Saramago ganha exposição em São Paulo
March 8, 2018 10:41A vida e a obra do escritor português José Saramago são retratadas em uma exposição no Farol Santander, no centro da capital paulista. A mostra reúne objetos pessoais do autor com videoinstalações, incluindo depoimentos gravados pelo diretor Miguel Gonçalves Mendes para o filme "José e Pilar" (2010).
A mostra "Saramago Os Pontos e a Vista" está dividida em 15 módulos. Nos primeiros passos, o visitante vai conhecer a Azinhaga, onde o escritor nasceu em 1922. A partir das memórias com os avós na aldeia, que atualmente tem cerca de 1,6 mil habitantes, são trazidas também as reflexões de Saramago sobre a velhice.
Durante o passeio, os pensamentos do autor contextualizam algumas de suas obras mais emblemáticas, como "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", em que são apresentadas divagações sobre fé e a existência de Deus. "O Ensaio sobre a Cegueira", outro livro marcante que foi levado ao cinema pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles, é abordado indiretamente em uma reflexão sobre a visão e a dificuldade de enxergar.
A relação com a companheira, a escritora espanhola Pilar del Río, também tem destaque na reconstrução da trajetória do escritor, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Naquele ano, Saramago estava casado havia uma década com Pilar, que é jornalista. Não só o amor entre os dois é um dos temas da mostra, mas como a Ilha de Lanzarote, nas Ilhas Canárias, onde viveram juntos até a morte de Saramago em 2010.
Pilar é atualmente responsável pela Fundação Saramago, que preserva o legado do escritor, além de incentivar diversos tipos de trabalhos culturais e várias linguagens. “A história da humanidade é uma história de continuarmos uns aos outros. Assim também é a história da literatura. Nunca existem livros ou palavras demais. Sempre são oportunos para a pessoa que precisa ler. Nós, da fundação, queremos continuar a José Saramago, como continuamos lendo sua obra e investigando o seu legado, mas, sobretudo, abrindo caminho para novos escritores que vão ser os Saramagos do futuro”, disse, em entrevista à TV Brasil.
Ainda para este ano, está sendo preparada a publicação de discursos e palestras proferidas por Saramago, que estão dispersas ou sem formatação final. “Estamos organizando as conferências e os discursos e alguns artigos que estão publicados em outros países e outros não. Infelizmente, não existem romances inéditos, nem poesia. Pensamento, intervenção, reflexão, isso encontramos a cada dia, às vezes de uma forma que nos surpreende e que nos enche de esperança. Espero que antes que termine o ano possamos ver alguns papeis que não conhecíamos”, afirmou Pilar.
A exposição "Saramago Os Pontos e a Vista" fica em cartaz até o dia 3 de junho. Com entrada gratuito, o Farol Santander fica na Rua João Brícola, 24, no centro de São Paulo. O espaço fica aberto de terça-feira a sábado, das 9 às 20 horas, e aos domingos, das 9 às 18 horas. (Agência Brasil)
A cidade onde a pobreza é crime
March 7, 2018 10:14Carlos Motta
Os vereadores da cidade paulista de Jundiaí, mais de 400 mil habitantes, IDH de 8,22 (muito elevado), PIB de mais de R$ 36 bilhões, localizada a apenas 60 quilômetros da capital, acabam de aprovar um projeto de lei do Executivo que torna crimes as atividades de pedintes e artistas de rua em semáforos.
Já os comerciantes do Centro vêm pedindo às autoridades providências para afastar os mendigos e sem-teto que, de uns tempos para cá, resolveram habitar a região, prejudicando os negócios da gente de bem.
Pelos comentários nas redes sociais, muitos moradores de Jundiaí apoiam a decisão dos vereadores que, como o prefeito, acham que a pobreza é crime.
Quanto aos artistas, eles fazem o que podem para se expressar e sobreviver.
Alguns são mestres nos malabares, mesmo nos locais mais improváveis, como as ruas, onde exibem o frágil equilíbrio de suas vidas; outros, por meio de música e poesia, retratam a triste realidade que veem.
Como Chico Buarque e Francis Hime em "Pivete":
No sinal fechado
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Meio se maloca
Agita numa boca
Descola uma mutuca
E um papel
Sonha aquela mina, olerê
Prancha, parafina, olará
Dorme gente fina
Acorda pinel
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
Engata uma primeira
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Na contramão
Dança para-lama
Já era para-choque
Agora ele se chama
Emersão
Sobe no passeio, olerê
Pega no Recreio, olará
Não se liga em freio
Nem direção
No sinal fechado
Ele transa chiclete
E se chama pivete
E pinta na janela
Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas
Agita numa boca
Descola uma mutuca
E um papel
Sonha aquela mina, olerê
Prancha, parafina, olará
Dorme gente fina
Acorda pinel
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
Engata uma primeira
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Na contramão
Dança para-lama
Já era para-choque
Agora ele se chama
Emersão
Sobe no passeio, olerê
Pega no Recreio, olará
Não se liga em freio
Nem direção
No sinal fechado
Ele transa chiclete
E se chama pivete
E pinta na janela
Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas
Ou Théo de Barros, com seu "Menino das Laranjas" ( na voz de Elis Regina):
Menino que vai pra feira
Vender sua laranja até se acabar
Filho de mãe solteira
cuja ignorância tem que sustentar
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe já arranja um outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Vender sua laranja até se acabar
Filho de mãe solteira
cuja ignorância tem que sustentar
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe já arranja um outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Compre laranja
Menino que vai pra feira
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe arranja outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Compra laranja, laranja, laranja doutô
ainda dou uma de quebra pro senhor
Lá no morro
A gente acorda cedo e é só trabalhar
Comida é pouca e muita roupa
Que a cidade manda pra lavar
De madrugada
Ele menino acorda cedo, tentando encontrar
Um pouco pra poder viver
Até crescer
E a vida melhorar
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Menino que vai pra feira
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe arranja outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Compra laranja, laranja, laranja doutô
ainda dou uma de quebra pro senhor
Lá no morro
A gente acorda cedo e é só trabalhar
Comida é pouca e muita roupa
Que a cidade manda pra lavar
De madrugada
Ele menino acorda cedo, tentando encontrar
Um pouco pra poder viver
Até crescer
E a vida melhorar
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Emprego, que é bom, nada. E assim o Brasil se afasta, celeremente, da civilização.
"E foi proclamada a escravidão..."
March 6, 2018 17:27Carlos Motta
Nazismo e comunismo são a mesma coisa, já que o partido de Hitler se chamava Nacional Socialista.
A Terra não pode ser uma esfera, como dizem, pois se fosse, as pessoas que estão no lado de baixo cairiam.
Os governos Lula e Dilma quiseram instaurar o comunismo bolivariano no Brasil.
A carga tributária do Brasil é a maior do mundo e o Estado mínimo vai nos levar ao paraíso.
Todo político é ladrão.
Lula é o maior dos ladrões porque tem um sítio e um apartamento que não estão em seu nome.
Bolsonaro, o Mito, vai pôr ordem neste país liberando o porte de armas para os homens de bem e dando carta branca para a polícia matar quem tiver cara de bandido.
Intervenção militar constitucional já!
Como se vê, de uns tempos para cá, o bestialógico nacional não para de crescer - parece que já se incorporou à cultura brasileira.
Cinquenta e dois anos atrás, em 1966, o jornalista Sérgio Porto, que sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, criou o Febeapá, Festival de Besteiras que Assola o País, deliciosas crônicas que viraram livros, via a sua composição "Samba do Crioulo Doido" fazer sucesso nas vozes afinadíssimas das baianas do Quarteto em Cy.
A música é uma paródia de um samba-enredo e mistura, em situações absurdas, personagens da história do Brasil. Tratava-se de uma crítica de Sérgio Porto à obrigatoriedade de os enredos das escolas de samba abordarem temas históricos, algo que não deu certo inúmeras vezes.
O "Samba do Crioulo Doido" se tornou antológico. E a composição é cada vez mais atual: o que é este Brasil Novo a não ser um imenso hospício?
https://www.youtube.com/watch?v=lnhs2z7jbOM
Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a Princesa Leopoldina
Arresolveu se casá
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes
Lá iá lá iá lá ia
O bode que deu vou te contar
Lá iá lá iá lá iá
O bode que deu vou te contar
Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
E foi proclamada a escravidão
Assim se conta essa história
Que é dos dois a maior glória
Dona Leopoldina virou trem
E Dom Pedro é uma estação também
O, ô , ô, ô, ô, ô
O trem tá atrasado ou já passou
Bienal de arte digital segue este mês para Belo Horizonte
March 6, 2018 14:25A primeira edição da Bienal de Arte Digital, no Centro Cultural Oi Futuro (Rua 2 de Dezembro, 63, Flamengo, Rio de Janeiro) reúne obras de arte tecnológica de artistas nacionais e internacionais, todas selecionadas sob o tema linguagens híbridas. Exposições inovadoras, como “Caravel”, escultura cinética do artista-cientista brasileiro Ivan Henriques que é capaz de extrair energia do metabolismo de bactérias anaeróbicas em um processo que também é capaz de filtrar águas poluídas, permanecem no local até 18 de março.
Depois disso, a Bienal segue para Belo Horizonte, onde a programação ocorrerá entre os dias 26 de março e 29 de abril no Conjunto Moderno Da Pampulha - Museu de Arte da Pampulha (MAP), com patrocínio da Oi, Cemig, Accor Hotels, Mastermaq, Belotour e apoio cultural Oi Futuro e Conjunto Moderno da Pampulha. Para ver um vídeo com as exposições clique aqui: https://we.tl/6sKr1NoDW2.
“O discurso da Bienal e as questões debatidas por ela são completamente atuais. Acho importante e relevante nossa sociedade poder ver este tipo de trabalho porque a arte tem esse fator de instigar, aproximar, trazer curiosidade e sentimentos”, afirma Ivan, que desenvolveu a bioarte “Caravel” em parceria com a Universidade de Gante, na Bélgica, e contou com o apoio do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) para cultivar no Rio de Janeiro a bactéria necessária para a exposição.
Entre as artes expostas está “Espelho Sonoro”, desenvolvido pelo brasileiro Rodrigo Ramos, que pretende recriar o equipamento utilizado por soldados na Primeira Guerra Mundial para captar o som de aproximação de exércitos adversários, mas com o intuito de fazer o público perceber com clareza os sons do cotidiano que passam despercebidos. Já o artista curitibano Jack Holmer traz pela primeira vez ao Brasil o seu “Manifesto Contra a Gravidade”, após apresentações nos Estados Unidos e em Israel. Trata-se de robôs de impressão 3D elaborados para flutuar e se movimentar de acordo com a aproximação do público, desafiando as leis da física.
“Quando temos essa junção de artistas do mundo inteiro, como ocorre aqui na Bienal de Arte Digital, mostramos que os pontos de pesquisa, apesar de estarmos trabalhando com engenharia, matemática, ciência e poética, eles são os mesmos pontos da arte contemporânea”, analisa Jack Holmer, que também é professor de Poéticas Tecnológicas na Unespar/Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Entre as exposições internacionais estão “Bloques Erráticos”, do chileno e diretor da Universidad de Chile Daniel Cruz, obra realizada somente com garrafas de água e iluminação que exibe um poema em prol da preservação das geleiras; e “Langpath”, do espanhol Sóliman Lopez, estrutura que capta os movimentos do expectador e busca mostrar a velocidade com que os dados chegam a outros servidores ao redor do mundo.
“Com o Langpath busco mostrar como o mundo digital está trabalhando por trás do que vemos e quão grande é o esforço para manter nossa nova cultura e nosso ambiente digital de comunicação”, explica Lopez, da Escuela Superior de Arte y Tecnologia de Valencia, na Espanha.
A proposta da Bienal é se tornar uma agenda nacional de arte digital e mostrar a cada dois anos obras e exposições que reflitam temas sociais importantes, evidenciando que a arte possibilita à tecnologia exibir suas experiências sociais.
As configurações atuais da arte tecnológica têm se fundido com a vida contemporânea, num processo viral de trocas incessantes entre o mundo real e o simulado. Criam-se trabalhos híbridos, nos quais o digital e o analógico, o natural e o artificial, o real e o virtual, se atravessam. A tecnologia passou a ser vista como um fator constitutivo da vida humana e com a biotecnologia, a própria vida. As pesquisas científicas são reapropriadas e se transformam em linguagens artísticas, através do uso da interatividade, virtualidade, sistemas híbridos e imersão.
Álbum resume a grande obra de Catulo da Paixão Cearense
March 5, 2018 9:57São cento e cinquenta e cinco anos do nascimento de um dos maiores poetas da música popular brasileira: Catulo da Paixão Cearense. Para comemorar a data, o Selo Sesc lançou o álbum "A Paixão Segundo Catulo", no qual Mário Sève arregimentou novas e consagradas vozes do cancioneiro nacional para fazer jus à poesia de Catulo.
No texto abaixo, publicado no site do Sesc, o jornalista, radialista e pesquisador Zuza Homem de Melo introduz o mestre ao público:
Catulo da Paixão Cearense foi o mais popular letrista brasileiro no início do século XX, embora “incapaz de escrever uma célula melódica que fosse”, segundo Heitor Villa-Lobos. Um certo preconceito do maestro, já que Catulo aprendeu violino e se acompanhava ao violão. Paixão era o sobrenome de seu pai, um ourives cearense que, vivendo em São Luís, acrescentou o adjetivo de sua origem formando o novo nome da família que, ao se transferir para o Rio, propiciou a Catulo tornar-se conhecido no meio musical carioca.
Imaginoso e de uma fertilidade poética incessante, admitiu, com razão, que peças instrumentais da época pudessem ganhar fama se devidamente letradas. Ou seja, Catulo detectou que canções seriam muito mais populares que temas puramente instrumentais, alguns dele tão bem elaborados que estavam como que a pedir uma letra para cair na boca do povo.
Catulo se constituiu numa personalidade original e controvertida de grande sucesso na música popular brasileira nos recitais que o consagravam e, sobretudo, através de sua inegável intuição em poetar melodias.
Poetar melodias sintoniza-se com expressões frequentes em seus versos ostentosos, excessivos em metáforas e abundantes em elocuções pernósticas – níveas lágrimas, travor do seu dulçor, odor de resedá, antera da flor, flóreas sendas sempre ovantes ou lenir o seio – espalhadas pelas composições de grandes músicos como João Pernambuco, Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Joaquim da Silva Callado e outros que se ouvem neste disco.
Vaidoso como ele só, Catulo é o intrigantes personagem central do CD, a figura de vida própria para enredo de cinema nos seus altos e baixos: ovações consagradoras no Palácio do Catete diante de plateia culta que incluía o presidente da República e, no outro extremo, o trabalho braçal como estivador no cais do porto.
Amparadas na maior parte das vezes por arranjos do saxofonista e flautista Mário Sève, o produtor deste trabalho, ouvem-se vozes cuidadosamente escolhidas no cenário da música atual. Joyce Moreno, Leila Pinheiro, Claudio Nucci, Carol Saboya, Lui Coimbra, Rodrigo Maranhão, Alfredo Del-Penho e Mariana Baltar formam o elenco de intérpretes que dão vida às canções representativas da essência da obra de Catulo.
Nesse conjunto destacam-se composições que deram a Catulo a alcunha de “poeta do sertão” ao estabelecer um verdadeiro parâmetro da poesia cabocla quando introduziu em sua poética a linguagem herdada do que ouvia na adolescência vivida no nordeste.
Assim, se entende porque sua mais conhecida composição, “Luar do Sertão”, chegou a ser quase um segundo hino brasileiro (“Não há ó gente, oh não / luar como esse do sertão.... Se a lua nasce por detrás da verde mata / mais parece um sol de prata / prateando a solidão...) abafando o nome do compositor da bela melodia de origem folclórica, o violonista João Pernambuco, além de soterrar o título original, “Engenho de Humaitá”. No pioneirismo de letras extensas no estilo caboclo está “Cabocla de Caxangá” (“Caboca di Caxangá/minha cabôca vem cá/Quiria vê si essa gente também senta tanto amô...”) em que Catulo abre mão de seu estilo pomposo em favor da simplicidade da fala do homem do sertão.
O estilo está presente na maior parte de sua obra, cerca de 150 composições, nem sempre mantidas com o título original, em que incorpora versos que as consagraram. Assim “Choro e poesia”, conhecida como “Ontem ao Luar”, se inicia com versos que seresteiros saboreiam ao cantar “Ontem ao luar, nós dois em plena solidão.....”. “Terna saudade”, que foi reintitulada como “Por um beijo” e extensamente gravada, termina com estes versos valseados “Se tu velada no mais casto véu, concederes-me a vitória, a suprema gloria de um só beijo teu”. Enquanto “Rasga coração” tinha melodia de “Iara”, “Talento e formosura: assumiu o lugar de “Nair” com versos sarcásticos já no início ”Tu podes bem guardar os dons da formosura / que o tempo um dia há de implacável trucidar..... E quanto a mim, ireia cantando meu ideal de amor........Mas quando a morte conduzir-te à sepultura / o teu supremo orgulho em pó reduzirá”.
Construções invertidas, frases hiperbólicas, versos em métrica correta, palavras fora de moda permeiam esse universo de arrebatadas declarações de amor purificado que nos dias de hoje parecem proceder de outro planeta. Não são. São as trovas e serestas que foram glorificadas no início do século XX atingindo extratos sociais de todo tipo, do presidente ao mais simples cidadão, bem como seresteiros que as entoavam nas ruas mal iluminadas ou sob os lustres dos salões na voz do próprio Catulo em concorridos recitais.
Aqui regravadas respeitosa e cuidadosamente nos arranjos e nas interpretações de um elenco que soube concretizar essa bela ideia de Mário Sève, as canções de Catulo representam pois a música de caráter eminentemente popular enaltecidas na Belle Époque do Rio de Janeiro.
As canções podem ser ouvidas em encurtador.com.br/pzJT7








