Uma pesquisa com os meus botões
7 de Março de 2017, 11:32Fiz uma pesquisa com os meus botões e cheguei à seguinte conclusão: 92,73% do pessoal que bateu panelas, saiu às ruas com a camisa da CBF, xingou a presidenta Dilma de "vaca" e o ex-presidente Lula de "ladrão", "apedeuta", "bêbado", e outros tantos termos do mesmo quilate, não tinha a menor ideia do que seria o país pós-impeachment e livre dos "petralhas".
Desses 92,73%, mostra o meu levantamento, 71,13% achava que o substituto da presidenta seria o implacável Aécio Neves. O restante pensava que o Palácio do Planalto ficaria ocupado ou pelo mito Bolsonaro, ou pelos seguintes personagens: Silas Malafaia, Eduardo "somos milhões" Cunha, Geraldo "o santo" Alckmin, José "careca" Serra, e Pelé.
Ah, também houve menções ao ex-presidente Lula...
No que toca à vida pós-golpe, ou seja, essas coisas triviais como trabalho, emprego, aposentadoria, moradia, saúde, educação, esse blá-blá-blá todo sem nenhuma importância na dinâmica de uma sociedade civilizada, 65,52% dos apoiadores do golpe responderam que não tiveram nenhuma preocupação em saber os planos do novo governo para essas áreas.
Para eles, disseram, importante mesmo era ter acabado com os "petralhas".
Os outros dividiram suas respostas em: não haverá mais impostos; acabará o limite de velocidade nas estradas; os "privilégios" dos negros serão extintos; a homossexualidade será decretada crime; e as escolas serão obrigadas a ensinar religião.
Sobre o futuro do país, 45,13% dos homens de bem que vestiram verde e amarelo nas ruas no ano passado disseram que só o "Bolsomito" arrumará a situação; 30,42% pediram "intervenção militar constitucional"; 15,67% acham que a salvação é o Brasil virar um Estado norte-americano, sob a liderança de Trump; e o restante afirmou que o futuro a deus pertence e o importante foi ter tirado os "petralhas" do poder.
A pesquisa se encerrou por aí.
Meus pobres botões estavam extenuados.
Um deles resumiu o sentimento de todos:
- Vamos esquecer o que fizemos, vamos ver se o Jornal Nacional, a Veja, a Folha, o Globo, o Estadão, algum desses jornalistas que sabem de tudo, pode nos explicar o que aconteceu e o que pode acontecer daqui para a frente.
E se calou, num mutismo característico de um botão. (Carlos Motta)
O tamanho do desastre: 34% dos consumidores estão no vermelho
6 de Março de 2017, 18:34Um novo indicador do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), denominado Uso de Crédito e de Propensão ao Consumo, que busca reunir dados sobre a evolução da utilização de crédito e consumo em geral pelos consumidores, revela a a grandiosidade do desastre provocado pelos golpistas na economia brasileira.
Ele aponta que 58% dos consumidores pretendem cortar gastos no mês de março, enquanto 31% afirmam que vão manter os gastos e somente 5% disseram que vão aumentá-los. O levantamento também mostra que mais de um terço dos entrevistados (34%) estão no vermelho, ou seja, não conseguiram pagar todas as contas em fevereiro. Quase metade (49%) estão no zero a zero - sem sobras e sem falta de dinheiro - e 15% estão com sobras, sendo que 11% pretendem guardar o excedente e 4% querem gastar.
Entre os itens que os consumidores pretendem comprar no próximo mês estão os de farmácia (33%), recarga de telefone (28%), vestuário (27%), perfumes e cosméticos (21%), e serviços de salão de beleza, citados por 11% dos entrevistados.
43% dos consumidores utilizaram algum tipo de crédito em janeiro. O cartão de crédito é o meio mais utilizado
O estudo também busca medir, numa escala de zero a 100, a utilização de crédito pelos consumidores no mês anterior à pesquisa, sendo considerados empréstimos bancários, financiamentos, cartões de crédito, de loja, crediários, e limite do cheque especial. Quanto mais próximo de 100 estiver o indicador, maior o uso do crédito; quanto mais distante, menor o uso. No mês de fevereiro, foram registrados 27,9 pontos. Em termos percentuais, 43% dos consumidores disseram ter utilizado algum tipo de crédito em janeiro, sendo que o cartão de crédito foi a modalidade mais utilizada pela maioria (39%, com gasto médio de R$ 805,73), seguido de cartão de loja e crediário (14%, com gasto médio de R$ 336,37) e limite do cheque especial (6%). Houve também utilização de empréstimos (5%) e financiamentos (3%), modalidades com critérios de concessão mais rigorosos.
Com o desemprego em alta, gastos considerados supérfluos ficaram em segundo plano. Entre aqueles que utilizaram cartão de crédito, a maioria o fez uso para itens de necessidade: 57% para alimentação ou supermercado, 45% farmácia ou remédios, 34% itens de vestuário, 29% para combustível.
Entre os que utilizaram crediário, os itens mais adquiridos foram de vestuário (42%), alimentos (24%), eletroeletrônicos (10%) e eletrodomésticos (8%) - geralmente as lojas oferecem crediários por meio de carnê ou cartão da própria loja para os itens citados, por isso eles se destacam nestas modalidades.
Já entre os que possuem financiamentos, 20% utilizaram para comprar carro, 17% para eletrodomésticos, 9% para apartamento, 9% faculdade e 9% também para móveis.
Com relação ao acesso ao crédito, 46% dos entrevistados disseram ter cartão de crédito, 28% possuem cartões de loja ou crediário e 19% têm cheque especial à disposição. Também são citados empréstimos (17%) e financiamentos (18%), ambos com parcelas em aberto.
Ensino superior teve expansão maior no Norte e Nordeste
6 de Março de 2017, 15:18O capítulo de Danilo Jorge Vieira no livro “Desenvolvimento regional no Brasil: políticas, estratégias e perspectivas” trata da expansão do ensino superior de 1995 a 2014 em relação ao desenvolvimento regional.
Como mostra a tabela abaixo, a taxa de crescimento do ensino superior foi mais alta nos anos 2000 do que em outros períodos analisados, para todo o país. Mas a análise por regiões mostra que o crescimento do ensino superior foi acima da média nacional no Norte e o Nordeste, tanto em termos de número de Instituições de Ensino Superior (IES) 6,7% e de 5% ao ano para o conjunto do Brasil, entre 1995 e 2014, enquanto Norte e Nordeste cresceram a taxas anuais de 9,9% e 8,2% e 8,5 e 8,3%, nessa ordem.
Assim, o Norte praticamente duplicou sua participação no total nacional de matrículas e IES nos anos analisados. O Nordeste, por sua vez, além de também ter dobrado sua participação no número de IES, registrou aumento relativo de 38,8% nas matrículas, superando a região Sul.
Tal fenômeno atenuou assimetrias e propiciou o surgimento e a expansão de áreas de geração e difusão de conhecimento. A maior expansão territorial do sistema de ensino superior cria condições mais promissoras de desenvolvimento regional e pode estimular o surgimento de novas centralidades geradoras de conhecimento científico e tecnológico para além das áreas tradicionais.
O reconhecimento dessas virtuosas mudanças, no entanto, não pode obscurecer o fato de que as atividades de ensino superior (bem como pedidos de patentes e produção científica) continuam muito concentradas no Sudeste, em especial em São Paulo.
Boicote
6 de Março de 2017, 10:31As histórias do Condomínio Feliz Cidade
5 de Março de 2017, 9:44Dias atrás coloquei na rede um blog chamado "Condomínio Feliz Cidade", na realidade uma pequena novela com 20 capítulos, ou minicontos, nos quais o narrador, por coincidência também chamado Carlos, conta alguns aspectos de sua vida num desses edifícios tão comuns nas grandes, médias e até minúsculas cidades - Serra Negra, onde vivo, tem 27 mil habitantes e dezenas de edifícios.
Sempre gostei de ler, assistir e ouvir histórias, e de uns anos para cá passei a contá-las, em contos curtos, 50 deles reunidos num e-book que lancei, "O Riso Frouxo do Homem Insignificante" ( download aqui ), e num outro blog, Contos do Motta.
O silêncio vale ouro
Recebi a notícia do Zé, porteiro da manhã, logo que ia saindo para trabalhar - deixo meu carro estacionado na rua mesmo e alugo a vaga da garagem, pois assim reforço o orçamento, o Uno ninguém vai querer roubar de tão velho que é:- Dona Marta quer falar com o senhor.
Antes que perguntem, eu respondo: Dona Marta é a síndica do prédio. Viúva, mandona, mas nunca me incomodou. O que será que ela quer? Olhei para o relógio e vi que dava tempo para uma conversa:
- Liga pra ela, Zé.
O Zé é meio esquisito, calado, mal dá bom dia para os moradores, mas é de confiança. Dizem que tem uma filha doente que cria sozinho - a mulher largou dele já faz uns dez anos. Isso, porém, é outra história.
- Dona Marta, tudo bem? Estou à sua disposição.
E ela me conta que havia recebido uma queixa - não disse de quem - sobre eu ter feito barulho, sei lá, como se estivesse martelando alguma coisa, no domingo - claro que o condomínio não permite isso. Achei estranho. A única coisa diferente que fiz no domingo foi pensar seriamente em arranjar outro emprego. Será que pensei alto demais?
Para não encompridar a conversa, pedi desculpas, falei que estava mesmo pregando um quadro da Norinha na parede (a Norinha é a minha filha, tenho um casal, o menino a gente chama de Beto), quase me convenci da mentira, dona Marta até que foi gentil, me passou um sermão leve e me desejou bom dia.
No caminho para o trabalho lembrei que o tal barulho bem que poderia ter sido obra do Beto - ele é o tipo de garoto capaz de surpreender a gente.
Mas confesso que não escutei nada.
Nem o Beto seria capaz de ferir a modorra de um domingo.