Coluna Econômica - 29/8/2013
Não há discussão mais recorrente no país do que a falsa dicotomia entre câmbio e reformas estruturais para se alcançar a competitividade da produção nacional.
Os mercadistas são contra qualquer forma de defesa da produção interna via câmbio. Argumentam que, em vez da desvalorização cambial, a economia deveria buscar ganhos de produtividade, investindo em reformas, melhoria fiscal, infraesterutura etc..
Já os defensores de políticas industriais sustentam que o câmbio é elemento essencial para se obter a competitividade.
A lógica é simples.
Para ser competitiva, empresas necessitam de produtos com boa relação custo x benefício. Produtos de maior sofisticação custam mais caro; produtos mais simples, mais baratos. Ambos têm espaço no mercado.
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Há casos em que empresas pequenas conseguem desenvolver tecnologias matadoras ocupando nichos de maior valor. Mas a maior parte das empresas (e países) têm uma linha de aprendizado padrão. Começam pequenos, conquistam mercado via preço. Depois, à medida em que vão crescendo, ampliam os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, produzindo produtos cada vez melhores e mais caros.
Foi assim nos milagres japonês, coreano e chinês. Foi assim com empresas como a LG e a Samsung – até poucos anos atrás fabricantes de computadores pessoais de segunda linha.
***
O custo final de um produto depende de uma série de fatores: custo da tecnologia, mão de obra, logística, impostos, burocracia etc. E câmbio.
Quando existe uma disparidade entre produtos internos e externos, a única saída para conferir competitividade ao produto interno é através da desvalorização cambial.
Confira o exemplo hipotético abaixo.
Situação 1
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País A
|
País B
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Matéria prima
|
30,00
|
20,00
|
Salários
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40,00
|
20,00
|
Tributos
|
30,00
|
10,00
|
Burocracia
|
10,00
|
5,00
|
Custo final
|
110,00
|
55,00
|
Morda/US$
|
0,50
|
1,00
|
Preço em US$
|
55,00
|
55,00
|
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Situação 2
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País A
|
País B
|
Matéria prima
|
25,00
|
20,00
|
Salários
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39,00
|
20,00
|
Tributos
|
12,00
|
10,00
|
Burocracia
|
8,00
|
5,00
|
Custo final
|
84,00
|
55,00
|
Morda/US$
|
0,65
|
1,00
|
Preço em US$
|
55,00
|
55,00
|
Na Situação 1, para um mesmo produto o custo de produção do País A é de 110,00 contra 55,00 do país B. Como competir? O único caminho é o País A desvalorizar sua moeda, de maneira a valer a metade da moeda do País B. Assim, na hora de converter em dólar (a moeda que serve de parâmetro para o comércio exterior brasileiro), os preços se igualam.
Na Situação 2, o país conseguiu melhorar o custo da matéria prima, dos salários, tributos, etc. Chegou a um custo final de 84,00, contra os 55,00 do concorrente. Nesse caso, a moeda local poderá se valorizar de 0,50 para 0,65 porque os demais fatores melhoraram.
***
Não há tanto mistério na lógica das políticas industriais, para suscitar tantos e tantos anos de debate.
Há que se trabalhar sobre os custos internos, investir em inovação, utilizar o poder de compra do Estado para estimular setores novos e desvalorizar o câmbio para poder competir com produtos externos, investir em educação e infraestrutura.
As discussões centrais, ainda não totalmente definidas, são em relação ao modelo de inserção do país na economia global, abrindo-se cada vez mais para o mercado internacional.
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