Quase 50 anos: todas as honras ao presidente Jango
14 de Novembro de 2013, 19:34 - sem comentários ainda31/03/1964 a 14/11/2013. Quase 50 anos. Quanta coisa cabe dentro de 50 anos. Um golpe, uma revolução redentora, uma guerrilha. Uma abertura lenta, gradual e segura. Um monte de mentiras. Muitas mortes. O arbítrio. A esperança. A biografia de um homem rebaixada ao mesmo nível de qualidade do papel inferior no qual se imprime os jornais. Sonhos. A realidade dura. Mas, sobretudo, cabe a chance de se olhar para trás e avaliar com mais segurança os erros do passado. O Brasil fez isso hoje. A maior parte dos brasileiros também. E aqueles que ainda quiserem insistir no erro, vejam esta imagem. É uma imagem que condensa 50 anos em um flash. Todas as honras ao presidente Jango.
Foto: Marcello Casal Jr./ABr
PARA QUÊ?
14 de Novembro de 2013, 8:41 - sem comentários aindaEra a pergunta que a Folha de S. Paulo (a mesma que emprestaria suas camionetes para o transporte de presos aos locais de tortura durante o Regime Militar) fazia no dia seguinte ao Comício da Central do Brasil, ocorrido em 13/03/1964. O jornal não conseguia compreender a sua "verdadeira finalidade". A conclusão era: "incitar o povo" contra os "obstáculos" que se impunham ante as "ambições" do "pré-fuehrer" e "candidato a ditador" João Goulart. O mais irônico é que, ao mesmo tempo que defendia alguma atitude das Forças Armadas contra um presidente que ocupava seu cargo legalmente, criticava o suposto fato do comício ter sido realizado "em completa ofensa à lei" do estado da Guanabara...
O PRESIDENTE FORA DA LEI
14 de Novembro de 2013, 8:38 - sem comentários aindaEra este o gracioso epíteto que o jornal O Estado de S. Paulo dispensava ao presidente João Goulart no dia 13/03/1964, data a qual se realizaria o famoso discurso na Central do Brasil. Editorial forte, tanto na defesa de Carlos Lacerda, quanto no ataque a Jango, conclamando explicitamente as Forças Armadas ao Golpe. O "presidente fora da lei", segundo o Estadão, "chefiava um movimento subversivo (...) apoiado nos comunistas".
JOÃO GOULART E A MÍDIA: (QUASE) NADA MUDOU
13 de Novembro de 2013, 18:04 - sem comentários aindaOs atos praticados pelos governos, estejam situados eles em qualquer esfera, são muito mais importantes, não pelo ato em si, mas pelo significado que carregam. A exumação dos restos mortais do presidente João Goulart é um destes atos cheios de simbolismo. Não é apenas um ato de justiça com a figura de Jango, que tem sido massacrada nos últimos 50 anos. Mas é um ato que significa a oportunidade de uma outra interpretação da história deste homem que foi destinado a mudar a história do Brasil - de uma maneira ou de outra - e que acabou mudando-a para pior, mesmo que de forma alheia à sua vontade.
O Brasil em 1964 era uma nação medieval. Possuía índices de alfabetização bastante reduzidos, não mais ínfimos do que o correspondente ao número de pessoas que frequentavam o ensino superior.
Mas o nosso principal problema consistia ainda - país com população rural que éramos - na herança maldita do latifúndio.
E foi a decisão de, finalmente, levar a cabo a necessária Reforma Agrária que selou a sorte de Jango. Assim como, no século XIX, os grandes proprietários apostaram na República para salvaguardar suas propriedades - derrubando uma monarquia que acabara com a escravidão e que inclinava-se a mexer no latifúndio - novamente nossa história chegou a um ponto de inflexão extremo, mais uma vez em função da questão da propriedade da terra.
No início dos anos 60 o Brasil tinha uma população de 70 milhões de pessoas. Destas, apenas 73 mil tinham a posse de 58% das terras! Este dado fala por si só. Jango tinha a intenção de mudar esta realidade.
Jango foi demonizado ainda em vida - e isso teve uma grande parcela de culpa em sua derrubada - e continua sendo após a morte, eternamente caracterizado como fraco, corrupto, comunista e por inúmeras outras desqualificações imputadas pelos setores conservadores do País e pela mídia que os serve.
É nessa mesma mídia que acompanharemos a partir de agora cronistas indignados com os "gastos públicos" para a exumação e com a "tentativa de reescrever a história" promovida por um suposto "revanchismo da esquerda".
Contudo, não podemos nos esquecer, que estes mesmos jornais que já estão criticando esse importante ato de recuperação da dignidade, mesmo que após a morte, de personagem importante em nossa história, foram aqueles que, articulados com militares, empresariado, latifundiários e países estrangeiros, desestabilizaram e por fim derrubaram João Goulart. Mais do que a apuração da morte de João Goulart ter sido ou não provocada pela Operação Condor, é importante que estejamos atentos a dois pontos fundamentais: 1) Jango era um grande reformador, o Brasil poderia ter avançado muito em seu governo e essa história deve ser contada honestamente; 2) os jornalões conspiraram contra Jango e continuam conspirando ainda hoje, 50 anos depois de sua derrubada.
Vale a pena ler os editoriais de Estadão, Folha, Jornal do Brasil, O Globo (este com reconhecimento recente do erro em apoiar o golpe) e outros para se ter dimensão correta do que abordei aqui.