Bienal de arte digital segue este mês para Belo Horizonte
marzo 6, 2018 14:25A primeira edição da Bienal de Arte Digital, no Centro Cultural Oi Futuro (Rua 2 de Dezembro, 63, Flamengo, Rio de Janeiro) reúne obras de arte tecnológica de artistas nacionais e internacionais, todas selecionadas sob o tema linguagens híbridas. Exposições inovadoras, como “Caravel”, escultura cinética do artista-cientista brasileiro Ivan Henriques que é capaz de extrair energia do metabolismo de bactérias anaeróbicas em um processo que também é capaz de filtrar águas poluídas, permanecem no local até 18 de março.
Depois disso, a Bienal segue para Belo Horizonte, onde a programação ocorrerá entre os dias 26 de março e 29 de abril no Conjunto Moderno Da Pampulha - Museu de Arte da Pampulha (MAP), com patrocínio da Oi, Cemig, Accor Hotels, Mastermaq, Belotour e apoio cultural Oi Futuro e Conjunto Moderno da Pampulha. Para ver um vídeo com as exposições clique aqui: https://we.tl/6sKr1NoDW2.
“O discurso da Bienal e as questões debatidas por ela são completamente atuais. Acho importante e relevante nossa sociedade poder ver este tipo de trabalho porque a arte tem esse fator de instigar, aproximar, trazer curiosidade e sentimentos”, afirma Ivan, que desenvolveu a bioarte “Caravel” em parceria com a Universidade de Gante, na Bélgica, e contou com o apoio do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) para cultivar no Rio de Janeiro a bactéria necessária para a exposição.
Entre as artes expostas está “Espelho Sonoro”, desenvolvido pelo brasileiro Rodrigo Ramos, que pretende recriar o equipamento utilizado por soldados na Primeira Guerra Mundial para captar o som de aproximação de exércitos adversários, mas com o intuito de fazer o público perceber com clareza os sons do cotidiano que passam despercebidos. Já o artista curitibano Jack Holmer traz pela primeira vez ao Brasil o seu “Manifesto Contra a Gravidade”, após apresentações nos Estados Unidos e em Israel. Trata-se de robôs de impressão 3D elaborados para flutuar e se movimentar de acordo com a aproximação do público, desafiando as leis da física.
“Quando temos essa junção de artistas do mundo inteiro, como ocorre aqui na Bienal de Arte Digital, mostramos que os pontos de pesquisa, apesar de estarmos trabalhando com engenharia, matemática, ciência e poética, eles são os mesmos pontos da arte contemporânea”, analisa Jack Holmer, que também é professor de Poéticas Tecnológicas na Unespar/Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Entre as exposições internacionais estão “Bloques Erráticos”, do chileno e diretor da Universidad de Chile Daniel Cruz, obra realizada somente com garrafas de água e iluminação que exibe um poema em prol da preservação das geleiras; e “Langpath”, do espanhol Sóliman Lopez, estrutura que capta os movimentos do expectador e busca mostrar a velocidade com que os dados chegam a outros servidores ao redor do mundo.
“Com o Langpath busco mostrar como o mundo digital está trabalhando por trás do que vemos e quão grande é o esforço para manter nossa nova cultura e nosso ambiente digital de comunicação”, explica Lopez, da Escuela Superior de Arte y Tecnologia de Valencia, na Espanha.
A proposta da Bienal é se tornar uma agenda nacional de arte digital e mostrar a cada dois anos obras e exposições que reflitam temas sociais importantes, evidenciando que a arte possibilita à tecnologia exibir suas experiências sociais.
As configurações atuais da arte tecnológica têm se fundido com a vida contemporânea, num processo viral de trocas incessantes entre o mundo real e o simulado. Criam-se trabalhos híbridos, nos quais o digital e o analógico, o natural e o artificial, o real e o virtual, se atravessam. A tecnologia passou a ser vista como um fator constitutivo da vida humana e com a biotecnologia, a própria vida. As pesquisas científicas são reapropriadas e se transformam em linguagens artísticas, através do uso da interatividade, virtualidade, sistemas híbridos e imersão.
Álbum resume a grande obra de Catulo da Paixão Cearense
marzo 5, 2018 9:57São cento e cinquenta e cinco anos do nascimento de um dos maiores poetas da música popular brasileira: Catulo da Paixão Cearense. Para comemorar a data, o Selo Sesc lançou o álbum "A Paixão Segundo Catulo", no qual Mário Sève arregimentou novas e consagradas vozes do cancioneiro nacional para fazer jus à poesia de Catulo.
No texto abaixo, publicado no site do Sesc, o jornalista, radialista e pesquisador Zuza Homem de Melo introduz o mestre ao público:
Catulo da Paixão Cearense foi o mais popular letrista brasileiro no início do século XX, embora “incapaz de escrever uma célula melódica que fosse”, segundo Heitor Villa-Lobos. Um certo preconceito do maestro, já que Catulo aprendeu violino e se acompanhava ao violão. Paixão era o sobrenome de seu pai, um ourives cearense que, vivendo em São Luís, acrescentou o adjetivo de sua origem formando o novo nome da família que, ao se transferir para o Rio, propiciou a Catulo tornar-se conhecido no meio musical carioca.
Imaginoso e de uma fertilidade poética incessante, admitiu, com razão, que peças instrumentais da época pudessem ganhar fama se devidamente letradas. Ou seja, Catulo detectou que canções seriam muito mais populares que temas puramente instrumentais, alguns dele tão bem elaborados que estavam como que a pedir uma letra para cair na boca do povo.
Catulo se constituiu numa personalidade original e controvertida de grande sucesso na música popular brasileira nos recitais que o consagravam e, sobretudo, através de sua inegável intuição em poetar melodias.
Poetar melodias sintoniza-se com expressões frequentes em seus versos ostentosos, excessivos em metáforas e abundantes em elocuções pernósticas – níveas lágrimas, travor do seu dulçor, odor de resedá, antera da flor, flóreas sendas sempre ovantes ou lenir o seio – espalhadas pelas composições de grandes músicos como João Pernambuco, Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Joaquim da Silva Callado e outros que se ouvem neste disco.
Vaidoso como ele só, Catulo é o intrigantes personagem central do CD, a figura de vida própria para enredo de cinema nos seus altos e baixos: ovações consagradoras no Palácio do Catete diante de plateia culta que incluía o presidente da República e, no outro extremo, o trabalho braçal como estivador no cais do porto.
Amparadas na maior parte das vezes por arranjos do saxofonista e flautista Mário Sève, o produtor deste trabalho, ouvem-se vozes cuidadosamente escolhidas no cenário da música atual. Joyce Moreno, Leila Pinheiro, Claudio Nucci, Carol Saboya, Lui Coimbra, Rodrigo Maranhão, Alfredo Del-Penho e Mariana Baltar formam o elenco de intérpretes que dão vida às canções representativas da essência da obra de Catulo.
Nesse conjunto destacam-se composições que deram a Catulo a alcunha de “poeta do sertão” ao estabelecer um verdadeiro parâmetro da poesia cabocla quando introduziu em sua poética a linguagem herdada do que ouvia na adolescência vivida no nordeste.
Assim, se entende porque sua mais conhecida composição, “Luar do Sertão”, chegou a ser quase um segundo hino brasileiro (“Não há ó gente, oh não / luar como esse do sertão.... Se a lua nasce por detrás da verde mata / mais parece um sol de prata / prateando a solidão...) abafando o nome do compositor da bela melodia de origem folclórica, o violonista João Pernambuco, além de soterrar o título original, “Engenho de Humaitá”. No pioneirismo de letras extensas no estilo caboclo está “Cabocla de Caxangá” (“Caboca di Caxangá/minha cabôca vem cá/Quiria vê si essa gente também senta tanto amô...”) em que Catulo abre mão de seu estilo pomposo em favor da simplicidade da fala do homem do sertão.
O estilo está presente na maior parte de sua obra, cerca de 150 composições, nem sempre mantidas com o título original, em que incorpora versos que as consagraram. Assim “Choro e poesia”, conhecida como “Ontem ao Luar”, se inicia com versos que seresteiros saboreiam ao cantar “Ontem ao luar, nós dois em plena solidão.....”. “Terna saudade”, que foi reintitulada como “Por um beijo” e extensamente gravada, termina com estes versos valseados “Se tu velada no mais casto véu, concederes-me a vitória, a suprema gloria de um só beijo teu”. Enquanto “Rasga coração” tinha melodia de “Iara”, “Talento e formosura: assumiu o lugar de “Nair” com versos sarcásticos já no início ”Tu podes bem guardar os dons da formosura / que o tempo um dia há de implacável trucidar..... E quanto a mim, ireia cantando meu ideal de amor........Mas quando a morte conduzir-te à sepultura / o teu supremo orgulho em pó reduzirá”.
Construções invertidas, frases hiperbólicas, versos em métrica correta, palavras fora de moda permeiam esse universo de arrebatadas declarações de amor purificado que nos dias de hoje parecem proceder de outro planeta. Não são. São as trovas e serestas que foram glorificadas no início do século XX atingindo extratos sociais de todo tipo, do presidente ao mais simples cidadão, bem como seresteiros que as entoavam nas ruas mal iluminadas ou sob os lustres dos salões na voz do próprio Catulo em concorridos recitais.
Aqui regravadas respeitosa e cuidadosamente nos arranjos e nas interpretações de um elenco que soube concretizar essa bela ideia de Mário Sève, as canções de Catulo representam pois a música de caráter eminentemente popular enaltecidas na Belle Époque do Rio de Janeiro.
As canções podem ser ouvidas em encurtador.com.br/pzJT7
Única diretora do Cinema Novo tem mostra em SP
marzo 5, 2018 9:19A partir de quarta-feira (7), o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na capital paulista, apresenta a obra da cineasta Helena Solberg. Nascida no Rio de Janeiro, em 1938, a diretora estreou na década de 1960 e é um dos principais nomes do Cinema Novo. Apesar de ter trabalhado ao lado de diretores como Rogério Sganzerla, que fez a montagem do seu primeiro curta-metragem, A Entrevista, de1966, Helena Solberg não é tão lembrada quanto os colegas que fizeram parte do movimento que mudou o cinema brasileiro.
Com 24 exibições, além de debates, a retrospectiva traz toda a filmografia da diretora. Segundo o curador Leonardo Amaral, o objetivo é resgatar a obra de Helena, “que tem uma importância muito grande dentro da história do cinema brasileiro. É a única mulher dentro do Cinema Novo e pouquíssimo comentada”.
Influenciado pelo neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague (Onda Nova) francesa, o Cinema Novo foi um movimento caracterizado por filmes de baixo orçamento, temática popular e que buscavam um realismo brasileiro.
Na primeira noite, será exibido o documentário Carmen Miranda: Bananas Is My Business. O filme foi realizado após o retorno de Helena, que viveu e produziu nos Estados Unidos nas décadas de 70 e 80 do século passado, ao Brasil. Helena voltou ao país depois da redemocratização, na década de 90. “Carmen Miranda: Bananas Is My Business pode ser visto como um filme político também, porque, além uma personagem feminina, que se conecta a essas várias obras dela, apresenta a questão da mulher”, destaca Leonardo Amaral, ao relacionar a filme com o restante da obra da cineasta, que aborda temas políticos e feministas.
“Ela faz um resgate de Carmen Miranda, em uma tentativa de traçar uma imagem que não fosse aquela vista nos Estados Unidos, do exotismo, das bananas. A ideia era trazer a Carmen Miranda enquanto uma personagem forte, uma expressão brasileira nos Estados Unidos”, diz o curador da mostra, ao explicar como a narrativa é construída.
Para Amaral, o longa reflete, até certo ponto, a própria trajetória da diretora. “Há até um certo espelhamento entre a Carmen Miranda e a Helena Solberg. Elas vão aos Estados Unidos, e é lá, de uma certa maneira, que elas afirmam a sua obra.”
Enquanto estava no exterior, Helena fez documentários que abordam a violência dos regimes ditatoriais no Chile, comandado por Augusto Pinochet, e no Nicarágua, governada por Anastasio Somoza. Em especial sobre este último, Das Cinzas – Nicarágua Hoje, de 1982, também coloca em foco a luta do movimento sandinista pela libertação do país.
As questões relativas à mulher foram uma constante na produção de Helena Solberg, cujo último filme, lançado no ano passado, Meu Corpo, Minha Vida, tem como tema o aborto. De acordo com Leonardo Amaral, a obra aborda os problemas que as mulheres enfrentam em relação ao próprio corpo. O longa-metragem Meu Corpo, Minha Vida foi pensado para ser exibido na televisão, acrescenta Amaral.
Os temas relacionados à mulher perpassam toda a obra da cineasta. Em seu primeiro curta-metragem, a diretora entrevistou diversas jovens sobre virgindade, casamento, sexo e política, sobrepondo as falas com imagens de uma moça que se prepara para um casamento. A Dupla Jornada, de 1975, busca reproduzir situações e as condições de vida de mulheres latino-americanas que trabalham fora de casa.
A mostra sobre a obra da cineasta Helene Solberg vai até o dia 19 deste mês no CCBB, no centro da cidade. (Agência Brasil)
Taiguara, a voz mais censurada pela ditadura
marzo 3, 2018 10:36Carlos Motta
A ditadura militar instaurada no Brasil em 1964 e que caiu de podre 20 anos depois perseguiu implacavelmente inúmeros artistas que ousaram se opor a ela - ou simplesmente adotaram uma liberdade estética fora dos padrões oficiais. Na música popular, os casos mais notórios são os de Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque.
Nenhum cantor e compositor, porém, foi tão perseguido quanto o talentosíssimo Taiguara, que nos anos 60 e 70 do século passado foi figura constante nos festivais de música e paradas de sucesso, com as suas canções e voz despudoradamente românticas - ao mesmo tempo em que, em seus shows e entrevistas, dizia cobras e lagartos do regime que suprimia as liberdades do povo brasileiro.
A jornalista Janes Rocha, que escreveu um livro sobre o artista, levantou 81 composições de Taiguara vetadas pela censura.
Dois discos, “Imyra, Tayra, Ipy” e “Let the children hear the music”, gravado em Londres, foram inteiramente proibidos depois de lançados.
A barra era muito pesada naqueles tempos de "Brasil, ame-o ou deixe-o"...
Taiguara morreu em 1996. Doze anos antes, lançou uma obra-prima, o disco "Canções de Amor e Liberdade", absolutamente político, um grito de revolta, um testemunho de um grande artista sobre uma época que envergonha a espécie humana.
É um disco de rara coerência, com melodias calcadas em ritmos regionais, letras que soam como lindos poemas libertário e arranjos criativos.
Uma das faixas, "Voz do Leste", tem a participação da excelente dupla sertaneja Cacique e Pajé. "Anita", um bolero, é dedicada à filha de Luís Carlos Prestes, o eterno "Cavaleiro da Esperança"; o clássico "Índia" ressurge com a letra original traduzida; "Estrela Vermelha", com melodia do avô de Taiguara Graciliano Silva, é de um lirismo emocionante...
Que falta faz um Taiguara neste Brasil Novo!
https://www.youtube.com/watch?v=1tfWmF6eHY0&t=64s
Voz do Leste
Sou Voz Operária do Tatuapé
Canto enquanto enfrento o batente co'a mão
Trabalho no ritmo desse Chamamé
Meu pouco Salário faz minha ilusão
Sou voz operária do Tatuapé
Vivo como posso e me deixa o patrão
E enquanto respira dessa chaminé
Meu povo se vira e não vê solução
No teatro da vergonha
aonde a verdade não se diz
Tem quem representa a massa,
quem ri da desgraça
E quem banca o infeliz
Tem até burguês que sonha
que entra em cena e engana a atriz
Tem quem sustenta a trapaça
e depois que fracassa
amordaça o país
Tem quem sustenta a trapaça
E depois que fracassa,
Amordaça o país.
Já meu drama é o da cegonha...
quase morre o meu guri...
Sobra pr'o Leste a fumaça
e a peste ameaça
O ar do Piqueri
Pior que a matança medonha
é o desemprego pra engolir...
Seja no peito ou na raça,
esse teatro devasso
Alguém tem que proibir...
Seja no palco ou na praça
Essas peças sem graça
vão ter que sair.
(sair de cartaz...)
Sou voz operária...
A coisa tá feia: se o Picasso fosse vivo ia pintar tabuleta
marzo 1, 2018 10:30Carlos Motta
Tião Carreiro é conhecido como o Rei do Pagode, ritmo que criou naturalmente, com base nos ritmos regionais que tão bem conhecia - e tocava, em sua viola, como ninguém.
Tião Carreiro, além desse título, é também lembrado como um dos mais icônicos artistas do gênero que se convencionou chamar de "sertanejo" ou "caipira", um balaio onde se encontra uma variedade de ritmos e influências.
Embora tenha atuado com outros parceiros - Carreirinho, Paraíso e Praiano - foi com Pardinho que ele se tornou uma lenda para o público em geral e para os violeiros em particular - sua habilidade é tanta que houve quem dissesse, fazendo uma analogia com o gênero musical mais difundido no mundo, que ele é o "Jimi Hendrix brasileiro".
Tião Carreiro, nascido em 1934, morreu em 1993. Deixou um legado artístico imenso e uma legião de fãs absolutamente fiel.
Algumas de suas composições são peças obrigatórias no repertório de qualquer artista "sertanejo" que se preze.
Como a deliciosa "A Coisa Tá Feia", dele em parceria com outro craque do gênero, Lourival dos Santos: "Já está no cabo da enxada quem pegava na caneta/Quem tinha mãozinha fina foi parar na picareta/Já tem doutor na pedreira dando duro na marreta", dizem três de seus 28 versos, escritos para ironizar uma realidade que, mais que nunca, está viva, neste incrível, inacreditável e surrealista Brasil Novo.
https://www.youtube.com/watch?v=6vpFdu_WDmY
Burro que fugiu do laço tá de baixo da roseta
Quem fugiu de canivete foi topar com baioneta
Já está no cabo da enxada quem pegava na caneta
Quem tinha mãozinha fina foi parar na picareta
Já tem doutor na pedreira dando duro na marreta
A coisa tá feia, a coisa tá preta...
Quem não for filho de Deus, tá na unha do capeta.
Criança na mamadeira, já tá fazendo careta
Até o leite das crianças virou droga na chupeta
Já está pagando o pato, até filho de proveta
Mundo velho é uma bomba, girando neste planeta
Qualquer dia a bomba estoura é só relar na espoleta
A coisa tá feia, a coisa tá preta...
Quem não for filho de Deus, tá na unha do capeta.
Quem dava caixinha alta, já esta cortando a gorjeta
Já não ganha mais esmola nem quem anda de muleta
Faz mudança na carroça quem fazia na carreta
Colírio de dedo-duro é pimenta malagueta
Sopa de caco de vidro é banquete de cagueta
A coisa tá feia, a coisa tá preta...
Quem não for filho de Deus, tá na unha do capeta.
Quem foi o rei do baralho virou trouxa na roleta
Gavião que pegava cobra, já foge de borboleta
Se o Picasso fosse vivo ia pintar tabuleta
Bezerrada de gravata que se cuide não se meta
Quem mamava no governo agora secou a teta
A coisa tá feia, a coisa tá preta...
Quem não for filho de Deus, tá na unha do capeta.