Ir para o conteúdo

Luiz Muller Blog

Voltar a Blog
Tela cheia Sugerir um artigo

Como a Islândia Reduziu a Jornada de Trabalho para 4 dias semanais aumentando a produtividade e o Bem-Estar dos trabalhadores

11 de Maio de 2025, 12:21 , por Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
Visualizado 15 vezes

A Islândia tem uma das jornadas de trabalho mais curtas do mundo, com 85% dos trabalhadores a trabalhar 36 horas por semana ou menos, sem redução de salário.  A produtividade e o bem-estar dos trabalhadores aumentaram significativamente.

A aventura islandesa em direção a uma semana de trabalho reformulada não começou do dia para a noite. Em 2015, foi lançado um experimento em larga escala, envolvendo cerca de 2.500 trabalhadores convidados a testar uma semana de quatro dias. Diante de feedbacks positivos e dados animadores, o movimento se acelerou e, por volta de 2019, a redução da jornada de trabalho foi ampliada. Após os testes, os sindicatos islandeses negociaram reduções nas horas de trabalho para dezenas de milhares de seus membros em todo o país. Segundo o relatório de 2024 do The Autonomy Institute, uma boa parte da força de trabalho islandesa (86%) trabalha menos, geralmente em torno de 35 a 36 horas por semana. Essa profunda transformação não foi provocada por um único decreto governamental, mas pela negociação coletiva e pela força dos acordos sindicais, relata a CNN.

Isso permitiu uma flexibilidade significativa: os funcionários podem reduzir suas horas semanais ou optar por uma semana de trabalho condensada em menos dias. Esse pragmatismo tem sido a chave para uma adoção massiva e bem-sucedida. Os temores iniciais, semelhantes aos observados em debates em outros países, como a Alemanha, concentravam-se principalmente em um possível colapso na produtividade ou na complexidade da compensação salarial. No entanto, a experiência islandesa dissipou esses medos. Relatórios, incluindo aqueles analisados ​​por laboratórios de ideias, como o do próprio The Autonomy Institute, responsável por essa pesquisa na Islândia, indicam que a produtividade não apenas permaneceu estável, mas às vezes até melhorou.

Como podemos explicar esse fenômeno? A resposta reside, em grande parte, na melhoria significativa do bem-estar dos trabalhadores. A redução da jornada de trabalho resultou em uma queda significativa nos níveis de estresse e na diminuição dos casos de burnout, segundo o The Autonomy Institute. Os funcionários relatam uma melhor capacidade de equilibrar o trabalho e a vida pessoal. Esta realidade ecoa diretamente as prioridades demonstradas pela Geração Z, grande parte da qual (cerca de 81% segundo alguns estudos) está convencida de que a redução da jornada de trabalho é sinônimo de maior eficiência e privilegia a saúde mental como critério essencial.

As chaves para o sucesso islandês

Há vários fatores que explicam por que o modelo islandês funcionou tão bem enquanto outras iniciativas fracassaram. Primeiro, e crucialmente, a transição foi feita sem qualquer perda de salário ou redução de benefícios para os funcionários. Essa é uma grande diferença em relação a modelos como o testado na Bélgica, onde a semana de quatro dias muitas vezes precisa ser compensada por dias úteis mais longos. Em segundo lugar, a Islândia investiu fortemente na digitalização de seus negócios e serviços públicos. O país se beneficia de uma das infraestruturas de internet mais avançadas do mundo, com conexões confiáveis ​​e rápidas, inclusive em áreas rurais. Este ambiente tecnológico tem facilitado muito a manutenção da produtividade, nomeadamente promovendo o crescimento do trabalho remoto e a otimização de processos.

Um dos problemas na questão de adotar uma carga menor de trabalho é a diferença entre setor público e privado, já que o setor privado se mostrou muito mais relutante em fornecer essa opção de jornada menor aos seus trabalhadores. Corroborando esta visão, o programa islandês de redução da jornada de trabalho foi criticado por associações de empregadores devido ao seu aparente impacto financeiro. Estima-se, porém, que os custos adicionais iniciais devido à redução da jornada de trabalho de todo o setor público em 2022 não ultrapassaram 0,11% do orçamento total: uma quantia pequena no contexto da melhoria da qualidade de vida de milhares de trabalhadores, diz o relatório do The Autonomy Institute.

A produtividade do trabalho na Islândia foi a que mais aumentou entre os países nórdicos nos últimos cinco anos (1,5%, segundo o Comitê de Estatísticas do Mercado de Trabalho) e a economia subiu 4,1% em 2023, relata a FOX 10. Isso é notável, visto que os críticos da iniciativa de redução de jornada alegaram repetidamente que a produtividade não aumentaria em relação à redução de jornada. Uma causa provável dessa mudança é a reorganização do trabalho e turnos mais bem organizados, estratégias destinadas a preparar a redução de jornada, mas também a ampla consulta sobre a implementação da redução da jornada de trabalho. Para complementar, em 2023, a taxa de desemprego da Islândia foi de 3,6%, uma das mais baixas da Europa, refletindo um mercado de trabalho forte, de acordo com o relatório.

A experiência islandesa, com anos de retrospectiva, oferece uma perspectiva interessante sobre o futuro do trabalho. Ela demonstra que a redução da jornada de trabalho, longe de ser uma utopia, pode ser uma estratégia vencedora para a produtividade, o bem-estar dos funcionários e até mesmo a igualdade social. Ao estabelecer as bases com um sistema educacional já altamente digitalizado, a Islândia está garantindo uma adaptação mais tranquila para as futuras gerações de trabalhadores. Este laboratório social a céu aberto confirma, por meio de fatos, que as intuições e demandas da Geração Z por um equilíbrio mais saudável entre vida pessoal e profissional e uma redefinição de desempenho não são meros caprichos, mas talvez os fundamentos de um modelo de trabalho mais sustentável e humano


Fonte: https://luizmuller.com/2025/05/11/como-a-islandia-reduziu-a-jornada-de-trabalho-para-4-dias-semanais-aumentando-a-produtividade-e-o-bem-estar-dos-trabalhadores/

Novidades