Ir para o conteúdo
ou

Thin logo

Tela cheia
 Feed RSS

Blog do damirso

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Para entender a crise mundial do petróleo

17 de Dezembro de 2014, 16:18, por Daniel Miranda Soares

O que não estão contando para você sobre a crise mundial do petróleo

Postado em 16 dez 2014
por : Paulo Nogueira

Em sua eterna luta para jogar mais sombras onde já não existe luz, a imprensa brasileira está ignorando o fato mais importante do ano na economia mundial: a dramática queda do preço do petróleo.

É um fato que terá impactos brutais no mundo globalizado, mas a mídia nacional prefere centrar seus holofotes na Petrobras, como se se tratasse de um caso único de depressão num ambiente de extrema alegria.

Desde junho, quando atingiu o pico de 115 dólares o barril, o preço do petróleo caiu pela metade. Nesta semana, o barril está sendo vendido na casa dos 60 dólares.

Vários fatores se somaram para que isso acontecesse, mas você pode resumir a explicação na tradicional lei da demanda e da oferta.

A produção de petróleo, hoje, supera amplamente o consumo.

Isso está ligado à crise econômica mundial. Com sua economia se desacelerando, a China consome hoje muito menos petróleo do que fazia. O mesmo ocorre com outra potência, a Alemanha.

Os Estados Unidos, tradicionalmente os maiores importadores, está quase auto-suficiente, graças ao “shale oil” —  saudado como uma revolução no campo energético.

Trata-se, essencialmente, da extração de gás e petróleo do xisto, um tipo de rocha.

Reduzida a demanda, era esperado que a OPEP, a organização que congrega os maiores exportadores, baixasse sua produção, para defender o preço.

Mas não.

Para surpresa generalizada, a OPEP, numa reunião em novembro, decidiu manter a produção nos mesmos níveis.

Foi quando o universo do petróleo entrou em convulsão.

Mas por que os produtores tomaram essa decisão?

Especialistas acham que o objetivo maior é matar o “shale oil” americano. A extração é muito mais cara. Caso o barril fique barato, a indústria do “shale oil” tende a se inviabilizar, e esta seria uma excelente notícia para os países da OPEP.

Mas efeitos muito mais imediatos da baixa da cotação estão já sendo sentidos em países como a Rússia, o Irã e a Venezuela. Todos eles dependem visceralmente das exportações de petróleo.

Para o orçamento russo se manter equilibrado, o barril deve estar na faixa dos 100 dólares.

Economistas já preveem uma queda de 5% do PIB russo em 2015. O sofrimento russo deu margem a que fosse ventilada a teoria de que por trás de tudo estariam os Estados Unidos, empenhados em criar problemas para Putin.

Faz sentido? Faz. Ou pode fazer. Mas o custo, para os americanos, é elevado. Sua florescente indústria de “shale oil” pode simplesmente se desintegrar.

------------

E o Brasil, no meio disso tudo?

O quadro ainda não é totalmente claro. Há alguns benefícios: apesar de produzir como nunca, o Brasil ainda é um grande consumidor de petróleo.

Isso significa que as despesas de importação se reduzirão substancialmente. É, também, um alívio financeiro para a Petrobras, que subsidia os consumidores brasileiros.

A Petrobras vende a gasolina no Brasil por um preço inferior àquele pelo qual ela compra. O subsídio se destina, primeiro e acima de tudo, a controlar a inflação.

A ameaça mais séria, para o Brasil, vem do pré-sal. Como o “shale oil” americano, a extração do pré-sal é mais cara que a convencional.

Alguns estudos sugerem que com o barril a 40 dólares o pré-sal se inviabilizaria. Mas antes disso a vítima seria a indústria americana de óleo alternativo.

É razoável supor que o barril não descerá muito além dos 60 dólares.

A OPEP disse que ia esperar uns meses para ver o que ocorria. Um preço muito baixo, por um tempo longo, poderia ser fatal para a OPEP.

Assim, é presumível que, em algum momento nos primeiros meses de 2015, a produção seja reduzida para que o preço se recomponha.

Enquanto isso, as companhias petrolíferas são ferozmente castigadas. Nos últimos seis meses, as ações da Goodrich Petroleum caíram 86%. As da Oasis Petroleum, 75%.

A Petrobras é um caso entre muitos, e não um caso único, ao contrário do que a imprensa brasileira noticia.

Nada na economia mundial, em 2014, foi tão importante quanto o colapso dos preços do petróleo – mas a mídia brasileira, no afã de bater na Petrobras e consequentemente no governo, parece que não percebeu.

 

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Crise em Ipatinga desacelera e inicia recuperação

12 de Dezembro de 2014, 16:39, por Daniel Miranda Soares

artigo originalmente publicado no Diário do Aço em 10.12.2014 (edição digital e dia 11.12.2014 edição impressa)no  seguinte endereço:  http://www.diariodoaco.com.br/noticia/88100-7/opiniao/crise-do-setor-siderurgico-desacelera-em-ipatinga

 

A previsão de investimentos do BNDES para o setor siderúrgico cai 46% no triênio 2015/2018 em relação ao triênio 2013/2016. A decisão do BNDES se baseia no elevado índice de ociosidade do parque instalado do setor. “O mercado mundial de aço tem hoje uma ociosidade altíssima, com um Nuci (nível de utilização da capacidade instalada) entre 72% e 74%. No Brasil, o Nuci é de 70%”, comenta Pedro Sergio Landim, do BNDES. O Nuci já foi pior no período pós-crise de 2009 quando chegou a 63%, havendo também um alívio na balança comercial do setor, com as importações de aço caindo de US$ 5,4 bilhões em 2010 para US$ 3,7 bilhões em 2013.  “O mercado de aço é caracterizado, atualmente, por uma situação de sobre oferta e de margens reduzidas, tanto no Brasil quanto no mundo”, afirma Landim.

A capacidade instalada atual no país é de 48,5 milhões de toneladas por ano. Segundo projeção do Instituto Aço Brasil (IABr), o consumo aparente deve somar 24,7 milhões de toneladas este ano, queda de 6,4% com relação ao ano anterior. Para 2015, o IABr espera uma retomada “modesta”, com alta de 4% nas vendas ao mercado interno. O setor vem reivindicando do governo medidas para conter as importações de aço que devem subir 9,7% este ano. Embora o governo já tenha atendido várias reivindicações que resultaram numa queda das importações, mas concorrer com a China é muito difícil - o custo do aço chinês entra aqui mais barato que o aço nacional, embora o aço brasileiro seja competitivo em termos globais.

Ainda há gargalos a enfrentar para diminuir mais os custos brasileiros, tais como: logística, custo energético, dependência de importação de tecnologias, etc. O estudo do BNDES, porém, aponta vantagens que podem contribuir para que a siderurgia nacional possa sair da crise, como o desenvolvimento tecnológico (uso do Tecnored - produção de gusa com maior variedade de insumos; uso do biocoque, carvão vegetal, etc.) e a necessidade de aços especiais para o pré-sal.


     Tudo isso começou com a crise mundial de 2008, atingindo a China - maior produtora mundial de aço - que com a desaceleração da demanda mundial e décadas de expansão desenfreada agora atinge a indústria. A China está com excesso de oferta e tenta desovar sua produção no mercado internacional. Os lucros do setor siderúrgico chinês caíram 98 por cento no ano passado e muitas empresas registraram prejuízo. O governo chinês vai encorajar fusões e fechamentos de usinas obsoletas com o objetivo de aumentar a concentração nas 10 maiores empresas até 2015. Assim o governo chinês não mais vai ajudar as empresas em crise, simplesmente vai deixar que morram.

      A crise do setor siderúrgico brasileiro atingiu em cheio a cidade de Ipatinga, sede principal da Usiminas, a maior siderúrgica nacional. A empresa acumulou um prejuízo de R$598 milhões em 2012, mas recuperou bem em 2013 quando obteve um pequeno lucro de R$17 milhões. A empresa realizou cortes de pessoal e de custos, diversificando suas atividades com a mineração de ferro, mas mesmo assim houve queda de produção (4% em relação a 2012) e sua dívida líquida permaneceu estável. Ipatinga sofre as consequências da crise desde 2011. Dados do CAGED do Ministério do Trabalho (emprego formal registrado em carteira de trabalho) revelam que até 2010, os saldos de emprego (admitidos menos demitidos) foram positivos em Ipatinga, mas de 2011 a 2013 foram negativos em 7858 postos de trabalho na indústria de transformação.

Em Minas a indústria metalúrgica obteve saldos negativos em postos de trabalho no mesmo período: 4362 menos empregos de 2011 a 2013. Mas enquanto a metalurgia mineira registra menos 2179 empregos em 2014 (até outubro), Ipatinga registra mais 717 empregos em 2014, indicando alguma recuperação da indústria de transformação da cidade, indústria esta que nunca sofreu saldos negativos no CAGED desde 2011 em termos de Minas e Brasil.  É claro que a cidade perdeu preciosos postos de trabalho e isso teve consequências no comércio e no setor serviços, afetando os empregos destes setores. Mas a partir deste fundo do poço, com menos massa salarial, a cidade inicia um processo de recuperação incrementando novas atividades em outras áreas, tais como construção civil (+1315 novos empregos) e setor serviços (+1153).


    Durante todo o período de crise a Administração Pública da cidade não sofreu reveses, mantendo o mesmo nível de emprego e o mesmo nível de receitas. Pode-se ver pela contabilidade pública que as receitas correntes do município não caíram em termos nominais, embora tenham aumentado menos que a inflação no período 2011/2012 (2,26%), mas conseguiram aumento acima da inflação em 2013/2012 (8,8%). Em 2014 (até outubro) as receitas totais são maiores do que todo o ano de 2013.

Embora a imprensa tenha dado destaque para a queda de arrecadação do ISS (-25,2% em 2012/2011 e -4,4% em 2013/2012), no entanto a receita deste imposto até agora está sendo maior do que foi arrecadado em 2012 e 16,8% mais que 2013. A recuperação do ISS em 2014 é um sintoma de que a economia do município está em processo de recuperação. Além do mais as receitas próprias do município (ISS, IPTU, taxas, etc.) representam apenas 1/6 do total das receitas (nos municípios pequenos estas receitas são menos de 1/10), pois os municípios brasileiros dependem muito de transferências do governo estadual (ICMS via Lei Robin Hood) e do governo federal (FPM, Fundeb, etc.). As transferências não sofreram quedas nominais embora os aumentos tenham sido abaixo da inflação mas foram compensadas com crescimentos maiores dos tributos municipais em 2013/2012 (7,4%) e 2014/2013(10,6%). Enfim a Administração Pública sentiu o impacto da crise, mas manteve-se em equilíbrio, não sofrendo quedas no vermelho.


    Embora a indústria metalúrgica esteja em crise em Ipatinga e em Minas, devido à situação internacional, não se pode dizer o mesmo da indústria de transformação em Minas e no Brasil. Ipatinga é o único dos cinco municípios selecionados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Petrobras para receber um programa de capacitação de fornecedores da indústria de petróleo e gás, longe do mar. “Justamente porque temos uma forte experiência em metal-mecânica”, acrescenta Jeferson Bachour Coelho, dono da Líder Indústria Mecânica, uma das empresas que constroem peças para a indústria naval.

Uma dezena de empresas do município passou a fornecer peças para a cadeia produtiva do pré-sal e recebem apoio de entidades industriais e de agencias de fomento como BNDES e FINEP. Com o aumento da produção do pré-sal que pode ser dobrada até 2020 e a entrada em operação de mais quatro refinarias da Petrobrás (o Brasil não constrói refinarias desde 1980), nossa esperança é que o APL (arranjo produtivo local) desta cadeia produtiva em Ipatinga e Vale do Aço, possa trazer grandes progressos à indústria regional e mineira.

*Daniel Miranda Soares. Economista, Msc.



Dois projetos econômicos em disputa nestas eleições

26 de Setembro de 2014, 8:03, por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda

Dois projetos econômicos em disputa nestas eleições

publicado originalmente no jornal Diário do Aço  http://www.diariodoaco.com.br/noticia/85343-7/opiniao/dois-projetos-economicos-em-disputa-nestas-eleicoes
      

       "O capitalismo é um sistema que, ou cresce, ou morre. As possibilidades de crescimento estão cada vez mais e mais limitadas” disse o prof. inglês David Harvey. E é verdade, o capitalismo não pode parar de crescer, quando pára entra em crise. No século XIX entrava em crise de 6 em 6 anos no período chamado de “liberalismo” quando o Estado (mínimo) não existia para controlar a economia. A partir da grande crise de 1929 (a maior de todas) o Estado aumenta sua participação na sociedade de 7% para 35-45% do PIB no período 1945-75, chamado keynesiano. O Estado aumenta sua intervenção na economia, promovendo reformas sociais, investindo mais em saúde e educação, redistribuindo a renda e melhorando a vida dos trabalhadores. Os salários sobem e aumentam sua participação no PIB, diminuindo a participação dos lucros das empresas. Os capitalistas reagem, aproveitando a crise da década de 1970 e passam a controlar os governos, diminuindo o poder de barganha dos trabalhadores (nos partidos e sindicatos) e aumentando seu poder na sociedade (mídia, intelectuais, partidos, novas instituições). Um novo ciclo se inicia a partir da década de 1980 - o neoliberalismo (a volta do Deus mercado - o mercado livre resolve todos os problemas da sociedade). A partir de Thatcher e Reagan, os governos (EUA e Europa) desregulamentam o sistema financeiro. Os impostos diminuem, criam-se novos títulos, ações e derivativos no mercado, aumentando os lucros e aumentando a circulação financeira de papéis especulativos sem lastros no mundo produtivo - o capital fictício.
        Para aumentar seus lucros o capital financeiro domina as decisões do capital produtivo, transferindo suas fábricas para países onde os salários são muito baixos. Pagando baixos salários os lucros aumentam e o volume de papéis financeiros multiplicam chegando a US$600 trilhões em circulação mundial, nove vezes o PIB mundial. A partir dos anos 1990 e 2000 as condições sociais se deterioram nas matrizes do capitalismo mundial, com aumento do desemprego, fechamento de fábricas, queda dos salários; culminando na bolha imobiliária nos EUA em 2007/8. A criação fictícia de novos papéis se multiplicam tanto que estes papéis não se realizam na ponta do sistema - os devedores (detentores dos “subprimes”) não conseguem pagar suas dívidas e a quebradeira acontece como bola de neve até atingir os bancos. Mas mesmo depois da crise o capital financeiro ainda sobrevive com ajuda dos governos que jogam bilhões no mercado para cobrir o rombo do capital especulativo - socializando o prejuízo. O capitalismo financeiro cresce concentrando a riqueza e aumentando a pobreza - essa dominância do capital fictício deprime o investimento e impõe um ritmo de crescimento muito baixo e elevadas taxas de desemprego - ao contrário do período keynesiano quando os investimentos e o crescimento econômico eram elevados e o desemprego muito baixo. Procuram novos mercados no Terceiro Mundo, forçando os  governos a abrir o capital de  suas estatais, como por exemplo CEMIG e COPASA, onde boa parte de seus acionistas são estrangeiros.
     Os paraísos fiscais são suas novas formas de expansão. No universo corporativo mundial uma rede de 737 grupos controla 80% do mundo corporativo, dos quais um núcleo mais restrito de 137 grupos controla 40%, sendo que 75% deles são grupos financeiros. Um estudo conduzido por James Henry, antigo economista chefe da consultoria McKinsey, estima que entre US$ 21 trilhões e US$ 32 trilhões estão guardados em paraísos tributários. Isso equivale à cerca de um terço à metade do PIB do planeta.Os paraísos fiscais se multiplicam como coelhos. Hoje, são mais de sessenta (Bahamas, Ilhas Cayman, Bermudas, Suíça, Mônaco, Luxemburgo, etc...) Atualmente eles servem para sediar novas empresas e fundações ou para virar “matrizes” em que todo o lucro é contabilizado ali, independentemente se o dinheiro é gerado fisicamente em outro lugar. Eles fogem do fisco elevado dos países de origem e vão para os “paraísos fiscais” onde a taxação do fisco é baixíssima (em Luxemburgo é de 0,5%).
      A transferência de lucros dos países de origem para os paraísos fiscais normalmente envolvem sofisticadas operações financeiras. Tomemos, por hipótese, o caso de uma máquina fabricada na França e vendida ao Equador, por meio das Bermudas. O preço de venda no Equador é de 2 mil dólares; os custos de produção, mil dólares. A filial das Bermudas paga à filial francesa 1.001 dólares pela máquina, que é faturada em seguida à filial equatoriana por 1.998 dólares. A companhia francesa obtém, portanto, um dólar de lucro (1001-1000 = 1); a subsidiária equatoriana, 2 dólares (2000 – 1998 = 2), o que gera muito pouca receita tanto para o Estado francês como para o Estado equatoriano. Já a filial das Bermudas realiza um lucro de 997 dólares (1998 – 1001 = 997), que não é tributado. E pronto! Aí está como desaparece uma nota fiscal! (Nicholas Shaxson - autor de um livro sobre paraísos fiscais). 
        Os paraísos fiscais possibilitam sonegar impostos, certamente, mas também fugir às responsabilidades civis e sociais. Eles isentam os ricos e as grandes empresas das restrições, dos riscos e das obrigações que a democracia exige de cada um de nós. Com este sistema ganham os muito ricos e as grandes corporações (80% do comércio internacional ocorre entre multinacionais), e perdem os contribuintes e os governos dos países. Ameaçam a soberania dos países e impedem a justiça tributária, condição necessária à justiça social. Mas, apesar de tudo isso, não rendem manchetes na imprensa brasileira.
      “Hoje o Brasil tem sua economia travada pela ação predatória e anti-social do sistema financeiro, que prefere colocar seus capitais na Bolsa de Valores e nos paraísos fiscais, ao invés dos investimentos produtivos que o pais necessita.” (Emir Sader). No Brasil estima-se que cerca de um quarto do PIB estão em paraísos fiscais, segundo o Tax Justice Network. Os capitais não se dirigem para um projeto desenvolvimentista (democratização social, combate à desigualdade, à miséria e à pobreza). Eles preferem sabotar esse projeto e permanecer na esfera especulativa. Uma eventual vitória de um candidato neoliberal (Aécio ou Marina) significaria o fortalecimento do capital financeiro sobre a economia, atentando fortemente contra o processo de distribuição de renda do governo atual. A opção brasileira foi a de resguardar as conquistas sociais e manter a economia a fogo brando até que a crise se extinga. Governos neoliberais (vide EUA, Europa) significam desemprego alto, salários reduzidos, dívidas impagáveis, perdas de moradia, aumento da pobreza e da miséria; exatamente porque o mercado livre (do controle do Estado) não resolve as questões sociais. No Brasil estas duas correntes estão em luta permanente: desenvolvimentismo (keynesiano) X neoliberalismo (capital financeiro). David Harvey, um dos maiores nomes do pensamento geográfico da atualidade, formado em Cambridge, professor britânico, disse recentemente: "A América Latina, em geral, está dando um exemplo ao tratar de reverter alguns dos piores aspectos do neoliberalismo.”

Daniel Miranda Soares é economista, Msc.



A Mídia matou Getúlio Vargas

29 de Agosto de 2014, 7:44, por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda

Artigo publicado no Jornal Diário do Aço (impresso dia 28).

27/08/2014 - 15h32  Diário do Aço
A Mídia matou Getúlio Vargas

 

 

 

http://www.diariodoaco.com.br/noticia/84421-7/opiniao/a-midia-matou-getulio-vargas

Na madrugada de 5 de agosto, o major-aviador Rubens Vaz foi assassinado na rua Toneleros, no Rio, em frente ao prédio onde morava Carlos Lacerda. Vaz era guarda-costas de um dos maiores adversários do então Presidente Getúlio Vargas, o jornalista Carlos Lacerda. Dezenove dias após o crime da Toneleros, Lacerda e a direita nativa conseguiram seu intento: Vargas deixou o Catete, porém, morto. O próprio Lacerda narrou o episódio de diferentes maneiras, ajudando a tornar a história ainda mais nebulosa.

Houve relatos de que ele deu um tiro no próprio pé para criar uma encenação. Com o estouro desse escândalo, criou-se um cenário favorável à deflagração de um golpe arquitetado por conservadores e militares. “...o suicídio traz uma certeza incontestável. Ele representou, se não a única, pelo menos a mais poderosa arma de Vargas contra aqueles que o haviam cercado e queriam sua cabeça. Com o suicídio, a oposição teve que esconder-se para não apanhar do povo nas ruas. Vargas se colocava como vítima de um crime contra o País.” (Antonio Lassance).

O que aconteceu de fato: Vargas foi eleito democraticamente em 1950 com ampla vantagem popular. O seu governo foi perseguido desde o início. Lacerda já dizia : “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. Porque Vargas era tão odiado pela mídia e pela direita conservadora (UDN, etc.)? Por que queriam apeá-lo do poder de qualquer jeito? A verdade é que Getúlio venceu nas urnas em 1950 por causa do que ele fez para o trabalhador (CLT) e até hoje é lembrado por esse legado.

As leis trabalhistas já incluíam: carteira assinada, previdência e aposentadoria, férias, 13º salário, Salário Mínimo, Justiça do Trabalho; além do voto feminino, o sufrágio universal, ensino primário obrigatório; o papel do Estado como principal investidor na economia e o início da industrialização brasileira (criando grandes estatais).  Ele era tão querido pela população que o seu suicídio provocou uma enorme manifestação popular, nunca se viu tanta gente nas ruas do Rio de Janeiro, milhões de pessoas carregaram seu corpo do Palácio do Catete até o aeroporto Santos Dumont.

Esta manifestação (e as fotos dela), uma das maiores da história brasileira sempre foi abafada pela mídia, preocupada em desconstruir a imagem da popularidade de Vargas. A multidão também avançou contra os inimigos de Vargas : “A Tribuna da Imprensa de Lacerda foi empastelada. A redação de O Globo foi atacada, carros do jornal foram destruídos, o Jornal do Commercio teve sua oficina invadida, vários dos 17 jornais foram alvos da massa" (Jânio de Freitas, do jornal “Diário Carioca”).  

“A conspiração contra Vargas sempre foi permanente, seja pelos agentes dos trustes estrangeiros, seja pelas oligarquias nacionais. Mas, quando Vargas assinou o decreto para controlar a remessa de lucros ao exterior, a situação se tornou intolerável” (Samuel Pinheiro Guimarães).  O nacionalismo de Vargas criou fortes inimigos, tanto externos (o governo dos EUA) quanto internamente (a elite oligarca brasileira). 

Vargas foi tratado como criminoso, chefe de quadrilha, e responsável por um mar de lama. A mídia sempre usou a pecha da corrupção para derrubar seus adversários: “para derrubar um presidente, basta uma forte suspeita, uma firme disposição da oposição em fabricar acusações e um enredo incriminatório vendido como notícia” (Antonio Lassance). Podem-se ver muitas semelhanças com o governo Lula, mas hoje existe mais alternativas à mídia corporativa (como a internet).

Segundo Augusto Nunes, a mídia, apesar de seu poder manipulador, não conseguiu evitar as eleições de líderes populares em pelo menos três situações: Vargas (1950), Brizola (1982) e Lula (2002).  Lula deixou o governo depois de dois mandatos com aceitação recorde (87% de aprovação popular) por causa de seus programas sociais e a valorização do Salário Mínimo e Brizola não fez tanto sucesso por conta da campanha difamatória movida contra ele pela rede Globo. “A verdade é que a imprensa pode muito e não pode nada ao mesmo tempo porque é movida pelo dinheiro” (Augusto Nunes).

Quando colocamos em confronto o capital e o trabalho, a grande imprensa fica com a primeira opção e o povo com a segunda.  Quando o trabalhador é favorecido por decisões políticas em governos trabalhistas, a imprensa fica com o capital.  A popularidade de Lula aumentou apesar da extrema hostilidade que ele sofreu por parte da mídia. Em 2010, Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais disse :“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.”

A perseguição continuou no governo Dilma. Segundo o Manchetômetro (pesquisa do laboratório de Mídia da UERJ), as manchetes dos grandes jornais nacionais revela que entre janeiro e julho de 2014, Dilma Rousseff (PT) foi bombardeada com 182 manchetes negativas nos respectivos jornais, contra 18 manchetes para Aécio Neves (PSDB) e 15 para Eduardo Campos (PSB). Enquanto o Jornal Nacional (Rede Globo) dedicou 1 hora e 22 minutos em 2014 para notícias consideradas desfavoráveis para a petista, contra apenas três minutos para reportagens consideradas favoráveis.


Para Venício Lima (A Ilusão do Quarto Poder, em Teoria&Debate) a mídia se transformou em megagrupos corporativos à altura das grandes corporações, monopolizando em meia dúzia de famílias grande poder econômico e político, controlando o que vemos, ouvimos e lemos, praticamente todo o fluxo da informação. Portanto o Quarto Poder independente (a mídia) não existe mais, pois ela mesma defende os mesmos interesses das grandes corporações. Noam Chomsky já disse:“o propósito da mídia não é de informar o que acontece, mas sim de moldar a opinião pública de acordo com a vontade do poder corporativo dominante.” E o poder corporativo dominante hoje é o capital financeiro que propaga o neoliberalismo - daí a perseguição da mídia aos governos trabalhistas que não aceitam os dogmas neoliberais.

*Daniel Miranda Soares, economista Msc.



Indústria Naval : um caso de sucesso de política industrial

21 de Agosto de 2014, 12:58, por Daniel Miranda Soares - 0sem comentários ainda

Brasil 2015: os novos passos da indústria naval

O conjunto de seminários do projeto Brasilianas tem permitido diagnósticos preciosos sobre o atual estágio do desenvolvimento brasileiro. É caso da indústria naval brasileira, um caso de sucesso de política industrial.

Trata-se de um setor dos mais relevantes, pelo encadeamento da produção. A fabricação de um navio movimenta a indústria siderúrgica, a metalúrgica, o setor de máquinas e equipamentos, a tecnologia de informação, a região no entorno do estaleiro etc.

***

Um dos líderes da produção mundial de navios nos anos 70, a indústria naval foi praticamente eliminada no governo Collor.

Criado em 1999, partir de 2003, o Prorefam (Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo) ganhou impulso, contratando 30 novas embarcações e 21 modernizações.

Mas só a partir da 7a rodada, em 2005, o conteúdo local passou a ser item obrigatório, com índice mínimos para a exploração, desenvolvimento e produção, com a criação dos instrumentos legais para as CCLs (Cláusulas de Conteúdo Local).

A partir de 2008, com o PDP (Polícia de Desenvolvimento Produtivo) o setor ganhou impulso, com a contratação de 146 novas embarcações de apoio para o período 2008-2016.

***

Desde 2004, o setor cresceu a 19,5% ao ano com R$ 150 bilhões de investimento. Sete navios do Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota) já foram entregues à Transpetro; 23 dos 50 maiores projetos offshore estão no Brasil; há 9 estaleiros de grande porte em operação; 7 estaleiros de grande porte em implantação; 29 sondas para a Sete Brasil no portfolio de construção. Há 389 encomendas em carteira. A demanda por equipamentos para exploração e produção do petróleo em águas profundas prosseguirão pelos próximos vinte anos.

O número de empregou saltou de 1.900 em 2.000 para 104 mil atualmente.

O modelo permitiu a grupos nacionais trazerem sócios estrangeiros com participação minoritária, ajudando na absorção de tecnologia.

 No campo tecnológico, a parceria com a Finep resultou no financiamento de 58 projetos de alto valor agregado. Para incorporar as PMEs (Pequenas e Micro Empresas) foi firmado um convênio com o Sebrae, que ampliou de 14 mil para 19 mil fornecedores integrando o cadastro da Petrobras.

***

O cenário de longo prazo é dos mais favoráveis.

Há um crescimento do transporte marítimo mundial; forte demanda por petróleo e derivados; petróleo e gás natural dominando a matriz energética; ampliação da frota naval de defesa.

Mas a indústria é cíclica e os preços oscilam juntamente com a demanda mundial. Desde 2012 há um período de baixa no setor, depois de um crescimento vigoroso entre 2001 e 2011. Daí a importância da continuidade do programa.

***

A construção naval competitiva se concretiza de duas formas:

Em complexos industriais envolvendo a indústria pesada e a indústria de bens de capital: Coréia, Japão, China

Dentro de clusters dedicados a atender nichos de mercado: Itália, Finlândia, Noruega

A competitividade da indústria de construção depende de uma complexa coordenação de encadeamentos setoriais. Mas o ponto central é a tecnologia de projetos. Dominar o projeto é condição essencial para a inovação e para que os produtores tenham controle das aquisições de máquinas, equipamentos marítimos e materiais.