O amigão do peito do João Trabalhador
4 de Abril de 2017, 10:08Dize-me com quem andas e eu te direi quem és.
A frase é velha conhecida dos brasileiros e embora batida, serve perfeitamente para mostrar o caráter de determinadas pessoas que vestem publicamente o manto da moralidade.
É o caso, por exemplo, do prefeito paulistano, o "João Trabalhador", amigo do peito de um típico "self-made man", o dono da Ultrafarma, Sidney Oliveira.
Ele é tão amigo do João que contribuiu com dinheiro para a sua vitoriosa campanha eleitoral, doou medicamentos (com prazo de validade de seis meses) para a Prefeitura, e pagou a propaganda do projeto "Cidade Linda" em dois jogos da seleção brasileira de futebol.
O João, por sua vez, aproveitou uma reunião de seus liderados na prefeitura para fazer um "merchandising" das vitaminas produzidas pelo amigão.
Os dois, parece, são, como dizem, unha e carne.
Por isso é improvável que o João não saiba quem é o Sidney, de onde ele veio, como ele ficou milionário etc e tal - essas coisas que a gente conhece muito bem quando se trata dos nossos amigos do peito.
De qualquer forma, caso o João não tenha tido a curiosidade de fuçar o passado do Sidney, vai aqui para ele a historinha do simpático dono de farmácia, contada pela insuspeita revista "Exame" em fevereiro de 2011.
É uma história e tanta, e que dá bem uma ideia de como agem os nossos bem-sucedidos e patrióticos empresários.
Os concorrentes odeiam este homem
Sidney de Oliveira fez a Ultrafarma crescer 150 vezes em quatro anos. E se tornou o personagem mais polêmico de seu setorPor Denise Carvalho e Marcelo Onaga
A drogaria Ultrafarma, de São Paulo, tinha tudo para ser apenas mais um entre milhares de pequenos negócios do varejo brasileiro. Até 1998, seu fundador, o paranaense Aparecido Sidney de Oliveira, era visto como dono de farmácia de bairro, com pouca experiência no ramo e sem condições de incomodar as grandes redes. Há apenas cinco anos, o faturamento da companhia mal ultrapassava a casa do milhão de reais ao ano, enquanto a líder do setor — a Drogaria São Paulo — já beirava a casa do bilhão. Mas os tempos de vacas (e vendas) magras ficaram para trás. A Ultrafarma continua pequena diante das grandes empresas do setor, como Onofre, Drogasil e Drogaria São Paulo, mas já não é mais vista como uma concorrente inofensiva, uma drogaria de vizinhança. O instituto IMS Health, que compila e analisa dados dessa área, estima que a receita da empresa em 2005 tenha sido de 180 milhões de reais — um crescimento de inacreditáveis 15 000% em pouco mais de quatro anos. Por dia, são feitos mais de 50 000 atendimentos, 70% deles por telefone. A empresa recebe pedidos até mesmo por carta, de todas as regiões do país. Tudo isso faz da Ultrafarma o maior fenômeno do varejo em seu setor — e, de Oliveira, o personagem mais polêmico desse mercado. A enorme rivalidade surgida entre ele e seus concorrentes é reflexo das condições peculiares que regem a concorrência no varejo brasileiro — um problema que atinge vários outros setores da economia. A disputa entre a Ultrafarma e as demais redes de farmácias não está no âmbito de quem tem a melhor gestão ou a estratégia mais inovadora. Mas em como essas vantagens competitivas são alcançadas — no caso, por Oliveira.
Sorridente, bonachão e dono de uma excepcional capacidade de promover sua empresa e a si próprio, Oliveira ganhou fama por distribuir Bíblias à clientela, dar os maiores descontos do mercado — em alguns casos de até 80% — e por estampar o próprio rosto no logotipo da Ultrafarma. Sua agressividade comercial já lhe rendeu problemas com a Justiça. Na década de 90, Oliveira foi condenado duas vezes à prisão — uma por receptação de medicamentos roubados e outra por prejudicar fornecedores e funcionários numa falência fraudulenta de uma de suas primeiras farmácias. Nos dois casos, cumpriu a pena em liberdade. Mais recentemente, foi acusado oficialmente de sonegação fiscal. Num desses inquéritos, registrado sob o número 285-04 na Delegacia de Crimes contra a Fazenda, em São Paulo, Oliveira recebeu multas no valor total de 4,3 milhões de reais. A última delas, de 2,5 milhões, foi expedida há pouquíssimo tempo, no fim de maio. O empresário ainda pode recorrer. “A Ultrafarma é a ponta mais vistosa de um iceberg de informalidade que tomou conta do setor farmacêutico”, diz Sérgio Mena Barreto, presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias.
Aos 53 anos, Oliveira costuma atribuir os problemas que tem com a Justiça à perseguição das grandes redes de drogarias. Ele alega que os descontos que oferece reduzem bastante as margens de lucro de seus concorrentes — daí a perseguição e o ódio. Em suas próprias palavras, a Ultrafarma é um “modelo revolucionário de negócios”. Esse modelo incluiria a negociação direta com fabricantes, a redução de custos, com a contratação de funcionários terceirizados, e a economia de gastos nas instalações. A empresa possui apenas duas lojas, ambas localizadas no bairro do Jabaquara, na zona sul de São Paulo. Além de dar descontos, seu grande trunfo, Oliveira aposta num marketing agressivo. No ano passado, investiu 15 milhões de reais em uma campanha de TV, valor equivalente a quase 10% de seu faturamento.
Ao analisar as bases do “modelo revolucionário” da Ultrafarma, é possível detectar algumas contradições com a realidade e colisões com a legislação. Oliveira atribui seus altos descon tos a negociações em grande escala com os fabricantes, o que faria todo o sentido. Os representantes dos principais laboratórios farmacêuticos, porém, o desmentem e dizem que os volumes encomendados pela Ultrafarma não justificam a venda direta. Recentemente a Medley, grande fabricante de medicamentos genéricos do país, enviou um ofício à drogaria exigindo que fosse interrompida a veiculação de uma propaganda na qual era citado um suposto acordo entre todos os laboratórios e a Ultrafarma. “Não vendemos para a Ultrafarma. Ela só oferece remédios da Medley porque compra de distribuidores”, afirma um alto executivo da empresa, que preferiu manter o anonimato.
Os baixos custos com pessoal, alardeados por Oliveira como vantagem competitiva, também foram questionados na Justiça. Até meados do ano passado, dos quase 1 000 funcionários da drogaria, apenas 38 eram contratados com registro em carteira. Outros 900 eram fornecidos pela Farmacoop, cooperativa de trabalhadores que tem sua sede a poucos metros da drogaria de Oliveira e que só prestava serviços à Ultrafarma. Uma decisão do Ministério Público do Trabalho considerou ilegais as contratações de cooperados e determinou a regularização de todos os funcionários a partir de junho de 2005. Pode-se questionar a arcaica legislação trabalhista brasileira que impede a flexibilização nas relações entre patrões e empregados. O que os concorrentes alegam — não sem razão — é que, enquanto essa legislação vigorar, deve ser seguida por todos. “É muito fácil ter custos reduzidos quando não se pagam férias, FGTS, 13o salário e todos os direitos de 900 trabalhadores”, diz Andréa Tertuliano de Oliveira, procuradora do Trabalho.
O setor farmacêutico é considerado um dos mais complicados em matéria de sonegação fiscal. Estudo recente da consultoria McKinsey, feito para o Instituto Etco, mostra que as três maiores redes de drogarias do país, que detêm cerca de 20% do mercado, respondem por quase metade da arrecadação do setor. A outra metade é paga por cerca de 55 000 farmácias que detêm o restante das vendas — sinal claro de que tem gente pagando menos impostos do que deveria. Para os concorrentes da Ultrafarma, a empresa se encaixa nessa categoria e o bom desempenho dos últimos tempos só é possível graças a práticas pouco ortodoxas de administração. “É o milagre da sonegação”, diz um grande empresário do setor. Procurado por EXAME, Oliveira recusou-se a conceder entrevista. Apenas afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “tem uma trajetória de 32 anos de idoneidade no setor”. Palavra de um empresário polêmico — e bastante odiado.
Mais imposto, mais recessão
3 de Abril de 2017, 15:41A despeito dos R$ 92,35 bilhões de arrecadação em fevereiro, o Ministério da Fazenda admitiu que adotará medidas de aumento das receitas para garantir o cumprimento da meta fiscal. Isto porque, a alta real de 0,36% frente ao mesmo mês do ano passado não foi suficiente para sinalizar o cumprimento da meta de R$ 139 bilhões para 2017.
O governo em sua insistência fiscal contracionista dificulta a retomada da economia e comprime a arrecadação fiscal, estabelecendo um ciclo vicioso.
O aumento dos impostos em um momento de significativa recessão da economia apenas retroalimenta essa dinâmica perniciosa.
Desemprego em alta, compressão da renda do trabalhador, forte endividamento das famílias e empresas marcam essa dinâmica.
Nesse ambiente já extremamente adverso a retomada da economia, um relaxamento fiscal deveria se fazer presente, tendo em vista o atual nível da recessão.
O Banco Central deveria acelerar a redução da Selic, junto com outras ações anticíclicas, como uma maior participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e demais bancos públicos, assim como um programa de investimentos em infraestrutura muito mais ambicioso.
Isto é, o investimento público deveria ser complementar ao privado. Medidas assim ensejariam um maior dinamismo na economia e ajudariam a repor as receitas fiscais solapadas com a perda da atividade econômica. (Igor Rocha, economista/Fundação Perseu Abramo)
Chilenos querem desprivatizar a Previdência Social
3 de Abril de 2017, 15:39Em 1981, em plena ditadura militar no Chile, o governo Pinochet, por orientação dos monetaristas norte-americanos que o assessoravam, privatizou a Previdência Social. O sistema existente era parecido com o brasileiro, baseado na repartição e sustentado pelas contribuições de trabalhadores e empregadores, administrado pelo Estado.
Quem preferisse, poderia permanecer no sistema existente, como a maioria dos contribuintes fez, mas os recém-ingressados no mercado de trabalho foram obrigados a aceitar o novo sistema privado. Ele era composto por fundos individuais reunidos em diferentes “Administradoras de Fondos de Pensiones” (AFPs), aos quais os trabalhadores aderiam e contribuíam com 10% de seus salários.
Os “Fondos” aplicavam essas contribuições de acordo com as escolhas dos trabalhadores por investimentos de maior ou de menor risco. Quando cumprissem 65 anos, homens, e 60 anos, mulheres, poderiam começar a receber suas aposentadorias mensalmente, de acordo com o resultado das aplicações dos fundos individuais. A propaganda governamental a favor dos “Fondos” era forte e afirmava que os trabalhadores estavam se tornando sócios das empresas por meio dos investimentos em ações.
O movimento sindical chileno, na medida em que readquiria presença política no país, denunciava a falácia e os riscos do sistema, mas poucos lhe davam atenção, pois os que aderiram às AFPs, em 1981, somente agora começaram a receber suas aposentadorias e verificar na prática o mau negócio que fizeram.
Em primeiro lugar, o montante de cada fundo individual depende do sucesso dos investimentos que muitas vezes foram de baixo retorno e algumas AFPs chegaram a falir. Segundo, o que cada um receberá por mês, depende também da expectativa de vida que os “Fondos” lhe atribuem e que buscam esticar ao máximo para não correr o risco de os recursos serem todos pagos antes do falecimento do aposentado. Para isso, argumentam que “não há problemas”, pois, o saldo dos fundos individuais gera heranças para esposas ou filhos dos aposentados.
A consequência do engodo é que mais de 90% dos aposentados atuais recebem menos do que meio salário mínimo chileno que é PCh 154.000,00 equivalente a aproximadamente R$ 730,00. Diante disso, os protestos vêm se avolumando. Em julho de 2016, houve uma mobilização contra o sistema de aposentadoria sob a consigna “No + AFP”, que reuniu 750 mil pessoas em todo o país. Em agosto, a mobilização cresceu e envolveu 1,3 milhão de pessoas e, por último, no dia 26 de março deste ano, somente em Santiago reuniram-se 800 mil manifestantes e 2 milhões em todo o país.
O “No + AFP” se deve à proposta do governo de Michele Bachelet de criar uma AFP estatal para incluir os trabalhadores que não tem acesso aos “Fondos” privados e dar garantias contra maus investimentos e falências. No entanto, o povo chileno reivindica um sistema de repartição com financiamento tripartite, como o que ainda existe no Brasil, apesar de os golpistas querer reformá-lo para reduzir o valor das aposentadorias e fazer que os trabalhadores usufruam o seu direito de se aposentar, o mais tarde possível.
O governo neoliberal de Menem, na Argentina, no início dos anos 1990, introduziu um sistema semelhante ao chileno. Posteriormente a presidenta Cristina Kirchner, diante das reivindicações dos trabalhadores, o reestatizou. Reflitamos: se o sistema privado fosse bom, nem argentinos, nem chilenos reclamariam, não é verdade? Então, por que nós, brasileiros, deveríamos aceitá-lo? (Kjeld Jakobsen, consultor em cooperação e relações internacionais/Fundação Perseu Abramo)
Reforma trabalhista provoca mais desemprego
3 de Abril de 2017, 15:31Artigo dos pesquisadores Dragos Adascalitei e Clemente Pignatti Morano, publicado no IZA Journal of Labor Policy, aponta que medidas de desregulamentação do mercado de trabalho aumentam a taxa de desemprego no curto prazo quando aprovadas em momento de crise.
Em momentos de estabilidade econômica, no entanto, a implementação de reformas de desregulamentação do mercado de trabalho não tem efeito estatisticamente significante na taxa de desemprego.
O artigo utiliza dados de 110 países desenvolvidos e em desenvolvimento entre 2008 e 2014 e defende que a prevalência de desemprego alto e crescente afeta positivamente a probabilidade de desregulamentar as leis trabalhistas.
Os resultados do artigo podem ajudar na compreensão das medidas propostas pelo governo Temer, na medida em que apontam que reformas trabalhistas no sentido de flexibilizar ou desregulamentar as relações de trabalho (como a terceirização), se realizadas em momento de crise econômica como a que vivemos, podem aumentar o desemprego no curto prazo, retroalimentando a depressão econômica em que o país se encontra. (Ana Luíza Matos de Oliveira, economista/Fundação Perseu Abramo)
As grandes esperanças brancas
3 de Abril de 2017, 11:07O Dr. Mesóclise é, sem nenhuma dúvida, o pior presidente da história do Brasil.
Bate com folga tipos como José Sarney, FHC e Collor.
Os ditadores militares são hors concours, evidentemente.
Político que viveu e cresceu nas sombras, à custa de esquemas e negociatas com pessoas da mesma dimensão, um "vice decorativo", como bem se definiu, o Dr. Mesóclise quando teve de se expor à luz do sol, simplesmente derreteu.
O fato de ter se cercado dos mais repulsivos representantes da classe política já seria um sinal mais que evidente de sua personalidade e caráter.
Mas ele foi muito além, ao propor - e pôr em execução - medidas radicalmente contrárias às da chapa que compôs e que venceu as eleições em 2014, numa demonstração de que, desde sempre, atuou como um cavalo de Troia, um infiltrado nas hostes do "inimigo" - um traidor, enfim.
Certo que o Dr. Mesóclise não age, no desmanche que promove no mínimo Estado de Bem-Estar Social montado pelos trabalhistas, sozinho, por inspiração e desejo próprios.
É apenas um pau-mandado da oligarquia nacional, essa que não suporta ver a diminuição das desigualdades sociais que fazem do país um imenso Haiti.
Mas como tudo, mais dia, menos dia, o Dr. Mesóclise desaparecerá, será substituído, muito provavelmente por outro fantoche dos endinheirados - o golpe que o colocou no comando do Executivo, afinal, também foi promovido para barrar qualquer pretensão do campo progressista de voltar ao Palácio do Planalto.
As opções que tem a Casa Grande não são, porém, muitas, ao contrário dos balões de ensaio que semanalmente aparecem nos jornalões.
Luciano Huck, francamente...
De todos, um dos mais seriamente considerados é o novo prefeito paulistano, portador de várias "qualidades" apreciadas pelos oligarcas nacionais.
Pode-se mesmo dizer que ele faz parte da turma.
O seu maior problema, no entanto, é justamente o mesmo do Dr. Mesóclise, ou seja, uma fraqueza intelectual de dar dó, que tem sido, por enquanto, mascarada por uma agressiva estratégia de marketing.
Todo embuste tem prazo de validade.
É bem provável que a máscara do engomadinho caia bem antes de a campanha eleitoral de 2018 começar - se é que haverá eleição nesse ano. (Carlos Motta)









