Os números da tragédia: investimento no PAC caiu 64%, e no Minha Casa, 77%
mayo 26, 2017 10:10O noticiário da Agência Brasil, uma verdadeira fábrica de press releases otimistas sobre o governo federal, destaca que "a queda das despesas e o reforço de caixa do Imposto de Renda Pessoa Física fez (sic) as contas do Governo Central registrarem o melhor resultado para meses de abril em três anos". O título é quase épico: "Governo Central tem melhor resultado nas contas para abril em três anos."
Ao menos nos números que apresenta.
Ele segue: "No mês passado, o Tesouro Nacional, a Previdência Social e o Banco Central registraram superávit primário de R$ 12,569 bilhões, o esforço fiscal mais alto para o mês desde abril de 2014 (R$ 16,612 bilhões)."
Em seguida, há a preocupação em ser didático com o leitor: "O superávit primário é a economia do governo para pagar os juros da dívida pública. Por causa do início do calendário de pagamentos do Imposto de Renda Pessoa Física, as contas do Governo Central nunca têm resultado negativo em meses de abril. Neste ano, a arrecadação foi reforçada pelo aumento de R$ 7,8 bilhões na cota-parte de compensações financeiras por causa do aumento do preço do petróleo, que impulsionou os royalties pagos ao governo federal."
E mais: "Apesar do superávit em abril, o Governo Central continua a registrar déficit primário (resultado negativo desconsiderando os juros da dívida pública) em 2017. De janeiro a abril, as contas acumulam rombo de R$ 5,643 bilhões. Este é o segundo pior resultado da história para o período, só perdendo para o primeiro quadrimestre do ano passado, quando o déficit primário estava em R$ 8,237 bilhões."
O mais importante, porém, para entender o momento por que passa a economia brasileira, sob a direção de um governo em fim de feira, está nos parágrafos seguintes (os grifos são meus):
"Nos quatro primeiros meses do ano, as receitas líquidas caíram 3,6%, descontada a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas as despesas totais acumulam recuo maior: 4,3%, também considerando o IPCA. O resultado ajudou a diminuir o déficit primário acumulado em 2017 em relação ao mesmo período do ano passado.
"Em relação às despesas, a queda foi puxada pelas despesas não obrigatórias, que caíram 23,6% em 2017 em valores corrigidos pela inflação por causa da queda dos investimentos (obras públicas e compra de equipamentos), e pelas despesas obrigatórias, que caíram 14,5% no primeiro quadrimestre.
"O recuo dos gastos obrigatórios é puxado pela reoneração da folha de pagamentos, que diminuiu em 36,7% a compensação paga pelo Tesouro Nacional à Previdência Social, e pela queda de 30,2% no pagamento de subsídios e subvenções. Também contribuiu para a redução o não pagamento de créditos extraordinários do Orçamento ocorridos no ano passado, que não se repetiram este ano.
"As contas públicas, no entanto, continuam pressionadas pelos gastos com os benefícios da Previdência Social, que subiram 5,5% acima da inflação nos quatro primeiros meses do ano, por causa do aumento do valor dos benefícios e do número de beneficiários [algo lógico, devido às notícias aterrorizantes sobre as mudanças das regras para a aposentadoria]. Por causa de acordos salariais fechados nos dois últimos anos, os gastos com o funcionalismo acumulam alta de 7,3% acima do IPCA de janeiro a abril.
"As despesas de custeio (manutenção da máquina pública) acumulam queda de 15,9% em 2017 descontado o IPCA. A redução de gastos, no entanto, concentra-se nos investimentos, que totalizam R$ 8,161 bilhões e caíram 60,3% de janeiro a abril, em valores também corrigidos pela inflação.
"Principal programa federal de investimentos, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) gastou R$ 5,336 bilhões de janeiro a abril, redução de 64%. O Programa Minha Casa, Minha Vida executou R$ 509 milhões, retração de 77,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Essas variações descontam a inflação oficial."
Resumo da ópera: ninguém investe no Brasil neste momento trágico de sua história, nem a gloriosa iniciativa privada, à espera de algum milagre que faça a atividade econômica subir alguns centímetros do fundo do poço, nem o governo federal, por absoluta incapacidade de caixa. (Carlos Motta)
O próximo ato da tragédia
mayo 25, 2017 10:37Bastou apenas um ano para que as consequências trágicas da aventura corroessem a jovem e imatura democracia brasileira de tal maneira que reconstruí-la será uma tarefa não só demorada, mas extremamente difícil.
Isso porque os golpistas não feriram apenas a Constituição ao depor, sem que houvesse crime, uma presidenta eleita com 54 milhões de votos.
Eles conseguiram desempregar milhões de pessoas, arruinar importantes setores da economia, aprofundar a recessão, transformar a Justiça num instrumento de perseguição política, desmontar grande parte dos programas sociais que ajudaram a combater a miséria, esgarçar as relações institucionais, e expor o Brasil como uma imensa república de bananas para o mundo todo.
Os mais recentes escândalos revelaram apenas o que já era sabido: o golpe instalou no país uma cleptocracia.
Em sua luta desesperada pela sobrevivência, o presidente desta república de ladrões pode aprofundar ainda mais o desastre a que todos assistem.
Sua queda, porém, é questão de dias - como a história mostrou inúmeras vezes, o monstro parido pelos golpistas começa a devorar seus criadores.
A grande dúvida é sobre como será o próximo ato da tragédia, se ameno, conciliador, resultado de um amplo pacto de reconstrução nacional, ou uma mera continuidade deste lastimável prólogo, um texto absolutamente caótico.
Esse é o grande problema do Brasil, hoje e sempre - a falta de bons autores para a criação de um projeto que explore as suas imensas potencialidades e o leve ao século 21.
Os trabalhistas bem que tentaram encenar o seu roteiro social-democrata, com relativo êxito.
Mas, por ingenuidade ou incapacidade, deixaram que a peça fosse sabotada por vários de seus atores, temerosos de serem rebaixados para simples figurantes.
Agora, com o teatro em ruínas, são poucas as esperanças de que essa companhia rota e mambembe recupere, ao menos, a sua dignidade.
Para isso ela teria de ser dirigida por alguém que compreendesse a gravidade do momento e aceitasse como premissa para o seu trabalho o diálogo com todos os envolvidos no projeto - atores, produção e, principalmente, a plateia. (Carlos Motta)
Isso é uma vergonha!
mayo 24, 2017 9:53Muito já se falou sobre a indigência do jornalismo brasileiro, a falta de capacitação técnica dos profissionais, a deturpação der seus princípios básicos, a subordinação das pautas aos interesses do patrão e anunciantes, e a ampla disseminação da ideologia dominante, esse pseudocapitalismo que impera no país.Todos os dias surgem exemplos de que o que se pratica no Brasil é tudo, menos jornalismo, seja nos jornais, nas rádios ou na televisão.
Um ótimo exemplo desse abastardamento da função jornalística é a concessão de prêmios para os profissionais, por diversas empresas da área: quase sempre os lauréis vão para os "globais", ou seja, para as figuras carimbadas da mídia empresarial, justamente essa que se dedica permanentemente a desvirtuar a função da imprensa.
Um desses eventos, o Congresso Mega Brasil de Comunicação, Inovação e Estratégias Corporativas, vai homenagear este ano com o Prêmio Personalidade da Comunicação, um dos mais antigos e resistentes reacionários da profissão, Boris Casoy, aquele que, além de seus bordões lacerdianos, ficou famoso por ter dito, numa passagem de uma reportagem sobre as festas de fim de ano de 2009, no Jornal da Band, uma frase emblemática sobreas suas convicções: "Que merda, dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras - o mais baixo da escala de trabalho."
Os patrocinadores justificam a concessão do prêmio a Casoy por ele ser "referência para o jornalismo brasileiro" e ter ajudado a formar "uma geração de jornalistas criando um estilo próprio, o de âncora com opinião".
Aquela moça que levou outro dia, ao vivo e em cores, uma bronca do seu patrão Silvio Santos por não se limitar a ler as notícias no telejornal que apresenta, provavelmente se formou na escola de Casoy, o homem que repete, com insistência irritante, platitudes como "precisamos passar o Brasil a limpo" - como se ele próprio não fosse parte da sujeira que pretende varrer.
Seu mais famoso bordão, porém, é o que mais aplica a esse tipo de premiação, promovida para perpetuar o arremedo de imprensa existente no país: "Isso é uma vergonha!"
Muita vergonha. (Carlos Motta)
Os pais da criança sumiram
mayo 23, 2017 10:08O Banco Itaú enviou, dias atrás, um interessante comunicado aos seus correntistas, alertando para a queda no rendimento de algumas aplicações, principalmente os fundos multimercados, e atribuindo o "impacto negativo" às "ultimas notícias" sobre o cenário político: "É importante destacar que os acontecimentos do atual contexto aumentaram muito a incerteza, impactando, no curto prazo, os preços dos ativos no mercado como um todo", diz trecho da correspondência.
O texto, porém, não toca no principal, ou seja, o que ocasionou esse cenário político de turbulência, que se reflete negativamente em vários produtos do mercado financeiro, prejudicando, pelo menos no curto prazo, milhares de pequenos aplicadores.
O Itaú, como quase a totalidade das empresas brasileiras, de uma forma ou de outra, incentivou e colaborou para a destituição da presidenta Dilma Rousseff, e, por consequência, para a instauração desse governo formado por canalhas e corruptos.
Muita água ainda há de passar sob essa "ponte para o futuro" que os golpistas estão tentando construir. Quem sabe, algum dia, se saberá o quanto cada personagem desta tragédia contribuiu para trazer o caos ao país.
Hoje, achar os pais da criança, é uma tarefa muito difícil.
A chamada "base de apoio" do Dr. Mesóclise e seu bando de picaretas dissipa-se com uma incrível velocidade: os ratos abandonam o navio pois pressentem o seu naufrágio iminente.
Do lado empresarial, com algumas raras exceções, o quadro é dramático.
Os setores de serviço e industrial ainda sofrem com as dores da recessão, e não resta muito mais a fazer, a não ser cortar custos, o que implica a demissão de mais trabalhadores - como se os cerca de 15 milhões que foram jogados para fora do mercado de trabalho nos últimos dois anos fosse coisa pequena.
O setor financeiro é, por enquanto, o que menos sofreu com a crise, mas não vai tardar para que o peso de milhões de pessoas sem rendimento abale seus gordos lucros.
Os 50 milhões de eleitores de Aécio Neves em 2014 se reduziram a uns miseráveis milhares.
O Dr. Mesóclise se tornou a figura mais detestada da nação.
Os protagonistas do golpe que abateu não um governo legítimo, mas a essência da democracia brasileira, se tornaram mortos-vivos.
O país se arrasta se rumo.
E os responsáveis pelo desastre se escondem, covardemente, na esperança que possam escapar do julgamento da história. (Carlos Motta)
O Brasil cor-de-rosa do Dr. Mesóclise
mayo 22, 2017 15:54Num fim de feira total, resta ao governo do Dr. Mesóclise usar descaradamente tudo o que estiver ao seu alcance para tentar injetar o máximo de otimismo nos brasileiros.
A homepage da Agência Brasil de hoje, por exemplo, mostra um país à beira do paraíso de leite e mel.
Notícia mesmo, não tem nenhuma, só propaganda.









