O mecanismo da dominação
Marzo 26, 2018 15:21Carlos Motta
Cancelar a assinatura da Netflix, como fiz, por causa da canalhice produzida por eles sob o disfarce de uma série televisiva, é apenas uma atitude simbólica - mesmo que outros milhares façam como eu, a Netflix continuará a existir, a faturar bilhões de dólares e a produzir obras de propaganda do american way of life, pois afinal, ela existe para isso.
Num chute por alto, 80% de que exibe, seja séries de televisão, dramas, comédias, ficção científica, policiais etc etc, faz parte do que se chama de "soft war", guerra suave, ou seja, é instrumento de dominação dos Estados Unidos, o grande império contemporâneo, sobre os outros povos e culturas.
Os americanos fazem isso desde que o cinema foi inventado, desde que se iniciou o processo de gravações musicais, desde sempre.
Hollywood é uma fantástica fábrica de ilusões - nela se fabricam os sonhos de que somente os Estados Unidos são capazes de proporcionar às pessoas a liberdade, o luxo, a riqueza, a felicidade, os carrões ultravelozes, as mulheres de tirar o fôlego, a vida esplendorosa, enfim, que todos almejam.
O trabalho de Hollywood e da indústria de entretenimento dos EUA é incomparável.
Sem disparar um tiro real, subjugou nações inteiras, bilhões de almas e corações, para a ideologia que evidencia o self made man, a "meritocracia", o egoísmo, a democracia representada por dois partidos quase gêmeos, a supremacia do homem branco sobre os de outra cor de pele, o destino inexorável de ser o dono do planeta.
E transformou, a bel prazer, quem nada contra a corrente, em inimigos desprezíveis, abjetos, monstruosos - alguém já viu, por exemplo, um russo que não seja mafioso, violento, um verdadeiro facínora, nessas produções hollywoodianas?
A série sobre a "corrupção" brasileira, que mereceu forte investimento publicitária em seu lançamento, nada mais é do que uma peça desse enorme mecanismo de dominação cultural - e econômica, é bom lembrar - americana.
Os seus autores apenas trocaram os papéis dos vilões - saem os russos, chineses, iranianos, norte-coreanos e muçulmanos, e entram os esquerdistas brasileiros, esses seres corruptos até a medula.
É um enredo que dá sono, de tão batido.
Vandré, ainda caminhando e cantando
Marzo 23, 2018 11:30Carlos Motta
Geraldo Vandré voltou a cantar "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores" - "caminhando e cantando e seguindo a canção..." - num palco, pela primeira vez em 50 anos, em João Pessoa, nesta quinta-feira, 22 de março, num concerto cujo programa incluía outras peças suas pouco conhecidas.
"Pra Não Dizer..." foi lançada no 2º Festival Internacional da Canção, da Globo, em 1968. Ficou em segundo lugar, atrás de "Sabiá", de Tom Jobim e Chico Buarque, recebida por uma monstruosa vaia - o público que lotou o ginásio do Maracanãzinho, estimado em 25 mil pessoas, torcia freneticamente pela música de Vandré.
Com o passar dos anos, "Pra Não Dizer..." foi cantada por inúmeros artistas e se consolidou como "a" música de protesto, uma espécie de hino contra a ditadura militar - e por conseguinte, contra a tirania de forma geral.
A guarânia de melodia simples abriga também versos de luta, e por que não, de esperança: "Vem, vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer."
"Pra Não Dizer..." não é a única música explicitamente política de Vandré - ele talvez seja o artista brasileiro que fez o maior número de composições ditas "engajadas".
"Disparada", outro grande sucesso seu, vai na mesma linha, assim como tantas outras.
Mas se a sua obra ficou gravada na memória do povo como um canto de rebeldia contra as injustiças, a desigualdade e a opressão, o mesmo não se pode dizer sobre a sua trajetória pessoal desde a volta ao Brasil em 1973: nas poucas vezes em que saiu da reclusão a que se obrigou a viver, Vandré ou foi lacônico ou enigmático sobre questões relativas ao momento político e social do país.
Mesmo agora, nas entrevistas que deu em João Pessoa, antecedendo os espetáculos, ele foi evasivo - parece que tem prazer em cultivar essa imagem de esfinge que ninguém decifra...
Isso tudo, porém, pouco importa.
Se o artista se cala, a sua obra fala por si.
E ela, como mostram as gravações feitas do octogenário criador, vestido de branco, segurando a bandeira do Brasil, cantando, com sua voz inconfundível, seus versos imortais na sala de concertos Maestro João Siqueira, em João Pessoa, é emocionante - como toda grande obra de arte deve ser.
Policial faz filme sobre realidade da África do Sul e lança campanha para exibição em cinemas
Marzo 22, 2018 11:26Em tempos de rasas polarizações nas discussões sobre políticas públicas e de segurança no país, é de se exaltar as iniciativas que buscam promover uma reflexão mais profunda e de acordo com a complexidade dos diferentes tecidos sociais. Assim nasceu o documentário "Logo Ali - África do Sul", no qual o policial civil do Rio de Janeiro Beto Chaves, que vive diariamente a guerra contra as drogas, na qual o enfrentamento armado é a política adotada, visita o país sul-africano, para conhecer as histórias das pessoas e, principalmente, discutir sobre o que a liberdade significa para cada um hoje em dia e o que esperam do futuro do seu país. Trata-se de uma metáfora da relação de espaço e tempo, do que une e do que separa a humanidade.
A relação África do Sul - Brasil, a distância geográfica que um dia, há milênios, não existia, parece realmente desaparecer quando surgem temas como preconceito, diferenças sociais, drogas, arte, cultura, educação, tradições, juventude e empreendedorismo. "Logo Ali" também se refere a datas de acontecimentos históricos como o apartheid, o fim do regime que durou 40 anos, a libertação de Mandela e sua recente morte. É um filme sobre pessoas comuns e pensamentos extraordinários, é sobre uma sociedade que ainda engatinha numa nova democracia.
Com a direção do inspetor da Polícia Civil Roberto Chaves de Almeida e do designer Leo Santos, o filme mostra como a população busca virar a página da segregação. Uma das grandes dificuldades é a sombra do racismo que ainda paira na África do Sul pós-apartheid e a desigualdade resultante dela, mas que, segundo Chaves, está em transformação e andamento. “O que ficou bacana de mostrar é que há processos, que a gente às vezes não respeita. Devemos ter maturidade de entender que se o processo está em andamento, estamos ganhando. O que não podemos é retroceder, mas se está caminhando temos que potencializar esse processo”, explica.
Um dos exemplos desse processo é retratado no filme, quando depois de uma refeição em uma fazenda na região onde Mandela nasceu, um homem branco diz que não levaria um negro para jantar em sua casa, mas, admite que o seu filho já brinca com negros naturalmente e sem preconceitos. O documentário entrevista quase 40 pessoas e tem os dois lados da moeda: a África do Sul branca, dona da riqueza e detentora de grande parte do país, e os negros, moradores das townships, habitações humildes nas periferias do país criadas para segregar territorialmente os negros durante o apartheid. Nos dois lados, o sentimento é de que muita coisa ainda precisa ser feita. No lado mais favorecido da história, resquícios da política racista ainda persistem.
“É uma história de pessoas, de heróis anônimos, tem a linha do apartheid, mas não é só isso. O filme mostra a riqueza escondida no meio de todos nós”, reflete Chaves, traçando um paralelo com a jovem democracia brasileira: “A África do Sul e nós somos muito parecidos em nossas mazelas e riquezas. A sombra do apartheid ainda existe, é tudo muito novo. O regime começa em 1948 e acaba em 1990. Olha para o Brasil, tudo o que aconteceu, a nossa constituição da República tem 30 anos. É muito pouco tempo para dizer que a questão do racismo está resolvida. A nossa democracia aqui é jovem, lá também”, compara.
Beto é policial civil no Rio de Janeiro, já participou de incontáveis operações policiais de combate às drogas, numa cidade completamente marcada e dividida numa guerra civil não declarada. Desde os primeiros dias em sua carreira policial, Beto desejou fazer diferente, criou um programa dentro da Polícia Civil que iria na direção contrária, rompendo com a repetição do sistema repressivo ao qual estava inserido e ao rumo tomado desde a fundação de sua instituição, criando assim o Papo de Responsa. "Responsa" é uma gíria carioca que significa responsabilidade, seriedade e objetividade. Esse programa visa o diálogo e uma escuta absolutamente generosa, entre diferentes, como “arma” fundamental para o alcance da empatia, assim resultando na prevenção da violência e na aproximação da sociedade com a polícia de forma natural, derrubando os muros invisíveis que separam as pessoas, numa conversa franca e aberta, visita a escolas, universidades, igrejas, associações de moradores, dividindo suas experiências pessoais e profissionais, aproximando pessoas de pessoas. Com o Papo de Responsa, Beto tornou-se conhecido por todo o Brasil e viajou por 31 países, provando que é possível rompermos com os esteriótipos e repensarmos o preconceito.
Financiamento coletivo
Com as dificuldades existentes para quem faz cinema no país, os realizadores do documentário tentam levantar recursos de forma coletiva para divulgá-lo e levá-lo aos cinemas e festivais do Brasil e do mundo.
“O mais bacana foi a ação de realizar, mas tem o mérito de ele estar pronto e disponível para as pessoas. Realizar é difícil, mas realizar cultura é muito mais difícil, ainda mais em nosso país. Documentário é meio marginal, não tem a grande audiência, é mais difícil captar recurso, carece um pouco disso, da necessidade de formar público”, disse ao explicar que a ideia de fazer o filme com o designer Léo Santos “foi uma grande boa conspiração do universo.”
O dinheiro arrecadado será usado para levar o documentário aos cinemas, além de produzir material gráfico, divulgação online, assessoria de imprensa, palestras em escolas públicas e universidades, inscrições e participações em festivais de cinema. Mas a principal meta é garantir presença no Festival de Durban, na África do Sul, na mesma data em que se comemora o centenário de Nelson Mandela, no dia 18 de julho.
As recompensas para quem ajudar vão desde o nome nos créditos finais do documentário, acesso online ao filme em primeira mão, até convites para a pré-estreia, variando de R$ 25 a R$ 250. A meta é arrecadar R$ 70 mil até o dia 6 de abril. Para colaborar e fazer parte deste projeto, basta acessar http://www.querovernocinema.com/
Para neto, obra de Graciliano Ramos ainda é atual
Marzo 22, 2018 11:17O escritor e roteirista Ricardo Ramos Filho (foto) convive com uma trágica coincidência: seu pai, o também escritor Ricardo Ramos, e seu avô, Graciliano Ramos, um dos maiores autores brasileiros, morreram num dia 20 de março, o primeiro há 26 anos, e o segundo, há 65 anos. Além de romances, Graciliano também era conhecido por ser cronista, contista e político. Foi preso durante o governo Getúlio Vargas, em 1953, acusado de subversão, experiência retratada no livro "Memórias do Cárcere", publicado pela viúva Heloísa Ramos.
O neto Ricardo Filho, que se tornou pesquisador da obra graciliana e da literatura infanto-juvenil, não chegou a conhecer o avô, mas as influências marcaram a vida dele desde a infância. Nessa família, o livro interligou as gerações. “Pela literatura, me aproximava do meu pai [...] me explicava a melhor forma de escrever e enxugar o texto”.
Ricardo Ramos Filho revela que "Vidas Secas", obra de 1938, que conta a história de retirantes nordestinos castigados pela seca, representa até hoje 80% dos direitos autorais que a família recebe. “Acho uma obra extraordinária”, mas ele diz preferir outros romances. Confira, a seguir, a entrevista que ele deu à Agência Brasil:
Agência Brasil: Como pesquisador da obra de Graciliano Ramos, qual o segredo da atualidade dos livros dele?
Ricardo Ramos Filho: O segredo é a verdade com que Graciliano escreveu, a maneira como ele enxerga o país, como retrata as pessoas. Nesse sentido, fica tudo muito atual. Infelizmente, 80 anos depois, a gente ainda encontra muitos Fabianos, Sinhás Vitória, Baleias [a cachorra], meninos mais novos, meninos mais velhos [sem nome] no nosso país.
Agência Brasil: Vidas Secas, além de aclamado, é um cânone da nossa literatura. Podemos dizer que para conhecer a alma de Graciliano é preciso ler esse livro?
Ricardo Ramos Filho: Sem dúvida. Vou dar um dado que eu tenho e nem todo mundo tem: se a gente for verificar o direito autoral da obra de Graciliano, é o livro mais relevante. Graciliano tem quatro romances [pela ordem de publicação]: Caetés, São Bernardo, Angústia e Vidas Secas, além de dois livros de memórias, como Infância e Memórias do Cárcere. Há livros infantis também, é uma obra muito vasta. Vidas Secas arrecada para família pelo menos 80% do total dos direitos autorais da obra dele. E todo o restante vale no máximo 20%. Vidas Secas é adotado por muitos vestibulares, o que ajuda a incentivar as vendas. Eu, particularmente, não acho que seja o mais definitivo. Nasceu da união de alguns contos. Mas não tem, para mim, como leitor, a mesma força de São Bernardo e Angústia, embora eu goste muito. Vidas Secas não foi escrito para ser romance. Mas é um romance extraordinário. Tenho certeza de que quem entrar em contato com esse livro terá acesso ao melhor da obra de Graciliano.
Agência Brasil: Pode falar sobre as características mais relevantes, em sua opinião, nessas obras? Tanto como pesquisador quanto como neto?
Ricardo Ramos Filho: Graciliano publicou, em 1933, Caetés [o primeiro romance]; em 1934, São Bernardo, e em 1936, Angústia. São obras narradas em primeira pessoa com uma estrutura de romance. A experiência prisional fez com que ele mudasse o perfil. Quando foi solto, precisava transformar o que ele escrevia em dinheiro. Ele precisava vender. Participar de concursos para sustentar a família. Ele estava desempregado.
Agência Brasil: Apesar de não ser uma pergunta simples, poderia dizer de que forma Graciliano influenciou seu pai, e de que forma seu avô e seu pai fizeram a diferença para o senhor?
Ricardo Ramos Filho: É uma pergunta necessária. Eu não conheci meu avô. Ele morreu um ano antes de eu nascer. Graciliano influenciou mais diretamente meu pai. Quando Graciliano foi preso, meu pai, que estava em idade escolar, ficou em Maceió, e não foi para o Rio de Janeiro. Foi um contato tardio entre eles. Depois dos 14 anos, eles conversavam bastante sobre literatura. E essas conversas chegaram a mim por meu pai. Ele falava sobre o texto ter frases curtas, sem gerúndios ou adjetivos, do que seria um “um bom texto” a ser lido. Conselhos fundamentais como a ideia de que um texto precisa ser lido e relido para enxugar e retirar os excessos.
Agência Brasil: Para o senhor essa influência foi desde muito novo?
Ricardo Ramos Filho: Eu tive uma intermediação muito competente do meu pai. Muita gente me diz: “Meu filho não lê. O que eu faço?” Eu sempre repito: “Você lê?” ou “Teu filho te vê lendo?” Se o pai não lê, teu filho não vai ler. Uma coisa muito gostosa eram nossas conversas sobre as leituras que meu pai nos recomendava. A literatura foi sempre um canal de aproximação com meu pai. Ele, que não era uma pessoa tão acessível, sempre gostava de conversar sobre livros. Era um cara que trabalhava muito e chegava tarde em casa.
Agência Brasil: O senhor teve filhos?
Ricardo Ramos Filho: Não, mas meu enteado me via lendo e era interessante como ele imitava quando era bem pequeno. Até com o livro de ponta-cabeça, mas era o gesto.
Agência Brasil: E essa influência para o senhor na escrita?
Ricardo Ramos Filho: Eu cresci na minha casa no meio da ditadura. Tudo isso fez com que me colocasse criticamente em relação a tudo o que vi. Sou de 1954 e toda a minha juventude foi durante o regime militar. A gente se emocionava com tudo o que criticava a ditadura. Por isso, a obra de Graciliano fica muito atual.
Agência Brasil: E atualmente, como o senhor vê a literatura?
Ricardo Ramos Filho: O romance brasileiro tem trazido gente muito boa. Tem muita gente escrevendo romances de extrema qualidade. São tantos: Milton Hatoum, Marcelino Freire, Sheila Smanioto, Victor Heringer [morreu aos 29 anos]... Tem muita gente boa.
América do Sul inspira novo trabalho do violonista Luis Leite
Marzo 21, 2018 10:04Em seu terceiro álbum autoral, "Vento Sul", o violonista Luis Leite convida o ouvinte a mergulhar no universo da música a fim de escutá-la em primeiro plano, a prestar atenção aos detalhes da melodia, harmonia e ritmo. Leite, músico com intensa atividade internacional, apresentações em mais de 20 países, e uma década de residência em Viena, buscou, nesse novo trabalho, inspiração na riqueza poética da sonoridade da América do Sul para compor as obras do disco, que pode ser ouvido aqui.
"Vento Sul" evoca o colorido plural dos países vizinhos do Brasil, pincelando os regionalismos, não de forma folclórica, mas sincrética, um amálgama das vivências do artista ao longo dos anos e que, aqui, ganha emoção particular por meio, também, da empatia artística entre os músicos convidados. O disco, segundo o próprio autor, “remete à atmosfera de sensibilidade humana do nosso continente, inspirando-se na musicalidade natural da chilena Violeta Parra, na sofisticação do trio argentino Aca Seca, na elegância rítmica do colombiano Gentil Montaña…”
No álbum, o mais introspectivo de sua carreira, Luis Leite reuniu formações diferentes para cada faixa, com as mais variadas instrumentações. Cada música possui uma identidade própria e representa um universo particular em si mesma.
A faixa “Santiago”, que abre o disco, teve sua melodia escrita em um hotel na própria cidade homenageada, Santiago de Compostela, com alternância de compassos ímpares. No disco, a faixa atua como um preâmbulo ibérico, uma primeira parada em direção à América do Sul, e conta com a participação de Erika Ribeiro ao piano.
Buscando novos caminhos e percursos harmônicos, “Veredas” foi composta para a cantora Tatiana Parra e explora uma estética de contornos melódicos sinuosos, com a curiosa utilização do Adufo (pandeiro sem platinelas) de Sergio Krakowski, em casamento com o violão e a voz, preenchendo os graves sem tirar a delicadeza dos outros timbres.
Escrita em homenagem a Guinga, uma das suas grandes influências sonoras como compositor, “Flor da noite” traz uma sonoridade mais escura, de harmonia aveludada. Ao mesmo tempo delicada e elegante, a música abre com um solo de violão, para, em seguida, trazer a participação do clarinetista Giuliano Rosas.
Conversando estilisticamente com os tons escuros e noturnos da faixa anterior, “Noturna” soa como uma improvisação livre, em fluxo contínuo, sem repetição na sua forma. Uma reflexão nostálgica, sem pressa, que conta com a guitarra de Fred Ferreira e a voz de Lívia Nestrovski.
Composta em homenagem ao nascimento do primeiro filho de Yamandu Costa e Elodie Bouny (Benício), “Beniño” apresenta melodia doce, lembrando uma cantiga de ninar, carregando, porém, o temperamento forte da alma desses grandes artistas. Sua terceira parte é uma chacarera estilizada, que tem sua expressividade amplificada com o violino de Marcio Sanchez, o acordeon de Marcelo Caldi e a bateria de Diego Zangado.
Já “Céu de Minas” remonta às melodias naturais e narrativas musicais envolventes da música mineira, sempre presente na vida do violonista. Escrita no interior de Minas Gerais, em uma noite de céu aberto, foi inspirada pela atmosfera cativante de um momento de tranquilidade e contemplação, reunindo ainda Tatiana Parra (voz), Erika Ribeiro (piano) e Felipe Continentino (bateria).
As experiências contemplativas também são características de “Minguante”, inspirada na personalidade introspectiva e feminina da lua minguante. Traz consigo uma melodia de notas longas que leva o ouvinte a um lugar de calma e serenidade, em uma atmosfera expansiva que traz nas cordas (violino de Márcio Sanchez e viola de Elisa Monteiro) um colorido especial. Ao mesmo tempo, é uma música que possui grande escopo dinâmico, visitando nossas próprias inquietações internas.
Faixa mais jazzística do disco, “Pedra do Sal“ ganhou o nome por conta do característico encontro que acontece mensalmente perto da Praça Mauá, no Rio de Janeiro, marco do movimento de ocupação cultural da cidade. Carregada de criação espontânea e de improvisação – não à toa foi gravada em um só take – a música resgata o imprevisto, abrindo espaço para a experimentação e interação, ao lado de Felipe Continentino (bateria) e Ivo Senra (Fender Rhodes).
Inspirado nos movimentos migratórios do nosso continente, “Caravan” se apresenta como um amálgama de confluências culturais, onde uma melodia suave da flauta dialoga com frases modernas do violão, polirritmias e sincretismos estilísticos, por meio da flauta de Wolfgang Puschnig, do baixo acústico de Peter Herbert e da percussão de Luis Ribeiro.
O CD chega ao fim com “Despedida” de forma serena, nostálgica. Única faixa do disco com violão de aço, traz uma inusual combinação instrumental com adufo, viola de arco e violões. O solo é feito com violão de nylon, que contrasta com o timbre do irmão de aço e o contraponto da viola. A faixa fecha o disco com um sentimento de saudade, mas também de contato com um espaço íntimo interior, de tranquilidade.
Luis Leite nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, numa atmosfera familiar musical. Seu avô, um violonista amador, o ensinou os primeiros acordes. Seu pai e tios também tocavam, e o violão era o instrumento que congregava todos ao redor da música. Com interesse em variadas vertentes musicais, navegou desde cedo por diferentes estilos, do choro e do jazz à música clássica, começando a se apresentar profissionalmente aos 14 anos com o Grupo Camerístico de Violões.
Estudou violão na UniRio e aos 19 anos, após receber o primeiro lugar em concursos nacionais de violão, se especializou na Accademia Musicale Chigiana (Siena, Itália). Posteriormente mudou-se para Viena, onde viveu por uma década, recebendo os diplomas de bacharel e mestre pela Universität für Musik Wien, sob orientação do renomado violonista Alvaro Pierri.
Durante seu tempo residindo na Europa, Luis recebeu o primeiro lugar em diversos concursos internacionais de violão, como no Ivor Mairants International Guitar Competition (Londres) e no John Duarte International Guitar Competition (Rust). Retornou ao Brasil assumindo a cátedra de Violão da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde desde então coordena o programa de Bacharelado em Violão. Em sequência, concluiu seu Doutorado (PhD) em Música pela UniRio desenvolvendo pesquisa sobre novas linguagens de improvisação musical. Foi também vencedor do XI Prêmio BDMG Instrumental em Belo Horizonte. Lançou os discos autorais "Mundo Urbano" e "Ostinato". (Informações da assessoria de imprensa do músico)
O vídeo mostra a sua participação no programa Partituras, da TV Brasil, com a pianista Erika Ribeiro.
https://www.youtube.com/watch?v=Y9R84R4Pwrs
Serviço
Site: www.luisleite.art.br
Link para o disco: www.luisleite.art.br/ventosul
Preço do CD físico: R$30,00
Preço do CD digital (baixar por MP3s diretamente do site do artista): R$15,00






