Para evangélicos, capitalismo é solução para problemas do capitalismo
августа 23, 2017 17:03Pesquisa desenvolvida para a tese de doutoramento em Antropologia Social do antropólogo Carlos Andrade Rivas Gutierrez, defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, analisou a reflexividade evangélica a partir da produção crítica e da construção de projetos de vida de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). De acordo com o estudo, orientado pelo professor Ronaldo Rômulo Machado de Almeida, a crescente necessidade de participação em diversos âmbitos, além do religioso, tem exigido desse segmento a incorporação de novos saberes e competências. Esse repertório ampliado, por sua vez, tem transformado o modo como os evangélicos refletem sobre si mesmos e acerca de diferentes mundos, entre eles o da própria religião, o da política e o do trabalho.
Gutierrez conta que escolheu a IURD para investigar a reflexividade dos evangélicos porque a igreja apresenta características próprias. De acordo com o Censo de 2010, trata-se da quarta maior denominação evangélica do Brasil, ficando atrás, respectivamente, da Assembleia de Deus, Igreja Batista e Congregação Cristão do Brasil. “Além disso, a IURD conta com um amplo aparato midiático, composto pela Rede Record, Portal R7, estações de rádio e editora. Também possui forte ligação com o Partido Republicano Brasileiro (PRB), sendo que seus fiéis compõem a maior parte de dos quadros diretivos e dos parlamentares da legenda”, elenca.
Na pesquisa, o antropólogo concentrou a análise sobre a reflexividade dos evangélicos com base em três temas: política, empreendedorismo e gênero. “Apesar de fiéis e pastores de outras igrejas evangélicas também refletirem sobre essas questões, na Universal essa prática está muito mais sistematizada. Além da citada ligação com o PRB, a igreja promove, por exemplo, reuniões específicas e cursos para empreendedorismo e gênero”, explica Gutierrez. O pesquisador se refere a algumas iniciativas da IURD, como a realização de reuniões entre empresários e de cursos de gestão financeira. “A igreja também mantém um programa denominado IntelliMen, voltado a formar ‘homens melhores’. A ideia é buscar uma terceira via entre o macho e o ‘afeminado’, ou seja, um homem cavalheiro, gentil, polido, educado e respeitador”, relata Gutierrez.
Durante cinco anos, o autor da tese acompanhou essas e outras atividades patrocinadas pela Universal, especialmente em São Paulo. “Realizei mais de cem idas a diversos cultos da igreja, onde entrevistei fiéis, obreiros, pastores e bispos. As entrevistas mais longas e detalhadas foram com os membros, o que me possibilitou um amplo acesso a esse universo e a seus projetos de vida”, pontua o pesquisador. Segundo Gutierrez, por meio do método da “observação participante” ele pode presenciar diversos momentos em que os evangélicos produziam julgamentos, críticas e opiniões com relação à política, à religião, à estrutura de classes no Brasil, à desigualdade econômica, às diferenças entre gêneros e, consequentemente, aos planos que traçam para o próprio futuro, tendo em vista as condições objetivas em que vivem.
O pesquisador diz que encontrou dificuldades para obter as informações pretendidas. “A Universal é uma instituição muito fechada e que sofreu ataques sistemáticos nos anos 90, principalmente da mídia. Por isso, seus membros são bem desconfiados com relação a pesquisadores. Demorou um certo tempo até que eu pudesse conquistar a confiança de alguns interlocutores, que me ajudaram muito ao me colocar em contato com outras pessoas e também ao dividirem suas vidas comigo. De todo modo, privilegiei situações públicas, ou seja, abertas a quaisquer pessoas, em que pude observar in loco o processo de produção de críticas e julgamentos”.
No que se refere à dimensão da política, continua o autor da tese, a reflexividade dos evangélicos indicou uma preocupação destes em esconder o pertencimento à Universal em seus projetos políticos. “Mas, ao mesmo tempo, eles revelam a filiação institucional na presença de evangélicos. Há todo um cuidado para não utilizar termos e formas argumentativas consideradas, por eles, religiosas. Assim, para justificar suas posições, lançam mão de argumentos de outros campos, como do liberalismo clássico. Além disso, há uma forte recriminação aos militantes de esquerda, considerados, em muitos casos, como baderneiros e pessoas que não têm interesse em promover consenso, mas apenas de levantar bandeiras sem se preocupar com o aspecto prático da política”, pormenoriza Gutierrez.
No que toca ao mundo do empreendedorismo, indica a pesquisa, os membros da Universal costumam refletir sobre assuntos como capitalismo e desigualdade no Brasil. A crítica que fazem a esses temas é complexa, como aponta o autor da tese. “Ao mesmo tempo em que condenam o trabalho assalariado, associando-o à exploração, à miséria e à humilhação, eles percebem a saída dessa situação no próprio capitalismo, ao ocuparem a posição de empreendedores. Assim, ao construírem seus projetos de vida, percebem que a única forma de melhora possível, dado o seu contexto de vida, é criar o negócio próprio”, afirma.
Nesse exercício de reflexão, continua o antropólogo, os membros da Universal também fazem análises e considerações sobre a própria vida, o que inclui as humilhações sofridas e a necessidade de mudar o próprio destino, mais uma vez a partir de uma ação empreendedora. “A igreja contribui nesse sentido, ao trazer conhecimentos e ferramentas, como técnicas de gestão e de marketing. Os pastores recriminam os fiéis que ficam somente orando, recusando-se a aprender e a lançar mão de recursos administrativos para profissionalizar os seus negócios”, revela Gutierrez.
Por fim, a questão do gênero também faz parte das reflexões dos membros da IURD. Como já mencionado, muitos deles participam do programa IntelliMen. O autor da tese procurou analisar, a partir dessa experiência, como os homens produzem classificações em torno dos gêneros masculino e feminino. “Detive minha análise na construção, por parte dos evangélicos, de seus projetos de vida como homens, por meio de suas conversações internas. A conversação interna nada mais é do que uma forma de reflexividade em relação ao próprio ‘eu’. De certa forma, a tese buscou realizar uma ‘sociologia da mente’, isto é, quebrar a barreira entre as ciências sociais e a psicologia e compreender como, ao estruturar planos em nossas mentes, pensamos na expressão de nossa identidade e também nas condições em que estamos inseridos”.
No caso do gênero especificamente, acrescenta o pesquisador, há todo um relato da conversa interna dessas pessoas a respeito de suas desilusões como homens, a problematização de vícios e comportamentos, um desejo de mudança e a adoção de toda uma monitoração e reflexão sobre o que os leva a ser de determinado jeito e o que fazer para mudar. “Ainda na questão de gênero, há todo um esforço para deixar de ser rude e, na perspectiva desses atores, machista, ajudando a mulher em certas tarefas. O construir-se como um IntelliMen envolve ainda não olhar ou desejar mulheres, não se masturbar, não consumir pornografia, tornar-se disciplinado e aprender a ser um bom companheiro. Indubitavelmente, esse programa produz transformações no mundo da vida e também no cotidiano dessas pessoas, uma vez que elas abandonam círculos de amizade, rompendo contextos de sociabilidade, o que se configura todo um panorama novo para esses indivíduos. É interessante que a reflexão em torno do gênero revela que apesar de acreditarem que há características inatas no que concerne a homens e mulheres, percebem também como muitas coisas são imposições sociais e culturais, tais como a ‘cultura da macheza’, o que buscam transformar”, assinala Gutierrez.
Durante o doutorado, o pesquisador contou com bolsa de estudo concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Parte do programa de pós-graduação foi cumprida na École des hautes études en sciences sociales (EHESS), na França. Atualmente, Gutierrez se encontra naquele país, onde atua como pesquisador associado do Centre d'études des mouvements sociaux, da École (CEMS). (Manuel Alves Filho/Jornal da Unicamp)
Centrais sindicais apresentam propostas para fim da crise
августа 23, 2017 11:24“Uma pauta para retomada do desenvolvimento econômico e da geração de emprego” é o título do documento apresentado à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) pelas centrais sindicais, consensualmente. São signatários das propostas, a Força Sindical, a UGT, a CTB, a Nova Central e a CSB, além de setores empresariais.
“Temos pressa na retomada do desenvolvimento econômico e na criação de empregos, e é por isso que nós, do setor produtivo, reunimos representantes dos trabalhadores e das empresas e construímos um conjunto de propostas de curto prazo para acelerar a retomada do crescimento, e um outro conjunto, mais estrutural, para tornar sustentável o processo de retomada da atividade econômica e geração de empregos que a sociedade brasileira tanto deseja”, enfatiza o documento.
As centrais enumeram várias propostas de curto, médio e longo prazos, a fim de tirar o Brasil da grave e periclitante situação econômica, que pune, principalmente, os mais pobres, os assalariados, em particular, os de baixa renda.
No curto prazo, propõem, entre outras medidas, aceleração da redução da taxa Selic, retomada das obras públicas e desburocratização. À médio prazo, o documento sugere “juros básicos da economia em padrões internacionais, em torno de 2% a 3% real ao ano”, redução da carga tributária, com simplificação do sistema e câmbio competitivo.
A longo prazo, propõem que haja incentivo no “investimento em setores de alto valor agregado e forte potencial de crescimento e geração de empregos tanto na indústria quanto em serviços, na agricultura, em novas tecnologias digitais e na infraestrutura”.
Leia a íntegra do documento abaixo:
Uma Pauta para Retomada do Desenvolvimento Econômico e da Geração de Emprego
O grande objetivo nacional da atualidade é tirar a economia brasileira da maior crise econômica de sua história. O PIB teve queda próxima a 8%, gerando um saldo de 14 milhões de brasileiros desempregados, provocando o fechamento de milhares de empresas, deixando famílias e empresas endividadas, mergulhando o país numa grave crise fiscal e provocando um forte recuo nos investimentos.
Mas o Brasil é maior que tudo isso. Vamos, sim, superar a crise e sairemos mais fortes, como já ocorreu tantas vezes no passado.
Temos pressa na retomada do desenvolvimento econômico e na criação de empregos, e é por isso que nós, do setor produtivo, reunimos representantes dos trabalhadores e das empresas e construímos um conjunto de propostas de curto prazo para acelerar a retomada do crescimento, e um outro conjunto, mais estrutural, para tornar sustentável o processo de retomada da atividade econômica e geração de empregos que a sociedade brasileira tanto deseja.
Propostas de curto prazo
1. Retomada do crédito:
• BNDES: é preciso retomar um patamar mais adequado das concessões de operações de financiamento, utilizando o FGI e contando com a parceria dos bancos federais (BB, Caixa, BNB e Basa). Não à adoção precipitada da TLP. Elevar as concessões, sobretudo para capital de giro. Retomar patamares anteriores de participação dos recursos à TJLP nas operações.
• Crédito às micro e pequenas empresas (MPE): os bancos públicos federais devem retomar as operações com as MPE, tanto da carteira comercial como das linhas com funding do FAT.
• Crédito ao microempreendedor individual (MEI): linha de crédito a custo zero, atrelada a treinamento técnico e de gestão e à adimplência.
• Aceleração da queda da Selic: a redução da Selic tem sido insuficiente e deve ser acelerada.
2. Retomada das obras públicas paralisadas: priorizando aquelas com maior potencial de impacto na produtividade, na economia local e no emprego, além daquelas que têm como fonte de financiamento recursos de fundos não sujeitos a contingenciamento.
3. Revisão de normas do Seguro-Desemprego: rever as regras de acesso ao recebimento do seguro-desemprego, aumentar de 5 para 7 o número de parcelas, dado o aumento do período médio de recolocação dos trabalhadores desempregados no mercado de trabalho. Rever a Desvinculação das Receitas da União (DRU) para os recursos do FAT, que foi elevada a 30%.
4. Desburocratização: adoção de medidas simples que sejam capazes de facilitar a relação do cidadão e das empresas com os órgãos públicos, contemplando:
• Data fixa: a adoção de novas obrigações aos cidadãos e empresas apenas entrarão entrar em vigor duas vezes por ano, 1o de janeiro e 1o de julho, por exemplo.
• Duas medidas por uma: para se adotar uma nova obrigação, deve-se anular duas existentes, de forma a reduzir paulatinamente o estoque de exigências burocráticas.
• Documento único para pessoas físicas: substituindo CPF, RG, PIS, CTPS etc.
• Documento único para pessoas jurídicas: substituindo todos os demais registros.
5. Refis equilibrado: adoção de programa de refinanciamento de impostos atrasados que não seja tão seletivo como a proposta do governo (MP 766) nem tão benéfico aos devedores, como a proposta do relator da Comissão Mista do Congresso Nacional.
6. Abertura de mercados: abertura de novos mercados para o produto brasileiro por meio de promoção comercial, finalização de acordos cujas negociações vêm se arrastando por vários anos, como, por exemplo, o acordo Mercosul - União Europeia.
7. Petróleo e gás: promoção do entendimento entre os agentes da cadeia de petróleo e gás, visando o cumprimento das normas de conteúdo local de forma a destravar os investimentos do setor e gerar demanda para os segmentos que têm capacidade de atendimento com custos e prazos adequados.
Propostas de médio prazo
É vital a criação de um ambiente macroeconômico mais favorável ao investimento produtivo e geração de empregos composto por:
• Juros básicos da economia em padrões internacionais, em torno de 2% a 3% real ao ano;
• Redução da carga tributária, simplificação do sistema tributário, com desoneração do investimento produtivo e da exportação;
• Câmbio competitivo, operando em nível que não retire artificialmente a competitividade do produto brasileiro tanto no mercado interno quanto na exportação.
No longo prazo, incentivar o investimento em setores de alto valor agregado e forte potencial de crescimento e geração de empregos tanto na indústria como serviços, na agricultura, em novas tecnologias digitais e na infraestrutura:
• Indústria de transformação: implantar programa de renovação da frota de veículos (automóveis, comerciais leves e caminhões) e de máquinas, instrumentos, ferramentas e equipamentos utilizados na indústria.
• Agregação de valor aos produtos básicos: adensar cadeia produtiva/industrial para ampliar a participação da indústria do PIB e reduzir a exportação de produtos básicos sem qualquer processamento industrial e com baixo valor agregado.
• Petróleo e gás e indústria naval: uma sólida indústria petroleira e naval, alicerçada numa extensa cadeia produtiva nacional é fundamental para gerar empregos de qualidade, para o avanço tecnológico e desenvolvendo nacional.
• Serviços financeiros: a reforma do sistema financeiro, especialmente o privado, é vital para ampliar a oferta de crédito com menores custos às empresas e pessoas físicas e dinamizar o mercado interno.
• Educação e saúde: são infraestruturas sociais extremamente sensíveis que permitem melhoria na produtividade e concorrem, decisivamente, para o desenvolvimento nacional e o bem-estar do povo. A educação pública e programas como SUS devem ser prioridades dos governos em seus diferentes níveis.
• Novas tecnologias e economia digital: Apoiar as políticas de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico articuladas a uma política industrial que dê ênfase a esses aspectos na retomada do crescimento industrial.
• Infraestrutura: não é possível desenvolver as potencialidades empreendedoras e criativas da economia sem que se tenha infraestrutura energética (hidro, termo, eólica e solar), urbana (habitação, saneamento e mobilidade) e logística (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos) adequada para isso, tarefa urgente que pode ser atendida por empresas estatais, privadas e pelo estabelecimento de parcerias público-privadas.
São Paulo, 22 de agosto de 2017
(Agência Diap)
Racismo e Brasil, tudo a ver
августа 23, 2017 11:16O Brasil não é um país racista, as cotas raciais são um privilégio, a meritocracia é tudo de bom.
Será mesmo?
Não, segundo a presidente nacional da Unegro (União de Negros e Negras pela Igualdade), Ângela Guimarães, que destacou,no seminário "LGBTfobia e Racismo no Mundo do Trabalho", promovido pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, da Câmara dos Deputados, que apenas 4% das 500 maiores empresas brasileiras contam com negros no corpo de direção executiva e menos de 1% com mulheres negras na direção executiva. Os dados são de pesquisa feita pelo Instituto Ethos, e, de acordo com Ângela, não se alteram desde 2010.
A mesma pesquisa mostrou que 56% de aprendizes e estagiários nessas empresas são negros. Ela defendeu a realização de censos oficiais sobre a presença de negros, mulheres e pessoas LGBT no mercado de trabalho.
Conforme Ângela, a barreira da escolaridade para o negro foi em grande parte superada, já que as cotas possibilitaram a ascensão ao ensino superior. “Mas não houve essa mesma correspondência no mundo do trabalho”, avaliou. Em sua opinião, o “ambiente de desmonte de direitos sociais e trabalhistas” pelo atual governo pode piorar esse quadro.
Ela defendeu um engajamento das empresas e do serviço público para “aproveitar toda a capacidade da população negra”, incluindo comitê pró-equidade, política de cotas e programas de capacitação.
Para Ângela, o racismo, o patriarcado e a LGBTfobia são estruturantes do mundo do trabalho, e não exceções. “A mulher negra se encontra na base, no subsolo, da pirâmide estrutural do mundo do trabalho”, ressaltou. “Mulheres negras recebem apenas 35% do que recebem homens brancos desempenhando as mesmas funções”, completou.
Ângela salientou a importância do trabalho para a dignidade e a emancipação. “O direito ao trabalho deveria ser universal, mas o que nós vemos não é isso: a estrutura do mundo do trabalho é absolutamente desigual”, apontou.
Desemprego é principal causa da inadimplência
августа 22, 2017 16:51Levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais revela que pelo terceiro ano consecutivo o desemprego figura como a principal causa da inadimplência no Brasil. Dentre os consumidores que possuem contas em atraso, mais de um quarto (26%) culpa a perda do emprego, percentual que sobe para 27% quando considerado somente os indivíduos das classes C, D e E. Em anos anteriores, o desemprego respondia por 33% (2015) e 28% (2016) como principal causa da inadimplência, percentuais que representam estabilidade em relação ao dado deste ano.Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, os dados refletem as dificuldades do atual cenário macroeconômico, com perda de dinamismo do mercado de trabalho e renda mais curta. “Mesmo com a economia começando a esboçar um processo de recuperação, o brasileiro ainda não sente no bolso os efeitos práticos desse processo de melhora gradual. Apesar de inflação e juros mais baixos, a atividade econômica ainda não ganhou tração. O desemprego continua elevado e a renda do brasileiro segue deprimida”, explica a economista.
Outros motivos que levaram os brasileiros à situação de inadimplência são a diminuição da renda (14%), falta de controle financeiro (11%) e o empréstimo de nome a terceiros (5%). Um dado que chama a atenção no estudo é que na comparação com 2016 (9%) e 2015 (7%), houve uma queda no percentual de pessoas que apontam o empréstimo de nome a terceiros como causa da inadimplência. “Isso se deve, provavelmente, ao fato de que, em contraste com um passado recente, quem emprestava o nome, agora, compartilha das mesmas dificuldades de quem pedia o nome emprestado”, afirma o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
O raio-x da inadimplência no Brasil traçado pelo levantamento mostra que as mulheres são maioria entre os devedores entrevistados: 56% contra 44% dos homens. Quanto a faixa etária, a concentração é mais elevada entre os adultos de 25 a 49 anos, que juntos detém 65% da amostra. E não são apenas as pessoas de mais baixa renda que fazem parte do grupo de brasileiros que possuem contas em atraso: nove em cada dez (93%) inadimplentes entrevistados são das classes C, D e E, mas 7% pertencem às classes A e B. A pesquisa revela que 75% dos inadimplentes possuem, no máximo, o segundo grau completo.
O estudo ainda revela que em cada dez consumidores com contas em atraso, cinco (48%) não acreditam que vão conseguir pagar nem ao menos uma parte de suas pendências nos próximos três meses, percentual que é ainda mais elevado entre as mulheres (53%) e indivíduos das classes C, D e E (49%). O cenário é bastante similar ao do segundo semestre do ano passado, quando a falta de condições para pagamento das dívidas era de 46% dos devedores. De acordo com o estudo, o valor médio do total das dívidas do brasileiro é de quase R$ 2.980, mas 43% nem sabem ao certo o quanto devem.
Dentre os 20% que disseram ter a intenção de pagar toda a dívida nos próximos 90 dias e os 26% que pagarão ao menos parte do que devem, o acordo com o credor continua como a primeira opção, com 42% de citações. Outras estratégias devem ser a geração de renda extra por meio de bicos (23%), cortes no orçamento (22%), recebimento de dívidas de terceiros (14%), utilização de recursos dos saques das contas do FGTS (13%) ou uso do décimo terceiro salário (13%).
Entre os inadimplentes que vão fazer cortes no orçamento e economizar para pagar as dívidas (22%), a maior parte deixará de comprar roupas e calçados (44%), diminuir atividades de lazer (39%) ou cortar gastos com alimentação fora de casa (29%), produtos em supermercados (25%) e salão de beleza (25%). Para 51%, a maior dificuldade para quitar a dívida em atraso é o fato de o valor total da pendência superar em muitas vezes a renda que possui. Há ainda 26% de entrevistados que enfrentam dificuldades para economizar em despesas básicas e 16% que resistem em economizar com itens supérfluos, abandonando velhos hábitos de consumo.
Uma constatação do estudo é que a aquisição de produtos em supermercados se posiciona em 2017 como o segundo item que mais originou a inadimplência, responsável por 31% das compras não pagas (cartão de crédito, cartão de lojas, cheque ou crediário). Em primeiro lugar está a compra de roupas, calçados e acessórios com 60% de menções. Completam a lista os eletrônicos (18%), celulares (16%) e eletrodomésticos (14%). Comparando com a população em geral, as mulheres tendem a ficar mais inadimplentes nas compras de peças de vestuário e calçados (64%), enquanto a classe C extrapola os limites do orçamento quando adquirem celulares (16%) e móveis para casa (12%).
De uma forma geral, os compromissos financeiros do inadimplente que mais estão em atraso, mesmo sem ter gerado o nome sujo, são os ligados ao crédito de instituições financeiras ou no comércio, cuja incidência de juros é maior, como cartão de loja (84% entre os que têm essa conta), empréstimo em banco ou financeira (74%), cartão de crédito (74%), cheque especial (72%) e crediário (67%).
Em sentido contrário, os compromissos que os inadimplentes mais pagam em dia, são aqueles considerados básicos, como plano de saúde (93% dos que têm esse compromisso), condomínio (89%), aluguel (84%), internet e TV por assinatura (83%) e conta de água e luz (80%). “A iminência de corte de serviços de primeira necessidade quando há atraso no pagamento pode ser um motivo para que essas contas tenham menor percentual de atraso em relação às dívidas bancárias. Como a pessoa não tem recursos para pagar tudo de uma vez, acaba elegendo prioridades como o aluguel e o plano de saúde, por exemplo”, explica a economista Marcela Kawauti.
Por trás de todas essas sérias consequências financeiras que a inadimplência gera, existe um conjunto de comportamentos, sentimentos e impulsos que podem levar o consumidor a atrasar as contas. Dados da pesquisa apontam que quase a metade (47%) dos inadimplentes estava com algum problema emocional que contribuiu para a geração da dívida, sendo a dificuldade para lidar com problemas financeiros (14%), ansiedade (12%), insatisfação no trabalho (9%) e problemas no relacionamento familiar (7%) as causas mais citadas.
Levando em consideração os devedores que admitem o descontrole financeiro ou acesso ao crédito fácil como causa da inadimplência, quase um terço (32%) afirmou que quis aproveitar uma promoção e acabou realizando uma compra sem avaliar o próprio orçamento – percentual que cresce para 46% entre jovens de 18 a 34 anos.
O novo pode ser o velho conhecido de todos
августа 22, 2017 10:05Dez entre dez dos chamados "analistas" que abundam em nossa mídia apostam que a eleição presidencial do próximo ano terá o protagonismo do "novo", a candidatura que não se confunde com o estraçalhado modo tradicional de se fazer política.
Esse novo que fará um sucesso estrondoso, dizem os sabichões, tanto pode ser o prefeito paulistano, com a sua inédita gestão à distância, ou o deputado fascista, com seu apelo aos instintos mais primitivos, ou a amante da natureza, com sabe-se-lá o quê.
Todos eles, e mais alguns que surgirão até o início da campanha presidencial, representam, cada qual à sua maneira, para esses experts, a antítese do político que virou sinônimo de corrupto, de ladrão, do ser mais abjeto na face da Terra.
O Brasil é, porém, um país peculiar - ao menos nesse quesito da política.
Numa democracia o normal é que os políticos tenham como foco os anseios do seu eleitor, e para tanto é necessário que dialoguem com ele, que saibam o que ele pensa e o que deseja que seja feito para que a vida melhore.
Esse, obviamente, não é o caso do Brasil.
Os exemplos do divórcio entre a sociedade e a classe política são diariamente renovados.
O presidente da República faz, com um cinismo inacreditável, troça de sua impopularidade, e contrariando toda a lógica, diz que é bom que seja detestado, porque assim fica mais fácil levar adiante as "reformas" que planejou para o país.
Que falha dos nossos "cientistas políticos" não tê-lo incluído entre as "novidades" que surgiram nestes tempos estranhos...
Enquanto isso, lá no Nordeste, longe dos palácios brasilienses e dos espigões paulistanos, um velho conhecido de todos vai fazendo política do jeito que se fazia antigamente - o jeito que consagrou estadistas em todo o mundo e foi praticamente abandonado no Brasil.
E o seu modo de fazer política arrasta multidões, extrai risos e choros, entusiasma jovens e velhos, homens e mulheres, que não só querem vê-lo ou ouvi-lo, mas desejam tocá-lo, fazer um "selfie" para mostrar aos amigos, aos familiares, aos vizinhos.
Afinal, ele é o "cara", como disse certa vez, um presidente da nação mais poderosa do mundo.
E, mais que o "cara", ele é uma ideia, uma esperança.
Num país tão maltratado quanto o Brasil o novo pode ser apenas aquele que vai ao povo, conversa com o povo, aperta a mão do povo, abraça o povo e fala como o povo.
Num país onde tudo se decide em salas de mobília e ar-condicionado "tops" de linha, caríssimos, capazes de criar um ambiente da mais perfeita assepsia, a novidade pode ser somente quem não tem medo do povo. (Carlos Motta; foto: Ricardo Stuckert)