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Motta

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Segundo Clichê

febrero 27, 2017 15:48 , por Blogoosfero - | 1 person following this article.

O barbeiro e a prisão do Lula

junio 22, 2017 10:45, por segundo clichê


O meu barbeiro, aqui na pequena, religiosa e conservadora Serra Negra, tem uns 70 anos de idade, conhece um monte de gente, adora uma fofoca, está na posse de vários segredos da alta, média e baixa sociedade local, e conta "causos" com a naturalidade típica dos barbeiros de antigamente - quando barbeiros eram barbeiros, e não cabeleireiros. 

Acredito em quase tudo o que fala, pois, afinal, ele é muito mais bem informado do que eu - sabe-se lá quantas pessoas sentam em sua cadeira diariamente, muitas ali apenas para fazer as mais íntimas confidências entre uma tesourada e outra?

Foi o meu barbeiro quem disse, por exemplo, que os negócios na cidade estão meio parados já há algum tempo. 


Seu instituto de pesquisa são os restaurantes vizinhos, populares, que cobram uns R$ 15 a refeição completa, quantos pratos o freguês glutão quiser encher.

- O movimento caiu pela metade, me disse há pouco mais de mês.

Ontem, ele me contou a última, tão logo me assentei para que podasse minhas madeixas:

- O pessoal está falando que estão para prender o Lula, o Aécio e aquele outro...

- O Temer, completei.

- É, ele mesmo. O Lula, me disseram, está em não sei que lugar, nem um pouco preocupado com isso...

Depois, certamente com base em suas inúmeras fontes, disse que o pessoal da cidade estava sem dinheiro e coisa e tal.

Graças à sua perícia e aos meus ralos cabelos, a conversa acabou logo em seguida. Paguei os R$ 20 do serviço e nos despedimos.

Enquanto o "Nove Dedos" não vai preso, hoje, ao começar a ver as notícias na internet, fiquei sabendo que outra pesquisa eleitoral vê ele e aquele deputado fascista que odeia tudo o que não rende votos num eventual segundo turno da eleição presidencial de 2018. 

A vontade de votar em Lula, segundo esse levantamento, cresceu ainda mais, na mesma proporção em que é massacrado pela mídia, pelos lava-jatos, por aspirantes a lava-jato, e por todos os que desejam, do fundo de seus bondosos corações, que o Brasil continue a ser, eternamente, o campeão mundial da desigualdade social.

Os outros candidatos da direita, de acordo com a pesquisa, estão no time dos nanicos: Geraldo, o nosso querido governador, segue firme em sua estratégia de aparecer o menos possível no noticiário para continuar no poder; Marina, a verde Marina, deve estar camuflada em alguma floresta que tanto adora; Aécio chora e bebe e jura aos seus, cada vez mais raros, amigos, que a sua carreira não terminou - e por aí vai.

Além do abominável fascista, os anti-Lula têm outro nome para votar, se houver eleição no ano que vem, o do prefeito paulistano,esse incrível representante da espécie humana que respira marketing e vive acelerado.

No fundo, todo mundo sabe que a única diferença que os distingue são as blusas de cashmere e os tênis da badalada grife Osklen que o alcaide adora.

Pois é.

Na minha próxima ida ao barbeiro, o "Apedeuta" provavelmente já estará na cadeia, pagando pelo crime de possuir um apartamento "triplex" na badalada Guarujá, que nunca foi, não é, e nunca será, seu.

O deputado viúvo da ditadura e o prefeito almofadinha, em vista disso, se sentirão bem mais aliviados.

Afinal, seus projetos de transformar o Brasil num imenso Paraguai - não o atual, mas aquele do general Stroessner -, ou, parafraseando o poeta, num imenso Portugal - não o atual, social-democrata, mas aquele do carola Salazar -, estarão com o caminho livre para se concretizar.

Depois disso, quem sabe, os restaurantes vizinhos ao meu barbeiro poderão aumentar o preço de suas refeições, e ele mesmo cobrar mais pelo seu serviço - e suas preciosas informações. (Carlos Motta) 



O voo dos pássaros e o comportamento dos homens

junio 21, 2017 14:13, por segundo clichê


Morar numa cidade tranquila como Serra Negra, interior de São Paulo, faz com que a gente observe com muito mais atenção certas coisas que antes, na confusão da metrópole, passavam despercebidas.

O voo dos pássaros é uma delas.

Vejo, da janela do quarto que transformei num escritório, os urubus planando, com uma graça incomparável, em círculos cada vez maiores - o céu, azulíssimo, sem nenhuma nuvem, destaca seus vultos negros.

Algumas vezes o topo do edifício de frente ao meu recebeu a visita de altaneiros gaviões.
Pousados na beirada da caixa d'água, observavam, com a atenção dos predadores, tudo ao seu redor. 

Depois, se lançavam ao espaço, num voo que lembra o dos urubus, suave, com a impavidez dos fortes.


Ao contrário, as andorinhas parecem tomadas de um frenesi inexplicável. 

Dão voltas impossíveis, sobem e descem como malucas, batem as pequenas asas desesperadamente, da mesma maneira que as verdes, ruidosas e escandalosas maritacas, que surgem em bandos de manhãzinha. 

Outro dia um casal de tucanos surgiu nesse prédio da frente. 

Os dois ficaram juntos alguns minutos, depois cada um foi para uma extremidade do telhado. 

Com aqueles bicos amarelos enormes pareciam contrariar as leis da aerodinâmica quando se jogaram no ar.

Mas seu voo é fácil, parece até o dos urubus e dos gaviões.

De vez em quando aparecem pássaros estranhos, de formas bizarras, como a nos lembrar que a diversidade e complexidade da natureza são desafios constantes para o intelecto sempre curioso do homem.

Mas, por mais que tente ser original em suas conquistas, especulações e descobertas, a natureza ainda guia os passos da espécie humana.

É o caso deste Brasil de hoje, à beira de um desastre de proporções inimagináveis.

As nossas lideranças, ou aqueles a quem foi destinado cuidar dos destinos da nação, se portam tais quais os urubus, gaviões, tucanos, andorinhas, maritacas, e outros pássaros indistinguíveis aos olhos do leigo, que povoam os arredores do meu prédio.

Alguns voam em ziguezague, sem saber aonde ir; outros apenas pairam nas alturas, observando o movimento da massa ordinária e preparando suas próximas ações.

E há os que, como as corujas, preferem ficar entocados de dia para dominar a noite com seus voos velozes e pios agudos.

É a hora em que saem à caça, mortais, implacáveis, tão diferentes da imagem bonachona com que se mostram de dia. (Carlos Motta)



Desunidos, venceremos!

junio 20, 2017 11:29, por segundo clichê


O incidente aeroideológico protagonizado pela jornalista Miriam Leitão dias desses trouxe à tona um velho debate das esquerdas brasileiras: a global recebeu a solidariedade de boa parte do chamado "campo progressista", enquanto a outra porção não só continuou a esculachá-la, como estendeu a bronca àqueles que a defenderam.

Já ouvi umas mil vezes que, por mais que pareça o contrário, o pessoal da direita está sempre unido quando é preciso, e o da esquerda briga até quando concorda em alguma - rara - coisa. 

Por isso, toda essa discussão sobre achar certo ou não dar um escracho na multicomentarista não surpreendeu quem acompanha, ao menos minimamente, a política nacional.

A divisão das esquerdas é histórica, vem desde sempre.


Um partido como o PT, por exemplo, é, desde sua fundação, uma tremenda zona. 

Há de tudo entre seus militantes: trotskistas, stalinistas, maoistas, cristãos, observadores de OVNIs, adoradores do Sol, porra-loucas de variados graus.

Escolha um tipo - e você vai encontrar lá.

Na Jundiaí da minha juventude, lembro bem, nas primeiras reuniões do diretório local do PT, no início dos anos 80 do século passado, o pau comia solto entre aquela dúzia de idealistas que tentava, missão impossível, levar uma mensagem socialista à sociedade mais que conservadora da cidade.

Metade do pessoal era ativista do grupo, uma quase seita, que se denominava "Convergência Socialista", que acabou saindo do partido para fundar o seu próprio, o maluquíssimo PSTU, e a outra metade era a dos "burgueses", vários estudantes e jornalistas, um arquiteto, um médico, um publicitário...

Não havia jeito de essas duas turmas entrar num acordo, qualquer coisa suscitava uma discussão interminável, parecia que os adversários não estavam fora da minúscula sede do diretório, saqueando a cidade, mas sim ali, naquele momento, prontos para se atracar, para resolver as diferenças no melhor estilo John Wayne.

Isso foi há muito tempo.

E parece que nada mudou.

Nem o horror vivido pelo Brasil atualmente parece capaz de unir as esquerdas, ou de fazer com que elas concordem pelo menos em algum ponto, sei lá eleições diretas, ou qualquer coisa que nos faça acreditar que o pesadelo vai acabar algum dia.

Sempre há uma Luciana Genro para ser do contra, ou um bicão tipo Ciro Gomes a criar polêmicas.

Enquanto isso acontece, os tubarões nadam tranquilos no mar da desesperança nacional, abocanhando, despreocupadamente, cardumes inteiros de apetitosas sardinhas.

O oceano teima em se manter revolto, os capitães dos barcos não veem terra à vista, e os gritos de socorro são abafados pelos trovões de pesadas nuvens que prenunciam cataclismas. (Carlos Motta)



Temer renunciará ou será "renunciado"?

junio 19, 2017 16:32, por segundo clichê


Antônio Augusto de Queiroz

A situação do presidente Michel Temer está ficando de tal modo insustentável que, ou ele renuncia por vontade própria ou será “renunciado” no sentido de que o Congresso irá conduzir as ações do governo ou será forçado a renunciar por pressão da sociedade, do mercado e da mídia. Nem mesmo a absolvição no processo de cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conseguiu aliviar ou distensionar o ambiente político.

Vamos às causas. Duas dimensões foram determinantes para o afastamento da presidente Dilma e a assunção e efetivação de Michel Temer na Presidência da República: a ético-moral e a econômico-fiscal.

A primeira, pelo menos do ponto de vista da mobilização popular, foi a que motivou o apoio ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma. Esse foi o pretexto utilizado: 1) pelos veículos de comunicação para denunciar; 2) pela população para se mobilizar; e 3) pelo Congresso para afastá-la da Presidência da República.

A segunda, essa restrita ao interesse do mercado e seus defensores, foi a que motivou o setor empresarial e alguns órgãos de fiscalização e controle do Estado a apoiar a derrubada da presidente, que era vista como intervencionista na economia, especialmente nos marcos regulatórios de infraestrutura, e também como supostamente irresponsável do ponto de vista fiscal, por ter feito “pedaladas” e ampliado o gasto público, principalmente na área social.


O presidente Temer, ao montar seu governo, priorizou a dimensão econômico-fiscal, propondo uma agenda de reformas e formando uma equipe econômica do agrado do mercado, mas negligenciou o aspecto ético-moral.

Ora, um governante que sucede alguém destituído sob o fundamento de praticar ou permitir desvio de conduta, não pode, em hipótese alguma, deixar margem para qualquer questionamento nesse campo, sob pena de igualmente ser afastado de suas funções pelos mesmos motivos.

A explicação para tanto é simples. Se parcela expressiva da sociedade apoiou o processo de impeachment de Dilma por suposta degradação ético-moral de seu governo, por que razão iria ser indiferente às mesmas práticas pelo governo Temer? Quem militou a favor do afastamento da presidente anterior teria, por uma questão de coerência e até com mais razão, também que militar a favor do afastamento de seu sucessor, se este fosse acusado, como de fato vem sendo - e com provas irrefutáveis -, das mesmas práticas de sua antecessora.

A prova de que o governo Temer padece de acusações, e até mais graves do que aquelas feitas à ex-presidente, está no fato de que ele levou para sua assessoria amigos e conselheiros que estavam ou estão associados, por iniciativa própria ou a serviço do presidente, a denúncias por prática de irregularidades.

Entre estes colaboradores, formais ou informais, pode-se mencionar: os ex-deputados Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Tadeu Filipelli, Moreira Franco, Eliseu Padilha, José Yunes, além do coronel João Batista Lima Filho.

A foto exibida na edição de 7 de junho de 2017 no Jornal Nacional da Rede Globo, quando o então vice-presidente Michel Temer e seus auxiliares e aliados diretos assistiam à votação do processo de impeachment da Dilma, foi devastadora porque a quase totalidade dos presentes ou já foi presa ou está respondendo a denúncia de desvio de conduta.

Se esse fato, por si só, já seria desabonador, o aparecimento de outros, como a delação dos irmãos Batista, do grupo JBS; a provável denúncia do Ministério Público contra o presidente; e as possíveis delações do doleiro Lúcio Funaro e de Rocha Loures, comprometem ainda mais a credibilidade do governo.

Registre-se que a delação da JBS, além de ter levado à prisão de um dos principais auxiliares do presidente Temer, de sua “mais estrita confiança”, como ele mesmo declarou, resultou na divulgação de áudios com diálogos comprometedores envolvendo o próprio presidente, cuja repercussão foi demolidora para o governo.

Além disso, uma denúncia ou pedido de abertura de processo contra o presidente pelo Ministério Público é tida como certa, e isso terá uma repercussão extremamente negativa, a ponto de levar ao afastamento de vários partidos da base do governo, a começar pelo principal deles, o PSDB.

Por fim, uma possível delação do doleiro, operador de figuras importantes do PMDB, como o ex-deputado Eduardo Cunha, e de Rocha Loures, homem “da mais estrita confiança” do presidente, filmado recebendo e carregando uma mala de dinheiro, não deixará pedra sobre pedra.

Não bastasse tudo isso, o governo ainda é acusado de manobrar para blindar ou dar foro privilegiado a aliados enrolados, como Moreira Franco e Rocha Loures, e de fazer concessões exageradas a uma base fisiológica em troca do apoio às reformas e à rejeição a pedido de impeachment ou do Ministério Público para cassar ou processar o Presidente. Para isso, tem até mesmo passado por cima da Constituição, reeditando medidas provisórias com grave desvio de finalidade.

Aliás, o governo do presidente Temer só não caiu ainda porque conta com uma base política forte, cujo principal sustentáculo é o PSDB, e porque o mercado: 1) espera a aprovação da reforma trabalhista, e 2) ainda não achou um nome para sucedê-lo em eleição indireta que reúna as seguintes condições: i) tenha votos no Congresso para se eleger, ii) mantenha a equipe econômica, iii) defenda a agenda de reformas, especialmente a reforma da previdência, iv) não seja investigado ou responda processo no âmbito da Lava-Jato, e v) tenha maturidade e equilíbrio emocional para exercer, nesse momento de crise, as funções de Líder da Nação, Chefe de Estado e Chefe de Governo.

Portanto, mesmo saindo vitorioso no TSE, a continuidade do governo Temer depende de uma série de variáveis de difícil controle, entre as quais: 1) da não saída do PSDB da base; 2) da continuidade das reformas; 3) da não-denúncia do Ministério Público; 4) da não-delação de Rocha Loures e de Lúcio Funaro; 5) de baixa pressão popular; e 6) da ausência de consenso sobre um nome para sucedê-lo em eleição indireta.

Com tantos problemas, se conseguir terminar o mandato é porque Michel Temer foi “renunciado”, ou seja, entregou a administração do país à equipe econômica e pagou o preço cobrado pelos partidos de sua base no Congresso não mais para aprovar reformas, mas para evitar a autorização para abertura de processo no Supremo Tribunal Federal ou para evitar a abertura de processo de impeachment. É esta a situação do presidente Temer!

(Antônio Augusto de Queiroz  é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap)



O mercado se cansou de Temer, mas não de seu vazio econômico

junio 19, 2017 9:51, por segundo clichê


Marcelo P. F. Manzano

No dia 12 de junho os porta-vozes do “mercado” pareciam indicar que estão rompendo definitivamente o namoro com governo Temer. Depois de algumas semanas discutindo a relação, a depender das notícias estampadas nos jornais no dia dos namorados, a teimosia de Temer em se agarrar ao cargo já faz cair ainda mais as projeções econômicas, com várias instituições revendo os seus números para baixo.

As cem cabeças do mercado que compõem o Boletim Focus, por exemplo, que até aqui pareciam insensíveis ao terremoto causado pelas delações da JBS, reduziram suas projeções de crescimento do PIB em 2017 de 0,5% para 0,41% em apenas uma semana, aparentemente atormentadas pela ideia de um presidente moribundo que parece disposto a se manter no poder a qualquer custo e assim evitar sua própria prisão.


O trágico desta história é que a mesma “fadinha da confiança” que há um ano atrás foi reivindicada para selar a relação de Temer com o mercado – e atropelar a democracia com um golpe contra a presidenta Dilma Rousseff -, volta agora à boca do mercado contra o Temer, sugerindo que um novo golpe (as eleições indiretas) seria o melhor atalho para se alcançar à pretérita ponte para o futuro.

Seja porque não terá como cumprir seus principais objetivos econômicos, seja porque não tem mais forças para impor à sociedade brasileira a agenda de “reformas” impopulares que prometeu entregar aos apoiadores do golpe, Temer é visto agora por seus ex-aliados no mundo das finanças como o mais novo inimigo da fadinha, um fator de instabilidade que encurta o horizonte e impede a mitológica recuperação da confiança.

Contudo, não seria melhor encarar o fato de que esta política econômica ortodoxa (fundada em juros altos, corte de despesas públicas e desmonte dos aparatos de Estado que davam suporte ao desenvolvimento do país) é um absoluto fracasso, incapaz de reativar os motores do crescimento econômico?

Não pareceria óbvio também que a propalada restauração da confiança deveria começar com a eleição de um governo legítimo, eleito diretamente, cuja plataforma política tivesse o respaldo das urnas e o apoio da maioria dos brasileiros?

Infelizmente, a essas perguntas os reais donos do poder no Brasil continuam respondendo com um solene “não”. Ao que tudo indica, cuspirão o Temer, mas não dão nenhum sinal de que se incomodam em continuar dissolvendo o país.



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