Golpe acaba com a saúde do brasileiro
марта 17, 2017 10:23O golpe que afastou a presidenta Dilma e colocou em seu lugar um bando de picaretas não só mergulhou o país na mais profunda recessão da história como promoveu uma onda de desemprego que prejudica a economia e, principalmente, a saúde de quem foi atingido por ela. A pesquisa “Impactos do Desemprego: saúde, relacionamentos e estado emocional”, conduzida pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), exemplifica isso: de acordo com o estudo, 59% dos entrevistados se sentem deprimidos ou desanimados, 63% estão estressados ou nervosos e 62% dizem ter estado angustiados. Também foram citados sentimentos de privação de consumo que tinha anteriormente (75%), ansiedade (70%) e insegurança de não conseguir um novo emprego (68%).
Em menor proporção foram mencionados sentimentos de medo (57%), baixa autoestima (55%), perda de valor perante as pessoas (39%), vergonha diante de amigos ou parentes (37%) e culpa (26%).
Por outro lado, 54% das pessoas passaram a sentir-se esperançosas com a vida após perder o emprego e três em cada dez (30%) estão mais otimistas do que era antes e confiam que coisas boas irão acontecer.
Os entrevistados também disseram que o desemprego afetou a saúde, à medida que mais da metade (51%) teve alterações no sono, 45% relatam mudanças no apetite, 40% têm dores de cabeça ou enxaquecas frequentes, 29% tiveram alteração na pressão (principalmente aqueles com mais de 50 anos, 54%) e 16% disseram descontar a ansiedade em vícios como álcool, cigarro, comida entre outros.
Com relação aos impactos nos relacionamentos, o estudo mostra que seis em cada dez (59%) daqueles que perderam o emprego têm menos vontade de sair, 27% ficam mais isolados das pessoas, 9% tem feito algum tipo de agressão verbal a pessoas próximas e 4% agrediram fisicamente algum parente ou amigo.
Recuperação da indústria brasileira está distante
марта 17, 2017 9:27Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que em janeiro de 2017 houve queda da produção industrial quando comparada com o mês imediatamente anterior. Na variação mensal, a queda de 0,1% da produção industrial na passagem de dezembro de 2016 para janeiro de 2017 foi registrada em 12 dos 24 ramos pesquisados.
Cabe destacar o recuo de 10,7% assinalado por veículos automotores, reboques e carrocerias, que cessou dois meses consecutivos de crescimento da produção, período em que acumulou ganho de 18,7%. Foram expressivas também a queda da produção de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,5%), de máquinas e equipamentos (-4,9%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7,0%) e de produtos de borracha e de material plástico (-3,8%). No mês anterior, ou seja, dezembro de 2016, essas atividades haviam apresentado taxas positivas de 17,7%, 1,6%, 10,8% e 8,0%, respectivamente.
Em uma análise das grandes categorias econômicas, bens de consumo duráveis (-7,3%) e bens de capital (-4,1%) mostraram as taxas negativas mais acentuadas em janeiro de 2017. Tal como destacado pelo IBGE, primeiro perdeu parte do ganho de 12% acumulado nos dois últimos meses do ano passado; e o segundo acentuou o recuo de 3,8% registrado em dezembro de 2016. Por outro lado, os setores de bens de consumo semi e não-duráveis (3,1%) e de bens intermediários (0,7%) apresentaram resultados positivos em janeiro. O primeiro avançou 7,4% em dois meses seguidos de crescimento na produção; e o segundo acumulou expansão de 3,2% nos últimos três meses.
A queda da produção de janeiro traz à tona perspectivas ainda nebulosas sobre a recuperação econômica. No atual cenário, o Banco Central teria que acentuar a redução da Selic e sinalizar um patamar mais adequado ao câmbio e uma menor volatilidade.
O setor manufatureiro caracterizado como lócus do desenvolvimento econômico precisa ser trazido ao centro do debate para a recuperação da economia. Trajetórias bem sucedidas de crescimento econômico estiveram associadas a um setor industrial bem consolidado, particularmente em setores de média e alta tecnologia. A expansão da renda, a criação de empregos de melhor qualidade e a expansão da produtividade da economia encontram-se diretamente associadas ao desenvolvimento do setor industrial. (Igor Rocha, economista/Fundação Perseu Abramo)
Metade das famílias brasileiras tem pelo menos um desempregado em casa
марта 16, 2017 12:26A queda da atividade econômica e o alto índice de desemprego, consequências do golpe que afastou Dilma Rousseff da presidência da República, influenciam diretamente na vida e confiança dos brasileiros, de acordo com o Indicador de Confiança do Consumidor (ICC) medido pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).
O cálculo mensal é baseado em avaliações do consumidor acerca da economia e da própria vida financeira, quanto ao momento atual e expectativas para os próximos seis meses. Numa escala de zero a 100 foram registrados 41,4 pontos em fevereiro, índice abaixo do nível neutro de 50 pontos, refletindo a má avaliação da economia. Em janeiro, foram registrados 41,9 pontos.
O subindicador de Percepção do Cenário Atual, que compõe o Indicador de Confiança, registrou 29,7 pontos em fevereiro de 2017, sendo que a avaliação da vida financeira ficou em 39,8 pontos. Já a avaliação da situação econômica atual registrou 19,5 pontos.
Em termos percentuais, quatro em cada dez consumidores (42%) classificam a própria vida financeira como ruim ou muito ruim. Os que a consideram regular somaram 41%, enquanto 15% a consideram boa ou muito boa. Os principais motivos para a avaliação negativa são orçamento apertado e dificuldades para pagar as contas (33%), desemprego (31%) e atraso no pagamento de dívidas (15%).
Com relação à economia, 82% dos entrevistados acreditam que a situação está ruim ou muito ruim, contra somente 3% que consideram a situação boa ou muito boa. Para 14%, o quadro econômico atual é regular.
Entre os que fazem uma avaliação negativa, a maioria relativa (49%) atribui este resultado à corrupção e ao mau uso dos recursos públicos. Outros 27% creditam ao alto desemprego e 15% disseram que os preços dos produtos aumentaram.
Apesar de o momento atual estar sendo visto com desconfiança, o subindicador de expectativas registrou 53,1 pontos em fevereiro, pouco menor dos 54,2 pontos registrados em janeiro. O que contribuiu com o dado levemente acima do nível neutro foram as perspectivas sobre a própria vida financeira, que marcaram 61,9 pontos. Quando se trata da economia em geral, o indicador marcou 44,3 pontos, mostrando que os consumidores estão um pouco pessimistas.
A maioria relativa (39%) diz não estar nem otimista nem pessimista com o futuro da economia. Os pessimistas são 37% e os otimistas 21%. Entre os que estão pessimistas, o principal motivo apontado é a corrupção, incompetência dos governantes e impunidade dos políticos (49%), seguido daqueles que acreditam que o desemprego segue aumentando (25%) e os que imaginam que a inflação não será controlada e continuará subindo (8%).
Entre os otimistas, a maior parte (40%) não sabe o porquê confiar que a economia vai melhorar, 21% acreditam que a pior parte já passou e 11% concordam com as medidas econômicas que estão sendo adotadas.
Já entre os pessimistas, os principais motivos apontados são: descrença na melhora da economia (27%), situação financeira atual estar muito ruim (20%), preços em alta (19%) e medo do desemprego (11%).
O indicador também revelou que o mau momento da economia reflete-se de várias maneiras na vida dos brasileiros. O que mais tem pesado, no entanto, é o custo de vida, mencionado por 53% dos entrevistados. O desemprego, que atinge quase 13 milhões de pessoas - segundo dados do IBGE -, foi mencionado por 21% dos entrevistados, o endividamento por 11% e a queda da renda por 10%. Somente 4% disseram que nada pesa no orçamento familiar. Ainda de acordo com o indicador, 47% dos entrevistados afirmam ter pelo menos um desempregado em casa, sendo que 21% moram com pelo menos duas pessoas nessa condição.
Na opinião dos entrevistados, o que contribui para o alto custo de vida é principalmente o aumento nos preços do supermercado (64%), aumento na conta de luz (58%) e na telefonia 38%.
O jornalismo sem jornalistas
марта 16, 2017 11:32Não me lembro de quantas vezes me emocionei com o relato, nas redes sociais, de ex-companheiros de redação que estão sem emprego, vítimas da selvageria de um sistema econômico que desrespeita os mais básicos direitos dos trabalhadores e demonstra uma crueldade doentia.
Demitir uma pessoa é um dos atos de maior violência que um ser humano pode cometer contra outro.
Essa atitude comporta dois tipos de agressão, a psicológica, por rebaixar a pessoa à categoria de cidadão de segunda classe, e a física, pois, em muitos casos, o trabalhador demitido que não consegue um novo emprego fica privado até mesmo de meios para a sua subsistência.
Jornalistas, em geral, são vistos pelo público como privilegiados que exercem uma profissão glamourosa e bem remunerada.
Talvez o estereótipo sirva para uns 5% da categoria.
Na verdade, uma redação, qualquer uma, é tocada pela "peãozada", aqueles profissionais que se matam em jornadas de 12 horas, trabalham aos sábados, domingos e feriados, topam qualquer parada, estão 24 horas à disposição das chefias - e ganham, quando muito, um salário de classe média.
Todos esses ex-colegas que perderam o emprego nestes últimos anos se enquadram nesse perfil, com um detalhe: são excelentes no que fazem, experientes e especializados em temas que demandam muito tempo para serem dominados.
Contra eles pesa ainda o fato de que bons jornalistas não costumam se dar bem em outras profissões, justamente porque investiram todo o seu esforço, físico e intelectual, naquilo que gostam de fazer.
O resultado desse movimento patronal de enxugar ou "renovar" suas redações deu como resultado aquilo que vemos hoje em qualquer um dos jornalões ou portais de notícias da internet: se não o fim do jornalismo, ao menos a sua redução a algo como um panfleto de propaganda mal escrito, primário na forma e no conteúdo, e beirando a idiotice.
Por tudo isso lamento por ver ao que foi reduzida uma profissão à qual dediquei toda a minha vida, e principalmente, pelo sofrimento imposto a tanta gente boa, que não merecia ser tratada dessa forma pelos seus empregadores.
Força, pessoal, força. (Carlos Motta)
Em defesa da greve geral
марта 16, 2017 10:05Luis Vitagliano
Com todas as tecnologias de informação, os trabalhadores estavam bem informados sobre os motivos da paralisação e certamente a absoluta maioria concordava com eles: contra a reforma da Previdência - que determina 49 anos de contribuição e idade mínima de 65 anos para aposentadoria -, a reforma trabalhista e a proposta de retorno da terceirização como método de contratação.
Em São Paulo, onde a greve teve sua maior adesão, o caos que se esperava nas portas dos terminais de transporte não ocorreu. Parte importante da população aderiu à paralisação e conseguiu justificar a dificuldade de chegar ao trabalho.
Sobre isso, dois motivos se destacam nesse primeiro grande ato contra as reformas que confrontam os direitos trabalhistas: primeiro, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin acionou sua assessoria jurídica para entrar com uma liminar contra a greve e conseguiu na Justiça determinar a ilegalidade da paralisação do sistema de transporte; segundo, a grande imprensa entrevistou muitos trabalhadores, expondo aqueles que reivindicavam o direito de ir ao trabalho.
Sobre isso, chama a atenção como o capital (principal atingido pela paralisação) trabalha com seus tentáculos no Estado e na sociedade civil para inviabilizar o direito de manifestação dos trabalhadores e trabalhadoras, além de cercear a liberdade de manifestação.
Em primeiro lugar, ao entrar com um pedido de liminar para punir os sindicatos dos transportes, o governador Geraldo Alckmin mostra a quem serve: quer garantir a chegada dos trabalhadores e ter um discurso para condenar a greve com o intuito de obrigá-los a furar a paralisação. Em segundo lugar, temos a Justiça, que condenou os sindicatos à multa caso não garantissem os serviços de transporte. Mas, ao conceder uma liminar ao governo e multar diariamente os sindicatos pelas paralisações, a Justiça não reconhece o direito do trabalhador de protestar.
Além da defesa de aparelhos do Estado, o capital ainda conta com a defesa da grande mídia para combater a organização do trabalhador. Portanto, a cobertura midiática (principalmente televisiva) destacava, além da proibição judicial, os contratempos causados pela greve. Na tevê, as entrevistas com a população mostravam quem não conseguiam chegar ao trabalho, criando uma narrativa segundo a qual o direito a trabalhar estava sendo bloqueado pelos sindicatos. Ou seja, invertia completamente a pauta ao dizer que os sindicatos estavam prejudicando o trabalhador. E esse é o grande risco, porque tenta colocar a maioria da população contra aqueles que se propõem a defender seus direitos.
São os trabalhadores os mais prejudicados pela greve? Mesmo aqueles que querem, ao serem impedidos de se deslocarem, têm seus direitos cerceados? É preciso ter pelo menos dois argumentos na ponta da língua para responder a essas provocações. Primeiro, que ao fechar os transportes, bloquear as entradas e parar as estradas, os sindicatos permitem que os trabalhadores justifiquem sua ausência individual e seus atrasos. Muitos são trabalhadores de pequenas empresas e os chefes não perdoariam a ausência. Esses trabalhadores seriam punidos se por conta própria resolvessem encarar o enfrentamento direto ao patrão e, ao encontrarem respaldo no sistema de transportes, pode amenizar seu ato de enfrentamento. Mas o risco é que alguns desses trabalhadores achem mesmo que devem chegar ao trabalho de qualquer maneira, e existem casos em que até mesmo táxi o trabalhador procura para chegar ao trabalho, às vezes custando mais cara a corrida que o dia de trabalho. Mesmo nesses casos de sacrifício, é importante perceber que essa paralisação é fundamental por um segundo motivo: nenhum prejuízo imediato se equivale ao prejuízo futuro se as reformas da Previdência e trabalhista avançarem no Congresso.
Os sindicatos estão na defesa direta dos direitos dos trabalhadores. Lutar contra essas reformas é fundamental e cabe a essas organizações assumirem esse papel de defesa dos direitos. É um fato quase que inexorável para este momento. De outro lado, quando a agenda capital supõe que o principal problema fiscal do Brasil seja a Previdência Social, isso só se justifica com um marketing da pós-verdade: mesmo nos cálculos mais conservadores (e questionáveis), onde se consegue uma contabilidade criativa que identifica déficit na Previdência, esses déficits criados pelos economistas neoclássicos equivalem à metade dos custos da rolagem da dívida. Ou seja: o governo gasta o dobro com rentismo dos grandes bancos e do grande capital em relação ao serviço social da Previdência pública. Enquanto metade da população brasileira tem uma aposentadoria próxima ao salario mínimo, um rentista, sem trabalhar, tem 14,5% crescimento do seu capital ao ano, sem custos. Para a grande mídia, o rentismo, que favorece 0,5% da população rica e gasta 8% do PIB, não é um problema, mas 4% do PIB para 30% da população é digno de uma reforma que, se aprovada, deve comprometer o direito a aposentadoria.
Se neste caso alguém me explicar porque o Brasil tem um dos maiores juros do mundo, talvez eu consiga entender por que os problemas fiscais poderiam ser polêmicos. Até lá, é muito simples: são gastos para o serviço da dívida 8% do orçamento público para manter esse absurdo, o que é escondido pelos ricos. Para isso é preciso convencer a população de que o trabalhador é culpado por viver muito e contribuir pouco. Enquanto uns vivem sem trabalhar, outros trabalham para viver e agora devem pagar pelo tempo de vida extra conquistado.
(Luis Vitagliano é professor universitário e cientista político; foto: Paulo Pinto/AGPT)









