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Segundo Clichê

February 27, 2017 15:48 , by Blogoosfero - | 1 person following this article.

Exposição reúne material das expedições de Flávio de Carvalho

January 9, 2018 14:14, by segundo clichê


A exposição "Flávio de Carvalho – Expedicionário", aberta na Caixa Cultural (Praça da Sé, São Paulo), reúne o material produzido pelo artista modernista em cinco viagens pelo Brasil e ao exterior. São documentos, textos, fotografias e objetos que recontam parte dessas jornadas de pesquisa realizadas entre 1934 e 1956. “Algumas das ações que ele fez no passado têm sido resgatadas como pioneiras na mistura entre arte e ciência. Nossa abordagem é sobre as expedições que ele fez pensando-as como intervenções artísticas. O conceito de artista-etnógrafo é posterior ao Flávio, ganha relevância nos anos 1970”, explica Renato Rezende, um dos curadores da mostra.

Parte do material, como as fotos tiradas por Flávio no Peru, na expedição aos Andes, nunca foi exposta, de acordo com o curador. Essa coleção, em especial, foi organizada por um método semelhante ao proposto pelo filósofo alemão Aby Warburg, em que as imagens são agrupadas por semelhanças, em detrimento de critérios espaciais ou históricos. “A maneira como ele dispõe as fotografias no álbum, nas pranchas, lembra muito os procedimentos do Warburg. Fazendo relações entre imagens que se repetem”, enfatiza o curador. Porém, apesar da semelhança no método, Rezende destaca que Flávio não conhecia o trabalho do alemão.

Os registros foram selecionados a partir do acervo deixado pelo multiartista – Flávio foi pintor, desenhista, arquiteto, cenógrafo, decorador, escritor, teatrólogo, engenheiro e performer – para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A primeira das viagens de Flávio, realizada entre 1934 e 1935, foi a expedição à Europa, que rendeu uma série de ensaios reunidos no livro Os Ossos do Mundo.


Podem ser vistas também imagens da jornada à Amazônia (1956), amplamente noticiada pela imprensa à época devido a série de extravagâncias do projeto. Flávio pretendia fazer um longa-metragem colorido – A Deusa Branca –, misturando ficção e documentação. Na exposição será exibido um filme que retrata os diversos percalços enfrentados pelo grupo e os equipamentos cinematográficos na floresta.


Além da abordagem não usual de pensar Flávio de Carvalho como um artista-etnográfico, Rezende explica que a mostra também leva a compreender a arte brasileira que surge depois do neoconcretismo, que tem como nomes-chave Hélio Oiticica e Lygia Clark.


Uma das ações mais conhecidas de Flávio é a Experiência nº 2, quando, em 1931 quase foi linchado por uma multidão ao caminhar contra uma procissão usando boné, em sinal de evidente desrespeito. Em 1956, desfilou com uma espécie de vestido pelas ruas da cidade de São Paulo, novamente provocando espanto. (Agência Brasil)



O ouro e a madeira. Ou a obra de um gênio esquecido

January 9, 2018 10:20, by segundo clichê



Carlos Motta

Não há na música popular brasileira nenhum autor de sambas tão melancólico e reflexivo quanto o baiano Ederaldo Gentil - suas canções expressam de maneira cristalina a pequenez do homem frente à engrenagem social e ao próprio mundo que habita.

Ederaldo morreu em 2012, aos 68 anos de idade, depois de viver vários anos recluso em companhia de sua irmã, num bairro da periferia de Salvador, cidade onde nasceu.

Gravou apenas três LPs, recheados de obras-primas: "Samba, Canto Livre de um Povo" (1975), "Pequenino" (1976) e "Identidade" (1983).

Em 1999 seu parceiro Edil Pacheco reuniu um time de primeira para gravar o CD "Pérolas Finas", que reúne algumas das melhores composições de Ederaldo.

Em 2006 saiu o CD "A Voz do Poeta", patrocinado por amigos, admiradores e familiares, coletânea com 15 músicas.

Ederaldo é autor de alguns dos versos mais inspirados da MPB.

Como os de "De Menor":

Sou o menor dos pequeninos
O mais pobre dos plebeus
O alheio inquilino
O mais baixo pigmeu
O comum do singular
O último dos derradeiros
Viandante e peregrino
O mais manso dos cordeiros


Eu sou maior
Em lampejos de brandura
De angélica candura
Dos mistérios do amor
Sou bem maior
Que os pinheirais da humildade
Pelos campos da bondade
Eu sou a felicidade

Ou os de "O Ouro e a Madeira", um dos mais bonitos sambas já compostos desde que o gênero se fixou como o mais popular do Brasil - há mesmo quem diga que ele é o mais belo de todos.

A canção foi gravada pelos Originais do Samba e por Beth Carvalho, mas nada melhor que ouvi-a na voz do próprio Ederaldo, que participou, junto com Riachão e Batatinha, outros dois baluartes do samba baiano - e brasileiro - do icônico programa Ensaio, da TV Cultura, no longínquo ano de 1974: 


Não queria ser o mar
Me bastava a fonte
Muito menos ser a rosa
Simplesmente o espinho

Não queria ser caminho
Porém o atalho
Muito menos ser a chuva
Apenas o orvalho


Não queria ser o dia
Só a alvorada
Muito menos ser o campo
Me bastava o grão

Não queria ser a vida
Porém o momento
Muito menos ser concerto
Apenas a canção

O ouro afunda no mar
Madeira fica por cima
Ostra nasce do lodo
Gerando pérolas finas

A vida e a obra de Ederaldo Gentil ganharam um espaço nobre na internet, o site Acervo Ederaldo Gentil, uma preciosidade.

Preservar e difundir o seu legado, principalmente nestes tempos obscuros, é uma obrigação para qualquer um que queira viver não numa colônia americana, repleta do lixo da indústria de entretenimento, mas numa nação independente, de cultura e arte próprias.



Rato pra comer, rock pra viver, samba pra vender... sorrindo

January 8, 2018 10:14, by segundo clichê


Carlos Motta

Roberto Carlos pode ser o "rei", mas o gênio musical nascido em Cachoeiro de Itapemirim é Sérgio Sampaio, que morreu em 1994, aos 47 anos.

Sampaio estourou nas paradas em 1973, com "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua", mas o sucesso não se repetiu com os três LPs que gravou em vida, embora eles, assim como o disco póstumo, "Cruel", estejam repletos de canções extraordinárias, muito acima da média da produção nacional.

Com o passar do tempo a qualidade da obra de Sampaio foi sendo reconhecida, mas como  nasceu e viveu no Brasil, depósito de lixo da indústria de entretenimento americano, o rótulo de "maldito" não se despregou dele, e assim, até hoje, ele vaga pela música popular em companhia de outros artistas de talento incomum, como Jards Macalé, Walter Franco e Itamar Assumpção - para ficar apenas nos mais conhecidos.

Sampaio não foi um revolucionário, mas soube, como poucos, modernizar a linguagem da riquíssima produção nacional, compondo melodias fáceis, mas não banais, com letras recheadas de achados poéticos capazes de emocionar o mais empedernido dos ouvintes.

Algumas de suas canções refletem uma alma atormentada e um espírito sensível à realidade de uma sociedade soterrada pelo peso de uma ditadura militar. E elas, embora não sejam explicitamente políticas, dizem muito sobre a miséria de se viver numa nação que não dá nenhuma esperança a seus habitantes.

O samba "Velho Bandido", integrante do LP "Tem Que Acontecer", de 1976, é um exemplo do quanto Sampaio é atemporal. Parece que seus versos retratam o brasileiro que sobrevive neste Brasil Novo, e não que foram escritos há quase 50 anos.

A canção foi regravada esplendidamente por Jards Macalé e pelo grupo Casuariana, mas a gravação original é dinamite pura.

Ela pode ser ouvida aqui:



Eu que sou filho de um pai teimoso
Descobri maravilhado que sou mentiroso
Sou feio, desidratado e infiel, bolinha de papel
Que nunca vou ser réu dormindo
E descobri como um velho bandido
Que já tudo está perdido neste céu de zinco
Eu que só tenho essa cabeça grande
Penso pouco, falo muito e sigo pr'adiante
Descobri que a velha arca já furou
Quem não desembarcou
Dançou na transação dormindo
E como eu fui o tal velho bandido
Vou ficar matando rato pra comer
Dançando rock pra viver
Fazendo samba pra vender... sorrindo



Um samba-enredo sobre um país de sonho

January 6, 2018 13:09, by segundo clichê


Carlos Motta


Carnaval chegando, as escolas de samba capricham nos ensaios. 

Os sambas-enredo deste ano das escolas do Rio, como sempre, abordam uma miscelânea de temas, que vão desde Chacrinha à Rota da Seda, passando pelo Museu Nacional e Frankenstein.

Dos milhares de sambas-enredo compostos, porém, foram poucos os que sobreviveram na memória popular e são cantados em qualquer época de ano.

Um deles, se não o mais lembrado, é "Aquarela Brasileira", de Silas de Oliveira, levado originalmente ao desfile de 1964 pela Império Serrano - em 2004 ele foi novamente apresentado, pois a escola fez uma reedição do enredo.

O samba faz uma homenagem ao clássico "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, uma das canções brasileiras mais tocadas em todo o mundo.

Silas faz uma viagem pelo Brasil, exaltando a cultura, arte e arquitetura das regiões geográficas e de seus Estados.

Matinho da Vila, que, como inúmeros outros artistas, o gravou, diz que "Aquarela Brasileira" só não é perfeito porque deixa de citar alguns Estados.

Apesar de até hoje empolgar as plateias, o samba só ficou em quarto lugar no desfile de 1964 e em nono em 2004. Diz a lenda que a  notícia da morte de Ary Barroso chegou à Avenida Presidente Vargas quando a Império Serrano se preparava para começar seu desfile, o que teria tirado o ânimo dos componentes.

Seja como for, "Aquarela Brasileira" é uma joia, uma das obras-primas da música popular, atemporal como são as grandes criações - embora cante um país de sonho, "uma maravilha de cenário", uma terra muito distante desta de hoje.

Dá para ouvi-lo, na voz única de Elza Soares, neste link:


Vejam essa maravilha de cenário:
É um episódio relicário,
Que o artista, num sonho genial
Escolheu para este carnaval.
E o asfalto como passarela
Será a tela do Brasil em forma de aquarela.
Passeando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais.
No Pará, a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó.
Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais.
Estava no Ceará, terra de irapuã,
De Iracema e Tupã
Fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na Bahia...
Bahia de Castro Alves, do acarajé,
Das noites de magia do Candomblé.
Depois de atravessar as matas do Ipu
Assisti em Pernambuco
A festa do frevo e do maracatu.
Brasília tem o seu destaque
Na arte, na beleza, arquitetura.
Feitiço de garoa pela serra!
São Paulo engrandece a nossa terra!
Do leste, por todo o Centro-Oeste,
Tudo é belo e tem lindo matiz.
No Rio dos sambas e batucadas,
Dos malandros e mulatas
De requebros febris.
Brasil, essas nossas verdes matas,
Cachoeiras e cascatas de colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emoldura em aquarela o meu Brasil.



Henfil, mais vivo que nunca

January 4, 2018 17:05, by segundo clichê


Henrique de Souza Filho, o Henfil, morreu há exatos 30 anos, vítima da aids, no Rio de Janeiro, em 4 de janeiro de 1988. O cartunista contraiu o HIV em uma das transfusões que realizava com frequência, já que era hemofílico assim como seus irmãos, o  sociólogo Betinho e o músico Chico Mário.

Henfil é o genial criador de tirinhas famosas nos anos 70 e 80 do século passado, como a Graúna, o Fradim Cumprido e o Fradim Baixim. Engajado na vida política e social do país, seus traços criticavam a ditadura militar. Foi um dos baluartes do semanário "O Pasquim", que combateu, com todas as armas que dispunha, mas principalmente com o humor, o regime dos generais. Além disso, participou intensamente de movimentos importantes, como a mobilização pela anistia a presos e exilados políticos e as Diretas Já!

Mineiro de Ribeirão das Neves, Henfil nasceu em 5 de fevereiro de 1944. Em outubro do ano passado, a sua história foi retratada no documentário "Henfil". Dirigido por Angela Zoe e lançado no Festival do Rio, o filme tem depoimentos de figuras próximas a ele, como seus colegas do Pasquim: Ziraldo, Jaguar, Sérgio Cabral e Tárik de Souza. "É um erro chamá-lo de cartunista, porque ele foi um multiartista", diz Tárik de Souza em um dos depoimentos.

Os 30 anos da morte de Henfil foram lembrado por seu filho, Ivan Cosenza, há dois dias, em postagem no seu blog As Cartas do Pai, onde ele publica rotineiramente mensagens dirigidas ao artista:

Rio de Janeiro, 02 de Janeiro de 2018.

Pai,
Começou mais um ano e daqui a dois dias completam 30 anos que você se foi.


Como o tempo passa rápido!


E como você foi cedo, com 43 anos apenas.

O que fico imaginando é quanta coisa teria feito em mais 30 anos, já que em 25 anos de profissão, produziu tanta coisa boa!

Seus personagens até hoje são usados em campanhas sociais, sindicais, no movimento estudantil e em tantas outras campanhas.

Tá certo que nem todo mundo entende que você sempre foi de esquerda e que jamais usaria seus desenhos para outra coisa que não fosse defender os direitos do povo.

Imagina que no apagar das luzes de 2017, um bajulador do Temer, resolveu usar um desenho seu.

Não escreveu nada, só postou lá a Graúna. Isso mesmo! Logo a Graúna!

Você costumava me dizer: “O Temer é a pessoa mais mau-caráter que já conheci!”. Por isso não consegui deixar pra lá não! Respondi. Deixei meu recado pra ele. Que desaforo!

Vou ficar de olho agora.

E pode deixar que vou continuar usando seus desenhos para aquilo que você sempre acreditou!

Um beijo do seu filho,

Ivan



Motta

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