O Época de Ouro se renova para continuar o mesmo: um patrimônio artístico
Gennaio 16, 2018 14:45Carlos Motta
O Época de Ouro deixou de ser, há muito tempo, um grupo musical: é hoje um patrimônio artístico da humanidade.
Se estivesse atuando num país de verdade, não seria o conjunto que se apresentaria de terno e gravata em seus recitais, mas sim a plateia, que se obrigaria a usar esse traje em reverência à excepcional qualidade da música a ela oferecida.
O fato é que não existiria mais chorinho no Brasil - e no mundo todo - se não fosse o Época de Ouro. E se existisse, ele estaria confinado a guetos minúsculos e escondidos, com executantes centenários, guardiões de segredos musicais tão complexos como a mais bem guardada fórmula do mais obscuro alquimista.
Mas o Época de Ouro resistiu às modas e à voracidade da indústria de entretenimento, e não se rendeu ao canto da sereia dos modernismos passageiros: a música que faz há mais de meio século continua pura e cristalina como as notas extraídas no pequeno instrumento de cordas de seu fundador, o imortal Jacob Pick Bittencourt, vulgo do Bandolim.
Essa música espalhou sementes por toda a terra, gerando frutos de tamanhos e cores diversas, mas de sabor único e delicioso.
A árvore mãe, para nossa felicidade, continua não só intacta, mas renovando sua folhagem e flores.
O ano de 2018 nem bem começou e trouxe a boa notícia: o Época de Ouro está com nova formação e vai estreá-la em dois concertos - isso mesmo, concertos, não shows -, no Sesc Pompéia, dias 26 e 27 de janeiro, sábado e domingo, às 21 e 18 horas, respectivamente. O recital, uma homenagem ao centenário de Jacob do Bandolim, terá ainda as participações da cantora Mariene de Castro e do bandolinista Rodrigo Lessa, fundador do Nó Em Pingo D'Água.
O "novo" Época de Ouro tem Celsinho Silva no pandeiro, substituindo seu pai, mestre Jorginho do Pandeiro, falecido em julho do ano passado, Jorge Filho (cavaquinho), Ronaldo do Bandolim, Antonio Rocha (flauta), e os violões de João Camarero (sete cordas) e Luiz Flavio Alcofra (seis cordas).
Todos craques, todos dignos representantes da música brasileira, essa inesgotável fonte de criatividade e beleza.
"Freguês", um livro que dá cara aos invisíveis e nome aos anônimos
Gennaio 15, 2018 10:18Carlos Motta
Pedro Fávaro Jr. é jornalista desde 1975. Mas conheço o Pedrinho muito antes de ele beber a cachaça que transforma pessoas normais em masoquistas esquisitões que passam dias e noites à procura de um bom lide, à caça de um furo ou do melhor título para a matéria que deveria, obviamente, ganhar o Prêmio Esso - esse Oscar da imprensa brasileira que não existe mais...
Conheço o Pedrinho desde criança, quando nós dois usávamos calças curtas na Jundiaí que ainda, volta e meia, é personagem de meus sonhos.
Pedrinho já fez muita coisa nesta vida: trabalhou em rádio em sua cidade natal, criou a Imprensa Oficial do Município quando seu pai foi prefeito, lançou o jornal católico "O Verbo", entre outras publicações, foi editor do "Diário do Povo" e do "Correio Popular", os dois de Campinas, trabalhou como repórter, redator e editor no Grupo Estado - ficou por mais de 20 anos na Agência Estado.
Além disso tudo, se tornou diácono permanente da Igreja Católica. E é casado desde 1976 com Sônia Maria, tem duas filhas e um filho, músico, e uma neta.
Todo esse prólogo, na verdade um esboço de uma biografia muito mais rica e interessante, foi para contar algo que deixa todos os seus inúmeros amigos orgulhosos e felizes: é que o primeiro livro do Pedrinho, "Freguês", acaba de ser lançado pela editora Chiado, de Portugal - ele já está à venda no site da empresa.
O livro dá voz aos excluídos, esses seres que vivem anônimos e à margem de uma sociedade que apenas os tolera.
"Eles vivem na praça, nas ruas de uma cidade no interior de São Paulo e ninguém lhes dá atenção por julgá-los estorvos, um bando de foras-da-lei", diz a sinopse do livro feita pela Chiado. "Chegam ao abandono empurrados pela orfandade, a violência doméstica praticada por madrastas ou padrastos e tomam gosto pela vida, pela cultura da rua e se viciam nela. Quase sempre acabam virando marionetes nas mãos do tráfico e da polícia, embora tenham sonhos, desejos, ambições e projetos, como qualquer pessoa considerada normal pelos padrões sociais."
"Scarlet, o protagonista deste livro - continua o texto -, é uma espécie de Dom Quixote às avessas que busca vencer as barreiras, preconceitos, para resgatar sua maior riqueza: o nome, trocado nas ruas pelo esconderijo de um apelido sob medida, modelado pela cara do sujeito. Na rua, o nome é só um eco a ressoar em algum canto sombrio na linha do tempo, impressa sem piedade na mente. Scarlet, sem perder a esperança, luta para superar esse estigma, recobrar sua identidade e ser realmente quem é."
Pedrinho quer lançar "Freguês" em março, em Jundiaí, num local bem informal, e depois, talvez, na capital. Será uma festa, com certeza. E também o cumprimento da primeira etapa de uma viagem que ele pretende que seja longa e proveitosa: está nos seus planos produzir muito mais literatura, pois afinal, como conta no texto que fez sobre essa sua nova experiência de vida, foi ser jornalista simplesmente porque gostava de escrever.
Assim, então, sem mais, passo a palavra, para o jornalista e escritor Pedro Fávaro Jr.:
Motta:Vamos lá. Aviso, adoro falar...
Mandei o original para três editoras brasileiras em 2015 e 2016... A média de tempo para me responderem foi de quatro meses. Todas me deram sonoros ou rebuscados NÃOS por escrito. Mas nenhum deles me convenceu, porque não havia argumentação sobre o texto, o livro, a narrativa... Só sobre prazo, planejamento contábil coisa e tal. Declino por educação o nome das editoras.
Claro, como qualquer ser normal, pensei em ter falhado. Em não ter produzido um texto decente para um primeiro romance, porque o jornalista insistiu em ficar grudado no meu pé, atazanando o tempo todo.
Para chegar no livro, passei por experiências incríveis. A primeira – depois de trancos e barrancos com as chefias na Agência Estado – foi a de pensar que escolhi ser jornalista por gostar de escrever. E tudo que o jornalista sempre fez menos foi escrever – porque foi sacado logo da reportagem para editar, pautar, ser gestor e por último – acredite se quiser “reempacotar” notícias. Era a expressão usada pelos colegas para pegar uma notícia de jornal e transformar o texto num SMS, de 140 caracteres: “Reempacota pra mim, por favor!” Ou para pegar uma notícia de internet e virar para jornal.
Fiz um treinamento em Programação Neurolinguística (PNL) e entendi que fui ser jornalista e o fui, por quase 40 anos, pelo gosto de escrever. Mas quem escreve deve ser ESCRITOR. Aí peguei meus alfarrábios, uma coleção de crônicas sobre minha experiência com moradores de rua e guardadores de carro e quis transformar em livro. Não dava certo. Ficava desconexo. Fiz uma primeira oficina de literatura com a escritora Nanete Neves, fiz uma segunda e uma terceira com o professor Marcelo Spalding, uma quarta com Fábio Barreto, jornalista e escritor que virou roteirista em Hollywood. Uma última com o Rodrigo Amaral Gurgel.
No meio do caminho, fiz um treinamento em PNL. O treinador, Marcos Stefani, um grande amigo meu, guitarrista e meu ex-barbeiro, havia terminado um curso com certificação internacional para ser COACH e precisava de cobaias. Ofereceu 12 sessões gratuitas. Topei. Na primeira me pergunta qual seria meu maior e mais imediato sonho. Escrever um livro, respondi. Ele me garantiu que na 12ª sessão eu teria o livro.
Fiz duas sessões, com dinâmicas bem bacanas. Simples, que tratam de foco, de fisiologia e determinação. Depois da segunda, destruí a coleção de crônicas, alinhavei os textos e em oito horas de trabalho intermitente tinha um livro. Entreguei o livro na 12ª sessão. “Muito bom”, me diz o treinador depois de examinar o trabalho. “Você tem um bonsai aqui. Um pequeno livro, muito bem cuidado e tratado. Bem aparado. Legal mesmo! Atingimos o objetivo”, conta. O melhor de tudo foi ele me dizer que adoraria ser sócio de meu projeto de escritor, porque em nenhum momento, nas sessões, falei de dinheiro, de sucesso, de fama. Não: falei de escrever, de trabalhar como escritor.
Passa o tempo. Continuo em cima. Depois de conhecer a Nanete, que escreveu "O Poeta e a Foca", peço pra ela ler o meu livro. Ela topa sem compromisso. Me devolve o material no dia seguinte e diz: “Tem força de livro, tem texto de escritor. Mas falta uma voz melhor para o narrador. E outra coisa: é pequeno. Ainda não tem tamanho de livro. Precisa de mais trabalho!”
Aceitei a crítica bem similar ao que havia dito o treinador. Mais oficina. E trabalhando todo dia no texto. De 12 mil palavras foi parar em quase 25 mil. Cresceu. A trama melhorou e saiu o livro: "Freguês", nome sugerido pela Nanete que de quebra foi a preparadora do trabalho.
Aí faltavam as editoras. Corri atrás e nada. Falei com a Maria Fernanda de Andrade, ex-Estadão (nesse meio tempo, quis o destino, para minha libertação, que eu fosse demitido da Agência depois de 15 anos). Ela me sugeriu mandar o original para a Chiado Editora, de Portugal. Deu o endereço e tal. Em dois dias, a Chiado me responde: “Senhor Pedro: agradecemos a escolha e pedimos sua paciência. Nosso Conselho Editorial leva 12 dias para analisar um livro do tamanho do seu, de 150 páginas...”
Doze dias... Que bênção depois de tanto tempo esperando. E quando voltou a resposta voltou dizendo que o texto tinha qualidades literárias e comerciais e interessava à Chiado. Junto, me encaminharam uma proposta de contrato de três anos e todos os detalhes comerciais e tal sobre o assunto. Topei e até agora não me arrependo.
Houve um contratempo na Alfândega. Os livros desembarcaram e não foram autorizados a entrar no mercado, para a alegria dos meus cunhados... “Droga não pode entrar no País”, brincaram eles no final do ano. Cunhados...
Enfim, agora devo receber meus exemplares até o final de janeiro e estou programando o lançamento para março. Aqui em Jundiaí, bem informal mesmo, em algum lugar que eu goste, como o Villa Pizza Bar, de um amigo de meu filho. E talvez no Bar do Alemão, no Parque Antártica, em São Paulo. Nada de livraria, biblioteca e tal...
O livro tem o Scarlet, que é real como protagonista. Conta a história da minha amizade e relacionamento com moradores de rua e guardadores de carro, de modo romanceado, mas muitas vezes não-ficcional. O gênero, como o Sérgio Roveri diz na apresentação do livro, cada um escolha como bem entender. O prefácio, o Sandro Vaia começou a escrever mas adoeceu e acabou deixando pela metade. Foi embora o italiano... Mas a família (Vera e Giuliana) autorizou a publicar o que ele escreveu. Fiz como homenagem. E claro, para valorizar o meu trabalho.
A história do Scarlet deu voz para o narrador. É um dom Quixote às avessas, buscando a própria identidade. O livro é a história dessa busca, cheia de insucessos, de pessoas empurradas por muitos tipos de dramas, para fora de suas famílias. Que têm alma, têm sonhos, têm desejos como qualquer outro. Só que viram invisíveis na rua. A gente passa, joga uma moeda pra eles e acha que tudo está bem.
Eles não têm nome. É outro tema tratado no texto. Escondem-se atrás de apelidos, porque o nome vira ameaça. E às vezes, nas sombras, esquecem o nome... E por aí vai, Motta.
Decidi, em 2013, quando completei 60 anos e terminei o projeto do "Freguês", que escreveria cinco livros até os 65 anos. Estou preparando simultaneamente uma coletânea de poesias, outra de contos e crônicas e estou empenhado (já no nono capítulo) no "Blecaute", o livro dos jardins – uma metáfora a partir da história de uma escritora – sobre os sete níveis neurológicos. Depois, estou no terceiro capítulo, também, de uma distopia para a qual não encontrei nome, mas fala do mundo derretendo e de uma sociedade em frangalhos, em que as pessoas para sobreviver dependem de cotas oficiais de água e do fornecimento de ar para os contêineres onde são obrigadas a morar, em razão das temperaturas altíssimas do planeta.
E vou rabiscando uns autos, uns monólogos, uns sonetos aqui e acolá, pra distrair, porque escritor que não escreve é desempregado.
Paralelamente, continuo diácono permanente da Igreja, casado há 42 anos com dona Sônia, quatro filhos, à espera do segundo netinho, o Francisco, que chega por esses dias. A primeira é a Helena.
E agora voltei a trabalhar. Convidado pela Mônica Gropelo, fui parar na Rede TVTEC, onde cuido do site de notícias, escrevo duas vezes por semana num blog e faço reportagens para a tevê. Mas de olho fixo no escritor porque lá está um dos meus grandes sonhos.
Continuo, como você, atrás da Utopia. Quem sabe ela não esteja logo aí na esquina...
Tenho acompanhado e amado os sambas. Vamos conversando mais.
Abração fraterno. Saudade.
Museu Nacional de Belas Artes tem duas novas exposições
Gennaio 15, 2018 10:17O Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no centro do Rio de Janeiro, comemora 81 anos de fundação com a inauguração de duas novas exposições: A reinvenção do Rio de Janeiro: Avenida Central e a Memória Arquitetônica do MNBA e O Espaço da Arte. A primeira traz pinturas, documentos, objetos, gravuras e fotografias que resgatam a história da instituição, que teve origem na Academia Imperial de Belas Artes, e a segunda é uma prévia do cenário da nova Galeria de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea do museu, que em breve será reformulada.
Os curadores dividiram a mostra A reinvenção do Rio de Janeiro: Avenida Central e a Memória Arquitetônica do MNBA em três eixos. No primeiro, são enfocados a Academia Imperial de Belas Artes, fonte da coleção do MNBA, e os desenhos do arquiteto que concebeu a academia, o francês Grandjean de Montigny.
O segundo eixo, intitulado Avenida Central, trafega pela modernização do Rio de Janeiro. Dele faz parte a inauguração, em 1904, da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. A terceira parte da exposição aborda a preservação do museu, mostrando a restauração do prédio, cuja inauguração completa 110 anos neste ano.
“A exposição coroa o final das comemorações dos 80 anos do museu e trata especificamente do prédio. A gente trata o prédio como se fosse a primeira obra de arte do museu”, disse uma das curadoras, Lúcia Ibrahim. “A gente conta a história dele inserida no contexto da criação da Avenida Central.”
A outra mostra, O Espaço da Arte, constitui uma prévia do cenário da nova Galeria de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea do museu, que em breve será reformulada. A exposição reúne 51 obras da coleção do MNBA, incluindo nomes como Iberê Camargo, Guignard, Ivan Serpa, Cândido Portinari, Flávio de Carvalho, Djanira e Fayga Ostrower.
Segundo a diretora do MNBA, Monica Xexéu, a exposição busca refletir a noção do espaço e as transformações visuais na arte brasileira ao longo das últimas décadas.
“O objetivo foi trabalhar a espacialidade da obra de arte. A mostra foi dividida em três núcleos que mostram como o artista trabalhou o espaço da obra”, disse uma das curadoras, Laura Abreu. “No primeiro núcleo, a gente vê alguns artistas como Guignard, Portinari e Djanira. Nas obras selecionadas, ainda é possível identificarmos uma relação com a realidade”, ressaltou Laura.
No segundo núcleo, dizem os curadores, as obras assumem a postura investigativa de experimentar e entender as possibilidades e caminhos para a espacialidade num lugar entre a figuração e a abstração. É exemplo desse momento o quadro Cidade Iluminada, de Antonio Bandeira.
No terceiro núcleo, a abstração é assumida, informou o curador Daniel Barreto. “Em todas as salas, a gente colocou uma obra do Iberê Camargo, porque ele acompanha a transformação e vivencia todas essas espacialidades na sua obra. É muito didático porque você identifica todos esses momentos com muita clareza.” (Agência Brasil)
Rio vê a arte contemporânea da África
Gennaio 15, 2018 9:56Uma exposição com os artistas contemporâneos mais promissores do continente africano desembarca no Rio de Janeiro sábado (20). Reunindo duas dezenas de nomes que chamam atenção internacional, mas que são pouco conhecidos no Brasil, além de dois artistas afro-brasileiros, a Ex Africa traz uma mostra dos dilemas e desafios do continente hoje e que se assemelham ao de países latinos.
Até 26 de março, a mostra estará aberta ao público no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da cidade.
A exibição é composta por mais de 80 obras, entre pinturas, esculturas, instalações, vídeos e performances, com espaço privilegiado para a fotografia. “A fotografia talvez seja, ao lado da escultura, o grande destaque da arte africana atual, sobretudo, na África do Sul, cujos fotógrafos, ao meu ver, estão entre os mais originais do mundo”, afirmou o curador alemão Alfons Hug. Ele trabalhou no Brasil por mais de 15 anos e em países africanos, por quatro anos. Na Nigéria, foi diretor do Instituto Goethe.
Os trabalhos da Ex Africa se relacionam por meio de quatro eixos e mostram um continente em contínuo e efervescente processo de renovação criativa e artística. As obras têm referência no passado de colonização europeia, dialogam com a escravização, mas buscam discutir os reflexos da história no presente, principalmente nos anos que sucederam a independência desses países, a partir da década de 1950. O passeio pela mostra conduz o visitante por questões como migração, passado pós-colonial, racismo e gentrificação, temas comuns também nas grandes cidades brasileiras.
Em Ponte City, por exemplo, o artista sul-africano Mikhael Subotzky, em colaboração com o inglês Patrick Waterhouse, apresenta uma instalação que simula histórias dentro do prédio de mesmo nome e seus personagens, no estilo do documentarista brasileiro Eduardo Coutinho. Ponte City é um arranha-céu no centro de Joanesburgo, que foi construído para a população branca na época do apartheid (regime de segregação racial). Tornou-se, no entanto, símbolo de decadência na década de 1980, após ser invadido por gangues.
Ainda no eixo sobre cidades, Karo Akpokiere faz uma sátira ao bombardeio publicitário que invade as metrópoles e as vidas das pessoas. De Lagos, uma das cidades mais populosas do mundo, o designer gráfico apresenta ilustrações que mesclam o caos urbano de uma megalópole com elementos da cultura pop.
Em outro eixo, o corpo como espaço de manifestação estética, uma marca ancestral, é tema das icônicas imagens do nigeriano J. D. Okhai Ojeikere. Ele traz parte de sua mais conhecida obra, Hair Styles, com penteados fotografados ao longo de 40 anos. Cada um deles se assemelha a verdadeiras esculturas. Em muitas culturas africanas, penteados são marcas da religião, posição social e até sinalizam jovens em época de se casar. Eles voltaram com força após a independência dos países. A exibição é uma oportunidade para ver uma boa mostra deles, reunidos em uma parede só.
Do senegalês Omar Victor Diop serão exibidas fotografias que desafiam a visão estereotipada e racista de parte da população em relação a pessoas de pele negra. O Projeto Diáspora explora retratos de africanos ilustres, alguns ainda na condição de escravos, que se tornaram personalidades nos séculos passados.
Sob a influência da pintura barroca europeia, Omar Diop retrata a si no lugar desses personagens, fazendo uma crítica à sociedade, ao incluir elementos como equipamentos esportivos, a exemplo de uma bola de futebol. O artista remete o público a celebridades e atletas de tons de pele negra, do mais claro ao mais escuro, que ainda são alvo de preconceito racial, revelando uma discriminação que transcende fama e dinheiro.
De uma outra perspectiva, Kudzanai Chiurai, do Zimbábue, traz algumas das imagens mais emblemáticas da mostra. Ele brinca com a ideia de voltar ao passado para reescrever o presente. Em suas imagens, o que se vê são fotos que questionam o papel que, automaticamente, uma parte dos espectadores atribui a pessoas negras, o de subalterno, em especial quando negros estão vestidos de maneira tribal. Na série Gênesis, Chiurai mistura figuras do colonizador e do colonizado de maneira que uma reposta imediata sobre quem é quem não seja imediata.
Ainda neste tema, da diáspora e do tráfico de africanos como escravos, prática responsável pelo sequestro de mais de 12 milhões de pessoas, Leonce Raphael Agbodjélou, fotógrafo do Benin, evoca o decreto com o qual a França regulou a escravidão. O Código Negro, de 1685, determinou que pessoas negras escravizadas não tivessem direitos legais e nem políticos por 163 anos. Na obra de mesmo nome, o artista retrata descendentes e seus antepassados nos lugares da escravidão. As peças são montadas em formato de tríptico, que tem origem na Idade Média.
Por fim, em 2018, a 130 anos da abolição no Brasil, o artista carioca Arjan Martins fecha a exposição mostrando, em suas pinturas, os navios que cruzaram o Atlântico com africanos enfiados em porões e que aportaram com os sobreviventes nas Américas. A inspiração dele partiu de uma de experiência em Lagos, onde fez uma residência no bairro onde muitos brasileiros libertos se mudaram após a abolição.
“A exposição acontece num momento em que a herança africana volta a estar em evidência, principalmente no Rio”, destaca o curador. Parte da sociedade cobra a criação de um museu para discutir a diáspora e a herança africana, além de salvaguardas para o Cais do Valongo, o maior porto de desembarque de africanos como escravos na América Latina. O local foi declarado patrimônio da humanidade pelas Nações Unidas no ano passado.
Do Rio, a Ex Africa segue para São Paulo, onde chega em abril e para Brasília, em agosto. Em Belo Horizonte, em 2017, recebeu 150 mil pessoas.
Dentro da temática sobre a diáspora, é esperada este ano uma retrospectiva do grafiteiro nova-iorquino Jean-Michel Basquiat, que é negro, de origem caribenha, autor de algumas das obras mais caras da atualidade. Em 2017, um de seus quadros bateu recorde, ao ser vendido por US$ 110,5 milhões. (Agência Brasil)
Museu Afro Brasil tem programação especial para crianças
Gennaio 12, 2018 14:31O Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, em parceria com a Associação Museu Afro Brasil – organização social de cultura, preparou uma programação especial de férias para janeiro, dedicada especialmente aos pequenos visitantes, que poderão se aproximar das exposições a partir de brincadeiras, jogos e oficinas. As atividades têm início dia 16 e se estendem até o dia 27 de janeiro de 2018.
A programação especial de férias começa com o encontro Brincadeiras do Congo, no dia 16. Voltada principalmente ao público infanto-juvenil e comandada pelo educador congolês Wasawulua Daniel, a atividade apresenta histórias e brincadeiras originárias da República Democrática do Congo, ensinando danças e canções em língala e outras línguas da região. A ação é uma excelente oportunidade para aprender mais sobre a diversidade do continente africano e suas memórias.
Brincadeiras do Congo acontece entre os dias 16 e 26 de janeiro (de terça a sexta-feira), em dois horários diferentes ao longo do dia, às 11h30 e 15h30.
Ainda no mês de janeiro, em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo, o Museu Afro Brasil promove, nos dias 23 e 24, sempre às 11h30, a visita temática “Passados Presentes: A presença negra em São Paulo”.
Durante a atividade, o visitante conhecerá uma São Paulo muitas vezes deixada ao largo. Trata-se dos rostos fotografados por Militão Augusto de Azevedo, dos grandes mestres relembrados por Wagner Celestino, das irmandades religiosas, das edições da imprensa negra, da vida de Luiz Gama e dos eventos marcantes da nossa história apresentados pela ótica da população negra paulistana.
Finalizando a programação especial de férias, no dia 27 de janeiro acontece o encontro Aos pés do Baobá, a partir das 11h00. Durante este evento de contação de histórias e mediação de leitura, os visitantes terão oportunidade de conhecer narrativas africanas ou afro-brasileiras e, em seguida, participar de um bate-papo conduzido por integrantes do Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil.
Algumas das atividades requerem inscrição prévia. Em todos os encontros recomenda-se chegar com 15 minutos de antecedência do horário programado e procurar o setor de acolhimento do Museu Afro Brasil. As vagas serão ofertadas de acordo com o horário de inscrição ou chegada. Após o início da atividade, não será permitida a entrada.
Aproveite ainda sua visita e dê uma olhada nas nossas exposições temporárias: “Barroco Ardente e Sincrético – Luso-Afro-Brasileiro” e “Design e Tecnologia no Tempo da Escravidão”.
O museu está localizado na Avenida Pedro Álvares Cabral Portão 10, Parque Ibirapuera, São Paulo, fone 11 3320 8900.