Um trecho de algumas linhas nos termos de uso e política de privacidade de Smart TVs da Samsung colocou a empresa novamente na mira de críticos e defensores da liberdade individual. Em alguns de seus novos modelos, a empresa coreana adotou um sistema de reconhecimento de voz para controle e pede que, na utilização do recurso, os usuários evitem falar informações confidenciais ou dados pessoais, uma vez que tais informações seriam enviadas para a nuvem.
A ideia dos aparelhos é básica, e exatamente a mesma utilizada pela Apple ou Google, por exemplo, em seus assistentes de voz. O uso deles é ativado por determinados comandos – “Hey Siri”, no iOS, ou “Ok Google”, no Android – e a fala é enviada para a nuvem, que por sua vez converte os dizeres em texto e os transforma no comando necessário. É um procedimento comum, presente em praticamente todo sistema do tipo. O problema é que, no caso da Samsung, os termos de uso dão a entender que essa transmissão de dados acontece o tempo todo, e não somente quando o reconhecimento de voz é ativado.
O texto afirma que o “dispositivo pode capturar comandos de voz e frases associadas para melhorar ou avaliar o sucesso da funcionalidade.” Por isso, “tome cuidado se sua fala incluir informação pessoal ou confidencial, pois tais termos serão capturados e transmitidos para serviços de terceiros por meio do [sistema].” Sem menção a um comando específico que ative o recurso, o trecho gerou críticas.
A Electronic Frontier Foundation, uma das entidades não-governamentais mais ativas quando o assunto é privacidade e proteção de dados, comparou os termos da Samsung com um trecho de “1984”, de George Orwell. No filme, os habitantes de um país sob um regime ditatorial vivem constantemente vigiado pelas teletelas, que não apenas transmitem as doutrinas do partido, como também são capazes de espionar diretamente a casa dos cidadãos e falar diretamente com eles.
Falando oficialmente ao site Daily Beast, a Samsung não negou a ambiguidade, mas disse aplicar criptografia e os mais altos padrões de segurança para proteção das informações transmitidas pelas TVs inteligentes. Apesar disso, afirmou também não ser responsável pelas práticas de segurança de terceiros, como outros serviços de cloud computing que utilize para coletar os comandos de voz e transformá-los em texto.
Aos usuários que se sentirem afetados pela política, a marca coreana indica que o recurso de reconhecimento de fala pode ser desativado por meio do menu de opções da Smart TV, ou que o aparelho seja desconectado completamente da rede. Nesse caso, o cliente perde junto todas as funções que fazem do televisor “inteligente”. As declarações não serviram para aplacar os ânimos dos críticos e, muito pelo contrário, parecem ter piorado as coisas ainda mais.
A título de comparação, o site Gizmodo cita os termos de uso da Motorola, que preocupada em justamente evitar esse tipo de coisa, deixa claro que não envia os dados de voz para lugar algum, fazendo todo o processamento no próprio aparelho. Além disso, em seus termos de uso, a companhia afirma que a captação é feita apenas depois do usuário dizer “Ok Google”, e que os aparelhos da linha Moto X não são gravadores, nem armazenam aquilo que é ouvido.
Com informações do Gizmodo, Daily Beast e Canaltech.