Antonio Patriota revelou na última terça-feira (16/7) ao Observatório que está vigilante e toma muito cuidado com telefone e com tudo o que escreve. Numa entrevista coletiva esta semana, o ministro das Relações Exteriores respondeu a 10 perguntas sobre a denúncia de espionagem dos Estados Unidos, entre as 15 formuladas pela Associação de Imprensa Estrangeira, para quem foi criado o encontro em São Paulo.
Os jornalistas queriam saber por que o Brasil deu asilo ao ditador chileno Alfredo Stroessner e ao ex- militante italiano Cesare Battisti, mas negou o mesmo direito ao ex-técnico da CIA Edward Snowden, que denunciou a espionagem e, no final das contas, nos fez um favor. Qual o impacto dessa revelação nas relações com os Estados Unidos e com a livre navegação no Brasil se o país resolver adotar uma Internet modelo China ou Irã para se proteger. E se Dilma pretende se queixar diretamente ao presidente Obama.
Sem responder diretamente, mas munido de vasto material escrito – não digitalizado –, Patriota afirmou que este era um problema superado, já que quatro países da América Latina ofereceram asilo a Snowden (Equador, Bolívia, Nicarágua e Venezuela). Além disso, Patriota leu a resolução adotada pelo Mercosul na última reunião em Montevidéu, onde os presidentes dos países membros do bloco rechaçaram as atividades de espionagem e defenderam o asilo político e o direito de Snowden transitar com segurança sem sofrer represálias. Ele também enumerou diversos programas de monitoramento, a constituição de grupos de trabalho no Mercosul, a abertura de um inquérito pela Polícia Federal para promover maior segurança cibernética e a adoção de normas de regulamentação da Internet.
Preocupação do governo
“Já convocamos o embaixador norte-americano com pedido de esclarecimento e tudo isso reflete um alto grau de preocupação do governo brasileiro”, disse o ministro, que só convenceu os jornalistas quando resolveu responder pessoalmente à pergunta sobre a atitude a tomar quando afinal se reconhecer que é impossível preservar a privacidade no espaço cibernético atual. “É uma pergunta pessoal? Então eu digo que temos de ser muito vigilantes, eu por exemplo tomo muito cuidado quando falo ao telefone e quando escrevo qualquer coisa na Internet”.
O antigo ministro das Relações Exteriores e atual ministro da Defesa, Celso Amorim, já havia declarado que não usa Internet para assuntos importantes. Na terça-feira, Antonio Patriota deu o seu alerta, o que levanta suspeitas sobre como serão de agora em diante as comunicações internas e externas do governo brasileiro. Criptografadas? De volta ao bom e velho contato estritamente pessoal, olho no olho e portas fechadas? Mesmo assim, como as paredes têm ouvido, já está inaugurada a moda de, em reuniões sigilosas, todos os membros convidados desmontarem – atenção, não só desligarem – os telefones celulares. Baterias sobre a mesa. E códigos. Há quem comece a temer o veneno das páginas proibidas e apócrifas como em O Nome da Rosa. E é assim que vamos deixando para trás a invenção de Graham Bell nos anos 1870, em seguida o Admirável Mundo Novo que nos legou uma Aldeia Global, e reinauguramos a Idade Média com todos os temores criados por Umberto Eco numa abadia medieval.
Por Norma Couri.
Com informações de Observatório da Imprensa.
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