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Segundo Clichê

February 27, 2017 15:48 , by Blogoosfero - | 1 person following this article.

A sabedoria popular e o desprezo ao delator

January 17, 2018 14:45, by segundo clichê



Carlos Motta

Bezerra da Silva foi um dos mais originais artistas do país. Sua morte, no dia 17 de janeiro de 2005, há exatos 13 anos, portanto, silenciou a voz que cantava os excluídos, os marginalizados de toda espécie, os moradores das periferias, os valores morais e os hábitos dessa massa de despossuídos que forma o Brasil real.

A obra desse recifense que chegou no Rio de Janeiro com 15 anos de idade, clandestino em um navio, e que, antes de mergulhar na vida artística trabalhou como ajudante de pedreiro e pintor de paredes, é singular, um verdadeiro tratado sociológico sobre, principalmente, os moradores das favelas.

De sua terra natal, Bezerra trouxe a lembrança do coco, ritmo que lhe rendeu os dois primeiros LPs, de relativo sucesso. Mas foi no samba que ele encontrou a sua vocação artística e foi reconhecido pelo público.

Além de cantar, Bezerra tocava vários instrumentos de percussão e compunha. Mas ele preferia gravar os sambas dos amigos, pessoal que conhecia nas beiradas da vida, trabalhadores braçais, mão de obra barata, gente como ele, que sobrevivia sabe-se lá como nesta selva também conhecida como sociedade capitalista.

Os sambas que gravou abordam temas que compõem o dia a dia dessas pessoas: a violência, as relações com os poderosos, as drogas, a malandragem, as traições...

Nunca o amor - a palavra não existe nas suas músicas. 

Ele explicou o motivo disso numa entrevista que deu em 2001:

“O problema não é a palavra. Eu sempre procurei ouvir as minhas opiniões e as dos outros, vivendo dentro de uma realidade. Então, eu tive prestando a atenção nessa palavra, A-M-O-R, eu procurei saber o que era, não falando dos compositores do mundo artístico, que esse é um tema manjado, cansado, fica cansativo. Você vê a maioria das composições é 'meu amor, eu te amo', não sai disso, é uma coisa de novela. Quanto à palavra amor, eu procurei saber, e acordo com a definição, isso não pode existir aqui na Terra. Segundo a definição, ‘o amor não tem sexo, o amor é puro, é sublime, eterno, divino, puro, lindo, perfeito, sem defeito…’. Se o amor é isso tudo, então aqui na Terra ele não mora, bicho, de maneira nenhuma."

Se, porém, Bezerra ignorava o amor no que cantava, ele abordou, nos seus sambas, como nenhum outro artista popular, uma das figuras mais desprezíveis da sociedade, o delator, o dedo-duro, o alcagueta, o X-9 - haja sinônimo para essa personagem abominável que, de uns tempos para cá foi transformado em quase um herói pela justiça (sic) brasileira.

Há quem jure que a sabedoria popular é imbatível.

Se for, o dedo-duro que se cuide: o povão não o suporta.

Bezerra, PhD em sentimento popular, expressou o que sentia pelo delator em diversos sambas.

"Defunto Caguete" e "Dedo-Duro" são dois bons exemplos.

Canta, Bezerra!

https://www.youtube.com/watch?v=9LZZ6dbyZmw

https://www.youtube.com/watch?v=bU0-zHoBA2Y

Defunto Caguete
Mas é que eu fui num velório velar um malandro
Que tremenda decepção
Eu bati que o esperto era rife ilegal,
Ele era do time da entregação
O bicho esticado na mesa
Era dedo nervoso e eu não sabia
Enquanto a malandragem fazia a cabeça
O indicador do defunto tremia
Era caguete sim!
Era caguete sim!
Eu só sei que a policia pintou no velório
E o dedão do safado apontava pra mim
Era caguete sim!
Era caguete sim!
Veja bem que a polícia arrochou o velório
E o dedão do coruja apontava pra mim
Caguete é mesmo um tremendo canalha
Nem morto não dá sossego
Chegou no inferno, entregou o diabo
E lá no céu caguetou São Pedro
Ainda disse que não adianta
Porque a onda dele era mesmo entregar
Quando o caguete é um bom caguete
Ele cagueta em qualquer lugar
(Bezerra da Silva)

Dedo Duro
Fecharam o paletó do dedo duro
Pra nunca mais apontar
A lei do morro é barra pesada
Vacilou levou rajada na idéia de pensar
A lei do morro é barra pesada
Vacilou levou rajada na idéia de pensar
A lei do morro é ver ouvir e calar
Ele sabia, quem mandou ele falar
Falou de mais e por isso ele dançou
Favela quando é favela, não deixa morar delator
Walter Coragem/G. Martins/Bezerra da Silva)




Casa-Museu Ema Klabin reabre com programação especial

January 17, 2018 14:44, by segundo clichê


A Fundação Ema Gordon Klabin, no Jardim Europa, em São Paulo, reabre ao público no dia 24 de janeiro (quarta-feira) com visitas ao acervo e uma rica programação cultural.  A Casa-Museu reúne mais de 1.500 obras, entre pinturas do russo Marc Chagall e do holandês Frans Post, dos modernistas brasileiros Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Portinari e Lasar Segal; talhas do mineiro Mestre Valentim, mobiliário de época, peças arqueológicas e decorativas.

Além de conhecer o acervo permanente, o público poderá conferir a exposição “Diálogos da Coleção”. A mostra convida o visitante a refletir sobre alguns objetos, livros e documentos da coleção de Ema Klabin. Em destaque, além de uma xícara de porcelana da coleção, uma edição de 1907 do livro “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, com ilustração de Arthur Rackham (1867-1939), um dos ilustradores mais influentes de seu tempo. A exposição remete para os diferentes hábitos sociais como o consumo de café ou chá, fazendo uma alusão ao Chá do Chapeleiro Maluco da obra do inglês Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson.

Para estimular ainda mais a imaginação, as crianças receberão xerox de ilustrações diversas de Arthur Rackham para colorir e refletir sobre suas narrativas.

Programação especial no aniversário de São Paulo

Dani Mattos e Toque de Bambas (foto) apresentam o espetáculo Cronistas da Cidade, no dia 25 de janeiro, às 16h30, com entrada franca. No repertório, clássicos como Samba no Bixiga e Conselho de Mulher (Adoniran Barbosa/Osvaldo Moles); Luz da Light/Acende o Candeeiro, Samba Italiano e Apaga o Fogo, Mané (Adoniran Barbosa); Praça Clovis, Samba Erudito, Leilão e José (Paulo Vanzolini) e Bronca da Marilu (Germano Mathias).

Com toques de humor, o show busca ilustrar as canções com breves informações e diálogos desses compositores que retrataram a vida na capital durante o século XX. “Aliamos ao repertório musical desses mestres do samba, a poesia de Vanzolini e diálogos cômicos criados por Adoniran e Osvaldo Moles para as típicas personagens das novelas de rádio”, explica a regente e cantora Dani Mattos.

Também no dia 25, a partir das 14 horas, a Casa-Museu oferece uma Caminhada Fotográfica pelo bairro do Jardim Europa. A ideia é que os participantes registrem características desse tradicional bairro paulistano pensando sua relação com o desenvolvimento da cidade. As inscrições são gratuitas e estão abertas no site. É necessário levar uma câmera que pode ser a do celular.

Serviço

Casa-Museu Ema Klabin - Reabertura:  24 de janeiro

Programação especial de Aniversário de São Paulo: 25 de janeiro

Show Dani Mattos & Toque de Bambas – Cronistas da Cidade – 25/01– das 16h30 às 17h30 - 170 lugares – Entrada Franca.  Não há necessidade de retirada de ingressos.

Caminhada fotográfica:   dia 25/01, das 14h30 às 16h30, 20 vagas, gratuita, inscrição no site www.emaklabin.org.br  

Visitas mediadas à Fundação Ema Klabin -  De quarta a domingo, das 14h às 17h, com permanência até às 18h. As visitas duram em média uma hora. Preço: Sábados, domingos e feriados: Entrada franca. De quarta a sexta: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia).  Reabertura:  24 de janeiro

Exposição Diálogos da Coleção -  livro “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll com ilustração de Arthur Rackham – De 24/01/18 até 28/02/18 , das 14h às 18h.

Indicação: livre

Endereço: Rua Portugal, 43, Jardim Europa, São Paulo. Telefone (11) 3897-3232

Site: www.emaklabin.org.br  



São Paulo comemora 464 anos com show de Anitta

January 16, 2018 16:13, by segundo clichê


A grande atração artística da comemoração dos 464 anos da cidade de São Paulo será a cantora Anitta. Os festejos, no dia 25 de janeiro, serão no Vale do Anhangabaú e em diversos pontos da cidade. Chamada de A Festa da Cidade, a programação terá início às 11 horas do dia 25 e se estenderá até às 12 horas do dia seguinte. 

Segundo o secretário municipal de Cultura, André Sturm, a estimativa é que a Festa da Cidade custe em torno de R$ 1,8 milhão. O show da cantora Anitta custará cerca de R$ 245 mil.


A abertura do evento ficará a cargo da cantora sertaneja Paula Fernandes. Às 15 horas, Letrux, Tulipa Ruiz, Raquel Vírgina e Thiago França fazem um tributo para a cantora Rita Lee. O artista David Bowie também será homenageado com um tributo a partir das 18 horas. O grupo BaianaSystem com a cantora Karol Conka se apresenta em seguida. O show da cantora Anitta está marcado para as 23h15. Na sequência, sobem ao palco a Banda Uó, Jaloo e Glória Groove. A cantora Gilmelândia fecha os shows no Vale do Anhangabaú às 4 horas da manhã.


“Como o aniversário é dia 25, serão 25 horas de programação. Buscamos organizar uma programação que pudesse agradar A todos os públicos e que pudesse também ser espalhada pela cidade”, disse o secretário.


Além dos shows, haverá também no Anhangabaú espetáculos de mágica, objetos infláveis lúdicos, palco de karaokê, entre outros.


No Teatro Municipal haverá apresentação da Orquestra Sinfônica, regida por Roberto Minczuk, às 14 horas do dia 25. Às 19 horas, apresenta-se o Balé da Cidade a na sexta-feira, às 12 horas, a Orquestra Experimental de Repertório apresenta diversas óperas.
Na Biblioteca Mário de Andrade haverá apresentações musicais e atividades literárias. Às 11 horas, haverá show de Cida Moreira e Roberto Camargo e, às 16 horas, é a vez da atriz Rosi Campos conduzir uma leitura encenada.  Na Praça da República, haverá uma programação voltada ao hip hop.


Também haverá eventos em diversos outros pontos da cidade como no Centro Cultural Cidade Tiradentes, no Centro Cultural da Juventude, no Centro Cultural do Grajaú, no Centro Cultural Tendal da Lapa e nos teatros Décio de Almeida Prado, Paulo Eiró e Cacilda Becker. Nesses locais vão se apresentar o rapper Gog e o cantor Rael, entre outros.


Também haverá espetáculo circenses e peças de teatro. A programação nos centros culturais e teatros acontecem a partir das 10 horas do dia 25. 



O Época de Ouro se renova para continuar o mesmo: um patrimônio artístico

January 16, 2018 14:45, by segundo clichê



Carlos Motta

O Época de Ouro deixou de ser, há muito tempo, um grupo musical: é hoje um patrimônio artístico da humanidade.

Se estivesse atuando num país de verdade, não seria o conjunto que se apresentaria de terno e gravata em seus recitais, mas sim a plateia, que se obrigaria a usar esse traje em reverência à excepcional qualidade da música a ela oferecida.

O fato é que não existiria mais chorinho no Brasil - e no mundo todo - se não fosse o Época de Ouro. E se existisse, ele estaria confinado a guetos minúsculos e escondidos, com executantes centenários, guardiões de segredos musicais tão complexos como a mais bem guardada fórmula do mais obscuro alquimista.

Mas o Época de Ouro resistiu às modas e à voracidade da indústria de entretenimento, e não se rendeu ao canto da sereia dos modernismos passageiros: a música que faz há mais de meio século continua pura e cristalina como as notas extraídas no pequeno instrumento de cordas de seu fundador, o imortal Jacob Pick Bittencourt, vulgo do Bandolim.

Essa música espalhou sementes por toda a terra, gerando frutos de tamanhos e cores diversas, mas de sabor único e delicioso.

A árvore mãe, para nossa felicidade, continua não só intacta, mas renovando sua folhagem e flores.

O ano de 2018 nem bem começou e trouxe a boa notícia: o Época de Ouro está com nova formação e vai estreá-la em dois concertos - isso mesmo, concertos, não shows -, no Sesc Pompéia, dias 26 e 27 de janeiro, sábado e domingo, às 21 e 18 horas, respectivamente. O recital, uma homenagem ao centenário de Jacob do Bandolim, terá ainda as participações da cantora Mariene de Castro e do bandolinista Rodrigo Lessa, fundador do Nó Em Pingo D'Água.

O "novo" Época de Ouro tem Celsinho Silva no pandeiro, substituindo seu pai, mestre Jorginho do Pandeiro, falecido em julho do ano passado, Jorge Filho (cavaquinho), Ronaldo do Bandolim, Antonio Rocha (flauta), e os violões de João Camarero (sete cordas) e Luiz Flavio Alcofra (seis cordas).

Todos craques, todos dignos representantes da música brasileira, essa inesgotável fonte de criatividade e beleza.



"Freguês", um livro que dá cara aos invisíveis e nome aos anônimos

January 15, 2018 10:18, by segundo clichê


Carlos Motta


Pedro Fávaro Jr. é jornalista desde 1975. Mas conheço o Pedrinho muito antes de ele beber a cachaça que transforma pessoas normais em masoquistas esquisitões que passam dias e noites à procura de um bom lide, à caça de um furo ou do melhor título para a matéria que deveria, obviamente, ganhar o Prêmio Esso - esse Oscar da imprensa brasileira que não existe mais...

Conheço o Pedrinho desde criança, quando nós dois usávamos calças curtas na Jundiaí que ainda, volta e meia, é personagem de meus sonhos. 

Pedrinho já fez muita coisa nesta vida: trabalhou em rádio em sua cidade natal, criou a Imprensa Oficial do Município quando seu pai foi prefeito, lançou o jornal católico "O Verbo", entre outras publicações, foi editor do "Diário do Povo" e do "Correio Popular", os dois de Campinas, trabalhou como repórter, redator e editor no Grupo Estado - ficou por mais de 20 anos na Agência Estado.

Além disso tudo, se tornou diácono permanente da Igreja Católica. E é casado desde 1976 com Sônia Maria, tem duas filhas e um filho, músico, e uma neta.

Todo esse prólogo, na verdade um esboço de uma biografia muito mais rica e interessante, foi para contar algo que deixa todos os seus inúmeros amigos orgulhosos e felizes: é que o primeiro livro do Pedrinho, "Freguês", acaba de ser lançado pela editora Chiado, de Portugal - ele já está à venda no site da empresa.


O livro dá voz aos excluídos, esses seres que vivem anônimos e à margem de uma sociedade que apenas os tolera. 

"Eles vivem na praça, nas ruas de uma cidade no interior de São Paulo e ninguém lhes dá atenção por julgá-los estorvos, um bando de foras-da-lei", diz a sinopse do livro feita pela Chiado. "Chegam ao abandono empurrados pela orfandade, a violência doméstica praticada por madrastas ou padrastos e tomam gosto pela vida, pela cultura da rua e se viciam nela. Quase sempre acabam virando marionetes nas mãos do tráfico e da polícia, embora tenham sonhos, desejos, ambições e projetos, como qualquer pessoa considerada normal pelos padrões sociais."
 


"Scarlet, o protagonista deste livro - continua o texto -, é uma espécie de Dom Quixote às avessas que busca vencer as barreiras, preconceitos, para resgatar sua maior riqueza: o nome, trocado nas ruas pelo esconderijo de um apelido sob medida, modelado pela cara do sujeito. Na rua, o nome é só um eco a ressoar em algum canto sombrio na linha do tempo, impressa sem piedade na mente. Scarlet, sem perder a esperança, luta para superar esse estigma, recobrar sua identidade e ser realmente quem é."


Pedrinho quer lançar "Freguês" em março, em Jundiaí, num local bem informal, e depois, talvez, na capital. Será uma festa, com certeza. E também o cumprimento da primeira etapa de uma viagem que ele pretende que seja longa e proveitosa: está nos seus planos produzir muito mais literatura, pois afinal, como conta no texto que fez sobre essa sua nova experiência de vida, foi ser jornalista simplesmente porque gostava de escrever.


Assim, então, sem mais, passo a palavra, para o jornalista e escritor Pedro Fávaro Jr.:

Motta:

Vamos lá. Aviso, adoro falar...

Mandei o original para três editoras brasileiras em 2015 e 2016... A média de tempo para me responderem foi de quatro meses. Todas me deram sonoros ou rebuscados NÃOS por escrito. Mas nenhum deles me convenceu, porque não havia argumentação sobre o texto, o livro, a narrativa... Só sobre prazo, planejamento contábil coisa e tal. Declino por educação o nome das editoras. 

Claro, como qualquer ser normal, pensei em ter falhado. Em não ter produzido um texto decente para um primeiro romance, porque o jornalista insistiu em ficar grudado no meu pé, atazanando o tempo todo.

Para chegar no livro, passei por experiências incríveis. A primeira – depois de trancos e barrancos com as chefias na Agência Estado – foi a de pensar que escolhi ser jornalista por gostar de escrever. E tudo que o jornalista sempre fez menos foi escrever – porque foi sacado logo da reportagem para editar, pautar, ser gestor e por último – acredite se quiser “reempacotar” notícias. Era a expressão usada pelos colegas para pegar uma notícia de jornal e transformar o texto num SMS, de 140 caracteres: “Reempacota pra mim, por favor!” Ou para pegar uma notícia de internet e virar para jornal.

Fiz um treinamento em Programação Neurolinguística (PNL) e entendi que fui ser jornalista e o fui, por quase 40 anos, pelo gosto de escrever. Mas quem escreve deve ser ESCRITOR. Aí peguei meus alfarrábios, uma coleção de crônicas sobre minha experiência com moradores de rua e guardadores de carro e quis transformar em livro. Não dava certo. Ficava desconexo. Fiz uma primeira oficina de literatura com a escritora Nanete Neves, fiz uma segunda e uma terceira com o professor Marcelo Spalding, uma quarta com Fábio Barreto, jornalista e escritor que virou roteirista em Hollywood. Uma última com o Rodrigo Amaral Gurgel. 

No meio do caminho, fiz um treinamento em PNL. O treinador, Marcos Stefani, um grande amigo meu, guitarrista e meu ex-barbeiro, havia terminado um curso com certificação internacional para ser COACH e precisava de cobaias. Ofereceu 12 sessões gratuitas. Topei. Na primeira me pergunta qual seria meu maior e mais imediato sonho. Escrever um livro, respondi. Ele me garantiu que na 12ª sessão eu teria o livro.

Fiz duas sessões, com dinâmicas bem bacanas. Simples, que tratam de foco, de fisiologia e determinação. Depois da segunda, destruí a coleção de crônicas, alinhavei os textos e em oito horas de trabalho intermitente tinha um livro. Entreguei o livro na 12ª sessão. “Muito bom”, me diz o treinador depois de examinar o trabalho. “Você tem um bonsai aqui. Um pequeno livro, muito bem cuidado e tratado. Bem aparado. Legal mesmo! Atingimos o objetivo”, conta. O melhor de tudo foi ele me dizer que adoraria ser sócio de meu projeto de escritor, porque em nenhum momento, nas sessões, falei de dinheiro, de sucesso, de fama. Não: falei de escrever, de trabalhar como escritor.


Passa o tempo. Continuo em cima. Depois de conhecer a Nanete, que escreveu "O Poeta e a Foca", peço pra ela ler o meu livro. Ela topa sem compromisso. Me devolve o material no dia seguinte e diz: “Tem força de livro, tem texto de escritor. Mas falta uma voz melhor para o narrador. E outra coisa: é pequeno. Ainda não tem tamanho de livro. Precisa de mais trabalho!”

Aceitei a crítica bem similar ao que havia dito o treinador. Mais oficina. E trabalhando todo dia no texto. De 12 mil palavras foi parar em quase 25 mil. Cresceu. A trama melhorou e saiu o livro: "Freguês", nome sugerido pela Nanete que de quebra foi a preparadora do trabalho.

Aí faltavam as editoras. Corri atrás e nada. Falei com a Maria Fernanda de Andrade, ex-Estadão (nesse meio tempo, quis o destino, para minha libertação, que eu fosse demitido da Agência depois de 15 anos). Ela me sugeriu mandar o original para a Chiado Editora, de Portugal. Deu o endereço e tal. Em dois dias, a Chiado me responde: “Senhor Pedro: agradecemos a escolha e pedimos sua paciência. Nosso Conselho Editorial leva 12 dias para analisar um livro do tamanho do seu, de 150 páginas...” 

Doze dias... Que bênção depois de tanto tempo esperando. E quando voltou a resposta voltou dizendo que o texto tinha qualidades literárias e comerciais e interessava à Chiado. Junto, me encaminharam uma proposta de contrato de três anos e todos os detalhes comerciais e tal sobre o assunto. Topei e até agora não me arrependo.

Houve um contratempo na Alfândega. Os livros desembarcaram e não foram autorizados a entrar no mercado, para a alegria dos meus cunhados... “Droga não pode entrar no País”, brincaram eles no final do ano. Cunhados...

Enfim, agora devo receber meus exemplares até o final de janeiro e estou programando o lançamento para março. Aqui em Jundiaí, bem informal mesmo, em algum lugar que eu goste, como o Villa Pizza Bar, de um amigo de meu filho. E talvez no Bar do Alemão, no Parque Antártica, em São Paulo. Nada de livraria, biblioteca e tal...

O livro tem o Scarlet, que é real como protagonista. Conta a história da minha amizade e relacionamento com moradores de rua e guardadores de carro, de modo romanceado, mas muitas vezes não-ficcional. O gênero, como o Sérgio Roveri diz na apresentação do livro, cada um escolha como bem entender. O prefácio, o Sandro Vaia começou a escrever mas adoeceu e acabou deixando pela metade. Foi embora o italiano... Mas a família (Vera e Giuliana) autorizou a publicar o que ele escreveu. Fiz como homenagem. E claro, para valorizar o meu trabalho.

A história do Scarlet deu voz para o narrador. É um dom Quixote às avessas, buscando a própria identidade. O livro é a história dessa busca, cheia de insucessos, de pessoas empurradas por muitos tipos de dramas, para fora de suas famílias. Que têm alma, têm sonhos, têm desejos como qualquer outro. Só que viram invisíveis na rua. A gente passa, joga uma moeda pra eles e acha que tudo está bem. 

Eles não têm nome. É outro tema tratado no texto. Escondem-se atrás de apelidos, porque o nome vira ameaça. E às vezes, nas sombras, esquecem o nome... E por aí vai, Motta. 

Decidi, em 2013, quando completei 60 anos e terminei o projeto do "Freguês", que escreveria cinco livros até os 65 anos. Estou preparando simultaneamente uma coletânea de poesias, outra de contos e crônicas e estou empenhado (já no nono capítulo) no "Blecaute", o livro dos jardins – uma metáfora a partir da história de uma escritora – sobre os sete níveis neurológicos. Depois, estou no terceiro capítulo, também, de uma distopia para a qual não encontrei nome, mas fala do mundo derretendo e de uma sociedade em frangalhos, em que as pessoas para sobreviver dependem de cotas oficiais de água e do fornecimento de ar para os contêineres onde são obrigadas a morar, em razão das temperaturas altíssimas do planeta.

E vou rabiscando uns autos, uns monólogos, uns sonetos aqui e acolá, pra distrair, porque escritor que não escreve é desempregado.

Paralelamente, continuo diácono permanente da Igreja, casado há 42 anos com dona Sônia, quatro filhos, à espera do segundo netinho, o Francisco, que chega por esses dias. A primeira é a Helena. 

E agora voltei a trabalhar. Convidado pela Mônica Gropelo, fui parar na Rede TVTEC, onde cuido do site de notícias, escrevo duas vezes por semana num blog e faço reportagens para a tevê. Mas de olho fixo no escritor porque lá está um dos meus grandes sonhos. 

Continuo, como você, atrás da Utopia. Quem sabe ela não esteja logo aí na esquina...
Tenho acompanhado e amado os sambas. Vamos conversando mais. 

Abração fraterno. Saudade. 



Motta

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