Neste domingo, o samba de Leci vai a Interlagos
18 de Novembro de 2017, 10:20Leci Brandão, uma das maiores referências do samba no Brasil e uma grande batalhadora pela disseminação dos debates e lutas dos movimentos sociais, de minorias e de trabalhadores, apresenta, neste domingo, às 16 horas e às 17h30, na Praça Pau Brasil, no Sesc Interlagos, em São Paulo, as canções de seu último disco, "Simples Assim", lançado neste ano, além de músicas já consagradas de sua carreira e homenagens a personagens do samba, como Martinho da Vila, Nelson Cavaquinho e Jovelina Pérola Negra.
O repertório de "Simples Assim" é composto por várias regravações, como "Metades", "Santas Almas Benditas" ("Clareia"), "Bate Tambor", "Deixa Viver", "Essa Tal Criatura", "Invasão", "Sabor Açaí", "Pra Gente se Encontrar de Novo", e "Super-Herói da Favela".
O disco é o primeiro gravado em estúdio por Leci em oito anos. Antes dele, havia lançado, há três anos, o CD e DVD "Cidadã da Diversidade – Ao vivo no Carioca Club SP".
Leci começou sua carreira no início da década de 70 do século passado, tornando-se a primeira mulher a participar da ala de compositores da Mangueira. Ao longo de sua carreira, Leci gravou 13 LPs, 8 CDs, 2 DVDs e 3 compactos, um total de 26 obras.
Em fevereiro de 2010, Leci Brandão filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e candidatou-se ao cargo de deputada estadual pelo Estado de São Paulo, tendo sido eleita com mais de 85 mil votos e reeleita em 2014. Como parlamentar, Leci Brandão se dedica à promoção da igualdade racial, ao respeito às religiões de matriz africana e à cultura brasileira. Segunda deputada negra da história da Assembleia Legislativa de São Paulo (a primeira foi Theodosina Rosário Ribeiro), Leci também levanta a questão das populações indígena e quilombola, da juventude, das mulheres e do segmento LGBT.
Edu, Romero e Mauro: um encontro de três craques
17 de Novembro de 2017, 15:09O novo Sesc 24 de Maio (Rua 24 de Maio, 109, Centro), em São Paulo, vai ser palco do encontro de três craques da música brasileira, Edu Lobo, Romero Lubambo e Mauro Senise, que vão lançar o CD "Dos Navegantes", nos dias 22 (quarta-feira, às 21 horas), 23 (às 13 e 21 horas), e 24 (às 21 horas).
Os três são amigos que se admiram mutuamente e que resolveram eternizar, em disco, todo o afeto que os une por meio das gravações de composições poucos conhecidas de Edu, com arranjos "leves" e "simples", dando ênfase às melodias e às interpretações dos três artistas.
Assim, músicas como "Considerando", "Dos Navegantes", "O Circo Místico", "Gingado Dobrado", "Cidade Nova" e "Valsa dos Clowns", entre outras, receberam um tratamento quase camerístico, com espaço para os solos de Mauro e Romero. No show, além das 11 músicas do CD "Dos Navegantes", serão apresentadas outras canções mais conhecidas de Edu Lobo, como "Beatriz", "História de Lily Braun" e "Choro Bandido". Os artistas ainda serão ladeados por Bruno Aguilar, no baixo; Mingo Araújo, na percussão; e Itamar Assiere, no piano.
Carioca, nascido em 1943, Edu Lobo é cantor, compositor, arranjador e instrumentista. Iniciou a carreira nos anos 60, fortemente influenciado pela bossa nova, quando numa parceria com Vinicius de Moraes, compôs "Só Me Fez Bem". Porém, com o decorrer do tempo adotou uma postura mais político-social, refletindo os anseios da geração reprimida pela ditadura militar brasileira. Nessa fase, surgiu uma parceria com Ruy Guerra e as composições engajadas "Reza" e "Aleluia". Compôs trilhas para espetáculos teatrais e de balé, participou de festivais, sendo premiado em 1965, com "Arrastão" (com Vinicius de Moraes), e, em 1967, com Ponteio (com Marília Medalha), e fez parcerias com Chico Buarque, Gianfrancesco Guarnieri, e outros artistas.
Romero Lubambo é violonista, guitarrista, arranjador e compositor, nasceu no Rio de Janeiro, em 1955. Desde 1985, tem vivido nos Estados Unidos, onde tocou e gravou com nomes como Astrud Gilberto, Dianne Reeves, Michael Brecker, Al Jarreau, Kathleen Battle, Herbie Mann, Ivan Lins, Flora Purim, Airto Moreira, Paquito D'Rivera, Harry Belafonte, Grover Washington Jr., Luciana Souza, Sérgio Assad, Dave Douglas, Odair Assad, Leny Andrade e César Camargo Mariano. É um dos integrantes do Trio da Paz.
Mauro Senise, também carioca, nascido em 1950, é saxofonista, flautista, arranjador e professor de música. Iniciou sua carreira em 1972, acompanhando Rosinha de Valença, Lúcio Alves e Johnny Alf, entre outros artistas, em shows realizados na casa noturna Le Bateau. Ainda nesse ano, formou, com Kim Ribeiro, Raul Mascarenhas, Ronaldo Aldernas e Andrea Dias, o Quinteto Pixinguinha. No início da década de 80, ajudou na criação do conjunto brasileiro de música instrumental Cama de Gato, no qual ainda toma parte como instrumentista.
Participou, como músico de estúdio, de diversas gravações em álbuns de compositores e intérpretes brasileiros como Egberto Gismonti, Gal Costa, Ney Matogrosso, Paulo Moura, Luiz Melodia, Milton Nascimento, Chico Buarque e outros.
Teresina, a capital brasileira do violão
17 de Novembro de 2017, 10:56A capital do Piauí, Teresina, é, neste fim de semana, também a capital brasileira do violão, com a realização do 1º Festival do Violão, promovido pela Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, reunindo alguns dos mais conceituados instrumentistas do país e do Exterior, além de oferecer palestras e masterclasses.
De acordo com Abiel Bonfim, superintendente da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, a primeira edição do festival será marcada pela troca de experiência entre artistas. “A programação foi pensada para atender todas as idades. Com as aulas, os inscritos vão poder tirar dúvidas, aprender e conhecer o que está sendo feito em outros Estados e países”, diz.
Entre os convidados estão Marco Pereira (foto), Elodie Bouny, Alessandro Penezzi, Daniel Murray, Antonio José Rodrigues (luthier), Alessandro Soares (diretor do Acervo do Violão Brasileiro), Felipe Vilarinho, Damião Bezerra, Wellington Torres e a Orquestra de Violões de Corrente e Teresina.
De acordo com o violonista e um dos coordenadores do festival, Josué Costa, a expectativa com o evento é alta devido a Teresina ser uma capital com grande número de violonistas. “Nossa cidade tem uma riqueza violonista muito forte, temos muitos talentos, projetos, escolas de música e o nascimento desse festival fomenta a nova geração, ele vem para ajudar e manter viva a tradição e o amor pelo violão na capital”, diz.
Confira a programação completa do I Festival de Música de Teresina:
17/11 – Sexta-feira
19 horas: Cerimônia de abertura
19h30: Recital de abertura com a Orquestra de Violões de Teresina
20h15: Recital com Alessandro Penezzi
18/11 – Sábado
8 horas: Palestra com Antonio José Rodrigues (luthier)
14 horas: Palestra com Alessandro Soares (diretor do Acervo do Violão Brasileiro)
17 horas: Recital com Orquestra de Violões de Corrente
17h40: Recital com Felipe Vilarinho
20 horas: Recital com Elodie Bouny
20h45: Recital com Daniel Murray
19/11 – Domingo
8 horas: Masterclass com Elodie Bouny
11 horas: Recital com Fabricio Gallegos Rojas (Projeto Concertos Matinais)
14 horas: Masterclass com Daniel Murray
17 horas: Recital com Damião Bezerra
17h40: Recital com Wellington Torres
19h30: Cerimônia de encerramento;
20h15: Recital com Marco Pereira, participação de Elodie Bouny
A cantora trans de Angola que venceu os preconceitos
17 de Novembro de 2017, 10:12Ela é a rainha do som africano do kuduro e a primeira cantora a assumir a transexualidade em Angola. Titica é querida pelas crianças e se tornou ídolo pop em seu país, mesmo diante do conservadorismo. Hoje, faz grande sucesso também fora da África. No Brasil, esteve no palco Sunset do Rock in Rio, onde junto com o grupo BaianaSystem misturou o som africano do kuduro com o ritmo de Salvador.
A cantora será a entrevistada do programa Conversa com Roseann Kennedy, que vai ao ar segunda-feira (20), às 21h30, na TV Brasil.
Titica, que chegou a sofrer com a discriminação no início da carreira, relembra sua trajetória marcada pela violência. Diz que quando tinha 20 anos era obrigada a esconder o jeito de andar, que é mais feminino. “Quinze anos atrás, apedrejavam, batiam. Eu já fui apedrejada, já me deram com garrafas na cabeça.” Por isso, muitas vezes foi obrigada a esconder quem realmente era.
Sobre o preconceito que teve de enfrentar, a artista desabafa: “As pessoas homofóbicas são cegas. Você consegue se impor, falar com uma pessoa que é homofóbica, que não te conhece... Falar bem, mostrar quem você é... Mostrar que não é um bicho de sete cabeças e mudar a mente dela”. Para Titica, nessas situações nunca convém partir para o enfrentamento. “Eu acho que as ações das pessoas têm que falar mais alto, não precisa bater de frente, e sim agir.”
Nascida na periferia de Luanda, de onde vem também o kuduro, Titica lamenta que a música e a dança ainda sejam marginalizadas e criticadas por algumas pessoas. O ritmo, que significa “bumbum duro”, faz referência aos movimentos corporais da coreografia. “O kuduro ainda é muito marginalizado em Angola, já foi mais. Em princípio, por causa da forma de nos apresentar, de falar, porque não seguimos o padrão da sociedade”. Para ela, a alegria e o ritmo do kuduro é que atraem o público.
Titica, que sempre gostou de arte, apostou em várias profissões, sempre com a mesma determinação. “Nasci para brilhar e de qualquer jeito vou ser famosa”. Ela tentou ser modelo, atriz e foi bailarina durante muitos anos. Hoje, se orgulha da carreira. “Fui considerada a melhor bailarina do kuduro, porque eu dançava e levantava o público como se fosse cantora. Acho que já tem uma estrela em mim”. Só depois, a música entrou em sua vida.
Ela, que gosta da cantora Alcione e do Nego do Boréu, se diz fã da música brasileira. Depois de gravar a música "Capim Guiné" com o grupo BaianaSystem, conhecido pelas letras e músicas politizadas, a artista trans tem o sonho de gravar com Pabllo Vittar e unir o Brasil e a África numa luta contra o preconceito. “Adoro parcerias onde a gente aprende mais, com a troca de música, países a países. É um intercâmbio muito bom.”
Sobre as aspirações, a cantora diz que pretende levar o seu nome aos quatro cantos do mundo e continuar sendo uma mulher de sonhos. Ao Brasil, deixa um agradecimento especial e, em tom de brincadeira, se despede sem dar chance aos olhares invejosos. “Obrigada Brasil por ser receptivo comigo. Eu continuarei sendo a Titica que aguenta tudo e não tem medo de nada. Que bate na madeira e seca todo mau-olhado.” (Agência Brasil)
Versos de luta, músicas de um país que sangra
17 de Novembro de 2017, 9:58Carlos Motta
"Mordaça", um hino de resistência à ditadura militar que sufocava a nação, foi lançada no LP "O Importante é que Nossa Emoção Sobreviva", mesmo título do show que reuniu os dois autores da música - Eduardo Gudin, melodia, e Paulo César Pinheiro, letra, além da cantora Márcia.
Os versos do poeta Paulo César Pinheiro são magistrais:
Tudo o que mais nos uniu separou
Tudo o que tudo exigiu renegou
Da mesma forma que quis recusou
O que torna essa luta impossível e passiva
O mesmo alento que nos conduziu debandou
Tudo o que tudo assumiu desandou
Tudo que se construiu desabou
O que faz invencível a ação negativa
É provável que o tempo faça a ilusão recuar
Pois tudo é instável e irregular
E de repente o furor volta
O interior todo se revolta
E faz nossa força se agigantar
Mas só se a vida fluir sem se opor
Mas só se o tempo seguir sem se impor
Mas só se for seja lá como for
O importante é que a nossa emoção sobreviva
E a felicidade amordace essa dor secular
Pois tudo no fundo é tão singular
É resistir ao inexorável
O coração fica insuperável
E pode em vida imortalizar
Muitos anos depois, em plena democracia, Paulo César Pinheiro se encontrou com Wilson das Neves, baterista, percussionista, compositor e cantor temporão, um dos músicos populares essenciais do país, morto em agosto deste ano, e juntos fizeram "O Dia Em Que o Morro Descer e Não For Carnaval", uma visão apocalíptica de um país dividido entre miseráveis e pobres - muitos, milhões - e ricos - poucos, mas donos do poder e responsáveis pela manutenção da maior desigualdade social do planeta.
Novamente, Paulo César Pinheiro produziu versos que fazem sangrar os corações mais empedernidos.
E que provam, de maneira inequívoca, que apesar de tudo, a arte popular não só retrata o seu tempo, mas sempre foi - e sempre será - uma voz de resistência contra as injustiças, o autoritarismo e as trevas.
Fala, poeta!
O dia em que o morro descer e não for carnaval
ninguém vai ficar pra assistir o desfile final
na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu
vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil
(é a guerra civil)
No dia em que o morro descer e não for carnaval
não vai nem dar tempo de ter o ensaio geral
e cada uma ala da escola será uma quadrilha
a evolução já vai ser de guerrilha
e a alegoria um tremendo arsenal
o tema do enredo vai ser a cidade partida
no dia em que o couro comer na avenida
se o morro descer e não for carnaval
O povo virá de cortiço, alagado e favela
mostrando a miséria sobre a passarela
sem a fantasia que sai no jornal
vai ser uma única escola, uma só bateria
quem vai ser jurado? Ninguém gostaria
que desfile assim não vai ter nada igual
Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga
nem autoridade que compre essa briga
ninguém sabe a força desse pessoal
melhor é o poder devolver à esse povo a alegria
senão todo mundo vai sambar no dia
em que o morro descer e não for carnaval