Quatro autores esquecidos pelo país dos modismos
octubre 5, 2017 10:43Carlos Motta
Devorador de livros desde o primeiro que meus olhos de criança avidamente percorreram, o imortal "A Ilha do Tesouro", de Robert Louis Stevenson, tive outro dia a vontade irrefreável de encontrar, entre as pilhas ocultas num armário, algumas obras de determinados autores brasileiros, lidas há um bom tempo, mas que nunca fugiram da memória.
Por fim, não sei quantos minutos depois, lá estavam elas, devidamente separadas de tantas outras de boa e má literatura, que voltaram ao seu semiesquecido lugar: "O Amanuense Belmiro", de Ciro dos Anjos, "Saltimbancos", de Afonso Schmidt, e "O Professor Jeremias", de Leo Vaz, três edições da inesquecível Coleção Saraiva, que ousou, com o Clube do Livro, popularizar a leitura num Brasil que deixava os traços rurais, lá pelos anos 40, 50 e 60 do século passado.
As três são obras de alto nível artístico, embora seus autores sejam hoje praticamente ignorados pela indústria livreira e pelo minúsculo público que a movimenta.
De maneiras distintas, nos dão uma ideia de como era o Brasil de quase um século atrás, de como viviam as pessoas comuns - funcionários públicos, artistas mambembes -, com seus pequenos dramas e aflições, pequenas tragédias que se tornam imensas tal a incapacidade de seus indefesos protagonistas lutarem contra elas, e que os subjugam a uma existência na qual as minúsculas conquistas são celebradas como vitórias magníficas.
Animado pela experiência de reler esses clássicos menosprezados pelos modismos, fui atrás de outro autor do mesmo quilate, que encontrei nesses admiráveis sebos virtuais, Galeão Coutinho, outra estrela da Coleção Saraiva.
E dele li "Vovô Morungaba", obra de prosa ágil, coloquial, cheia de humor, um bom exemplo da literatura picaresca, que, como os outros três, pinta um retrato precioso do Brasil dos anos 1930, e mais especificamente, da São Paulo que iniciava a sua trajetória para se tornar a assustadora e problemática metrópole de hoje.
É uma pena que esses quatro autores - como tantos outros - tenham sido apagados do cenário artístico brasileiro, seguindo a lógica de uma indústria cultural que visa apenas o lucro fácil das estrelas fugazes.
Mas, como se sabe, tudo isso não tem nenhuma importância neste país em que a ignorância é posta num altar e a inteligência é perseguida como inimiga a ser destruída.
Triste Natal: 82% dos comerciantes não farão contratações
octubre 4, 2017 14:10Levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), indica que oito em cada dez (82%) empresários não contrataram e nem pretendem contratar trabalhadores para este fim de ano, incluindo os temporários e efetivos. Levando em consideração o setor do varejo e serviços, cerca de 51 mil vagas extras deverão ser criadas para o fim do ano.
Entre os empresários que não contrataram e não pretendem contratar novos funcionários, 49% acreditam que a atual equipe conseguirá atender o volume de clientes e não veem necessidade de contratação, seguido pela crença de que o movimento no fim do ano não vai aumentar (18%). Para suprir o aumento natural da demanda dessa época sem novas contratações, 48% acreditam que não precisarão mudar nada na forma de trabalho, uma vez que não haverá aumento significativo da demanda.
Apenas 13% dos empresários consultados manifestaram a intenção de reforçar o quadro de funcionários e, entre eles, 74% pretendem contratar de 1 a 5 funcionários, independentemente de ser efetivo ou temporário – outros 19% desses empresários ainda não sabem quantos funcionário pretendem contratar.
A principal motivação entre os que contrataram ou tem contratações previstas é suprir o aumento da demanda no fim do ano (75%). Quatro em cada dez desses empresários (40%) afirmam que os contratados serão formalizados pela própria empresa, porém 35% afirmam que serão informais e 13% terceirizados. Entre os que contratarão funcionários sem carteira assinada (36%), a principal justificativa é viabilizar a solução de uma necessidade específica para o Natal (39%) dado que o alto custo da carteira registrada poderia atrapalhar as contratações.
Dentre os empresários que necessitam de mão de obra adicional, 54% disseram que farão ou fizeram contratações temporárias e, desses, 56% não têm intenção de efetivar nenhum após o período de fim de ano e 28% pretendem contratar de 1 a 5 colaboradores. Quando comparado a 2016, 22% dos empresários que terão mais mão de obra acreditam que a contratação de funcionários para o final de 2017 será menor, 18% maior e 48% igual. Uma das justificativas para o número menor ou igual de contratações é o não aumento significativo do movimento de clientes no final deste ano (35%).
Se o número de contratações para o final do ano tende a ser baixo, por outro lado a expectativa é que o volume de vendas deve ter um incremento de 1%, na visão dos empresários.
Os principais motivos alegados pelos empresários para as expectativas de vendas em 2017 serem melhores que 2016 são as vendas acima do esperado em outras datas comemorativas de 2017 (20%) e as mudanças na política e no cenário econômico (19%). Por outro lado, as mesmas mudanças na política e no cenário econômico (33%) e o desemprego (29%) são também as principais justificativas dos empresários que estão pessimistas com as vendas neste final de ano.
Os bons tempos voltaram
octubre 4, 2017 9:33Ataques de movimentos neofascistas e de religiosos fundamentalistas a exposições de arte.
Juízes proibindo peças teatrais e exposições artísticas.
Parlamentares fazendo apologia à tortura.
Suicídio de um reitor que não suportou a humilhação de ter sido preso sem nenhum motivo e impedido de frequentar a universidade que dirigia.
Perseguição implacável, por meio do Judiciário e Ministério Público, a um partido político e às suas principais lideranças, principalmente um ex-presidente da República.
Instituição da prisão preventiva como forma de arrancar "confissões" e delações.
Aumento da repressão a atos públicos de oposição ao governo golpista.
Multiplicação de casos de racismo, preconceito, intolerância religiosa, incitação ao crime e xenofobia nas redes sociais, sem nenhuma punição aos seus autores.
Proliferação de sites especializados em notícias falsas.
E muito mais.
O Brasil de hoje faz inveja ao dos anos do "Ame-o ou deixe-o".
As almas dos presidentes ditadores estão cada vez mais leves.
Os bons tempos voltaram.
O "canalhismo" brasileiro
octubre 2, 2017 22:35Títulos das homepages da Folha de S. Paulo e do portal UOL da notícia do suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancillier de Olivo, vítima da meganhagem que manda no Brasil, são praticamente iguais na canalhice.
Jornalismo brasileiro, requiescat in pace.
A hora e a vez das formigas
octubre 2, 2017 17:07Carlos Motta
Prova disso é o desejo, cada vez mais forte, de o homem exterminar os seus semelhantes, os de sua própria espécie.
O caso do atirador americano que matou dezenas de pessoas que assistiam a um show de música em Las Vegas é o exemplo mais recente dessa insanidade.
Ele não é, como muitos podem supor, um caso isolado de um surto psicótico, de uma patologia individual.
Segue, isso sim, uma lógica de doutrinação ideológica que vem sendo aplicada há décadas em praticamente todo o mundo.
Segundo esses preceitos, todos os diferentes, todos os que fazem parte de alguma minoria, todos os que professam crenças religiosas diversas das predominantes em determinada cultura, todos os que ousam exercer a liberdade artística, e mesmo os que lutam politicamente por uma sociedade mais igualitária - os chamados esquerdistas - são inimigos que devem ser eliminados.
A cada pequeno passo em busca de uma sociedade mais fraterna seguem-se muitos outros de retrocesso.
Estão aí, como exemplos, a destruição, por parte de um governo formado por um quadrilha, do Estado de bem-estar social que os trabalhistas quiseram criar no Brasil, e a supressão das medidas que pretendiam tornar a capital paulista uma metrópole mais humana.
Os movimentos neofascistas ganham espaço a cada dia no Brasil.
E não só atacam impunemente tudo o que lembra a civilização, como têm apoio de parte do Judiciário.
O político que mais simboliza tal extremismo, aquele que pretende armar os seus seguidores e fala candidamente em liquidar fisicamente seus adversários, tem, segundo pesquisas eleitorais, de 15% a 25% das intenções de voto para a presidência da república.
Jovens, na maioria negros, pobres e moradores nas periferias das grandes cidades, são vítimas diárias da violência policial.
Os desmandos por parte das "autoridades" se multiplicam, arrasando reputações e vidas, como na vigência de um Estado ditatorial.
No mundo todo a brutalidade toma lugar da razão.
Atentados terroristas se tornam rotina.
Aos homens bombas sucedem-se atropelamentos de multidões, esfaqueamentos, fuzilamentos - a criatividade humana para tais atrocidades é pródiga.
Analistas dão destaque ao avanço das forças da ultradireita no planeta, mas não tocam no essencial, o fato de que isso só foi possível porque nada foi feito para conter o seu crescimento.
A luta geopolítica destrói países inteiros, com a complacência de organismos internacionais criados para evitar que isso acontecesse.
Muito tempo atrás dizia-se que se o Brasil não acabasse com a saúva, a saúva iria acabar com o Brasil.
Do jeito que as coisas andam, talvez seja melhor deixar que as formigas tomem conta não só do Brasil, mas de toda a Terra.










