Temer faz do Brasil um capitalismo sem ossos
19 de Julho de 2017, 16:14A destruição do Estado brasileiro realizada pelo governo Temer é avassaladora e inédita. A cada semana que se passa, novos desmontes aprovados a toque de caixa por um congresso manchado por inúmeras denúncias de corrupção e que negocia cargos e verbas com um governo ilegítimo que se orienta apenas pelos interesses do mercado financeiro.
Nos últimos dias, além de esfacelar a CLT e lançar dezenas de milhões de brasileiros à incerteza, de propor a regularização de 350 mil hectares de terras griladas na Amazônia (um presente de R$ 500 milhões!), de avançar com o desmonte da Petrobras, ficamos sabendo agora que, em plena recessão, o BNDES reduziu em 17% o volume total de empréstimos no primeiro semestre de 2017 e que o crédito para o setor industrial voltou ao nível dos anos 1990, com uma queda de 42% sobre o mesmo período do ano passado.
Claro que entre os repetidores de sinais que sobram na grande imprensa a ordem é dizer que por conta da crise é hora de “botar a casa em ordem”, “cortar os excessos” e assim em nome da “austeridade” reestabelecer a “confiança” do investidor.
Não custa lembrar, porém, que como bem revela o oportuno Livro Verde do BNDES, em um capítulo especialmente dedicado à gravíssima crise de 2008-2009 (veja nas páginas 24 e 25), naquela ocasião o governo Lula agiu no sentido inverso, não só evitando o aprofundamento da crise, como alavancando uma rápida recuperação da economia que levou a um crescimento de 7,5% do PIB já em 2010.
Entre muitas outras medidas anticíclicas que foram tomadas à época (redução de 5 p.p da taxa Selic; liberação de recursos do compulsório bancário; expansão dos investimentos no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida (MCMV); redução de tributos como o IPI, IOF PIS/Cofins e utilização dos bancos oficiais para expansão das operações de crédito da economia), durante o período mais crítico daquela crise os desembolsos do BNDES saltaram de R$ 79,8 bilhões em agosto de 2008 (no acumulado em 12 meses) para R$ 136,4 bilhões no fim de 2009, enquanto as aprovações de novos empréstimos seguiram a mesma dinâmica, saindo R$ 109,8 bilhões para atingir R$ 170,2 bilhões no mesmo período.
Consequentemente, em vez de colher mais recessão e desemprego como ocorre hoje, sob a corajosa liderança do presidente Lula, a economia reagiu de forma rápida e exitosa. A produção industrial, que havia caído quase 20% no último trimestre de 2008, voltou a crescer aceleradamente já a partir de janeiro de 2009, da mesma forma que o PIB, medido pelo IBC-Br, depois de levar um tombo de quase 8% entre setembro e dezembro de 2008, voltou ao nível pré-crise já em dezembro de 2009.
Infelizmente, contudo, a despeito desses e muitos outros números do Livro Verde que reafirmam de forma contundente a vital importância do BNDES para o desenvolvimento produtivo nacional, nada indica que o presidente Temer e muito menos o ministro Meirelles serão demovidos da ideia de seguir desconstruindo os pilares do Estado brasileiro, pois atendem a outros interesses que não os do conjunto da nação. (Marcelo P.F.Manzano/Fundação Perseu Abramo)
Protagonismo internacional do Brasil agoniza depois do golpe
19 de Julho de 2017, 16:09Dois acontecimentos mostraram o arrefecimento crescente da política externa brasileira: a pouca representação do país no Fórum Acadêmico do Brics e a emenda para mudar o nome da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Ambos os fatos decorrem de uma vontade das forças que estão no poder para entregar o Brasil de bandeja aos países centrais, tornando-o um ator pequeno no cenário mundial, submisso e omisso frente às vontades imperialistas.
Um dos pontos altos durante os governos de Lula e Dilma foi, sem dúvida, o projeto de política externa. Tendo como eixos principais a integração latino-americana e as relações no chamado Sul global, a política externa projetou o Brasil para o mundo, tornando-o um importante player mundial. Vimos a refundação do Mercosul, a criação da União de Nações Sul-americanas (Unasul), do Brics e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), além da institucionalização da Unila que seria um mecanismo para integrar os estudantes da América Latina e, assim, promover o intercâmbio de conhecimento na região.
O Brics tornou-se um importante canal entre Brasil, Rússia, China e África do Sul para coordenação das atuações desses países em outras instâncias como, por exemplo, o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ademais, em 2014 foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, o que fortaleceria economicamente a aliança entre esses emergentes.
Porém, depois da posse do governo golpista e das nomeações de atrapalhados títeres do PSDB para o Ministério das Relações Exteriores, o diálogo com o Sul vem perdendo força frente a uma priorização das relações com os países centrais, como os Estados Unidos e a União Europeia. Nesse sentido, durante o Fórum Acadêmico dos Brics, que ocorreu na China, entre os dias 10 e 12 de junho, a pouca participação brasileira foi sintomática. O Itamaraty e o “presidente” mandaram para o evento representantes de baixo escalão, que não articularam nenhuma estratégia para o fortalecimento do Brics, tampouco demonstraram algum projeto de política externa. (Luana Forlini/Fundação Perseu Abramo)
As esquecidas lições de história
19 de Julho de 2017, 12:05A Polônia vai destruir todos os monumentos "soviéticos", ou seja, os que glorificam o Exército Vermelho, que botou os nazistas para correr de lá.
A Polônia, é bom lembrar, teve um regime comunista, satélite dos soviéticos, depois da Segunda Guerra Mundial, que, como os outros do Leste Europeu, sucumbiu lá pelos anos 90 do século passado.
Hoje o país é capitalista, membro da Otan, alinhado aos Estados Unidos, e seu governo é francamente antirrusso.
Verdade seja dita, poloneses e russos nunca se deram muito bem.
Talvez isso explique essa medida extrema de botar no chão os monumentos que exaltam as tropas soviéticas.
Mas se a gente for pensar um pouco, o que a Polônia está fazendo é simplesmente fraudar a história, apagar um episódio importante de sua vida.
Coisa feia, coisa que, a bem da verdade, quase todo mundo faz - a história não é sempre escrita pelos vencedores?
Quase da mesma forma que a Polônia, o Brasil não faz nenhuma questão de lembrar que há poucas décadas uma ditadura militar prendeu, torturou e matou um monte de gente que se opunha a ela.
Durante 20 anos o Brasil teve um dos regimes mais fechados do planeta, com generais carrancudos e sombrios se revezando na presidência, um Congresso de araque, imprensa e arte censuradas, sindicatos pelegos, e todo o tipo de arbitrariedade contra quem ousasse falar mal do governo - ou simplesmente contra qualquer um de quem as "autoridades" não gostassem.
Torturadores, assassinos e psicopatas sádicos não foram até hoje, tanto tempo depois do fim da ditadura, punidos pelo que fizeram - uma anistia absurda perdoou os seus crimes, crimes contra a humanidade.
Pior - alguns deles posam como heróis, dão entrevistas desafiadoras, mentem de maneira descarada, e afrontam, com essas mentiras, a memória de todas as vítimas de sua crueldade.
Os brasileiros mais jovens não têm a menor noção do que foi a ditadura e do mal que ela fez ao país.
Ao contrário, muitos deles glorificam hoje uma figura abjeta como o deputado Bolsonaro, apoiador incondicional da ditadura, e que tem chances de se sair bem na eleição presidencial marcada para o próximo ano.
Dizer que um dos problemas mais graves do país é a educação, ou a falta dela, já se tornou um chavão.
Falta, porém, enfatizar que, se por um desses grandes acasos, o ensino se tornar realmente uma prioridade para os nossos governantes, ele deveria abrigar lições de história, não só aquelas de um passado distante, mas de uma época mais recente, cujos eventos ainda têm forte reflexo sobre a vida da nação. (Carlos Motta)
Com a crise, só 17% dos brasileiros conseguem guardar dinheiro
18 de Julho de 2017, 14:49Dados do Indicador de Reserva Financeira do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelam que apenas 17% dos consumidores brasileiros pouparam ao menos parte de sua renda em maio – 75% dos entrevistados não conseguiram guardar nenhuma parte de seus rendimentos. O baixo número de poupadores tem se mantido estável desde janeiro deste ano, mês de início da série histórica.
A abertura do indicador por faixa de renda revela que é nas classes C, D e E em que o problema surge com mais força. Oito em cada dez (79%) pessoas que se enquadram nessa faixa de rendimento não conseguiram poupar dinheiro. Já nas classes A e B, o percentual de não poupadores cai para 62% da amostra.
Entre os brasileiros que não pouparam nenhum centavo, 42% justificam receber um salário muito baixo, o que inviabiliza ter sobras no fim do mês. Outros 18% foram surpreendidos por algum imprevisto financeiro e 16% relataram falta de controle ou de disciplina nos gastos.
A maior parte dos brasileiros também não tem o hábito de poupar. De acordo com a sondagem, 35% dos consumidores dizem poupar habitualmente, sendo que 31% poupam o que sobra do orçamento e 5% poupam sempre o mesmo valor. Pouco mais da metade dos poupadores (52%) precisaram dispor de parte de suas reservas em maio, sendo que 18% usaram para fazer frente a despesas extras, 15% para pagar as contas da casa e 11% para pagar dívidas. Já os imprevistos foram citados por 8%.
O rosto destes tempos de ódio
18 de Julho de 2017, 11:07Tanto fizeram, tanto encheram a cabeça dos brasileiros de idiotices, criando um monstro vermelho culpado por todos os males do mundo, que o que antes parecia impossível cada vez mais surge como uma apavorante realidade - um Brasil governado por um fascista declarado, misto de general de opereta e Bonaparte de hospício, o notório deputado Bolsonaro.
Há pouco a falar sobre o que o ídolo dos bombados, viúvas da ditadura, lutadores de MMA e descerebrados em geral, pensa sobre questões políticas ou morais - a cada entrevista que dá, a cada discurso que faz, ele vomita suas frases de ódio e preconceito contra tudo o que tangencia os valores civilizatórios responsáveis pelo progresso da humanidade.
Pouco, porém, se sabe de sua plataforma econômica, sobre o que o deputado pensa - se ele de fato tiver essa capacidade - a respeito de questões prioritárias da vida nacional, a começar sobre a mais vital, neste trágico momento, que é como sair do buraco que os golpistas cavaram e no qual foram jogados 15 milhões de desempregados, milhares de empresas, e todos os sonhos de construção de uma nação menos desigual e mais democrática.
Os militares, tão cultuados pelo deputado fanfarrão, tiveram duas décadas para fazer deste gigante bobo um país respeitado pelos do Primeiro Mundo, mas falharam miseravelmente.
Ele tiveram duas décadas e todo o poder em suas mãos: o único desejo dos generais-ditadores contrariado foi a convocação do goleador Dadá Maravilha, naquele tempo ainda chamado de Dario, para a seleção que disputaria a Copa do México, em 1970, quando ela ainda era dirigida pelo saudoso João Sem Medo, o João Saldanha de tantas histórias:
- O presidente [general Emilio Garrastazu Médici] escolhe quem quiser para o seu ministério, mas a seleção quem escala sou eu - disse o treinador, encerrando a questão.
Sem nada a acrescentar sobre os temas que realmente importam para o futuro do país, o deputado verde-oliva vai ocupando o seu espaço eleitoral, no vácuo de algum outro candidato de direita capaz de encarnar a tão cultivada repulsa às esquerdas em geral, promovida pelo establishment como peça fundamental da operação para consolidar o poder político, social e econômico.
Bolsonaro, por si só, é um personagem grotesco, que numa democracia de verdade estaria relegado à galeria dos bufões da política, ao lado de um Tiririca ou de um Romário.
Neste Brasil Novo, protagonizado por figuras igualmente bizarras, ele se destaca e atrai parte considerável do eleitorado, a massa deformada por anos de propaganda ideológica emburrecedora.
Não há como negar que o fascismo já se incrustou em boa parte da sociedade brasileira, e que o deputado boquirroto é quem o representa de forma mais inequívoca.
Para quem é saudoso do tempo em que a arte e a informação eram censuradas sem dó nem piedade, cidadãos eram presos, torturados e mortos porque pensavam de modo diferente das autoridades, as classes sociais se mantinham rigidamente estabelecidas, os conceitos de moralidade eram determinados por meia dúzia de seres iluminados, e a liberdade, em geral, era apenas um conceito abstrato, ou para quem ouviu dizer que esse foi um tempo de "ordem e progresso", o deputado-coturno é um prato cheio.
Os glutões certamente vão se lambuzar. (Carlos Motta)






