questão fiscal não se restringe ao teto de gastos. Do lado tributário, a reforma proposta geraria uma perda de arrecadação de 27 bilhões de reais por ano, considerando os cálculos de Sergio Gobetti. As pressões do lado do gasto com queda da arrecadação pressionariam o déficit fiscal e a dívida pública.
Nesse aspecto, o plano de usar as privatizações para abater a dívida dificilmente seria significativo dadas as resistências da ala nacionalista do militarismo, que levou o candidato a recuar quanto à privatização da Petrobras e Eletrobrás.
Mais uma vez, o projeto neoliberal entra em contradição com o militarismo e o mercado financeiro iria reagir toda vez que perceber que os ganhos com a venda do patrimônio publico não são assim tão significativos.
Por fim, não há, no horizonte de um eventual governo Bolsonaro, nada que aponte para uma recuperação consistente do emprego e da atividade econômica.
O gasto público estaria travado e comprometido com o militarismo, o consumo não reagiria significativamente à redução de impostos que beneficia principalmente os mais ricos e os investimentos em infraestrutura dificilmente sairiam do papel sem espaço orçamentário, apoio do BNDES e a depender apenas da atração de capitais estrangeiros. Dessa forma, o crescimento dependeria muito de uma improvável melhora substantiva no cenário externo para estimular as exportações.
Como consequência, o militarismo com neoliberalismo em um contexto de restrições fiscais é um projeto econômico contraditório, pífio em termos de resultados econômicos e que promoveria um aumento substancial da desigualdade social, em especial quando medida no acesso à serviços públicos essenciais como saúde e educação.
- É professor do Instituto de Economia da Unicamp.
REPRODUZIDO DO SITE CARTA CAPITAL.
https://www.cartacapital.com.br/economia/militarismo-com-neoliberalismo-tragedia-para-a-economia
Assessor de Trump atua em redes sociais na campanha de Bolsonaro
8 de Outubro de 2018, 20:28 - sem comentários aindaGuru da ultra-direita mundial e ex-assessor de Trump atua na campanha das redes sociais de Bolsonaro.
Divulgando fake news e material misógino, xenófobo e racista, Steven Bannon concentrou o movimento de extrema-direita nos Estados Unidos que resultou, entre outros incidentes, nos protestos supremacistas brancos na cidade de Charlottesville, em que fascistas desfilaram carregando rifles, suásticas e bandeiras carregadas de preconceitos contra as minorias.
E o que tem a ver esta história com as eleições no Brasil? Bannon, que atuou como estrategista-chefe de Donald Trump, e atualmente coordena um movimento para espalhar a onda conservadora de ultra-direita em partidos políticos na Europa, se encontrou em agosto com Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, e se tornou um “conselheiro” da campanha. “Bannon se colocou à disposição para ajudar. O suporte é dica de internet, de repente uma análise, interpretar dados, essas coisas”, disse Eduardo, em entrevista à revista Época. “O mesmo tratamento que tem o Trump lá é o que se dispensa ao Bolsonaro aqui. Todos esses rótulos e tudo mais. É praticamente a mesma coisa. Os dois brigam contra o establishment”, complementou o filho de Bolsonaro........Sr. Bannon afirmou ser um entusiasta da campanha de Jair Bolsonaro e certamente estamos em contato para somar forças, principalmente contra o marxismo cultural. (disse Bolsonaro filho no Instagram).
Cartilha de Trump na campanha de Bolsonaro
Em sua página no Facebook, o filósofo Rafael Azzi, afirma que as técnicas usadas por Bolsonaro seguem a cartilha criada por Bannon para Trump – e que vem sendo usada nos movimentos de extrema-direita em todo o mundo. “O Whatsapp é um aplicativo de mensagens diretas entre indivíduos; por isso, não pode ser monitorado externamente. Não há como regular as fakenews, portanto. Fazer um perfil fake no whatsapp também é bem mais fácil que em outras redes sociais e mais difícil de ser detectado”, relata.
Quando esteve à frente do Breitbart News, Bannon contratou a Cambridge Analytica. “Essa empresa conseguiu dados do facebook de milhões de contas de perfis por todo mundo. Todo tipo de dado acumulado pelo facebook: curtidas, comentários, mensagens privadas. De posse desses dados e utilizando algoritmos, essa empresa poderia traçar perfis psicológicos detalhados dos indivíduos”, conta Azzi.
Esses perfis foram analisados para ver quais pessoas estavam mais predispostas a acreditar em “teorias conspiratórias” contra o governo. “A estratégia seria fazer com que esse indivíduo suscetível a essas mensagens mudasse seu comportamento, se radicalizasse. Assim, indivíduos com perfis de direita e seu tradicional discurso “não gosto de impostos” foram radicalizados para perfis paranóicos em relação ao governo e a determinados grupos sociais. A manipulação poderia ser feita, por exemplo, através do medo: “o governo quer tirar suas armas”. Esse tipo de mensagem estimula um sentimento de impotência e de não ser capaz de se defender. Estimula também um sentimento de “somos nós contra eles”, o que fecha a pessoa para argumentos racionais”, diz o filósofo.
#EleNão
Segundo ele, a tática foi usada por bolsonaristas nos protestos convocados pelas Mulheres contra Bolsonaro, que causou um efeito reverso e fez com que o presidenciável subisse nas pesquisas de intenção de voto.
“Isso acontece porque, de um lado, a grande mídia simplesmente ignorou as manifestações e, por outro, houve um ataque preciso às manifestações através dos grupos de whatsapp pró-Bolsonaro. Vídeos foram editados com cenas de outras manifestações, com mulheres mostrando os seios ou quebrando imagens sacras, mas utilizadas dessa vez para desmoralizar o movimento #elenão entre as mais conservadoras”, relata.
Eduardo Bolsonaro, que havia encontrado com Bannon para acertar o apoio à candidatura do pai, foi quem acendeu o estopim, divulgando nas redes sociais um post em que dizia que “as mulheres de direita são mais bonitas que as de esquerda. Elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene”. Segundo Azzi, essa declaração “pode parece pueril ou simplesmente estúpida mas é feita sob medida para estimular um sentimento de repulsa para com o “outro lado””.
Como dialogar com eleitores do Bolsonaro?
Em seu artigo, o filósofo diz que não adianta confrontar os argumentos de bolsonaristas, tampouco acusá-los de serem parte de massa de manobra. “Ser chamado de manipulado pode ser interpretado como ser chamado de burro, o que só vai gerar uma troca de insultos improdutiva”.
Para ele, é melhor usar uma estratégia inversa. “Tenha empatia. Essas pessoas não são tolas ou malvadas; elas estão tendo suas emoções manipuladas e estão submetidas a uma percepção da realidade bastante diferente da sua. A única maneira de mudar seu pensamento é fazer com que tais pessoas percebam sozinhas que não há argumentos que fundamentem suas crenças e as notícias veiculadas de maneira falsa. Isso só pode ser feito com uma grande dose de paciência e de escuta”, relata.
Segundo ele, algumas perguntas podem ajudar. “Por que você acha que esse partido é tão ruim assim? Sua vida melhorou ou piorou quando esse partido estava no poder?”.
Caso a pessoa insista em mudar o discurso, atacando partidos ou posições de ativistas, como movimentos sociais ou feministas, Azzi afirma que é melhor encerrar a discussão.
“Não agrida ou nem ofenda, comportamento que radicalizaria o pensamento de “somos nós contra eles”. Tenha em mente que os discursos que essa pessoa acredita foram incutidos nela de maneira que houvesse uma verdadeira identificação emocional, se tornando uma espécie de segunda identidade. Não é de uma hora pra outra que se muda algo assim”.
Este artigo foi extraído da Revista Fórum, publicado em 8 de outubro de 2018......
Daniel Miranda Soares é economista e mestre pela UFV.
Questões da economia dos países dependentes segundo a Teoria da Dependência,
24 de Agosto de 2018, 19:11 - sem comentários aindaQUESTÕES ATUAIS DOS PAÍSES DEPENDENTES (Teoria da Dependência segundo o livro do prof. Mathias S. Luce.)
Vários autores na América Latina e em outros países do Terceiro Mundo, já analisaram as especificidades das economias subdesenvolvidas ou dependentes ou periféricas ou simplesmente economias em desenvolvimento como as economias da América Latina, África, Médio Oriente e Ásia. Existem várias teorias e muitos pontos comuns entre elas. Os economistas da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina, órgão da ONU sediado em Santiago do Chile, foram uma das correntes que mais desenvolveram estudos específicos. Entre eles podemos citar Celso Furtado, considerado o maior economista brasileiro, autor de vários livros considerados referência teórica e histórica. Sua primeira grande obra Formação Econômica do Brasil, foi um dos primeiros estudos mais aprofundados sobre histórica econômica do Brasil, publicado em 1959. Vários outros autores contribuíram também de forma decisiva para uma melhor compreensão de nossa realidade, entre eles Rui Mauro Marini e Vânia Bambirra. Marini é autor do clássico Dialética da Dependência de 1973, em que introduz uma análise marxista mais profunda sobre estas economias, aproveitando partes de estudos anteriores de outros autores, Ele, Bambirra e Theotônio dos Santos desenvolvem uma análise econômica mais integrada, aproveitando conceitos de Marx e Lenin e aprofundando os estudos das relações entre estas economias periféricas e as economias centrais, afirmando que o desenvolvimento destas economias estavam intrinsecamente inseridas dentro das relações entre fôrças produtivas e relações sociais de produção do sistema como um todo….Ou seja, um estudo do todo do sistema capitalistas e suas relações internas e externas. O livro do prof. Mathias Seibel Luce, Teoria Marxista da Dependência – problemas e categorias – uma visão histórica (editora Expressão Popular, São Paulo, 2018), aproveita todas estas análises, focando mais em Marini e desta forma atualiza as questões teóricas relacionadas à Teoria da Dependência.
Os autores aproveitam bastante das tabelas da Cepal para analisar a deterioração dos termos do intercâmbio que os analistas da TMD concebem como transferência de valor como intercâmbio desigual. Duas formas de transferência de valores são fundamentais para manter a dependência dos países periféricos: a deterioração dos termos do intercâmbio e a remessa de lucros, juros, royalties e dividendos. Aqui vai uma crítica contundente aos cepalinos: eles pregavam que a industrialização dos países dependentes seria uma solução por excelência para superar o subdesenvolvimento e a dependência. Para os autores da TMD existem quatro formas para a transferência de valor como intercâmbio desigual: 1) deterioração dos termos do intercâmbio; 2) o serviço da dívida (remessa de juros) como dependência financeira; 3) remessas de lucros, royalties e dividendos (como dependência tecnológica) por não controlarem as tecnologias e meios de produção necessários para uma série de mercadorias produzidas; 4) apropriação da renda diferencial e de renda absoluta de monopólio sobre os recursos naturais…. As transferências de valor provocam a reprodução ampliada da dependência, que mudam de forma e de grau historicamente, mantendo a dependência como elemento estrutural destas sociedades…
Por que a industrialização não promove o desenvolvimento dos países periféricos? Segundo a TMD, define-se como industrialização orgânica aquela que irradia os avanços de produtividade para o conjunto dos ramos e setores da produção e que desenvolve e complexifica a atividade industrial seja no setor I, seja no setor II (bens de capital)….Nossa industrialização não é orgânica ….nos países dependentes o setor I depende da importação de bens do setor II dos países avançados, por meio do mercado mundial, portanto depende também tecnologicamente destes setores, transferindo valores para isso. Os bens de consumo produzido pelos países dependentes são muitas vezes de consumo suntuário ( bens mistos como os automóveis) – bens de luxo. O traço característico da economia dependente é sua tendência a divorciar a produção das necessidades de consumo das amplas massas. A expansão da produção suntuária foi realizada à custa de um forte desequilíbrio intersetorial. No âmbito interno das sociedades latino-americanas foram se criando massas cada vez mais numerosas que se encontram excluídas do gozo dos frutos desse tipo de desenvolvimento. Em 1972, segundo a ONU 43% da população percebiam rendimentos inferiores a 180 dólares; e 27% da população total recebiam rendimentos inferiores a 90 dólares ao ano vivendo em situação de “indigência”. OU SEJA APENAS 30% DOS LATINO-AMERICANOS PARTICIPAVAM DOS FRUTOS DO PADRÃO DE DESENVOLVIMENTO QUE NOS FOI IMPOSTO. (Rui Mauro Marini).
Enfim, a distribuição intersetorial do valor pendeu para o lado que não possui a capacidade de irradiar efeitos para o restante da economia , ocorrendo a fixação da mais-valia extraordinária no subsetor produtor de bens suntuários e não sua conversão em mais-valia relativa, em que seu movimento seguiria o curso normal da tendência ao nivelamento da taxa de lucro.
É assim que uma contradição inerente à produção capitalista assume formas específicas nas economias dependentes. Segundo o prof. Mathias, uma outra característica das economias dependentes é a superexploração do trabalho. Ele analisa que mesmo com aumento de produtividade, o capital nestas economias ainda dispõe de outras formas para aumentar a exploração do trabalho, como p.ex.: 1) pagamento da força de trabalho abaixo de seu valor; 2) o prolongamento da jornada de trabalho além dos limites normais; e 3) o aumento da intensidade além dos limites normais. Um exemplo do primeiro é que em junho de 2017, o salário mínimo (SMN) era de R$937,00 (o oficial); enquanto que o salário mínimo ideal calculado pelo DIEESE estava em torno de R$3.727,00; ou seja quatro vezes o salário mínimo oficial. No segundo, geralmente a jornada de trabalho nos países dependentes é sempre maior do que a dos países avançados, além dos trabalhadores se submeterem a jornadas maiores que a jornada legal. Exemplo do terceiro é p.ex. na indústria automobilística mesmo quando houve aumento de produtividade (37 carros produzidos por hora em 1997 para 74 veículos por hora em 2005) como saber o quanto desse aumento se deve a maior composição técnica ou a maior intensidade? Em um desses anos 6 mil operários da GM foram afastados temporariamente por doenças laborais, representando 30% da fôrça de trabalho da empresa – é uma prova irrefutável da superexploração mediante aumento da intensidade. Isso sem falar que o aumento da intensidade aumenta também o número de acidentes de trabalho que no Brasil é muito alto. Entre 2002 e 2008 esse número dobrou, passando de 393.000 para 747.663 segundo dados do INSS.
Entre os fundadores da TMD, foi Vânia Bambirra quem mais se dedicou ao estudo das formações sociais, elaborando uma tipologia das fases de desenvolvimento das economias dependentes. Num primeiro momento ela tipificou duas configurações históricas comuns a América Latina. A primeira formações dependentes-exportadoras, que marcaram a economia da região desde as rupturas das ex-metrópoles e a formação do mercado mundial, que vai de meados do séc. XIX até o início do processo de industrialização (finais do séc. XIX), quando estes países dependiam basicamente de exportação de produtos primários (minerais e agrícolas) para satisfazer demandas em crescimento dos países avançados. Depois como formações dependentes-industriais, naqueles países que passaram por um processo de industrialização, nos marcos da condição de dependência. Na fase industrial, ela estabeleceu três tipos: tipo A, países que iniciaram a industrialização a partir das últimas décadas do séc. XIX e desdobraram-no a partir da crise de 1929: Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia e Uruguai.; tipo B, países que iniciaram seu processo de industrialização a partir da Segunda Guerra Mundial, controlado pelo capital estrangeiro monopolista; e tipo C, países que não atravessaram um processo de industrialização propriamente dito, embora possam abrigar indústrias. Para Bambirra apenas os países tipo A houve um conjunto de transformações que levou ao surgimento de uma burguesia vinculada ao mercado interno. Esta tipologia da industrialização dependente é complementada pela abordagem do padrão de reprodução do capital, esboçado por Marini e Jaime Osório. De acordo com Jaime Osório existiram e existem quatro padrões: 1) padrão agromineiro-exportador; 2) padrão industrial internalizado; 3) padrão industrial na fase de integração ao capital estrangeiro; e 4) novo padrão exportador de especialização produtiva.
O Padrão industrial Internalizado vigorou entre 1930 e meados de 1950 nas economias tipo A. No Brasil já a partir de 1931. Com a diminuição dos laços de dependência entre as crises de 1929 e a 2ª G.M começa a produção de produtos industriais indisponíveis no mercado mundial, com a produção industrial voltada para o mercado interno, e consequente afirmação hegemônica de uma burguesia industrial e atuação estatal a seu favor. O Estado atua criando a Petrobrás, a siderúrgica CSN, a CHESF enfim, bens intermediários necessários ao processo industrial e já no ano de 1957 a indústria supera a agropecuária no PIB. Esse modelo se esgota e a partir de meados dos anos 1950, fazendo emergir uma nova cisão que se materializa sob o padrão industrial diversificado na fase de integração ao capital estrangeiro . Tendo necessidade de passar a nova fase de industrialização para produzir máquinas e equipamentos, setor II, o Estado e o capital industrial se associa ao capital estrangeiro que assim acelera a monopolização e controle da indústria manufatureira pelo capital externo nos ramos mais dinâmicos. Esse desenvolvimento associado e integrado ao imperialismo promove redistribuição regressiva da renda; incremento da superexploração em suas diversas formas; incremento das transferências de valor nas formas das remessas de lucros, royalties e dividendos e do serviço da dívida, a qual no início dos anos 1980 assumiria dimensões explosivas, marcando o fim deste padrão de reprodução com o acontecimento chave que foi a crise da dívida.
Entre os anos 1980 e 1990 teve origem a um novo padrão exportador de especialização produtiva que vigora até hoje. Esse novo padrão marcou o fim do padrão industrial em suas diversas etapas (internalizada e autônoma; diversificada) que prevaleceu na AL entre as décadas de 1940 e meados da de 1970 nas principais economias. O novo padrão exportador implicou uma destruição importante de indústrias ou seu reposicionamento no sistema geral global do capitalismo e caracteriza-se pela desindustrialização. A desindustrialização e a permanência de algumas indústrias relevantes estão subordinadas a um novo projeto exportador no qual os eixos exportadores constituem segmentos de grandes cadeias produtivas globais sob o controle de grandes empresas transnacionais. Os principais mercados deste novo padrão de reprodução encontram-se no exterior. A especialização produtiva tende a apoiar em alguns eixos de exportação: agrícolas, minerais, industriais (com produção e também atividades de montagem ou maquila) e de serviços. Exemplos: produção de petróleo e derivados, soja, minério de ferro, cobre, montagem de automóveis com graus diversos de complexidade, maquila eletrônica, call center, etc. O novo padrão reedita novos enclaves na medida que concentra o dinamismo da produção em poucas atividades, sem estabelecer relações orgânicas com o restante da estrutura produtiva, sendo o salários e impostos o porte fundamental à dinâmica da economia local. No novo padrão, estes novos eixos de exportação não obedecem a projetos nacionais de desenvolvimento, sendo o capital mundial o que define que nichos privilegiar e impulsionar nas economias específicas. Neste novo contexto a industrialização com produção local e necessidades nacionais não existe para as grandes corporações multinacionais.
DESINDUSTRIALIZAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO. CHINA – A FÁBRICA DO MUNDO. A acirrada competição entre fabricantes de automóveis, levou várias destas empresas a instalarem suas fábricas na China, para usufruir de vantagens relativas no mercado mundial (baixos salários e baixos preços do capital constante), elevando assim suas taxas de lucro. Companhias como a General Motors fecharam suas fábricas em Detroit e a transferiram para a China. Se em 2007 o lucro obtido pelas 17 maiores empresas de automóveis provinham em 30% da China, Brasil, Rússia e Índia, em contraste com 22,5% oriundos da América do Norte, 36,5% da Europa e 12% do Japão e Coréia do Sul; em 2012, o primeiro grupo de países passariam a representar 57% do total ( sendo China mais da metade da cifra do grupo), América do Norte responderia por 42,5%, a Europa teve crescimento negativo de -1% e Japão e Coréia do Sul apenas 1%. Capitais migram e se redistribuem a nível mundial para ultrapassar suas margens de lucro.
No final do livro o professor expõe um resumo teórico do pensamento dos autores que analisou sob a perspectiva marxista (incluindo sua própria contribuição teórica) e conclui, entre outros pontos, por exemplo sobre a BURGUESIA LATINO AMERICANA. A burguesia latino-americana por seu caráter dependente, associado e integrado ao imperialismo, baixa a cabeça para os de cima e pisa redobrado nos de baixo. Seu poder repousa em uma exploração redobrada, uma superexploração da fôrça de trabalho como mecanismo de compensação, produzindo um divórcio entre a estrutura produtiva e as necessidades das massas.. Ela não põe em risco seu privilégio de classe e as estruturas de dominação.
SOBRE O SOCIALISMO…. As tarefas democráticas da revolução não se confundem com as tarefas democrático-burguesas…..o caráter da revolução latino-americana – incluindo o Brasil – deverá ser anti-imperialista e socialista, realizada pela classe trabalhadora urbana e rural, tendo setores da pequena burguesia como seus aliados, e dando voz e poder a toda a diversidade de nossos povos, como as lutas de libertação das mulheres contra o patriarcado, dos negros contra o racismo e dos povos indígenas contra o genocídio cultural. ….também defende a luta pelo meio ambiente e a preservação das condições ecológicas e de saúde geral da população…..para se libertar do imperialismo tem que haver uma política soberana de ciência e tecnologia…. A auto determinação dos povos e a soberania nacional são objetivos da luta anti-imperialista….. o socialismo será nossa segunda independência como emancipação política e emancipação humana…. A superação da dependência é uma meta que se imbrica profundamente com o enfrentamento do próprio capitalismo e suas formas de poder….. por um Brasil e uma América Latina livres do capitalismo e de toda relação de alienação…..são os desafios do século XXI.
Daniel Miranda Soares é economista, ex-professor universitário e mestre pela UFV.