Um novo e apocalíptico colapso capitalista
Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Essa é a previsão de Nouriel Roubini para 2016.
"O capitalismo é a crise". Foto: The Environmental Blog (CC BY-NC-ND 2.0)
Roubini é um economista norte-americano que previu, em 2006, em detalhes, o colapso capitalista de 2008, a partir do estouro da especulação financeira com a chamada subprime, a especulação imobiliária levada ao extremo nos países desenvolvidos.
No início deste ano, Roubini previu um novo e ainda pior colapso capitalista, em 2016, a partir do estouro da “mãe de todas as bolhas”, as emissões de dinheiro podre pelos principais bancos centrais. Esse dinheiro podre é repassado para os monopólios a taxas próximas a zero e é aplicado imediatamente na especulação financeira. Mesmo assim, o semi cadáver do capitalismo não conseguiu dar mais que alguns passos a mais, às custas de gerar um mega endividamento dos estados burgueses.
De acordo com Roubini, em 2015, “teremos crescimento econômico e dinheiro barato, pelo que esta ‘espuma’ que vemos nos mercados ainda deverá continuar”. É exatamente isso o que está acontecendo nos principais países. Uma aparência de “bonança”, promovida em cima de volumes colossais de crédito, enquanto a economia produtiva mundial entrou em recessão. Ou seja, uma espécie de calmaria antes da tempestade.
Crises cíclicas?
O fenômeno das crises cíclicas é próprio do capitalismo na fase liberal, de ascenso industrial, no século XIX. A superprodução relativa de produtos (devido à falta de compradores) levava a um excesso de mercadorias que não encontrava compradores. Após ter destruído um volume de forças produtivas durante a crise, a produção era retomada, até a próxima crise, que se repetia a cada dez anos aproximadamente. Essas crises levaram sempre a turbulências e à movimentação das massas.
As revoluções que aconteceram em 1848, na Europa, tiveram na base a crise de 1847. Após o período de reação e refluxo que se seguiu às derrotas, a nova movimentação operária levou à fundação da Primeira Internacional Comunista, em 1864, que teve, na base, a crise industrial de 1858.
A partir do século XX, na época do imperialismo, as crises deixaram de ser periódicas, ou “cíclicas”. O Imperialismo representa a fusão do capital industrial com o capital financeiro, segundo a definição acunhada por V.I.Lenin, no seu famoso livro (Imperialismo, etapa superior do capitalismo). É uma caraterística da fase imperialista o aumento acelerado do parasitismo financeiro, do acúmulo de capital fictício, da exportação de capitais, de guerras para reformular a divisão do mercado mundial já dividido etc.
A cada nova crise, o capitalismo não se recicla, mas ganha uma nova ponte de safena. Assim, tem entrado num processo de envelhecimento histórico que o faz se assemelhar a um velho caquético em fase terminal.
O cenário obsceno em que vemos o mundo hoje faz parte da crise. O parasitismo financeiro foi levado a níveis gritantes, o mundo tem sido transformado numa espécie de cassino especulativo.
O capitalismo tem saída para a crise?
O capitalismo não consegue mais extrair lucros da produção.
A crise de 1929 somente foi fechada por meio da Segunda Guerra Mundial. O esforço de reconstrução deu um certo fôlego, nos países desenvolvidos, durante 20 anos. A crise mundial de 1974 liquidou as chamadas políticas keynesianas, que tinham conseguido estabilizar o sistema e conter o desenvolvimento das tendências revolucionárias após a guerra. A inflação e o desemprego dispararam.
A crise somente conseguiu ser contida, de maneira parcial, por meio da entrada de centenas de milhões de operários chineses, e depois do antigo bloco soviético, no mercado, com salários miseráveis. Sobre esta base, o movimento operário em ascenso foi contido e ataques em grande escala promovidos, principalmente, a partir da derrota da greve dos mineiros ingleses pelo governo de Margareth Thatcher e dos controladores aéreos pela Administração Ronald Reagan.
Novas crises, parciais, se sucederam. Mais foi o colapso capitalista de 2008 que colocou a pá de cal sobre o chamado neoliberalismo.
Nenhuma política alternativa ao neoliberalismo foi possível de ser colocada em prática. A tentativa mais avançada, neste sentido, foi a de François Hollande, na França, mas que fracassou de maneira humilhante, apesar do Partido Socialista francês contar com a maioria em ambas as câmaras. Hoje, Hollande é um dos líderes, junto com Angela Merkel, a chanceler alemã, das políticas de austeridade.
A falta de condições para estruturar uma nova política tem levado a manter a política neoliberal numa nova onda ainda mais brutal, conforme o exemplo da Grécia o mostra de maneira transparente. Da mesma maneira, na América Latina, os Estados Unidos passaram a apertar o ataque contra as massas com o objetivo de aumentar a espoliação, na tentativa de conter a queda dos lucros, implodida pelo aprofundamento da crise mundial.
Qual é a saída para a crise capitalista?
Mantendo as amarras parasitárias, não existe nenhuma saída possível para o capitalismo, com a exceção de guerras em grande escala e ataques ainda mais fortes contra a população. Essa “saída” está sendo impulsionada, devido à falta de alternativas, por meio dos grupos de extrema-direita que crescem em todo o mundo. O “efeito colateral” é que as guerras e os ataques contra os trabalhadores geram a desestabilização do sistema e conduzem inevitavelmente a revoluções.
Após a Primeira Guerra Mundial, aconteceu a revolução bolchevique na Rússia, a revolução na Hungria e três revoluções na Alemanha.
Após a Segunda Guerra mundial, os operários italianos se armaram e passaram a controlar todas as fábricas. As massas, na França, controlaram o país por meio da Resistência. Na Iugoslávia e na Albânia, os nazistas foram derrotados por revoluções populares. Na Grécia, aconteceram duas revoluções. Em 1947, foi declarada a independência na Índia. Em 1949, uma revolução popular na China derrota os norte-americanos, após terem derrotado os japoneses. O mesmo aconteceu no sudeste asiático. Os impérios coloniais na África desabaram.
A única saída para a crise capitalista é a derrubada do capitalismo, isto é, o domínio do mundo pelo punhado de famílias que o controlam. Em primeiro lugar, está colocada a estatização dos bancos, a quebra da especulação financeira e a estatização de todas as grandes empresas. Neste momento, nenhuma grande empresa consegue sobreviver sem o assalto aos cofres públicos. É uma das caraterísticas do imperialismo, o chamado capitalismo de estado.
O novo colapso capitalista irá, inevitavelmente, acordar as massas do grande “sonho neoliberal”. Está colocada a retomada do ascenso operário dos anos 1980. E sobre esta base a formação de partidos operários, de massa e revolucionários.