Faz quase um mês que o Windows 10 foi lançado e, nesses últimos trinta dias, o novo sistema operacional da Microsoft se mostrou um verdadeiro sucesso. Estima-se, por exemplo, que aproximadamente 50 milhões de pessoas já fizeram o download do SO. Só que a plataforma tem enfrentado diversas críticas com relação à privacidade. É tanto que compartilhadores de torrents estão bloqueando o novo Windows em suas máquinas.
De acordo com o site TorrentFreak, diversos “trackers privados”, como são chamados, já não utilizam mais o Windows 10 ou consideram a possibilidade de não o instalar em seus computadores justamente por causa da falta de controle de privacidade que o sistema deixa de oferecer. Esses trackers são descritos como pessoas que compartilham uma grande quantidade de arquivos piratas via torrent e não são classificados como usuários comuns ou casuais.
Eles também fariam parte de grupos fechados, que têm acesso antecipado a certos tipos de conteúdo antes de os liberarem para o público em geral. É aí que entram grupos conhecidos entre os sites de torrents, incluindo FSC e BB, que declararam publicamente analisar os riscos que baixar o Windows 10 causaria nessas comunidades.
Segundo o BB, o sistema é capaz de obter informação sobre as ligações P2P dos utilizadores e compartilhá-la em grupos antipirataria. Outro grupo, o iTS, disse em uma postagem no Reddit que seus membros não possuem o Windows 10 porque a plataforma compartilha uma grande quantidade de dados dos usuários, dados estes que são enviados para outras companhias que também são contra a pirataria. Uma delas seria a MarkMonitor, empresa ligada ao Copyright Alert System, nos Estados Unidos.
Membros do iTS ainda afirmaram que o Windows 10 pode “enviar o conteúdo armazenado nos discos rígidos diretamente para os servidores da Microsoft. “Isso representa uma séria ameaça a sites como o nosso e por isso tivemos que tomar medidas. Infelizmente, a Microsoft decidiu revogar qualquer tipo de proteção de dados e optou pelo que pode reunir não apenas para si mesma, mas também para outras entidades”, escreveram.
Então, o que isso tudo significa?
Primeiramente, precisamos destacar que é crime a prática de compartilhar arquivos sem autorização dos autores ou das empresas envolvidas. Contudo, o que mais chama atenção nessa história é que a situação envolvendo a privacidade do Windows 10 parece ser mais séria do que se pensava, uma vez que sites específicos (e fechados) para esse tipo de atividade estão alertando seus usuários que o software não oferece tantas opções de privacidade – em benefício deles próprios, no caso.
Termos de utilização tão invasivos quanto a esse assunto não são novidade; basta ler as políticas de outras plataformas, como Facebook, Google e mais recentemente o Spotify. Mas tanta paranoia pode ter uma explicação: há cerca de uma semana, foi descoberto no acordo de serviços do Windows um trecho que diz que a Microsoft pode desabilitar remotamente jogos e hardwares que forem considerados piratas. Isso, claro, deixou muita gente de cabelo em pé, principalmente porque a empresa não especifica a real finalidade desse recurso.
Além de inibir o funcionamento de cópias falsas de alguns softwares, entre eles o Office, essa política poderia muito bem se estender para qualquer conteúdo ilegal, o que incluiria arquivos compartilhados via torrent. Por isso esses grupos privados estariam preocupados em instalar o Windows 10 em suas máquinas, uma vez que versões anteriores do sistema não seriam tão rígidas no que diz respeito à privacidade.
Por padrão, o Windows 10 compartilha diversas informações do usuário com a Microsoft. E tecnicamente tudo é enviado à companhia: calendário, e-mails e mensagens de texto, contatos, apps utilizados e até o que o internauta busca pela assistente Cortana. A prática já acontecia no Windows 8, mas parecia ser menos agressiva que a estratégia atual. Para quem migrou do Windows 7, a mudança pode ser ainda maior.
Em nota ao jornal Folha de S.Paulo, a Microsoft disse recentemente que “o Windows 10 está sendo entregue como um serviço” e que “nenhuma consulta ou dado de busca utilizado são enviados para a Microsoft, em consonância com as configurações de privacidade escolhidas pelo usuário”. A empresa não explicou se é possível cortar esse tipo de comunicação, mas nas configurações não é possível fazer esse procedimento.
Com informações de TorrentFreak, Reddit, Folha de S.Paulo e Canaltech.