Pobre Chico do Brasil doente
Giugno 28, 2017 10:28"Acabaram as boquinhas no MINC. Hora de trabalhar!"
"Quantas dessas músicas ele comprou?! Todas?!"
"Será que vai ser via Lei Rouanet?"
"Fez tanta falta q nem notei"
"Petista desgraçado"
"Inútil"
"Chato pra caralho"
"Tá magro, ein? Tá parecendo um cubano"
"PQP. Vamos ter que aturar essa mala com aquelas músicas de merda."
"Grande merda."
"Um grande lixo"
"Como ele lança um disco de 6 em 6 anos. No próximo, depois desse, pode ter uma parceria inédita com FIDEL CASTRO."
"Vai lançar lá na corja do PT seu vagabundo."
"Vai ficar encalhado pois ninguém compra nada de corruptos!"
"Algum hino à corrupção?"
"Esperando o tiro"
"Envelheceu mal, puta nariz de Bozo, cara de velho mafioso nojentao."
"Cantor de merda... Esse esquerdista!"
Os comentários acima, no Twitter, são a respeito da notícia da Folha de S.Paulo de que Chico Buarque vai lançar, depois de seis anos, um álbum com músicas inéditas.
Eles dão uma ideia do que se transformou o Brasil, ou ao menos parte dele, depois de anos de lavagem cerebral feita na população pelos meios de comunicação, ao mesmo tempo criminalizando uma organização política e reforçando a ideologia das classes dominantes.
Em qualquer país civilizado um artista como Chico Buarque está acima de disputas partidárias - um gênio como ele é tratado como tal, como uma instituição cultural que tem de ser louvada e preservada.
A obra de Chico Buarque, não só na música popular, mas na literatura, é imensa, atemporal e imorredoura.
Poucos artistas, talvez mesmo nenhum, tem sido capaz de expressar com tanta paixão e brilho a alma do povo brasileiro.
As manifestações de ódio de que ele é vítima não o desmerecem, pois são apenas isso, sintomas evidentes de uma patologia que parece atingir cada vez mais pessoas com o passar do tempo.
São também a prova de que o Brasil está se afastando, irremediavelmente, do caminho que leva à consolidação de uma autêntica nação: tudo aquilo que deveria ser motivo de orgulho para seu povo, por representá-lo, das mais variadas formas, é desprezado.
Fico imaginando, só para ficar no campo da música popular, o que seria do Brasil sem um Chico Buarque, um Tom Jobim, um Dorival Caymmi, um João Gilberto, um Gilberto Gil, um Caetano Veloso, um Ary Barroso, um Noel Rosa, um Cartola, um Lamartine Babo, um Adoniran Barbosa, um João Bosco, um Hermeto Pachoal, um Egberto Gismonti, um Baden Powell, uma Elis Regina, uma Elizeth Cardoso, uma Ivone Lara...
Ou se artistas de tal nível tivessem sido execrados por suas posições políticas, partidárias, e mesmo pela sua vida pessoal.
Está difícil suportar este Brasil Novo. (Carlos Motta)
As sentenças da justiça doida
Giugno 27, 2017 10:31Quando soube que o ex-presidente Lula estava sendo processado por causa de um apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia, que, na cabeça dos acusadores, eram produtos de propina, achei que tudo se resolveria em questão de alguns dias, pois pensava que uma simples ida ao cartório de registro de imóveis seria suficiente para determinar a posse dos ditos cujos.Tolo engano.
O caso do triplex e do sítio tomou proporções gigantescas, virou uma novela, e fez com que tudo aquilo que eu sabia sobre o direito da propriedade - e sobre a justiça do meu país - desaparecesse.
Com o passar do tempo percebi que a rapaziada do Paraná, tal a ousadia em aplicar métodos para lá de estranhos, misturando alhos com bugalhos, botando fé na palavra de dedos-duros, implicando apenas com gente de determinados partidos político, preservando tipos mais que suspeitos de outros, e usando métodos do tempo em que os animais falavam, para arrancar confissões, ou estava lelé da cuca ou então atendia interesses que não têm nada a ver com justiça.
Era inevitável que, diante de tantos disparates, me lembrasse do "Samba do Crioulo Doido", do imortal cronista Sergio Porto, que também atendia pelo nome de Stanislaw Ponte Preta - o criador do Festival de Besteiras que Assola o País, ou Febeapá -, que fez sucesso nas vozes do Quarteto em Cy, lá pelo fim dos anos 60 do século passado.
A música imita um samba-enredo, em cujos versos Chica da Silva obriga a princesa Leopoldina a se casar com Tiradentes, que, por sua vez, se elege Pedro II, o qual, aliado ao padre Anchieta, proclama a escravidão no Brasil - uma confusão só:
Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a princesa Leopoldina
Arresolveu se casar
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar
Com Tiradentes...
Lá! Iá! Lá Iá! Lá Iá!
O bode que deu
Vou te contar...
Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada
A escravidão
E foi proclamada
A escravidão...
Assim se conta
Essa história
Que é dos dois
A maior glória
A Leopoldina virou trem
E Dom Pedro
É uma estação também...
Oh Oh! Oh Oh Oh Oh!
O trem tá atrasado
Ou já passou...
Agora, depois de ler alguns trechos da sentença que condena o ex-ministro Palocci a 12 anos de prisão, fiquei com a certeza de que esse pessoal da chamada Lava-Jato de louco não tem nada, já nem mesmo o mais compenetrado Napoleão de hospício seria capaz de afrontar de maneira tão ousada tudo o que se entende por justiça neste Brasilzão de tantas dores e esperanças.
Tudo isso dá uma saudade imensa do crioulo doido, de tia Zulmira, do Altamirando, do Rosamundo, de tantos personagens criados pela genialidade de Sergio Porto, que, se ainda estivessem na ativa, com certeza se perguntariam de onde vem essa fantástica capacidade da justiceira rapaziada paranaense de criar uma realidade apenas com as suas convicções. (Carlos Motta)
O velho conhecido e o bilhete premiado
Giugno 26, 2017 11:26A pequena, religiosa e conservadora Serra Negra, interior de São Paulo, onde moro, tem apenas duas casas lotéricas no Centro.
Uma delas está sempre cheia, muitas vezes com fila na calçada, prova de que as pessoas acreditam que a vida delas pode mudar num instante, não importa o quanto humildes, pobres e desesperadas elas sejam.
Gente de todo o tipo vai fazer a sua fezinha: até os que são vistos como bem-sucedidos aguardam com paciência a sua hora de entregar à moça do outro lado do vidro o seu volante da Mega-Sena, o jogo mais comum e generoso, ou mesmo da Lotofácil, de prêmio inferior, mas de maior probabilidade de acerto.
Outro dia vi um velho conhecido bem no meio da fila.
Ele parecia mais cansado, mais acabado, dava até para perceber algumas olheiras em seu rosto de traços fortes e duros.
Seu cabelo, antes vasto e negríssimo, já se mostrava grisalho, com os primeiros sinais de calvície.
Estava também mais magro, um pouco curvado - nem parecia ter os quase 2 metros de altura que o destacavam em qualquer lugar onde estivesse.
Vestia uma roupa bem mais simples das de antigamente - ele sempre foi o típico classe média, cheio de preocupações com o julgamento que os outros faziam dele.
Foi uma visão rápida, mas suficiente para que de imediato viesse à minha cabeça um paralelo entre esse meu velho conhecido e o Brasil de hoje.
Os dois, pensei, se encontram na iminência de decidir o seu destino, aguardam na fila o bilhete de loteria que pode mudar completamente a sua situação.
São três situações: o bilhete premiado, que levará ao Executivo central um novo presidente da República eleito pelo voto popular, soberano, numa eleição da qual participem todas as forças políticas; o bilhete que passa longe do prêmio, ou seja, que manterá o país nas mãos dos golpistas, interditando a democracia; e o bilhete que dá um prêmio menor, uma eleição presidencial sem a participação da mais expressiva liderança política do país, o ex-presidente Lula.
Metros adiante da casa lotérica, virei a cabeça para dar uma última olhada no meu velho conhecido.
Não estava mais na fila, tinha sumido.
Fiquei na dúvida se o forte sol invernal que iluminava aquela tarde fria não havia ofuscado os meus olhos e eu, na verdade, tivesse confundido esse velho conhecido com outra pessoa qualquer - um brasileiro qualquer.
Talvez, refleti mais tarde, tivesse visto o Brasil inteiro, uma triste figura, naquela fila à espera da sorte grande. (Carlos Motta)
O jovem e as velhas ideias
Giugno 23, 2017 10:24Em certo ponto da conversa, não lembro por que, ele fez a seguinte observação, que suscitou um interessante debate entre nós:
- Estou percebendo que você é um liberal...
Como neguei de imediato e com veemência, o papo enveredou para a política, tema geralmente limitado, atualmente, a algumas poucas, breves e ofensivas frases: " Você não passa de um petralha" e "fora, Temer" são as mais usuais.
Nós, porém, começamos a falar sobre a política em geral, e mais especificamente, sobre determinados aspectos da sociedade brasileira.
O jovem perguntou se eu conhecia o Partido Novo.
"Já ouvi falar", foi a minha resposta.
Ele então contou que ingressou na agremiação e que provavelmente seria um dos responsáveis pela sigla em sua cidade, Amparo, ao lado de Serra Negra, interior de São Paulo, onde moro.
A partir daí conversamos alguns bons minutos sobre carga tributária, tamanho e funções do Estado, meritocracia, cidadania, essas coisas todas sem pouco valor prático num país onde a Constituição virou um livro jogado num canto qualquer da sala, a acumular poeira, bolor - e traças.
Do papo todo ficou a impressão de que mesmo os jovens mais inteligentes, preparados e bem informados, sofrem de um grave problema, que transcende a sua vontade: estão irremediavelmente contaminados pela ideologia dominante.
Sempre há exceções, é claro.
Mas a maioria não tem mais jeito, é incapaz de se libertar do pensamento de que aquilo que se considera a causa dos maiores males do Brasil é justamente a solução para os seus problemas, de forma geral um Estado indutor de crescimento econômico e redução das monstruosas desigualdades sociais que envergonham o país perante o mundo.
Partido novo, ideias velhíssimas, daquelas que, se aplicadas, vão fazer o jovem publicitário amparense ficar até sem ter como pôr gasolina em seu carro e tomar as suas cervejinhas.
Mas talvez ele tenha salvação: diz que se horrorizou com a informação de que Luciano Huck se filiou ao tal partido e deverá ser candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro.
Até os liberais têm os seus limites. (Carlos Motta)
A boa vida do senador cassado
Giugno 22, 2017 11:06O site Congresso em Foco publica reportagem exemplar sobre como é a Justiça brasileira, as relações de poder, e o mundo da política.
O protagonista é o ex-senador goiano Demóstenes Torres e o seu título já diz muito sobre o que vem a seguir: "Afastado do Ministério Público desde 2012, Demóstenes recebeu R$ 2,6 milhões sem trabalhar."
O texto é longo, mas vale a pena ser lido:
Desde que foi afastado das atividades no Ministério Público, em outubro de 2012, o ex-senador Demóstenes Torres (GO) já recebeu R$ 2,6 milhões sem trabalhar, considerando-se o salário de procurador mais os benefícios como gratificações natalinas e férias, além de indenizações e outros pagamentos extras. Uma média de R$ 45 mil por mês.
Como mostrou ontem o Congresso em Foco, ele vai pedir ao Senado para que anule sua cassação por envolvimento com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, porque a Justiça considerou nulos os grampos telefônicos que embasaram os processos criminais e o seu julgamento político. Inelegível até 2027, o ex-senador quer retomar o direito de se candidatar já em 2018 a uma vaga na Câmara dos Deputados. As chances de o Senado considerar o pedido, porém, são mínimas.
Em nome da mulher, Flávia Coelho Torres, o ex-senador abriu um restaurante e um escritório de advocacia, ambos em bairros nobres de Goiânia. A preferência de Demóstenes pela advocacia tem muito a ver com a rejeição que ele enfrenta entre os colegas do MP-GO. Em agosto de 2012, 82 promotores de Justiça, procuradores do Trabalho e procuradores da República em Goiás assinaram manifesto pedindo ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em caráter liminar, o afastamento dele em razão das acusações que o derrubaram no Senado.
O Ministério Público goiano é comandado atualmente pelo procurador Benedito Torres, irmão de Demóstenes. A relação entre os dois ficou abalada desde o escândalo do caso Cachoeira. Segundo relatos de amigos, o ex-senador cassado não perdoou até hoje as declarações dadas na época pelo irmão na tentativa de se distanciar das denúncias. Na ocasião, Benedito também era o procurador-geral de Justiça de Goiás, cargo que exerceu pela primeira vez entre 2011 e 2013.
Também citado em gravações telefônicas, o procurador-geral de Justiça teve processo disciplinar arquivado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) em 2013. Prevaleceu entre os conselheiros o entendimento de que os autos não traziam indícios de que ele cometera falta funcional. O irmão do ex-senador foi inocentado pelo TJ-GO em dezembro de 2012.
Depois de deixar a Procuradoria-Geral de Justiça, Benedito emplacou um aliado como sucessor e foi eleito presidente da Associação Goiana do Ministério Público (AGMP) por três vezes. Em fevereiro deste ano, teve a maior votação na lista tríplice do MP-GO e foi alçado novamente ao cargo pelo governador Marconi Perillo. Um das propostas de Benedito para o novo mandato é ampliar o combate à corrupção e ao crime organizado, reforçando a equipe responsável pelas investigações e a estrutura nessa área.
Em seu escritório, Demóstenes também tem recebido políticos. Em maio, o vereador mais antigo da Câmara de Goiânia, Anselmo Pereira (PSDB), ex-presidente da Casa, o visitou “em encontro amigável para discutir assuntos da Região Metropolitana”, conforme divulgou o tucano nas redes sociais. O vereador é mais um entusiasta da volta do ex-senador à política. Anselmo abrigou parte da equipe de Demóstenes na Câmara Municipal depois da cassação no Senado.
Novo abrigo
O ex-senador já poderia ter se filiado a algum partido, mas, segundo amigos, ele aguarda o desenrolar da crise política no país para ver como as legendas vão se sair das denúncias. “Ele não tem pressa. Tem muita coisa acontecendo e ninguém sabe como ficará o cenário para o ano que vem”, diz Chiquinho. Já houve convite oficial de pelo menos três siglas pequenas (PMN, PHS e PSL) que confirmam o interesse. Mas Demóstenes fala em várias ofertas, inclusive para presidir diretórios.
Ao que tudo indica, a opção será por um partido da base de apoio do governador Marconi Perillo (PSDB), com quem mantém boa relação, embora com um “pé atrás” das duas partes. “É uma relação em que ninguém confia em ninguém”, resume um jornalista ligado ao ex-senador. Em entrevista conjunta ao jornal O Hoje e à Rádio 730, de Goiânia, em outubro do ano passado, Demóstenes fez elogios ao candidato da base à sucessão de Marconi, o vice-governador José Eliton (PSDB), e disse que o governador tem vaga garantida no Senado nas eleições do ano que vem. Mas, em conversa com aliados, ele reclamou de cortes na entrevista e os atribuiu à influência do governo na imprensa goiana.
Na ocasião, Demóstenes afirmou que acreditava ter 80% dos votos que alcançou quando foi eleito pela primeira vez, em 2002. Em sua estreia nas urnas, depois de deixar a Secretaria de Segurança Pública na primeira gestão de Marconi, ele recebeu 1,2 milhão de votos. Votação que quase dobrou oito anos depois, com 2,1 milhões de votos, um recorde no estado. O ex-senador alega que a população compreendeu que sua cassação foi uma “artimanha” de inimigos políticos, especialmente o PT e o ex-presidente Lula, seus principais alvos quando era parlamentar. Não foi o que acharam seus colegas de partido, que exigiram sua saída do DEM na época, nem do então bloco oposicionista no Senado. Ele foi cassado, em votação secreta, por 56 votos a 19.
Aliados do ex-senador alegam que o caso envolvendo seu nome virou fichinha perto dos escândalos revelados a partir de 2014 com a Operação Lava Jato. Dizem, ainda, que ele tem em mãos pesquisas que indicam boa aceitação pelo eleitorado em Goiás. Esses números, porém, nunca vieram a público. Em pesquisas de 2013 para o Senado realizadas pelo instituto Serpes para o jornal O Popular, de Goiânia, o nome dele era lembrado sempre por menos de 1% dos entrevistados nos levantamentos espontâneos. Percentual bem inferior ao dos principais adversários.
Viagens à Itália
Com as atribuições no restaurante e no escritório, a família Torres diminuiu o ritmo de viagens, intenso nos últimos anos. Em janeiro de 2014, imagens dele circulando de mãos dadas com a esposa Flávia pelas ruas de Florença, na Itália, viralizaram na internet, despertando comentários sobre a impunidade no Brasil. No ano passado, a advogada, com quem está casado desde 2011, e a chef de cozinha Aline Torres, filha do primeiro casamento dele, inauguraram o restaurante Viela Gastronomia em um casarão no Setor Sul, um dos bairros mais tradicionais da capital goiana. Aberto primeiramente como espaço de eventos, funciona agora para almoço e jantar, tendo a cozinha italiana como especialidade. Em releases, o estabelecimento promete aos clientes “uma verdadeira viagem à Itália sem sair de Goiânia”.
Foi lá que Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, comemorou o aniversário de 35 anos, em março. No mês seguinte, Aline deixou a sociedade para cuidar de outros projetos e ter mais tempo disponível para viagens e estudo, de acordo com informações de assessores. Segundo amigos mais próximos e funcionários do restaurante, Demóstenes anda sorridente e voltou a fazer piadas e gracejos como era bem comum antigamente.
Briga com Caiado
Mesmo tendo caído em desgraça, ele coleciona poucos desafetos na política em Goiás. O principal é o senador Ronaldo Caiado (DEM), que sucedeu Demóstenes como uma das principais vozes da oposição ao PT no Senado. O ex-senador, que era considerado afilhado político de Caiado, rompeu o silêncio que durou quase três anos em um artigo publicado no jornal Diário da Manhã, em março de 2015, com ataques ao ex-padrinho político. Ele acusou o atual líder do DEM de fazer parte da rede de amigos de Cachoeira, sugerindo que ele havia recebido dinheiro do contraventor. E envolveu até o presidente nacional do DEM, José Agripino Maia (RN). O artigo, em tom agressivo, foi uma resposta à entrevista de Caiado à revista Veja, em que dizia que Demóstenes era a grande decepção em sua vida e “um traidor”.
À época, Caiado interpelou judicialmente o ex-senador, que não respondeu ao pedido de esclarecimentos. Embora a assessoria do senador tenha dito na ocasião que prepararia queixa-crime por calúnia, injúria e difamação e ação por danos morais, não houve ação na Justiça. O gabinete de Caiado informou que ele registrou representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o que trouxe mais desgastes para o ex-senador no colegiado. Nos bastidores, aliados do líder do DEM apostam que a chance de Demóstenes retomar a elegibilidade para disputar ano que vem é zero. E chamam de “lorota” a tentativa de recuo do Senado.
Súplicas não atendidas
Até surgirem gravações e outros indícios de que atuava em defesa dos interesses de Carlinhos Cachoeira, Demóstenes era um dos nomes mais respeitados do Senado brasileiro. Um empedernido defensor da ética na política e duro combatente da corrupção. Destacava-se no bloco dos senadores considerados éticos à época como Pedro Simon (PMDB-RS), Jefferson Peres (PDT-AM) e Eduardo Suplicy (PT-SP). Assim que surgiram as primeiras denúncias de envolvimento dele com o contraventor, 44 colegas se revezaram no plenário para defendê-lo. Mas o apoio se esvaiu à medida que as investigações apontavam que a relação entre os dois extrapolava a amizade.
Três meses depois, o ex-líder do DEM foi cassado pelo plenário, acusado de mentir, receber vantagens indevidas e utilizar o mandato em favor de Cachoeira. Implacável com parlamentares suspeitos de irregularidades, Demóstenes provou do próprio veneno. Em seu discurso de defesa no plenário, pediu perdão àqueles que ofendeu, segundo ele, de maneira leviana. “Por favor, me deem a oportunidade de provar que sou inocente, não acabem com a minha vida, não me deixem disputar outra eleição em 2030 para senador.” De nada adiantou a súplica.
O caso rendeu uma CPI no Congresso e denúncias contra os governadores Marconi Perillo e Agnelo Queiroz (PT-DF), além de outros deputados. Acusado de explorar uma rede de caça-níqueis e jogos de azar e de fazer lobby para empreiteiras, Cachoeira, acumulou condenações e prisões desde então. Tornou-se personagem frequente de operações policiais.