Box de 10 CDs apresenta a riqueza do violão
March 20, 2018 16:22Idealizada pelo violonista Paulo Martelli, "Movimento Violão" é considerada a série de concertos de violão mais importante do Brasil, na atualidade. Na edição de 2012 o projeto contou com atrações internacionais como o legendário Duo Assad, Carlos Barbosa Lima, Pablo Márquez, Eduardo Isaac entre outros, além de apresentar a première das “Lendas Amazônicas”, fantasia concertante para dois violões e orquestra do compositor Marco Pereira.
O Selo Sesc está colocando agora na praça o box com os DVDs dessa temporada: são dez DVDs, com libreto e arte caprichada sobre esse instrumento que é um dos elementos da identidade nacional.
O texto abaixo, que apresenta o box, é de autoria de Paulo Martelli. O lançamento acontece nos dias 31 de março e 1º de janeiro no Sesc Vila Mariana, na capital paulista.
O violão é o instrumento que ilustra a música brasileira de maneira mais pujante. O extraordinário timbre desse instrumento está presente em definitivo no imaginário popular e materializado em nossa cultura, não somente musical, mas também literária (basta lembrar que o primeiro poeta brasileiro de envergadura, o barroco Gregório de Matos, ficou famoso no século XVII por caminhar pela cidade de Salvador com seu violão de cabaça à tiracolo construído por ele mesmo) e até mesmo pictórica, como registraram os diversos ilustradores que passaram pelo Brasil Colônia. O violão está presente em todas as linguagens artísticas do Brasil desde o seu surgimento, que se deve sobretudo à popularidade de que gozava o instrumento entre os colonos portugueses e à forte herança da cultura árabe que permeou a Península Ibérica desde a Idade Média e que se radicou também no território nacional.
Esse instrumento protagonizou alguns dos maiores momentos da performance musical do Brasil e revelou gerações de celebrados músicos, eruditos ou populares. Assim, o Movimento Violão nasceu do desejo de explorar as diversas facetas deste instrumento plural e multifacetado, transitar por seu repertório, apresentar ao grande público os grandes expoentes do violão na atualidade. Nosso ideal é registrar os concertos de grandes violonistas nacionais e estrangeiros, criando um acervo diversificado desse instrumento, de seu repertório e seus intérpretes. Por isso usamos os melhores recursos técnicos e tecnológicos de captação de áudio e vídeo para proporcionar ao espectador uma impressão próxima de um espetáculo em sala de concerto.
Esta caixa de DVDs ilustra a variedade de escolas e tendências que permitiram ao violão incorporar-se à música de diversas gerações ao longo de nossa história, tornando-o um dos instrumentos mais amados no Brasil e no mundo. Esta edição apresenta os concertos realizados na temporada do Movimento Violão 2012 nas unidades do Sesc de São Paulo. Além de nomes consagrados, o projeto também visa apresentar jovens violonistas no início de carreira. Os contemplados nesta edição são os jovens João Carlos Victor e João Koyoumdjian, ambos na casa dos 20 anos de idade.
Como atração internacional, temos os consagrados violonistas argentinos Eduardo Isaac e Pablo Márquez, ambos focando a produção para violão de compositores argentinos, além de clássicos do repertório erudito tradicional. A maioria dos violonistas que compõe esta temporada do projeto é brasileira, uma vez que nosso objetivo é o registro histórico da escola nacional e suas influências. Neste aspecto, temos Paulo Porto Alegre e Daniel Wolff com repertório focado na produção de arranjos e composições autorais. Carlos Barbosa Lima brinda-nos com um repertório das Américas com arranjos originais, e Pedro Martelli apresenta um programa de cunho nacional, explorando clássicos, além de compositores em plena atividade.
Representando o violão na música de câmara, temos o Quarteto Abayomi, cujo repertório é voltado à música de raiz, inovando em arranjos de cunho erudito somado ao canto popular, e o Duo Assad, cujo repertório traz um resumo da trajetória de 50 anos de carreira de Sérgio e Odair Assad, que certamente figuram entre os violonistas mais importantes da história e entre os mais queridos também. No programa, o Duo inclui a composição de Sérgio Assad, Tahhiyya li Ossoulina (Aos Nossos Antepassados), vencedora do prêmio de melhor composição clássica contemporânea do Grammy Latino em 2008, registrada no CD Jardim Abandonado.
Representando o violão com orquestra, a presente edição traz uma homenagem do Movimento Violão ao grande compositor brasileiro Marco Pereira, apresentando um programa integral com obras dele, incluindo a estreia de Lendas Amazônicas. Trata-se de uma fantasia concertante para dois violões e orquestra de câmara, escrita especialmente para esta ocasião. A obra é composta de cinco movimentos, que descrevem as lendas do Amazonas: 1. “Naiá, a flor das águas”; 2. “Matinta Perera, o pássaro noturno”; 3. “Curupira, o traquino”; 4. “Iara, o canto da sedução” e 5. “Icamiabas, as mulheres guerreiras”. Frente à Orquestra Metropolitana, regida pelo maestro e compositor Rodrigo Vitta, figuram os solistas Paulo Martelli e o próprio compositor Marco Pereira.
Esperamos que este projeto se torne uma referência para as gerações futuras, que certamente darão continuidade aos movimentos do violão do nosso tempo.
Egberto Gismonti e Marisa Rezende batem papo com público em Campinas
March 20, 2018 9:38O Festival de Música Contemporânea Brasileira chega à sua quinta edição homenageando Egberto Gismonti e Marisa Rezende. A abertura será amanhã, 21 de março, às 20 horas, no auditório do Instituto CPFL. O evento, que marca a agenda cultural de Campinas desde 2014, vai contar com apresentação do Quarteto Radamés Gnattali, seguido por um bate-papo com Gismonti e Rezende, em um momento de perguntas e discussões sobre o cenário da música atual. Os ingressos para o concerto de abertura serão distribuídos com uma hora de antecedência no auditório do Instituto.
Destaque no cenário musical nacional pelo ineditismo de sua estrutura, o FMCB proporciona uma visão global da obra dos homenageados por meio de apresentações e oportunidade de contato com esses compositores, que além de estarem presentes durante todo o evento, também apresentam suas próprias obras, detalhes e curiosidades de sua criação, inspirando outros músicos e trocando experiência.
Confira a programação completa:
Mostra Musical Beneficente no Centro Infantil Boldrini
20 de março de 2018
10h00
Local: Centro Infantil Boldrini
Atividades de musicoterapia com Junior Cadima
Abertura
21 de março de 2018
20h00
Local: Instituto CPFL
Bate-papo com Egberto Gismonti e Marisa Rezende
Concerto de Abertura
Quarteto Radamés Gnattali & Convidados
Homenagem a Egberto Gismonti
22 de março de 2018
10h00 às 17h00: Auditório do Instituto de Artes, Unicamp
20h00: Teatro Municipal José de Castro Mendes
Comunicações Orais
Local: Auditório do Instituto de Artes, Unicamp
10h00: A sonoridade de Egberto Gismonti no início de sua trajetória (1969-1977)
Maria Beatriz Cyrino Moreira
10h30: Água e Vinho a velha mestra e o jovem poeta
Renato de Barros Pinto
11h00: Do ensaio ao palco: A “gramática” musical de Mário de Andrade em Egberto Gismonti
Renato de Sousa Porto Gilioli
11h30: Notas sobre a trajetória de Egberto Gismonti na ECM entre 1976 e 1995: interações, transculturalidade e identidade artística
Fabiano Araújo Costa
Mesa-Redonda
Local: Auditório do Instituto de Artes, Unicamp
13h30
Estética musical e textura rítmica nas obras de Egberto Gismonti
Pesquisadores: Fausto Borém, Hemilson Garcia (Budi), Paulo Tiné
Apresentações artísticas
Local: Auditório do Instituto de Artes, Unicamp
15h00: Egberto Gismonti para violão solo
Daniel Murray
15h30: O pensamento musical de Egberto Gismonti na obra 7 Anéis para piano
Marcelo Magalhães Pinto
16h00: O Brasil de Egberto Gismonti: peças para violão solo
Eddy Andrade da Silva
16h30: Egberto encontra Villa
Duo Gisbranco
Recital Comentado pelo compositor homenageado
Local: Teatro Municipal José de Castro Mendes
20h00 - Entrada gratuita
Egberto Gismonti & convidados
Comentários de Egberto Gismonti
Homenagem a Marisa Rezende
23 de Março de 2018
10h00 às 17h00: Auditório do Instituto de Artes, Unicamp
20h00: Teatro Municipal de Campinas José de Castro Mendes
Comunicações Orais
Local: Auditório do Instituto de Artes, Unicamp
10h00: Ressonâncias e Miragem em casa e myths & visions: dois recitais de piano/performances interdisciplinares
Késia Decoté
10h30: Um olhar sobre a obra Recorrências de Marisa Rezende
Flávia Vieira
11h00: A Ginga de Marisa Rezende: processos composicionais em uma de suas obras para grupo de câmara.
Potiguara C. Menezes
11h30: Mutações e contrastes em duas peças para piano de Marisa Rezende
Tadeu Moraes Taffarello
Mesa-Redonda
Local:Auditório do Instituto de Artes, Unicamp
13h30
Discurso musical e construção sonora nas obras de Marisa Rezende
Pesquisadores: Lidia Bazarian, Marcos Vinício Nogueira, Silvio Ferraz
Apresentações artísticas
Local: Auditório do Instituto de Artes, Unicamp
15h00: Ponderações sobre a construção interpretativa da peça Contrastes de Marisa Rezende
Tatiana Dumas Macedo
15h30: O clarinete na obra camerística de Marisa Rezende
Ensemble Ricciardi
Recital Comentado pela compositora homenageada
Local: Teatro Municipal José de Castro Mendes
20h00
Quinteto Pierrot & Convidados
Comentários de Marisa Rezende
Entrada Gratuita
Concerto de Encerramento
24 de Março de 2018
Local: Teatro Municipal José de Castro Mendes
20h00
Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas
Maestro Victor Hugo Toro
Participação especial: Egberto Gismonti e Marisa Rezende
Banda de reggae faz shows e workshop de percussão gratuitos
March 19, 2018 17:39A banda de reggae Alma Livre lança o projeto “Reggando Vidas”, na capital paulista, composto por shows e um workshop de percussão, gratuitos. Os shows serão realizados nas Casas de Cultura, Centro Culturais, CEUs e espaços culturais. O workshop de bateria e percussão será ministrado pelos músicos Kleberson Luiz (bateria) e José Nascimento (percussão) acompanhados dos demais integrantes da banda.
Preparado pela própria banda o projeto tem como objetivo fortalecer a cena reggae na cidade de São Paulo. “Para a gente é importante disseminar e divulgar a linguagem reggae, para que as pessoas possam ter acesso a ela sem medos, preconceitos, porque reggae é esperança, amor, é, principalmente, cultura de paz”, diz Naldinho, tecladista e produtor-executivo da banda.
Com elogios da mídia nacional e estrangeira, prêmios da indústria da música, shows pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Portugal, e ainda composições próprias, a banda Alma Livre foi criada no ano de 2006 em São Paulo. Os músicos Alves, Naldinho, Chico, Paulo, Sabiá e Kleberson, bebem de fontes do jazz e soul para temperar o reggae com mais gingado e groove, tudo envolto em temas sociais, de amor e espiritualidade, canções autorais cantadas em português, inglês e espanhol.
A banda lançou no primeiro ano de formação um trabalho demo que rendeu o troféu "Os Melhores do Reggae – 2006". Em 2010, o grupo gravou o segundo CD demo, "El Amor Vencio", que rendeu um contrato com a produtora de Portugal Ritmos e Temas Produções. A parceria proporcionou ainda abertura comercial na Europa, Ásia e África.
Em julho de 2013, disposta a conquistar também o mercado latino-americano, a banda lançou o CD "Alma Livre", com canções em português, inglês e espanhol. Totalmente autoral, o álbum navega pelos estilos que fizeram parte da história da banda e também por canções românticas.
Em maio de 2015 o Alma Livre lançou o single "Só A Luz Me Acalma", gravado em São Paulo e masterizado na Holanda.
Depois de três turnês no Uruguai, uma em Portugal e outra na Argentina, mais de 100 shows pelo Brasil, parcerias com músicos internacionais, uma música lançada por uma gravadora estrangeira, dois demos, um CD independente e três videoclipes, o grupo assinou contrato com a gravadora Atração Fonográfica, parceria que lançou a banda nacionalmente com o EP "Deixe Brilhar".
O álbum conta com uma releitura autorizada de "Paciência", sucesso de Lenine (www.youtube.com/watch?v=3PN5AAoylM8&feature=youtu.be), e com o rapper uruguaio Avaro Silva na faixa "O Preço da Paz".
As datas, locais e horários das apresentações estão disponíveis no site oficial da banda: www.bandalmalivre.com.br.
O samba-enredo que exaltou a liberdade em plena ditadura
March 19, 2018 9:54Carlos Motta
O Carnaval se foi, não se fala mais no samba da Tuiuti, mas o país continua sob o impacto de um mal disfarçado golpe de Estado, que trocou uma presidenta honesta por uma quadrilha que segue, impunemente, o assalto às, cada vez menores, riquezas nacionais.
O Carnaval se foi, mas este não é o país do Carnaval, com golpe ou sem golpe, com democracia ou sem democracia?
Assim, nunca é demais lembrar que não foi só a Tuiuti quem aproveitou o desfile para denunciar a grave situação vivida pela nação, para dar um forte recado às autoridades e, sob o poderoso ritmo do samba, proporcionar um momento de catarse coletiva.
Em 1969, poucos dias depois do fechamento total do regime, com o fatídico AI-5, o retrato por inteiro da ditadura militar, a Império Serrano levava, corajosamente, ao público o enredo "Heróis da Liberdade", cantando o samba-enredo de Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manoel Ferreira.
Para que isso fosse possível, foi preciso trocar a palavra "revolução" por "evolução" na letra. O zelo do censor, porém, não foi suficiente para impedir que as pessoa compreendessem que a música não falava propriamente do movimento abolicionista, mas que era uma alegoria sobre o momento social e político do Brasil.
E que dava um recado claro sobre como o povo deve proceder para promover mudanças - a revolução deve nascer de um movimento coletivo, que envolva a todos:
"Ao longe soldados e tambores
Alunos e professores
Acompanhados de clarim
Cantavam assim:
Já raiou a liberdade
A liberdade já raiou"
"Heróis da Liberdade" é apontado como um dos melhores - se não o melhor - samba-enredo de todos os tempos.
Foi gravado por inúmeros medalhões da música popular brasileira - João Bosco preservou a letra original, com a palavra "revolução".
Mas coube a Roberto Ribeiro, cantor extraordinário, fazer o registro definitivo dessa obra-prima - é algo de arrepiar!
Ô ô ô ô
Liberdade, Senhor,
Passava a noite, vinha dia
O sangue do negro corria
Dia a dia
De lamento em lamento
De agonia em agonia
Ele pedia
O fim da tirania
Lá em Vila Rica
Junto ao Largo da Bica
Local da opressão
A fiel maçonaria
Com sabedoria
Deu sua decisão lá, rá, rá
Com flores e alegria veio a abolição
A Independência laureando o seu brasão
Ao longe soldados e tambores
Alunos e professores
Acompanhados de clarim
Cantavam assim:
Já raiou a liberdade
A liberdade já raiou
Esta brisa que a juventude afaga
Esta chama que o ódio não apaga pelo Universo
É a evolução em sua legítima razão
Samba, oh samba
Tem a sua primazia
De gozar da felicidade
Samba, meu samba
Presta esta homenagem
Aos "Heróis da Liberdade"
Ô ô ô
Mostra traz ao Brasil a cultura e a arte da Jamaica, além dos clichês
March 16, 2018 15:24Engana-se quem acha que o reggae é só Bob Marley. Com quase duas décadas escrevendo sobre o gênero - com sensibilidade às conotações políticas e sociais ao redor desse estilo -, o curador francês Sébastien Carayol chega ao Brasil com Jamaica, Jamaica!, mostra no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. A exposição, concebida pela Cité de la musique – Philharmonie de Paris, produzida e realizada pelo Sesc São Paulo, vai além dos clichês e apresenta ao público como a cultura dessa nação se relacionou com o ativismo negro e influenciou na criação de novas vertentes musicais ao redor do mundo.
Carayol começou a pensar na mostra em 2013 para expor, diz ele, “a verdade que nunca foi dita” e romper com a desinformação que existe sobre o país. “Na Europa, a visibilidade musical jamaicana depende do nível de respeito que as outras músicas ‘black’ já conseguiram por lá, como o jazz, o soul, o funk e o rap”, diz. Além disso, o curador acredita que é uma injustiça a falta de conhecimento sobre ídolos jamaicanos, como Marcus Garvey, por exemplo, o que torna a exposição um marco de representatividade.
Garvey, empresário e comunicador lembrado por Carayol, é um dos nomes também apresentado na exibição. Falecido em 1940, ele é considerado um dos maiores ativistas da história do movimento nacionalista negro e lutava contra a perda de valores africanos nas nações dominadas pela colonização branca. O militante presidiu a Associação Universal para o Progresso Negro (AUPN) e colaborou com a criação de ideias contra a inferioridade racial. No entanto, seu legado e sua importância para o país caribenho, de maioria negra, ainda não é discutido e apresentado em todos ambientes acadêmicos e escolares ao redor do mundo.
Diante disso, Carayol explica que o que o guiou foi oferecer à nação a oportunidade de vir ao Brasil contar a história sem influências externas à ela. “Nem eu, nem a França, nem qualquer outra pessoa está aqui para emitir visões tendenciosas”, afirma. “Temos na exposição trabalhos específicos de pintores jamaicanos, como Leasho Johnson, e do cantor de reggae Danny Coxson, por exemplo”, complementa.
O francês visitou museus na Jamaica e nos Estados Unidos, coleções privadas em diferentes países e convenceu familiares de antigos produtores e artistas jamaicanos à emprestar algumas produções.
A mostra foi adaptada para o Brasil com a presença do reggae em São Luís do Maranhão, São Paulo e Bahia. Essas regiões misturaram seus ritmos ao som jamaicano e deram formato único incorporado ao DNA brasileiro.
Jamaica, Jamaica! traz à tona o fato de que não há como entender por completo a música do país sem falar da onda de violência pela qual a população passou depois da independência, em 1962. Gangues de rua e milícias foram articuladas por políticos para as disputas eleitorais enquanto o músico Bob Marley e o grupo The Wailers lideravam o movimento reggae do país.
Conflitos armados tomaram as ruas de Kingston, capital federal, com interferência da CIA, e houve um crescimento exponencial do tráfico de drogas na década de 1970. Nesse cenário, a música popular surgia como uma válvula de escape para a pobreza e o medo, e isso foi usado como arma política. O antigo primeiro-ministro jamaicano Michael Manley, por exemplo, usou a melodia Smile Jamaica, de Bob Marley, para alavancar nas corridas eleitorais de 1976.
De acordo com Carayol, esse contexto deixou marcas na música do país. “Ainda estou convencido até hoje de que quando Bob Marley pedia paz e amor em suas músicas, ele basicamente estava falando sobre o seu bairro, Trenchtown, que sofreu com a violência”, reflete. “Ele tinha em mente que havia centenas de pessoas mortas em cada eleição geral.”
Todas essas questões intrínsecas foram divididas em oito diferentes núcleos ao longo dos 1.300 m² de espaço expositivo, que, em conjunto, formam um panorama de elementos marcantes na construção político-social e cultural da Jamaica.
Para além do ícone Bob Marley, a exposição retrata artistas e grupos ligados a música - como Peter Tosh, Marcus Garvey, The Skatalites, The Wailers, etc, a criação de ritmos - como o Ska, Soundsystem e o Dancehall - e seus códigos para divulgação, comunicação e representação da própria cultura.
Para demonstrar a complexidade que envolve a ilha caribenha, os núcleos temáticos reúnem objetos icônicos, como pôster, instrumentos, vinis, livros, pinturas e fotografias, expandindo os ecos da influência jamaicana em regiões brasileiras e as ressignificações criadas a partir dessa mistura.
Rádio Jamaica
Em 1959, a primeira estação de rádio local, a JBC (Jamaica Broadcasting Corporation), fundada por um dos articuladores da independência jamaicana, Norman Manley, tornou-se a primeira emissora da ilha a concentrar-se mais na música jamaicana do que no jazz americano e no rhythm and blues.
A partir deste momento, a rádio tornou-se não apenas uma fonte de orgulho para os jamaicanos como também o primeiro elo da cadeia da produção musical: shows transmitidos ao vivo proporcionaram aos produtores locais uma geração de novos talentos para a indústria fonográfica jamaicana.
Em homenagem à história desta música extraordinária, a exposição propõe uma experiência sonora como parte integrante: a Rádio Jamaica, emissora online que apresenta uma série de músicas, sons e playlists. Você pode ouvi-la até 26 de agosto durante a visitação da mostra - levando o seu próprio fone ou em diversos dispositivos eletrônicos - e também na web, no player ou nesse link.








