06/07/2012
Conte a sua história
Garantir o “ganha-pão” resultou na paraplegia do escritor e cartunista, Alfredo Karras. Eu explico, ao voltar do trabalho na madrugada – chargista do Jornal Acontece, de Cubatão, no Estado de São Paulo – Alfredo foi atingido por um tiro. Engana-se quem pensa que foi um tiro de uma pistola qualquer, foi mais forte, foi um tiro à queima roupa vindo de um equipamento exclusivo das Forças Armadas. Estranho? Concordo. Mas o fato é que os criminosos sumiram e nunca mais foram encontrados, provavelmente, aquele dia foi só mais um na vida deles e nem se importam com as imensas consequências que deixaram na vida de um inocente trabalhador. O tiro foi certeiro no pescoço, o que ocasionou paraplegia total e irreversível. Dificuldades não faltam na vida de Alfredo, que atualmente está com 40 anos, preso em uma cama e sofre dor neuropática, mas ele não desiste. Alfredo acredita cada vez mais em sua recuperação e enxerga o lado positivo que o atentado lhe proporcionou: amores e amizades verdadeiras. Uma história dramática e emocionate, você confere agora, contada pelo próprio Alfredo Karras. Peço atenção no final do texto, onde falo um pouco da campanha “Salvem Karras”.
“Eu sou Alfredo Karras, nasci em 17 de maio de 1972 e renasci em 21 de dezembro de 2007. Um único tiro foi o suficiente. Foi dado à queima-roupa por uma pistola 9mm, equipamento de uso exclusivo das Forças Armadas, diretamente no pescoço. Lesões nas vértebras C6 e C7. Paraplegia total e irreversível, de acordo com o diagnóstico. Não, eu não estava em alguma guerra. Estava em Cubatão, SP, a poucos metros da entrada de meu apartamento. Eram 03h15min da manhã e eu voltava da redação do Jornal Acontece, onde trabalho como chargista free-lancer. Jornalistas virando a madrugada é algo bem comum e os chargistas seguem o ritmo.
Quem me baleou? Um sujeito que desceu da garupa de uma moto que estacionou ao meu lado. Não pude ver seu rosto com clareza pois ele estava de capacete e emboscou-me embaixo de uma árvore. A morte acercara-se de mim sob o manto da escuridão. Ele exigiu minha pasta (uma pequena pasta de plástico verde) e antes que eu a entregasse, ele puxou o gatilho. Estranho, não? Há quem acredite que foi um atentado por conta de meu trabalho como chargista, pois sempre bati pesado na corrupção. Os agressores fugiram sem levar nada e jamais foram encontrados. Como uma pistola de uso exclusivo das Forças Armadas foi parar na rua? Perguntem às Forças Armadas, pois eu não tenho a resposta.
E foi assim que eu morri. Eu tinha 35 anos, uma noiva e saúde perfeita. Era praticante de musculação e doador de sangue. Eu ainda não sabia que estava morto, não sabia que a vida que levara até ali estava definitivamente encerrada. Não sabia que jamais, jamais seria o mesmo de novo. Então eu renasci. O parteiro foi um rapaz que passava de bicicleta pela rua. Eu acenei para ele do chão onde estava caído, pois havia tentado me levantar e não conseguira. De imediato me dei conta de que fora atingido na coluna. Quando falei com o parteiro que debruçara-se sobre mim, minha voz não saiu só por minha boca mas também por um buraco na garganta.
Depois disso foi uma sucessão de “acordar e desmaiar” e as lembranças ficam confusas. Por fim entrei em coma. Despertei quinze dias depois, exatamente no aniversário de minha noiva. Ah, minha noiva. Jovem, bela, tão carinhosa e dedicada. Ela foi a primeira e me abandonar. Casou-se com o amante que encontrou logo depois do meu atentado. Acho que ainda vive em Santo André; não temos mais contato pois ela faz de conta que não existo. Como se nossos caminhos nunca houvessem se cruzado – é mais fácil viver fazendo de conta que jamais me conheceu.
E assim vi debandar as pessoas que eu mais amava e que diziam amar-me: ratos saltando de um navio que naufraga. Eu era um peso morto que ninguém desejava carregar. Vários “amigos” desapareceram por completo. Pessoas a quem eu ajudara no passado não deram-me sequer um telefonema. Com a morte de minha mãe até mesmo minhas irmãs desapareceram. Mas só o abandono não bastava; também sofri agressões verbais e até físicas por ter a audácia de não sofrer calado tamanha ignomínia. Pessoas que comeram em minha mesa desde criança, como uma afilhada de minha mãe, voltaram-se contra mim e de um modo abominavelmente covarde, agrediram-me como jamais se atreveriam se eu pudesse ficar de pé e revidar.
Abominação. Ignomínia. Mas ainda não era o fim; três bondosas almas cristãs assumiram minha guarda, movidas pela mais pura caridade diante do quadro desolador em que me encontrava. E foi assim que essa adotiva mãe cristã e suas duas valorosas filhas – sendo uma delas enfermeira – caridosamente roubaram-me tudo o que puderam. Maldição! Quão grande era minha dependência para sofrer tudo isso indefeso? Muita. Mesmo dispondo ainda do movimento dos braços, um quadro raro apresentou-se: uma calcificação na articulação do fêmur esquerdo com a bacia. Esta calcificação impede-me de sentar-me reto, tornando extremamente difícil minha remoção e acomodação em outra postura que não seja deitada. Só posso sentar-me em uma posição arriada. Com o passar do tempo minha coluna deformou-se e eu perdi capacidade respiratória. Foi como ter ficado tetraplégico. E assim vivo eu há quase cinco anos, praticamente preso em uma cama. Oh, ia esquecendo a cereja do bolo: dor neuropática. Ela atinge um em cada três lesados medulares e bingo! Fui sorteado!
Dor neuropática advinda de lesão medular não tem cura. Bem, cura deve ter, no entanto os médicos ainda não a descobriram – coisa que não acontecerá enquanto não descobrirem o quê a desencadeia. Enquanto isso somos castigados por uma dor lancinante, dia e noite, parecida com uma queimadura de sol de terceiro grau. Tomamos coquetéis de remédios desenvolvidos para outros problemas, que na maioria das vezes apenas ameniza a dor mas não a elimina.
A calcificação no quadril tem de ser removida cirurgicamente e a cirurgia pode chegar a custar R$ 45.000,00. Para realizá-la gratuitamente é necessário apodrecer em uma fila de espera da AACD. Se algum de vocês lembrou-se de Jó ou de Joseph Climber, é completamente compreensível. Eu sobrevivera ao disparo, ao coma, a quatro meses de internação, sendo dois na UTI. Ah! A Unidade de Terapia Intensiva! As pessoas em volta de mim morriam como moscas. Eu fazia minhas refeições por entre cadáveres. Mas eu permanecia teimosamente vivo! Eu permanecia – e permaneço – teimosamente progredindo! E meus verdadeiros amigos vieram em meu socorro.
Voltei a trabalhar como chargista free-lancer, agora em casa. Nenhum dos jornais para os quais eu prestava serviços antes da lesão dispensou-me ou substituiu-me. Todos esperaram pacientemente que eu me recuperasse o suficiente para retomar meu posto.
Vários eventos começaram a ser organizados para socorrer-me financeiramente, pois os gastos eram grandes. E quando eu decidi que não iria esperar anos e anos para ser operado gratuitamente e iniciei uma campanha para arrecadar o montante necessário, a mobilização de meus verdadeiros amigos foi instantânea. Eu estava preso a uma cama mas meu cérebro continuava perfeito e meu espírito determinado. E minha determinação atraiu para minha causa não só os velhos amigos mas também novos amigos, igualmente valorosos. Pessoas que jamais haviam ouvido falar de mim desdobravam-se agora para me ajudar.
Adaptei vários exercícios de musculação – mesmo com dor neuropática – de modo que pudessem ser executados na cama. Gradualmente fui ganhando uma força e resistência que nenhum médico julgara capaz. Hoje uso um halteres de 5kg, que já está ficando leve. Impus a mim mesmo uma rotina insana de treino, de modo a conservar funcionando o pouco que restara de meu corpo. Com isso consegui evitar o continuo atrofiamento da parte superior do tronco e até recuperei parte da capacidade respiratória perdida. E o mais fantástico de tudo é que continuo a recuperar, lenta mas continuamente, o controle de músculos abaixo da lesão e também um pouco de sensibilidade aqui e ali.
E quando eu menos esperava, descobri um novo amor. Não, corrigindo: fui descoberto por um novo amor. Ela encontrou-me pela internet e me cativou. Mais: quando a tempestade de infortúnios encurralou-me em um beco sem saída, ela resgatou-me. Trouxe-me para Recife, salvando-me das garras das três bondosas almas que caridosamente lapidavam até mesmo o dinheiro para minha cirurgia e também da truculência de minha família, que passara a me agredir e caluniar publicamente numa ignóbil tentativa de justificar meu abandono aos olhos da sociedade.
Em Recife, amado, protegido e cuidado, minha recuperação avança prodigiosamente. Continuo a trabalhar como ilustrador free-lancer e estou preparando um livro que será lançado pela Editora EME, uma das maiores editoras espíritas do país. Meus verdadeiros amigos, antigos e novos, desdobram-se numa esforço incansável, ininterrupto, para arrecadar o dinheiro necessário para minha cirurgia, de modo que eu possa livrar-me do cativeiro da cama e finalmente ir para a cadeira de rodas. E como meu corpo continua a se regenerar, contrariando todas as previsões, eu futuramente quero ir da cadeira de rodas para uma mesa de cirurgia receber um implante de células-tronco. Sim, vou voltar a andar.
Impossível? Essa palavra jamais existiu em meu vocabulário, mesmo quando eu podia caminhar. Tudo o que fiz, da lesão pra cá, era “impossível”. Gradualmente, de modo lento mas inexorável, estou recuperando tudo o que perdi. Pensando bem, estou ganhando muito mais do que perdi: mais amor, mais amizades, mais maturidade, mais força, mais fé. Muito mais fé. Eu sou Alfredo Karras, escritor e cartunista. E a minha história continua.”
Pessoal, a recuperação de Alfredo é realmente muito complicada, visto que desde que foi baleado, uma calcificação começou a formar-se na articulação de seu fêmur esquerdo com o quadril. Esta calcificação está reduzindo cada vez mais a mobilidade da articulação, fazendo com que sua perna fique cada vez mais reta, sem poder dobrar-se. Esse problema faz com que Karras não consiga transferir-se sozinho da cama para a cadeira de rodas e seja quase que totalmente dependente para tudo. Então há a campanha “Salvem Karras” com o objetivo de arrecadar dinheiro para a cirurgia que ele precisa fazer, pois essa é muito cara, custa cerca de R$ 15.000,00. A calcificação é tão grande e a cirurgia tão arriscada que ele pode precisar de duas intervenções, o que elevaria o valor para R$ 30.000,00. A prótese, caso seja necessária, custa cerca de mais R$ 15.000,00. Mas todos podemos ajudar. Você pode fazer a doação através do site http://www.salvemkarras.com.br. Você também poderá ajudar na campanha de Alfredo encomendando uma caricatura e em breve comprando camisetas com trabalhos feitos pelo próprio artista. Além disso, há a campanha do “Dia 10″, ou seja, todo dia 10 cada um pode depositar R$ 2,00 na conta de Alfredo:
Titular:
Carlos Alfredo Martins (Alfredo Karras é pseudônimo)
Banco do Brasil
Agência:
1006-5
Conta Poupança:
62906-5
Eu irei fazer a minha parte, e você? Se não puder ajudar financeiramente, peço que compartilhe, pois não custa nada na sua vida, mas pode ser um grande progresso na vida de Alfredo. Abaixo seguem os contatos de Alfredo e da coordenadora da campanha “Salvem Karras”:
Facebook:
http://www.facebook.com/alfredo.karras
Luciana Valiengo ( coordenadora da campanha “Salvem Karras” )
Por: Laura Marcon de Azevedo
Link original: http://egaliterhe.wordpress.com/2012/07/06/impossivel-essa-palavra-jamais-existiu-em-meu-vocabulario/
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