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Tânia Mandarino

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Nymphomaniac Volume II - o feminismo explícito em Lars Von Trier.

23 de Março de 2014, 20:58, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Ai você sai do cinema, depois de ler os últimos créditos com informações sobre a trilha sonora do filme, referências a todas as citações feitas (me lembro de ter visto Tarkovsky nesses créditos), o curioso aviso de que os atores do filme não foram submetidos a nenhum ato de penetração sexual e tudo o mais, e a vontade que dá é de gritar: LARS VON TRIER, SEU GÊNIO, EU TE AMOOOOOOOOOOOO!!!!

Não vou antecipar nada sobre o roteiro do filme, mas digo que no início do segundo volume de Nymphomaniac você chega a se irritar com Lars, por um nanocentésimo de segundo, por conta do que parece que vai tomar um rumo um tanto quanto caricato.

Só que não! Claro que não! Óbvio que quando se trata do genial, fabuloso, magnífico e cruelmente inteligente Lars Von Trier, não existirão obviedades!

Ou seja, a única obviedade é que nada óbvio acontecerá jamais num filme de Lars.

Enquanto isso, ele insiste na questão do desejo. Mas, e fica muito claro pra mim agora, única e tão somente na questão do desejo feminino.

Desvenda-se, nesta segunda parte do filme, que a questão central do que se iniciou com Nymphomaniac Volume I é exatamente a clássica pergunta de Freud: “afinal, o que quer uma mulher?”

E, no visceral desfecho do filme, Lars responde, a la Lacan: “ela quer gozar!

E ai, novamente, como faz em todos os seus filmes, o homem é apresentado como fraco, ainda que, neste, não haja um personagem masculino específico escolhido para encarnar o papel do “covarde”, em Nymphomaniac Volume II, Lars Von Trier termina por arrasar com o gênero todo, de uma só vez, com uma só roçada de foice.

Então, em seu relato psicanalítico para Seligman (Stellan Skarsgård), quando Joe (Charlotte Gainsbourg) está no limite da exaustão gerada por sua inadequada sexualidade, cheia de culpas pelo desejo, ouvimos Seligmanponderar, relembrando momentos anteriores do filme, desde o Volume I, que ninguém estranharia se fossem dois homens procurando por uma mulher num trem e que a sociedade não condena o homem que abandona os filhos por causa de seu desejo, assim como não o condena por praticar sexo com duas ou mais mulheres, e segue nos fazendo questionar se nos soariam tão repulsivas as experiência vividas e relatadas por Joe, caso tivessem sido praticadas por um homem e não por uma mulher.

Quero ver mulher que não se emocione neste ponto do filme.

Eu chorei. E choro agora, de novo, relembrando aquele rico diálogo, que costura o filme todo e nos faz refletir sobre o quanto ainda estamos sujeitas ao domínio do masculino, único gênero a quem é socialmente permitido desejar sem limites, permissão esta que, por exclusiva, muitas vezes, nos preenche de agressividade (masculina) e nos coloca em postura de agir como homens, para nos fazer ouvir e tentar sobreviver numa confusa tentativa de liberdade de ser...

O filme tem fortes cenas de sadomasoquismo, mas é Lars Von Trierquem bate pesado na cara de todo mundo, ao enquadrar a sociedade patriarcal e machista sob a ótica do homem covarde, fraco e dependente, assim produzido por esta própria sociedade, a qual está submetido em sua covardia (a fim de manter subjugado o perigoso desejo feminino), e a quem tudo é permitido em questões de desejo e, que, por isto, tiraniza a mulher ao seu bel prazer. Com a sua própria conivência, é evidente, introjetada exatamente por este asqueroso sistema de domínio, que leva a uma constante retroalimentação de culpas num círculo vicioso de mortificações da mulher que deseja.

É com extrema segurança e certeza de quem sabe do que está falando, que Lars Von Trier conduz esses diálogos, sobretudo os finais, numa conclusão perfeita que faz você ouvir a voz dO Cara te dizendo: mulher, liberte-se! Assuma o seu desejo! Goze o gozo vivo! Não adormeça!

E ai não tem como não sair do cinema amando mais, se é que possível amar mais ainda, esse gênio dinamarquês que faz cinema conclamando à libertação e esfregando na nossa cara, deslavadamente, a ruína da sociedade patriarcal que, sim, ainda nos oprime!

Meu analista que me perdoe, mas hoje Lars Von Trier me adiantou alguns anos de terapia.

A este respeito, aliás, na cena final, antes de seu ápice libertador, Joediz a Seligman que ter lhe relatado toda a sua história, trouxe a ela uma espécie de alívio e a possibilidade de tomar uma decisão, numa clara indicação de que o que se deu ali, foi uma grande sessão de psicanálise.

Ainda que, perceba-se bem, pela decisão inicialmente tomada por Joe, o insightgerado tenha sido castrador.

Ou não, pois a sequência seguinte, e grande final do filme, demonstra claramente a libertação do desejo desta mulher que porta o masculino nome de Joe.

...Tanta coisa mais pra dizer, a virgindade de Seligman e sua característica confessada de ser assexuado... A interessantíssima quase repetição da cena de Anticristo, onde o menino cai da janela (aqui não cai) ao som de Lascia ch’io pianga, de Händel... Charlotte Gainsbourg, Shia LaBeouf, Willem Dafoe...

Informações sobre história das religiões, trazidas por Seligman ao tempo em que nos é mostrada em sua parede cópia de uma obra antiga de Andrei Rublev, um dos maiores artistas russos da idade média que pertencia à igreja ortodoxa russa e pintava ícones religiosos (cuja história foi filmada por Tarkovsky em 1971), onde nos é contado que o Cristianismo se dividiu em igreja ortodoxa (cristianismo oriental) e igreja romana (cristianismo ocidental), sendo que a igreja oriental adotou muito mais os símbolos de Maria com Jesus no colo, numa clara opção pela alegria e pelo prazer, enquanto a igreja ocidental adotava o crucifixo e a via dolorosa de Cristo como símbolos predominantes, em evidente escolha por dor e sofrimento.... (e culpa e culpa e culpa!!!)

Questionamentos sobre a coisa 
da obrigatoriedade da utilização dos termos politicamente corretos, o que, para Joe, que insiste em chamar africanos de negros, a despeito da advertência de Seligman, abalaria os alicerces do estado democrático. E isto, pra mim, é um recado claro de Lars Von Trier para a hipócrita Hollywoodque o boicotou em 2012 em função de algumas declarações suas, mal interpretadas, a respeito de Hitler...

Enfim, a conversa de Lars com a gente é forte! Forte, direta, reta e colocada; ele nos olha diretamente nos olhos e conversa conosco como somente um Homem muito forte é capaz de fazer!

Pra fechar, voltando à coisa do masculino, outro dia meu analista me perguntava se não existe nenhum homem neste mundo que eu não considere fraco, nem na literatura ou algo assim e eu, após pensar um pouco respondi que sim, havia um único: um diretor dinamarquês chamado Lars Von Trier, que tinha a coragem de retratar a covardia masculina em todos os seus filmes.

Perdoem meninos, no abraço mais carinhoso de quem nasceu hétero e não pode viver sem vocês e na mais cristalina certeza de que somente os bravos e os fortes terão sabido ouvir tudo isto sem se acovardar! É que esse Lars Von Trier é mesmo hors-concours!

E, pra me redimir de qualquer ofensa, a magistral Lascia ch’io pianga na voz da magnífica soprano Cecília Bartoli:




Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte,
e che sospiri
la libertà.
Il duolo infranga
queste ritorte
de' miei martiri
sol per pietà!

(Deixe que eu chore
Minha sorte cruel,
Que eu suspire
Pela liberdade.
A dor quebra
Estas cadeias
De meus martírios,
Só por piedade!
)




Jeune et Jolie (2013)

4 de Março de 2014, 19:35, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Finda a temporada do Oscar, voltando aos franceses, me deparo com Jeune et Jolie e a história de Isabelle(interpretada corajosamente pela modelo Marine Vacth) a jovem e bela adolescente de François Ozon, que em 2012 nos presenteou com o genial Dans la Maison (Dentro da Casa).

Isabelle mora com sua mãe, padrasto e irmão mais novo e Ozonnos faz acompanha-la por quatro estações, começando pelo verão, na praia, onde ela apaga as 17 velinhas de seu bolo de aniversário e perde sua virgindade com um jovem alemão.

Nada material falta a Isabelle, mas na estação seguinte, o outono, vemos a jovem, secretamente, iniciando-se na prostituição.

E Ozon constrói a história de alguém a quem de verdade falta algo que caberá a nós, espectadores, descobrir o que é.

Há um pai, que mora longe e que nunca vemos, mas que em alguns diálogos aparece sem que Isabelle nos diga quem, de fato,  é esse pai. “É meu pai” e ponto.

Sabemos que o pai lhe manda dinheiro em duas ocasiões no ano: em seu aniversário e no natal, mas o pai não é o responsável pelo enredo essencial do filme.

Ou seria?

Em sessão de terapia na companhia da mãe, esta se surpreende ao saber que o pai mandara um cheque de 500 euros diretamente a Isabelle no último natal.

Ozon tem esse dom, de nos deixar intrigados e pensantes por tempos ainda, depois do filme findo.

Nas quatro estações nas quais nos é apresentada a vida de Isabelle, começando com o seu aniversário de 17 anos, fica evidente sua enorme dificuldade em se ligar afetivamente a alguém; com a própria mãe não a vemos ligada.

Há um vínculo amoroso com seu irmãozinho e com uma amiga do colégio. No mais, não a vemos capaz de criar vínculos afetivos, entregar-se.

No verão a conhecemos, no outono ela se prostitui sob o codinome de Léa e se afeiçoa muito a um velho que acaba morrendo embaixo dela enquanto faziam sexo no quarto de um luxuoso hotel.

No inverno, após ter seus atos descobertos pela mãe através da polícia, por conta da morte do velho, Isabelle inicia tratamento psicoterápico e acaba voltando a ser uma jovem “normal”.

A questão do dinheiro (e quantos euros ela acumulava escondidos numa nécessaireno maleiro de seu guarda roupas!), como algo que a aliviava de algum sentimento que não conseguimos identificar exatamente qual é, até por que, se há algo que ela realmente não necessitava era dinheiro. Tanto que o guardava todo.

A destinação desta grande quantia em dinheiro, apropriada pela mãe e reivindicada pela jovem após ter sido descoberta. A mãe silencia sobre a apropriação, Isabelle a questiona; a mãe sugere que seja destinado a uma instituição de reabilitação de jovens prostitutas; Isabelle, na primeira sessão de terapia, acompanhada pela mãe, provoca, perguntando qual o preço da sessão e dizendo que quer pagar as próximas com o dinheiro que ganhou. A mãe discorda, mas o terapeuta avaliza, afirmando que isto seria salutar.

Na primavera, Isabelle, em terapia, passa a viver uma vida comum às jovens de sua idade; trabalha como baby-sitter para uma amiga de sua mãe que teme ter seu esposo seduzido por ela, vai a uma festa da escola para dar uma força a uma amiga, conhece ali um jovem de sua idade que a quer beijar e começa a namorá-lo, aplaca, enfim, os temores da mãe de que ela seja uma ninfomaníaca e a vida parece ter retomado seu curso de normalidade.

Já ao final da primavera, porém, em cena domingueira familiar, após todos fazerem planos de onde passarão juntos o próximo verão, vemos Isabelle dizendo ao jovem que o namoro acabou e que ela não o ama.

Numa tradução de toda curiosidade e todo desejo de experimentação, típicos da adolescência, Isabelle tira de um esconderijo seu chip de celular dos tempos da prostituição e se depara com uma infinidade de recados para Léa.

Vemos Isabelle, então, no saguão do mesmo hotel em que morrera o velho, a espera de um cliente que, para surpresa, é a própria esposa do velho, Alice, na pele da magnífica, esplendorosa e divina Charlotte Rampling, uma senhora de grande beleza e de classe inigualável.

Charlotte Rampling
O que se passa nesse encontro, além de belo e delicado, é, talvez, a chave deixada por Ozon para a nossa compreensão a respeito de todos os motivos de Isabelle.

Ozon que, para cada estação do ano de Isabelle, nos oferece uma diferente canção de Françoise Hardy: L’Amour d’un Garçon, para o verão; A Quo iça Sert, para o outono; Premiere Rencontre, para o inverno e Je Suis Moi, para a primavera e final de seu filme.

Jeune et Jolie é, portanto, uma sinfonia; brutal e delicada ao mesmo tempo.

Abaixo, as quatro canções de Françoise Hardy que representam quatro estações na vida de Isabelle:

.L’Amour d’un Garçon, para o verão:



A Quo iça Sert, para o outono:



Premiere Rencontre, para o inverno:



Je Suis Moi, para a primavera:




The Oscars...

4 de Março de 2014, 18:38, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Para não passar em branco, apesar do atraso, deixo aqui o resultado da premiação do Oscar 2014, havida no último domingo, 2 de março.

O Oscar de Melhor Filme foi para 12 Anos de Escravidão, como todo mundo já estava careca de saber.

O italiano “A Grande Beleza”, verdadeira obra de arte de Sorrentino, levou o merecidíssimo prêmio de Melhor Filme Estrangeiro.

Melhor Atorpara Matthew McConaughey, por "Clube de Compras Dallas", como todo mundo já sabia, afinal quem emagrece mais de cinco quilos tem mesmo que ganhar um Oscar.

Não foi desta vez que Leozinho levou o seu, mas virou alvo de memes muito engraçados na internet.
Cate Blanchett foi eleita a Melhor Atriz, por "BlueJasmine", o que eu prefiro nem comentar.
E, mais uma vez, o prêmio de Melhor Direçãonão foi para o Melhor Filme. Alfonso Cuarón foi eleito Melhor Diretor, por "Gravidade", enquanto o grande prêmio da noite ficou com "12 Anos de Escravidão", dirigido por Steve McQueen.
Melhor Direção para Cuarón, aliás, comemoramos Horrores!!!!!! O primeiro latino a ganhar um Oscar de Direção. Eu já sabia! Foram sete prêmios para "Gravidade": efeitos visuais, edição de som, mixagem de som, fotografia, montagem, trilha sonora e diretor. Arriba México! Viva Cuarón!!!
Abaixo a lista completa de vencedores do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles:
Melhor filme

Melhor ator
Matthew McConaughey, de "Clube de compras Dallas".

Ator coadjuvante
Jared Leto, de "Clube de Compras Dallas".

Melhor atriz
Cate Blanchett, de "Blue Jasmine".

Atriz coadjuvante

Melhor diretor
Alfonso Cuarón, de "Gravidade".

Efeitos Visuais

Mixagem de Som

Fotografia

Montagem

Trilha Sonora

Maquiagem e Cabelo
"Clube de Compras Dallas"

Roteiro adaptado

Animação

Canção Original

Figurino
"O Grande Gastsby"

Direção de Arte
"O Grande Gastsby"

Roteiro Original

Filme Estrangeiro

Animação em Curta-Metragem
"Mr. Hublot"

Curta-Metragem
"Helium"

Documentário em Curta-Metragem
"The Lady in Number 6: Music Saved My Life"

Documentário em Longa-Metragem
"A um Passo do Estrelato"

Canção original
"Let it Go", de "Frozen: Uma Aventura Congelante" – Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez (música e letra)



GRAVITY (2013)

3 de Março de 2014, 2:41, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

O mexicanoAlfonso Cuarón nos presenteia com este filme tão bonito, onde a grandeza externa do Universo contrasta com as angústias que permeiam nosso universo interno.

O que parece, e talvez, esteja classificado como, uma obra de ficção, é, na verdade uma obra que diz muito mais com o psiquismo do que com ficção científica.

Tanto que Cuarón não deu a mínima para as críticas de astronautas apontando erros científicos no filme, como a posição dos cabelos dos atores em órbita e coisas do gênero.

É que o filme orbita mesmo em torno de questões muito mais subjetivas do que técnicas. Que surpresa grata para quem, como eu, não é chegada em ficção científica!

Gravity fala sobre a vida e sobre a necessidade de renascer. Ótimo para os que temos nossas dificuldades com nascimentos e recomeços!

Fala sobre a vida de uma forma simples, como a vida deve ser, se utilizando de um roteiro minimalista e de um argumento clichê: a doutora Ryan Stone, interpretada por Sandra Bullock, perdeu uma filha de 4 anos e está no espaço para consertar o telescópio Hubble junto a uma tripulação que morre toda logo no começo e o astronauta experiente Matt Kowalski (George Clooney) passa tempo suficiente ao seu lado para lhe perguntar se tem alguém na Terra olhando para cima a sua espera.

Aliás, o roteiro é do próprio Alfonso em parceria com seu filho, Jonas Cuarón.

A luta da astronauta envolve graves fatores externos (alheios a sua vontade), mas quem decide se quer continuar VIVA é a própria personagem.

A grandeza do humano, tão pequeno diante do Universo imenso!

Um belo filme que, apesar do argumento clichê, foge do lugar comum ao falar de recomeço e de VIDA de uma forma tão original.

A aterrisagem da astronauta na Terra, depois que ela faz sua opção pela VIDA, o modo como submerge do mar é cena de grande simbolismo: a origem da vida, o recomeço, a vida original se (re)formando para sair caminhando cambaleante em direção a terra firme.

A astronauta nas águas de um útero maior, dando a luz a si mesma. O parto. As dificuldades de vir à luz, de nascer, o que só se torna possível a partir do desejo. A pulsão original que gerou a vida na Terra e que faz a gente nascer e renascer a cada dia.

Gravity foi o filme de abertura do Festival de Veneza 2013.

Tenho que concordar com a declaração de Alfonso Cuarónde que Gravity é o "melhor filme de espaço já realizado".


O Globo de Ouro de Melhor Direção ele já levou.



BLUE JASMINE (2013)

9 de Fevereiro de 2014, 19:37, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

O filme ruim da vez de Woody Allen teve três indicações ao Oscar: Melhor atriz (Cate Blanchett), Melhor atriz coadjuvante (Sally Hawkinse Melhor Roteiro Original para Allen, que sempre o abocanha.

Apesar de qualificado como comédia dramática, eu não diria que o cômico seja exatamente a tônica de Blues Jasmine.

Jasmine, a personagem de Cate Blanchett, foi inspirada em Blanche Dubois, da peça teatral Um Bonde Chamado Desejo, de Tenesse Williams, do que deriva minha inquietação sobre o fato de, mesmo assim, Allen ter sido indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original (original?).

A crise econômica americana é o pano de fundo do filme, que retrata a decadente Jasmine retornando para a casa da irmã pobre que sempre negara, após seu marido golpista, Hal (Alec Baldwin), ter perdido a fortuna e se enforcar na prisão.

O filme todo se desenrola a partir da tentativa de Jasmine de seguir a vida em meio à pobreza que tanto abomina, morando com sua irmã Ginger (personagem que Sally Hawkins construiu com brilhantismo!), os dois sobrinhos e tendo que enfrentar o namorado pobretão e troglodita de sua irmã.

Em meio ao que é, conhecemos o que foi através dos flashbacks muito bem colocados por Allen, que costura o passado e o presente de Jasmine nos dando a ideia de um panorama caótico, neurótico e, ao mesmo tempo, recheado de uma inocência a qual ninguém neste mundo teria o direito de portar.

A questão sobre se dinheiro, posição, fama e requinte são ou não importantes fica clara no cotejo entre a vida da dondoca Jasmine e a de sua irmã, Ginger, que sem dinheiro, posição ou qualquer requinte acaba sendo quem recolhe Jasmine em sua decadência e, mais, Ginger é quem tem casa, filhos, namorado e amor suficiente para acolher a irmã que no passado não lhe tratara com tanto acolhimento.

O olhar machista de Allen sobre o filme, entretanto, deixa clara sua conclusão, durante e ao final do filme: com dinheiro ou sem dinheiro, uma mulher não pode existir sem um homem. E é este o sabor mais azedo de Blue Jasmine, que acaba sendo difícil de engolir por trazer esta questão de forma fechada, sem nem ao menos deixar que a conclusão seja nossa, como na questão do dinheiro.

Quanto à festejada atuação de Cate Blanchett como Jasmine, mesmo me parecendo que ela quer ser Meryl Streep, em não raros momentos do filme me remeteu mesmo a alguma coisa de Marília Gabriela que já vi na dramaturgia.

A música é boa; blues de primeira!

1. Back O’ Town Blues – Louis Armstrong
2. Speakeasy Blues – King Oliver
3. Blues My Naughty Sweetie Gives to Me – Noone
4. A Good Man Is Hard To Find – Lizzie Miles
5. Aunt Hagar’s Blues – Louis Armstrong
6. House Party – Mezzrow-Bechet Quintet & Septet
7. Out On The Town – Kully B, Gussy G & Bilkhu
8. West End Blues – King Oliver
9. Black Snake Blues aka Black Swing Blues – King Oliver
10. Great White Way Performed By Julius Block
11. The Vision Performed By Dj Aljaro
12. Ipanema Breeze Performed By Paul Abler
13. Yacht Club Performed By Julius Block
14. Human Static Bob Bradley, Matt Sanchez & Gavin Mcgrath15. Average Joe
16. Miami Sunset Bar Performed By Mireya Medina & Raul Medina
17. Welcome To The Night
18. Love Theme Performed By David Chesky
19. My Baby Sends Me Aka “My Daddy Rocks Me (part 1)” Performed By Trixie Smith