Após a declaração do presidente Russo Vladimir Putin sobre a Internet ser um projeto criado por espiões norte-americanos da Agência Central de Inteligência (CIA), o criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, afirmou nesta quinta-feira (11) que Putin estava errado ao fazer tal afirmação.
Putin, que é um ex-espião da KGB e que não usa e-mail, declarou que não pretende restringir o acesso dos russos à internet, mas que tem preocupações, pois a internet nasceu de um projeto da CIA.
Berners-Lee, cientista da computação que criou a Web em 1989, respondeu às afirmações diretamente, afirmando que “a internet não é uma criação da CIA”. Nascido em Londres, ele afirmou que houve financiamento dos Estados Unidos para o projeto de criação da Web, mas isso se espalhou entre acadêmicos, não permitindo que o Estado norte-americano pudesse ter controle sobre o desenvolvimento da WWW.
O cientista defende que foi a comunidade acadêmica, em parceria com as próprias universidades, a responsável pela criação da web. Segundo ele, a Web foi criada por pessoas inteligentes e bem-intencionadas que acreditavam que aquela era uma boa ideia.
Berners-Lee já repreendeu no passado os programas de vigilância na internet do governo dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, que segundo ele são responsáveis por minar as fundações da internet. Ele também já pediu para que a China derrubasse o firewall que limita o acesso do povo chinês à internet.
A Reuters ainda o questionou sobre os rankings da World Wide Web Foundation, que medem como 86 países se relacionam com a internet. Para Berners-Lee a internet deveria ser reconhecida no mundo como um direito humano e protegido da interferência de interesses comerciais e políticos.
No ranking da fundação, Etiópia e Mianmar aparecem como as duas nações mais precárias no acesso à internet, enquanto Dinamarca e Finlândia estão no topo da lista, representando, acesso, liberdade e abertura, conteúdo relevante que leva ao empoderamento social, econômico e político. No ranking, a Grã-Bretanha aparece em quarto lugar, os Estados Unidos em sexto, a Rússia em 35º e a China em 44º.
Questionado ainda sobre o uso da internet para a propaganda do Estado Islâmico, com a decapitação de jornalistas e outros usos semelhantes que são feitos da Web, Berners-Lee afirmou que o uso da internet apenas refletiu a condição da humanidade. “Como todas as poderosas ferramentas, ela pode ser usada para o bem e para o mal, ela pode ser usada por pessoas boas e pessoas más”, disse ele.
Para o criador da WWW, na web é possível ver a humanidade conectada. “A humanidade tem algumas peças maravilhosas e algumas partes horríveis. Você não pode criar uma Internet em que de repente todo mundo vai se transformar em santo. O que você pode fazer é criar uma Internet que está aberta”, conclui ele.