Investimentos despencam no Brasil Novo
1 de Setembro de 2017, 10:18Os golpistas vão soltar fogos de artifício com a divulgação do PIB, o Produto Interno Bruto, que mede toda a riqueza do país, do segundo trimestre: a alta foi de 0,2 % entre abril e junho em relação aos três meses anteriores, segundo informou o IBGE. Na comparação com o segundo trimestre de 2016 o crescimento foi de 0,3%, o primeiro resultado anual positivo desde o primeiro trimestre de 2014 (+3,5%).
Mas cuidado com o andor.
O investimento continuou em contração no trimestre passado.
Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o investimento, recuou 0,7% na comparação com janeiro a março, 6,5% sobre o segundo trimestre do ano passado, e 6,1% nos quatro trimestres anteriores em relação ao mesmo período do ano anterior.
No acumulado do ano, em relação ao mesmo período de 2016, a expansão do PIB foi nula, e nos últimos quatro trimestres anterior houve queda de 1,4%.
Vale lembrar que a pequena recuperação do PIB se dá em cima de uma base fraquíssima: é como alguém comemorar o pagamento de R$ 1 mil de uma dívida de R$ 1 milhão.
No primeiro trimestre deste ano, o PIB brasileiro havia crescido 1% sobre o período imediatamente anterior, devido à forte expansão do setor agropecuário, mas com os investimentos produtivos ainda em queda.
Entre abril e junho passado, o consumo das famílias aumentou 1,4% sobre o primeiro trimestre, primeiro crescimento após nove trimestres. Sobre o mesmo período de 2016 a alta foi de 0,7%.
O setor de serviços também foi destaque positivo, com expansão de 0,6% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, mas na variação anual mostrou queda de 0,3%.
No geral, se existem alguns indícios de que se ensaia uma melhora do cenário econômico, há outros que mostram que a recuperação ainda está distante.
Ainda é cedo para se abrir garrafas de champanhe.
Baques, golpes, e a morte das almas
31 de Agosto de 2017, 10:23Todos nós, humanos, sofremos, em algum período de nossas vidas, baques que machucam, desesperam, nos fazem perder a esperança, são capazes de arrancar lágrimas e soluços, ou, ao contrário, despertam a ira, o ódio, a violência.
Pode ser a morte de um parente, a perda de um emprego, a descoberta de uma traição, a derrota do time do coração, pode ser tanta coisa, pode ser apenas uma sensação indescritível de desconforto sem causa definida.
Cada um de nós é diferente do outro.
Cada um tem valores diversos, reage de modo distinto às situações que defronta no cotidiano.
Há pessoas que só pensam nelas próprias; há as que dedicam seus esforços em ajudar o próximo e desejam que todos sejam felizes.
Como as pessoas, uma nação, formada por elas, tem seus altos e baixos, seus momentos de glória e danação.
É o caso do Brasil, que hoje vive um inferno, do qual ninguém sabe de como vai se livrar.
O golpe que trocou uma presidenta honesta por uma quadrilha, que trocou uma democracia por uma cleptocracia, em um ano arrasou o país e destruiu seus sonhos de se tornar, ao menos em médio prazo, uma nação desenvolvida, com menos desigualdade e mais justiça para seus cidadãos.
Este novo golpe não segue igual àquele outro, de 53 anos atrás, mas da mesma maneira que seu antecessor, vai espalhando a incerteza e o desânimo, que vão corroendo o ânimo, o humor e a alma.
Em 1964 eu tinha dez anos e morava em Jundiaí. Minha lembrança do que ocorreu é apenas de alguma movimentação inusitada na cidade. Ou talvez eu tenha sonhado com isso. Não importa, pois ainda sinto os danos causados pela ditadura militar. Não, não sofri nenhum tipo de violência física, não participei de nenhum movimento contra o regime.
O mal foi de outra ordem.
Meu pai era militar. Na época, com cerca de 50 anos, estava na reserva, ou reformado, não me lembro. O capitão Accioly havia escolhido Jundiaí para viver com sua família - minha mãe, eu e minha irmã. Autodidata, lia muito, gostava imensamente de política, e como o partido de seu coração estava na clandestinidade, militava no PSB. Foi até secretário do diretório municipal.
Mas seu ídolo era outro militar de rígidas convicções ideológicas, que depois de percorrer o país com seus companheiros numa empreitada épica, foi chamado de Cavaleiro da Esperança.
Não sei exatamente o que levou o capitão Accioly a ser comunista, mas acho que foi o fato de ele não suportar injustiças, de procurar fazer sempre as coisas certas, de não transigir no que achava correto.
Sua escolha ideológica foi natural. Naqueles tempos de guerra fria muitas pessoas acreditaram sinceramente que o marxismo-leninismo poderia redimir a humanidade.
O capitão Accioly era calmo, metódico, disciplinado e caseiro. Pelo menos aparentava ser. Mas interiormente creio que carregava a inquietação daqueles tempos de forma silenciosa, mas intensa. Procurava acompanhar tudo o que ocorria no mundo. Comprava o Estadão pelo volume do noticiário, mas ignorava seus editoriais. Votou no marechal Lott contra Jânio, era admirador de Jango e Brizola, detestava Lacerda e a UDN.
O golpe militar foi uma surpresa para ele. Mas não me recordo de vê-lo nem agitado nem preocupado. Mantinha, pelo menos para a sua família, a calma dos que nada devem. Não foi incomodado por ninguém. Naquela Jundiaí, os comunistas eram notórios e inofensivos aos olhos da autoridades de plantão.
O capitão Accioly aparentemente seguiu sua vida de maneira normal. Porém, com o fortalecimento da ditadura, algo foi mudando nele. Passou a se interessar menos por política, a discutir menos intensamente com os amigos, a mostrar um amargor que não exibia antes. Era como se, lenta e inexoravelmente, a chama que fazia brilhar os olhos daquele homem quieto fosse se apagando.
Poucos anos antes de sua morte, o capitão Accioly já não mais existia.
Pelo menos a pessoa com a qual vivi minha juventude e com quem aprendi os valores que mais prezo e que me transformaram em quem sou.
Hoje, muito depois do fim da ditadura, ainda penso nos anos em que vi o capitão Accioly definhar física e intelectualmente. Não consigo separar essas coisas. Para mim, sempre, aquele será um tempo que aniquilou a esperança de um país, os sonhos de gerações e a grandeza de muitos homens.
Não sei o que o Brasil poderia ter sido se não tivesse passado pela ditadura.
Sei apenas que o capitão Accioly teria vivido mais e melhor.
E isso já é motivo suficiente para que eu despreze imensamente todos os responsáveis por essa tragédia que mancha a história brasileira.
Agora, a história se repete.
Meu medo é que, como o capitão Accioly, muitos sucumbam ao pessimismo e deixem as suas vidas se esvair num cotidiano de frustrações, desesperança e desespero.
A sujeira do urubu
30 de Agosto de 2017, 10:26Carlos Motta
Uma das histórias mais famosas entre o pessoal que trabalhou no Jornal da Tarde e Estadão - eles eram divididos por um corredor - é a do urubu.
Contam - não presenciei o ocorrido porque estava em férias - que a ave entrou por um dos janelões e deu alguns sobrevoos pela redação, que entrou em pânico.
Foram registradas, enquanto o animal reconhecia o terreno desconhecido, cenas de histeria, de choro e de nervosismo.
Quanto mais faziam para pegar a negra ave, mais ela se amedrontava, até que entrou numa sala e ficou acuada pelos seguranças, chamados para dar fim ao pandemônio.
Sem saída, com medo, a sua reação foi regurgitar, ou vomitar, como queiram.
Todos sabem que o urubu é considerado o lixeiro da natureza.
Tem uma incrível capacidade de comer qualquer coisa, até mesmo carne pútrida.
Por isso o conteúdo de seu estômago não é muito agradável.
E o cheiro, idem.
Acabaram capturando o bicho, mas o ar ficou empesteado.
A redação demorou para se recuperar do susto.
Da mesma forma que os faxineiros, que tiveram muito trabalho para limpar a sujeira toda.
A aventura do urubu aconteceu há muitos anos.
O Jornal da Tarde nem existe mais.
Mas a ave e o pessoal que se espantou com os rasantes que ela deu no enorme salão do jornal servem como metáfora para o Brasil de hoje, invadido não só por um urubu, mas por um bando deles, cada qual com mais fome, cada qual mais disposto a se empanturrar com qualquer carcaça que encontre.
A diferença entre os dois casos é que agora quem vomita não é o urubu, mas o povo brasileiro, que, atônito com o apetite desses abutres, não sabe como se livrar deles.
Nem estimar quanto tempo será necessário para limpar, se algum dia eles forem embora, a sujeira que estão fazendo.
O trio calafrio
29 de Agosto de 2017, 16:19Temer, Fufuca, Maia.
É inacreditável que um país de mais de 200 milhões de habitantes, PIB de cerca de US$ 2 trilhões, tenha essa trinca em sua cadeia de comando.
O Brasil nunca se rebaixou tanto.
Não é para rir.
É para chorar.
Déficit primário do governo golpista não para de crescer
29 de Agosto de 2017, 16:09O desastre econômico provocado pelo governo golpista se aprofunda cada vez mais: a frustração de receitas no programa de regularização de ativos no exterior e de arrecadação de tributos pagos pelas instituições financeiras fizeram o Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) registrar o maior déficit primário da história em julho. É possível que a máquina pública entre em colapso brevemente, se o cenário fiscal não se alterar.
No mês passado, o resultado ficou negativo em R$ 20,152 bilhões, diante de déficit de
R$ 19,227 bilhões em julho do ano passado. O déficit primário é o resultado negativo nas contas do governo desconsiderando o pagamento dos juros da dívida pública.
Os números foram divulgados pelo Tesouro Nacional. De janeiro a julho, o déficit primário somou R$ 76,277 bilhões, também o pior resultado da história. Nos sete primeiros meses do ano passado, o resultado negativo somava R$ 55,693 bilhões. A comparação, no entanto, foi influenciada pela antecipação do pagamento de precatórios.
Tradicionalmente pagos em novembro e dezembro, eles passaram a ser pagos em maio e junho, piorando o resultado em R$ 18,1 bilhões. O Tesouro decidiu fazer a antecipação para economizar R$ 700 milhões com juros que deixam de ser atualizados.
Os precatórios são títulos que o governo emite para pagar sentenças judiciais transitadas em julgado (quando não cabe mais recurso). De acordo com o Tesouro Nacional, não fosse a antecipação, o déficit primário acumulado de janeiro a julho totalizaria R$ 58,2 bilhões. O resultado negativo, no entanto, continuaria recorde para o período.
De janeiro e julho, as receitas líquidas caíram 3,1%, descontada a inflação oficial pelo IPCA, mas as despesas totais ficaram estáveis, caindo 0,2%, também considerando o IPCA.
Segundo o Tesouro, apenas em julho, o déficit ficou R$ 4,5 bilhões maior em relação ao programado pelo governo. As receitas administradas pelo Fisco vieram R$ 6 bilhões abaixo do previsto. Isso ocorreu por causa de frustrações de R$ 4,6 bilhões na arrecadação do Imposto de Renda Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, principalmente os pagos pelos bancos, e de R$ 1,4 bilhão com o programa de regularização de ativos no exterior, também conhecido como repatriação.
Em relação às despesas, a alta foi puxada pela Previdência Social e pelo funcionalismo público. Os gastos com os benefícios da Previdência Social subiram 6,9% acima da inflação nos sete primeiros meses do ano, por causa do aumento do valor dos benefícios e do número de beneficiários. Por causa de acordos salariais fechados nos dois últimos anos e da antecipação dos precatórios, os gastos com o funcionalismo acumulam alta de 10,9% acima do IPCA de janeiro a julho.
As demais despesas obrigatórias acumulam queda de 9,1%, também descontada a inflação oficial. O recuo é puxado pela reoneração da folha de pagamentos, que diminuiu em 27,9% a compensação paga pelo Tesouro Nacional à Previdência Social, e pela queda de 26,3% no pagamento de subsídios e subvenções. Também contribuiu para a redução o não pagamento de créditos extraordinários do Orçamento ocorridos no ano passado, que não se repetiram este ano.
As despesas de custeio (manutenção da máquina pública) acumulam queda de 10,5% em 2017 descontado o IPCA. A redução de gastos, no entanto, concentra-se nos investimentos, que totalizam R$ 19,953 bilhões e caíram 38,4% de janeiro a julho, em valores também corrigidos pela inflação.
Principal programa federal de investimentos, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) gastou R$ 12,066 bilhões de janeiro a julho, redução de 48%. O Programa Minha Casa, Minha Vida executou R$ 1,656 bilhão, retração de 55,9% na comparação com o mesmo período do ano passado. Essas variações descontam a inflação oficial. (Com informações da Agência Brasil)