O Papa do fim do mundo começa uma nova Igreja
30 de Julho de 2013, 11:26 - sem comentários aindaNão é tarefa fácil analisar em poucas linhas toda a complexidade da passagem do Papa Francisco pelo Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. No entanto, é fácil compreender e compartilhar da euforia do teólogo e escritor Leonardo Boff em relação a escolha deste “papa do fim do mundo” para ocupar o trono de Pedro, o posto de líder da Igreja Católica.
Em primeiro lugar, sempre foi comum aos papas parecerem mais com seres de outro mundo, personificações do sagrado, inatingíveis do alto de sua divinamente construída aura papal, do que com seres humanos “comuns”, pecadores, como o próprio papa faz questão de destacar.
Com Francisco é muito diferente. É um pontífice que é um verdadeiro pastor, menos monarca e mais padre, com vontade de estar junto ao povo, de ouvi-lo, de tocá-lo, de interagir com os fiéis.
Não quis desfilar pelas ruas do Rio de Janeiro em uma “caixa de vidro” conforme suas próprias palavras, referindo-se ao papamóvel. Pediu que os vidros fossem removidos do carro papal. Escolheu, da mesma forma, deslocar-se em um carro comum, sem luxo, semelhante ao carro que utiliza em Roma. Outro ponto interessante é que lá no Vaticano, o papa faz suas refeições em ambiente comum, em companhia de bispos, padres e leigos que passam pela Casa de Santa Marta.
É um líder que não foge aos temas espinhosos que mancham a Igreja, tais como os escândalos de corrupção envolvendo o Banco do Vaticano. Igualmente, acena para um compromisso com os pobres, deseja uma Igreja menos encastelada e mais próxima aos necessitados, nas ruas. É um homem sábio, que diz não se agradar com jovens que não protestam, porém, considera importante que estes jovens observem a manipulação que podem sofrer. Diz que não pode julgar os homossexuais. Logo ele, o representante de Deus, o Vigário de Cristo, que se coloca na posição mais humilde, lembrando a todos que é um homem também, portanto sem condições de julgar os seus semelhantes. É o Papa da humildade e da compreensão. É o Papa do povo, para o povo e com o povo. Ao menos tudo indica que seu pontificado terá este sentido.
“O carnaval acabou”, foi uma de suas primeiras declarações como Papa, referindo-se à indumentária principesca de seu antecessor. É o Papa que pensa como os teólogos da libertação, que tão perseguidos foram pelos dois últimos pontífices.
Contudo, uma pergunta não cala: não teria que ser sempre assim? Um Papa não deve ser um servidor, um pastor que humildemente cuida do seu rebanho como um pai dos seus filhos, com amor e compreensão? Parece-me que a resposta é sim. E Francisco, com seu espírito missionário jesuíta e sua humildade franciscana, assim compreende o papel de um Papa.
Será esta uma reviravolta positiva na Igreja? A Jornada Mundial da Juventude mostrou que a Igreja está viva e é jovem. Mostrou também o carisma do Papa Francisco, que com o apoio desta juventude poderá fazer grandes reformas na Igreja Católica. O próprio Papa lembra que a Igreja deve ser permanentemente reformada.
Adentramos o terceiro milênio com um Papa que parece inaugurar a Igreja do terceiro milênio. Uma igreja mais simples, voltada aos pobres, sem medo do mundo moderno, disposta a dialogar e acolher. Uma igreja que enxerga seus pecados e esforça-se por saná-los. Depois da Igreja monárquica do milênio passado, parece que o Papa Francisco inicia uma nova igreja, mais cristã.
Oxalá seu pontificado seja duradouro e transformador!
Pretextos
24 de Julho de 2013, 11:32 - sem comentários aindaO País vive um período turbulento que muito me faz lembrar da escalada reacionária contra João Goulart e que culminou com sua derrubada em 1964. Eu vejo as forças conservadoras, inconsoláveis com os 10 anos de inclusão social promovida pelo governo Lula e pelo governo Dilma, chegarem ao seu limite.
Não toleram mais que pobres estejam na universidade, que viajem de avião, que tenham renda, que exista uma situação de quase pleno emprego. Não há no horizonte reacionário uma volta aos tempos antigos, onde as classes subalternas contentavam-se com as migalhas que sobravam do vergonhoso banquete das elites.
João Goulart queria fazer muito do que se tem feito há dez anos no País, porém foi ceifado antes que começasse a exercer seu poder de presidente da república. A princípio, não queriam deixá-lo assumir a presidência, após a renúncia de Jânio Quadros. Forçaram-lhe um sistema parlamentarista para que isso pudesse acontecer.
Quando Jango, em 63, conseguiu o retorno ao presidencialismo selou sua sorte. Os EUA apoiando os setores militares reacionários, plantaram a ideia, com a ajuda da mídia, de que Jango era comunista e preparava um golpe vermelho no Brasil.
Hoje em dia, esse tipo de argumentação não cola mais, então se utiliza muito do expediente de um abstrato combate à corrupção, para deslegitimar um governo que realmente trabalha em prol das causas sociais. Corrupção que não é combatida da mesma forma quando quem está no poder é o PSDB ou o DEM. A mídia tradicional cria essa pauta e a classe média enfurecida por ter que regularizar os direitos trabalhistas de suas domésticas sai às ruas com máscaras de Guy Fawkes e placas pedindo o fim da corrupção.
Assim, como em 64, o pretexto para derrubar Jango foi a suposta revolução comunista, em 2005 o pretexto foi o famigerado caso, até hoje sem provas conclusivas, do mensalão. Da mesma forma, o pretexto de combate à corrupção continua vivo mais do que nunca em 2013, visando as eleições de 2014. Jango queria fazer a Reforma Agrária, Lula e Dilma incluíram os pobres.
As manifestações que tomaram as ruas no último mês de junho, são a expressão eloquente de uma população que vê os índices sociais do país melhorando dia a dia e que não quer a volta ao passado, muito pelo contrário, ela quer mais e melhor. Acostumou-se a ter um governo que finalmente ampara a sua população e não se contenta mais com migalhas. Contudo, as velhas forças reacionárias tentam apropriar-se dessa voz das ruas e direcioná-la contra o seu alvo de sempre: o governo de esquerda.
Não sejamos tolos, não nos deixemos manipular pela mídia golpista, a serviço das elites, que visa a domesticação do povo e vive de pretextos para derrubar os governos populares.