O desenvolvimento de um software de código aberto tem como principal vantagem a ideia de que absolutamente qualquer pessoa está livre para ajudar, criar versões ou trabalhar em seu avanço. Por outro lado, essa questão também pode causar diversos problemas internos quanto à divisão de tarefas e, principalmente, poder de decisão e divisão de lucros, acabando por causar quebras e separações, como a que aconteceu neste final de semana com a equipe do Popcorn Time, que perdeu muitos de seus membros envolvidos desde seu lançamento.
No centro da questão, porém, está uma ameaça de processo por parte dos estúdios de Hollywood, que desde o lançamento do Popcorn Time, tem levantado preocupações quanto ao caráter irregular do aplicativo. Conhecido como “o Netflix da pirataria”, o software permite que os usuários assistam a filmes e seriados gratuitamente, diretamente por torrent, mas sem a necessidade de baixar os arquivos completos antes disso. A tecnologia permite que o streaming seja feito a partir dos serviços, com suporte a legendas e até opções de idioma. Não foi à toa que algumas sobrancelhas se levantaram nesse processo.
Outro cerne do problema foi a relação do Popcorn Time com um serviço chamado VPN.ht, que, como o nome já diz, fornece redes privadas virtuais para usuários que desejam permanecer anônimos na rede. Ele foi fundado por dois especialistas que também estão entre os desenvolvedores iniciais do serviço de torrent, conhecidos como Wally e phnz, que implementaram a tecnologia à plataforma de forma a trazer segurança adicional – e também gerar renda.
Esse dinheiro, porém, não era dividido igualmente entre os desenvolvedores, nem de acordo com as funções exercidas por cada um deles. Alguns, por exemplo, afirmam nunca terem recebido um centavo pelo trabalho, enquanto outros estariam enchendo os bolsos com a operação. Aqui, surgiu outro foco de desacordo, já que para muitos dos envolvidos, a ideia por trás do Popcorn Time nunca foi ganhar dinheiro.
Foi justamente essa última questão que levantou preocupações e, acima de tudo, transformou o Popcorn Time em um possível alvo. Para muitos dos envolvidos, a ideia de que os responsáveis pela plataforma não apenas estavam fornecendo material protegido gratuitamente, mas também fazendo dinheiro com isso, os tornou vulneráveis a um processo que, agora, parecia estar a caminho, mas que não havia sido oficializado ainda.
Antes que isso acontecesse, então, um pequeno grupo de desenvolvedores começou a discutir sobre a possibilidade de reiniciar mais uma vez o desenvolvimento do Popcorn Time, desligando suas amarras do VPN.ht e tornando-o independente novamente. Um dos principais nomes por trás desse movimento foi o especialista conhecido como KsaRedFx.
Para os fundadores, porém, isso soou como uma tentativa de “tomada hostil” do serviço, e ações drásticas foram realizadas para tentar impedir isso, como o bloqueio dos especialistas aos projetos relacionados ao serviço no GitHub e outras plataformas. Ao mesmo tempo, em retaliação, KsaRedFx teria desativado alguns mirrors relacionados à plataforma, o que acabou deixando claro para todos a cisão.
O resultado foi a saída forçada não apenas do grupo que estava imaginando o reinício, mas também do próprio phnz, um dos fundadores do Popcorn Time. Agora, a equipe responsável pelo aplicativo passa por uma reorganização, mas desde já, deixa claro: a plataforma não vai chegar ao fim e, no máximo, terá suas atualizações e desenvolvimentos futuros um pouco atrasados por essas mudanças.
Enquanto isso, a ideia de separar o serviço da plataforma de VPNs cai por terra e os dois continuarão a trabalhar lado a lado, sem previsão de mudança. phnz , KsaRedFx e os outros membros que deixaram a equipe já revelaram seus desejos de participar de novos projetos, mas ainda não revelaram exatamente o que farão daqui em diante. Uma coisa, porém, é certa: para eles, Popcorn Time, nunca mais.
Enquanto isso, não existem informações oficiais sobre a montagem de um processo contra os criadores ou desenvolvedores da plataforma. É importante lembrar que mesmo uma saída de alguns de seus principais envolvidos não impede que uma ação judicial seja movida contra eles, como aconteceu, por exemplo, com os responsáveis pelo The Pirate Bay, que chegaram a ser julgados e presos por crimes cometidos durante sua atuação no serviço, mesmo anos depois de o terem deixado.
Com informações de Torrent Freak e Canaltech.