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Segundo Clichê

febrero 27, 2017 15:48 , por Blogoosfero - | 1 person following this article.

Esplendor do Cine Metro é recriado em documentário brasileiro inovador

noviembre 4, 2021 8:15, por segundo clichê

Os áureos tempos dos luxuosos cinemas de rua voltaram à realidade. Pelo menos na realidade virtual. Assim se destaca “Cine Metro: Experiência Imersiva”, filme documental em realidade virtual do diretor Eduardo Calvet, que transporta o espectador diretamente para a sessão de estreia do Cine Metro Passeio, realizada com pompa e sofisticação em 1936, no Centro do Rio de Janeiro. O documentário é inovador, uma vez que não há registro, no mundo, de outro filme documental sobre cinemas antigos produzidos em realidade virtual.

A viagem no tempo percorre o luxuoso palácio de cinema carioca do século XX, construído pela MGM na Rua do Passeio - o primeiro a dispor de ar-condicionado na época - que funcionou até 1964, sendo substituído pelo Metro-Boa Vista, e que foi desativado em 1997. 

Com produção da IDEOgraph e apoio do Programa de Pós-Graduação em Mídias Criativas (PPGMC), da UFRJ, depois de percorrer desde abril mostras em Portugal, Suíça, Alemanha, Inglaterra e Colômbia, a produção imersiva de quase 10 minutos foi selecionada para o BIAF, festival internacional de animação na Coreia do Sul. Também participou de festivais na Rússia, Hungria e Porto Rico, fechando a agenda do ano na Inglaterra, em novembro, no Aesthetica Short Film Festival 2021.

A pesquisa realizada pelo diretor Eduardo Calvet baseou-se em uma coleta de vestígios consideravelmente ampla, que incluiu periódicos de grande circulação (Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Diário Carioca, Revista Cine Arte), folhetos de programação, livros, artigos, dissertações e teses acadêmicas, sites e também visitas ao edifício que abrigou o cinema. A pesquisa também se baseou em relatos orais, já que boa parte das informações sobre o interior do prédio – como cores e texturas – veio da memória de frequentadores da época.

A partir de fotografias e modelos originais foi possível reconstruir, com muita fidelidade e apuro técnico, a experiência de se frequentar o Cine Metro Passeio dos anos 30: o contraste das fontes na marquise, as formas decorativas do foyer no estilo D. João V, os refinados traços do mobiliário, a proporção volumétrica e curvatura da grande sala de exibição, os detalhes de iluminação, a distribuição da plateia em níveis, a tonalidade das poltronas e a diferença de ruído entre a rua e a poltrona. 

Em termos sonoros, o espectador pode ouvir elementos importantes de espacialização com o respectivo cálculo de proximidade e movimento de cabeça do observador: as então inovadoras luzes em neon na parte externa do imponente edifício, o gongo, o som característico dos projetores e os múltiplos elementos de cada ambiente.

As salas de exibição cinematográfica foram os espaços de maior difusão artística e cultural do século XX. De sua origem em 1888 até seu domínio cem anos depois, o cinema evoluiu mobilizando recursos humanos e materiais em proporções inimagináveis ao meio cultural dos anos 1900. 

Tão importante quanto o filme projetado era o ambiente físico da exibição: o conforto dos assentos, a plasticidade dos contornos arquitetônicos, o refinamento da decoração, a maciez dos carpetes, o isolamento acústico impecável. Tais requisitos faziam da visita aos cinemas um evento social, uma experiência sensorial que teve seu auge no Brasil no fim dos anos 1930, com espaços como o Cine Metro, conhecidos como “palácios cinematográficos”.

O filme documental de Calvet busca reproduzir, com a máxima fidelidade nos detalhes, a sessão de estreia deste cinema icônico, em 1936, com o filme “O Grande Motim”, com Clark Gable no elenco. Através de trechos de jornais e revistas da época, foram criados os textos de locução, cuja versão em inglês, inclusive, baseou-se em publicações americanas que noticiaram a inauguração do Cine Metro, como os periódicos Variety e Motion Picture Herald, entre outros. 

Por conta da escassez de documentos e registros oficiais, a reconstrução tridimensional e todo o cálculo do espaço interno foram formulados a partir de  observação das fotos, geometria das imagens, proporção dos elementos dispostos e a planta baixa, conseguindo alcançar um resultado com a configuração original mais provável. 

Os espaços reconstituídos foram modelados em altíssima resolução com mais de 25 milhões de polígonos no modelo 3D, somando os quatro ambientes do cinema: área externa, sala de exibição, antessala e sala de projeção – utilizava-se, na época, quatro projetores, no mínimo, para atender às limitações tecnológicas (os filmes vinham em rolos, havia também a necessidade de um projetor reserva e outro para a exibição dos slides dos anúncios e “trailers” prévios de cada exibição).

“Ainda que acontecimentos passados não possam ser revisitados de forma ativa, as ferramentas exploradas em “Cine Metro: Experiência Imersiva” nos transportam para momentos indeléveis da vida social de uma geração: hábitos, costumes e dinâmicas”, comenta Calvet. 



Obra de Denise Emmer chega às plataformas digitais

octubre 5, 2021 9:54, por segundo clichê

Denise Emmer: quatro décadas de produção agora nas plataformas digitais


Há pouco mais de quatro décadas, a poeta, compositora, cantora e instrumentista carioca Denise Emmer conquistou o país com a canção “Alouette”, tema da novela “Pai Herói” (1979), da TV Globo. Tocada em emissoras de rádio de todo o país e lançada no ano seguinte em compacto simples, a canção romântica em francês alcançou a marca de 300 mil cópias vendidas, rendendo um Disco de Ouro e participações na TV, como no programa “Fantástico” (TV Globo). 

Nascida em uma família de artistas - seus pais são os escritores Janete Clair e Dias Gomes, e seus irmãos, os músicos Alfredo e Guilherme Dias Gomes -, Denise já despontava precocemente, na adolescência, também na literatura com seu primeiro livro “Geração Estrela” (Paz e Terra, 1976), com prefácio de Moacyr Félix e preparando seu sucessor, “Flor do milênio” (Civilização Brasileira, 1981), com texto de orelha assinado também pelo saudoso poeta. 

Naquele momento, Denise Emmer negou-se a  trilhar o caminho do sucesso imediato - gravadoras, produtores e empresários insistiam na carreira de intérprete em francês nos moldes de “Alouette” – e decidiu criar identidade própria, tanto na música quanto na literatura, publicando, até hoje, 22 livros e lançando uma discografia robusta que chega às plataformas digitais, assim como o single inédito “Setembro Antigo”.

Os discos “Pelos caminhos da América” (1980) e “Mapa das Horas” (2004) já se encontram nos canais de streaming – até outubro serão lançados ainda seu LP de canções autorais “Canto Lunar” (1983) e o CD "Cinco Movimentos e um Soneto" (1995), com poemas de Ivan Junqueira musicados pela artista. 

Além desses, a cantora e instrumentista resgatou um álbum totalmente inédito, gravado em 1992, porém não lançado na época. Musicando seus próprios poemas publicados no livro “Canções de Acender a Noite”, o disco “Cantiga do Verso Avesso”, já disponível nas plataformas, contou com arranjos de Alain Pierre e violoncelo de Jaques Morelenbaum – ambos parceiros constantes em toda a discografia de Denise – além da participação da própria artista na flauta doce, teclado e vocais. 

Com forte influência da música renascentista e ibérica, o disco traz letras autorais e uma faixa escrita no português do século XV: “Aquestas manhãnas frias”, cujo instrumental se destacam a viola da gamba, a flauta doce, o alaúde, violões e vocais que remetem a madrigais. “Ao escutá-lo hoje, tive uma grata surpresa por redescobrir, naquele disco, aquelas canções gravadas há quase três décadas, mas que não perderam o valor melódico e poético”, revela Denise. 

Destaque também para as faixas “Casa da Infância”, “Cantiga da Estrela Barca”, “Cantiga da Noite Mágica”, “Canção do Inverno”, “Gira Noite” e “Cavaleiro do Rio Seco”, uma homenagem ao compositor e cantor Elomar.

O ímpeto em revisar tantos anos de carreira musical – também integra, desde 2001, como violoncelista, a Orquestra Rio Camerata, bem como quartetos de cordas, trios e outras formações camerísticas – rendeu novos frutos, como o single “Setembro Antigo”, composto a partir do poema de Álvaro A. de Faria. Com a participação dos antigos parceiros Alain Pierre (arranjo, violões, teorba, vocais) e Jaques Morelenbaum (violoncelo), trata-se de uma canção em tom maior, que remete no fim a um grande coro e fala de uma busca por si mesmo. Nas palavras da artista, a música “sugere alguma alegria e esperança em meio a todo esse momento sombrio de tanto desalento e perdas. O setembro como uma metáfora de bonança e jardins, após um grande período de escuridão e descrença.” O single ganhou também versão em videoclipe, já disponível no YouTube, e despertou a artista para novas composições e novos trabalhos.

Atividade sempre desempenhada em paralelo às canções, a literatura rendeu a Denise Emmer   muitos prêmios e publicações também em Portugal, traduções na Espanha, Turquia e EUA. Seu quarto livro, “A Equação da Noite” é um divisor especial para a poeta, que fala sobre as grandezas maiores do amor e da morte, como consequência de grandes perdas. 

Seu livro “Invenção para uma Velha Musa” (Ed. José Olympio) lhe rendeu dois importantes prêmios: da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras. Além desses, ela tem em seu currículo os prêmios José Marti de Literatura (conferido pela Casa Cuba Brasil-Unesco), o Prêmio Nacional de Literatura do Pen Clube do Brasil (Poesia e romance) e o Prêmio ABL de Poesia 2009 com o livro “Lampadário” (Ed. 7Letras), dentre outros.

Serviço 

Ouvir o disco “Cantiga do Verso Avesso”:

https://open.spotify.com/album/4fkufMHrxcYsR2YeB6xkh0

Single inédito “Setembro Antigo”:

https://www.youtube.com/watch?v=dbVHtPLoyEs&feature=youtu.be

Ouvir discografia de Denise Emmer:

https://open.spotify.com/artist/7kMQNGEc6170mKXHJB2QOn



Bella Ciao ganha versão em português com a banda Salvadores Dali

septiembre 13, 2021 9:13, por segundo clichê

Depois de lançar seu álbum autoral em 2019 e, em seguida, um EP com versões  de músicas de Noel Rosa no fim de 2020, o grupo carioca Salvadores Dali está de volta com novo trabalho: a canção italiana Bella Ciao. Alçada ao universo pop em todo mundo nos últimos anos com o seriado espanhol La Casa de Papel, a música ganha agora nova vestimenta e chega também em videoclipe, disponível no canal do YouTube da banda.

De origem imprecisa – seus primeiros registros remontam ao século XVI - a canção foi sendo modelada ao longo dos séculos a partir de contribuições anônimas de camponeses, tendo inicialmente como seu tema central o amor. Mas na segunda Guerra Mundial, a canção popular tornou-se um hino antifascista para animar a resistência italiana, os partigiani, contra Mussolini. 

A partir daí ela acabou se consagrando de vez na cultura popular, ganhando várias versões, tais como a jazzística de Woody Allen, a melancólica de Tom Waits e a vibrante de Manu Chao. Por conta do seriado espanhol, superou fronteiras inéditas, sendo cantada, inclusive, nas varandas italianas durante a pandemia como um hino de resistência à triste devastação do novo corona vírus na Lombardia.

Respeitando o isolamento social, os Salvadores Dali resolveram gravar a canção em português e em sintonia com o trabalho transgressor, sua maior identidade. Com pequenos ajustes na tradução da poesia original já consagrada, a longeva Bella Ciao aporta no nosso Brasil atual, carregada do espírito contestador e crítico em seus novos versos: “Suas mentiras e todo ódio/Ó bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao/Custaram vidas que foram embora/Pela sandice e desamor.” Assim a luta contra o fascismo, ou neofascismo, se une à indignação com relação aos números da covid-19 no país.

Nessa versão o aspecto rítmico não ficou de fora. Similar às canções populares na Europa do século XIX, a música se inicia de forma melancólica, introduzida apenas pelo piano e baixo acústico. Segundo o baixista Jorge Moraes “a ideia é expressar de fato a angústia que todos sentimos em relação ao momento presente, mas sem também ficarmos presos, todavia, a esse luto musical”. Não por menos, a segunda parte da canção mergulha profundamente no estilo punk dos anos 70.

O videoclipe contou com a participação de vários amigos dos integrantes da banda, como a mezzo-soprano Vivian Fróes, que também é militante de direitos humanos e da causa das pessoas transgêneras; a cantora de brazilian jazz e samba Flávia Enne; o sociólogo Nelson Ricardo (também compositor do grupo carioca); o cantor e poeta Zuza Zapata; a cantora de Jazz e MPB Manni Moritz; o vocalista Xandão, da banda de rock CaverJets; e a participação especial de Marianna Leporace. “A canção foi produzida coletivamente, ao longo de todos esses séculos. Por isso, não faria sentido algum apresentá-la ao público sem a participação de nossos amigos”, diz o guitarrista Marcio Meirelles.

Os integrantes do grupo Salvadores Dali que participaram desse projeto são Jorge Moraes (baixo), Marcio Meirelles (Guitarrista e pianista), Robson Batista (saxofonista) e Jorge Casagrande (bateria).

Assistir ao videociipe:

www.youtube.com/watch?v=XJlxYJxxEu8  



CD reúne gravações de banda de rock pioneira na produção independente no Brasil

agosto 30, 2021 9:45, por segundo clichê

A Tropicália Discos, especializada em venda de CDs e LPs, fez sua estreia como selo fonográfico colocando luzes sobre o pioneirismo das gravações independentes no Brasil. 

As versões mais aceitas dão conta de que o disco “Feito em Casa” (1977), de Antônio Adolfo, marca o início da produção musical independente no país – o músico vendeu o próprio carro, um órgão eletromecânico e alugou um pequeno estúdio no centro do Rio de Janeiro para, ele próprio, divulgar, distribuir e vender o LP. Mas também há quem diga que essa primazia fica com o LP “Paêbirú”, de Lula Cortes e Zé Ramalho, de 1972, que foi gravado nos estúdios da Rozemblit e lançado pela Abrakadabra Produções Artísticas, em Pernambuco. 

A essas duas versões soma-se agora mais uma - e talvez a mais plausível - com o lançamento, pelo novo selo carioca, do CD que reúne cinco compactos produzidos entre os anos de 1969 e 1970 pela banda niteroiense I.W.Company (Instituto Winston Company).

Remasterizado diretamente dos tapes originais, o CD traz as dez faixas lançadas na época, além de duas inéditas e duas gravações acústicas, realizadas em 2016, na loja Tropicália Discos. 

A história da banda niteroiense está contada por integrantes e pela própria Tropicália em 2017 no documentário “Faixa Escondida: I.W. Company, a história da banda psicodélica brasileira de 1969”, dirigido por Marco Dreer, disponível no YouTube.

O primeiro compacto do grupo de Niterói foi lançado em 1969, ano marcado por produções memoráveis do rock internacional (The Who – “Tommy”, The Beatles – “Abbey Road”, álbuns homônimos de Led Zeppelin e Santana, dentre outros) e da música brasileira, como os LPs “Cérebro Eletrônico” (Gilberto Gil), os álbuns homônimos de Elis Regina e Milton Nascimento, além da fase psicodélica de Gal Gosta. 

Concebida por Winston, dono do Instituto Winston, um curso de idiomas em Niterói (RJ) da década de 60, a ideia de compor e gravar músicas em inglês tinha o propósito de servir apenas como material didático para os alunos. 

Apaixonado pelo movimento da contracultura e do rock psicodélico da época – Winston foi um dos poucos brasileiros que estiverem presentes no Festival de Woodstock – , o dono da escola de idiomas se juntou com o amigo e compositor Ruy Buarque (voz) e o guitarrista/baixista/cantor Liszt Ayala, acompanhados do baterista Cláudio Wilson e do percussionista Manoel Ramos, e formou o I. W. Company. 

Descobriram o estúdio Philotsom, na Cinelândia, bairro do centro do Rio de Janeiro, que além de realizar gravações, conhecia também os meandros para a prensagem e fabricação de compactos. 

Sem maiores aspirações, os cinco compactos do I.W. Company lançados entre 1969 e 1970 tiveram uma produção bem limitada e foram doados aos alunos. A repercussão se restringiu ao circuito dos cursos de idiomas, ajudando também na publicidade da instituição, porém sem nenhuma projeção para o grande público, sem a realização de shows e muito menos a execução das faixas em emissoras de rádio. 

Em 2005, Bruno Alonso, um dos sócios da Tropicália Discos, caminhando pelo centro do Rio, se deparou com um desses compactos à venda na rua e decidiu compra-lo, pensando no gosto peculiar de um de seus clientes colecionadores. A aquisição surpreendeu ambos, comprador e vendedor, que desconheciam tal projeto de rock psicodélico da época. 

Dez anos depois, o próprio Winston procurou a loja, visando vender a coleção de vinil de seu falecido irmão. Durante a conversa com os sócios, ligaram o nome do Winston ao compacto e descobriram haver outros quatro. Nascia ali a ideia desse importante resgate, que se deu primeiramente por meio do documentário audiovisual e chega, agora, em CD, com previsão de lançamento em LP para ainda neste ano.

O documentário sobre a história da banda pode ser visto neste link:

 https://youtu.be/GXWx_9l5PnE



Terceiro CD de Gabi Buarque mescla lirismo com preocupação social

agosto 6, 2021 9:10, por segundo clichê



A cantora e compositora Gabi Buarque acaba de lançar um novo CD, "Mar de Gente”, condições sociais impostas pela pandemia do covid-19. Ou seja: sem show no teatro nem o abraço dos amigos. 

“É preciso desprendimento para lançar um disco em meio a uma pandemia. Mas foi justamente pensando neste momento delicado e no meu público, responsável pela realização desse projeto, que resolvi colocar as canções no mundo, vibrando luta e arte - quiçá cura, pra nós que estamos doentes de Brasil”, diz ela.

Este é o seu terceiro disco. Gabi canta, compõe, toca violão e gosta conceituar as suas criações. Assim nasceu a capa do álbum, pensada em parceria com Marina Sereno, que fala das águas por meio de texturas da pele humana, de diversas etnias.

E se o mar vem em preto e branco nas poéticas imagens, feitas pela DuHarte Fotografia, cada uma das 13 faixas arranjadas por Luis Barcelos, ostenta uma paleta de cores. “O CD vem como as ondas do mar, num crescente, prezando por uma diversidade rítmica e de temas. Não falo só sobre amor, não canto só samba”, explica a artista carioca. 

“Mar de Gente” abre com “Samba Rezadeiro”, de Gabi e Roberto Didio, como que pedindo licença para adentrar nessas águas sagradas do cancioneiro popular. Mostra a força ancestral, do violão que já foi tronco de cativeiro.

Depois é a vez da balada pop folk “É”, parceria com Socorro Lira, fácil de aprender, boa de cantar junto e realista com charme.

Em seguida, a correnteza traz “Se cesse”, também em parceria com Socorro Lira, com versos de “O Amor”, de Fernando Pessoa, uma cantiga de um amor que não pode ser expressado.

“A Voz do Vento”, só de Gabi, é emaranhada em saudade e desejo. “Luzia Luzia” , parceria com Marina Sereno, é um xote apaixonado, enfeitado pelo acordeão de Kiko Horta.

Já o samba de roda “Morena do Mar”, com participação da parceira Silvia Duffrayer, integrante do Samba que Elas Querem, poderia ter nascido no quintal de Tia Ciata ou nas rodas do Recôncavo Baiano, onde Gabi buscou inspiração para fazer essa homenagem a Iemanjá. 

“Gente é pedra”, outra parceria com Socorro Lira, flerta com Elomar, enquanto “Pulso aberto” é um poema de Maria Rezende sobre o que é ser mulher no seu íntimo plural.

Em “Os muros”, novamente com Socorro Lira, Gabi abraça, entre outros, Nelson Mandela, Clarice Lispector, Oscar Wilde, Frida Kahlo, Violeta Parra e Fernando Pessoa, para enfrentar os seus temores, antes de entrar na “Concha”, parceria com Angélica Duarte, em dueto com Áurea Martins, tendo Cristóvão Bastos no piano. 

“Pensei imediatamente em convidar a Áurea para gravar comigo, quando fiz ‘Concha’, com letra melancólica da Angélica. O nome de Cristóvão veio logo depois de um papo com Áurea, porque ela já queria incluir esse samba-canção no repertório do show deles. Cristóvão gravou em cinco minutos, de primeira, e fico impressionada toda vez que ouço pela delicadeza a escolha das notas. Sou muito fã desses dois baobás da música brasileira”, diz ela.

“Quantos”, só de Gabi, outra balada pop, foi feita pensando no período da ditadura e no negacionismo que retorna com força nos tempos atuais. “De que vale a morte dos que lutam / Se o passado não diz nada pra você?”, questiona a letra. “Quantas voltas o mundo dá / Pra voltar ao tempo de esquecer?”, pergunta, repetidas vezes. 

O disco segue com “Penha”, dedicada ao bairro do subúrbio carioca, onde houve uma das rodas de choro mais fundamentais do século, mas, na canção, aparece como símbolo de resistência e fé. Antes de cantar, Gabi cita uma frase do filósofo Eduardo Marinho. E ainda ecoando esse coletivo, Gabi lidera um sexteto vocal poderoso para fazer a derradeira. Nina Wirtti, Mariana Baltar, Thais Macedo, Áurea Martins e Silvia Duffrayer cantam com firmeza essa faixa-título.

O samba-manifesto “Mar de Gente”, também só de Gabi, foi inspirado nas lutas diárias a favor da democracia e dedicado a autoras negras, como Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e Maria Firmino dos Reis.

“Este samba também procura dar voz a todas e todos que foram silenciados pelo Estado. Essa luta é nossa. Somos um mar de gente”, defende Gabi Buarque. E os versos ficam entoando ao fundo: “E quem não viu há de ver / O outro lado da história vencer / A verdade não tarda a nascer / Nossa luta vai prevalecer”.



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