Coluna Econômica - 17/10/2012
Ao longo da história, teorias econômicas quase sempre serviram de ferramentas teóricas para consolidar ganhos de grupos hegemônicos.
Apenas depois da grande crise de 2008, os economistas internacionais – especialmente nos EUA – passaram a se debruçar sobre o conjunto de ferramentas desenvolvidas por economistas de mercado para legitimar seus ganhos.
Uma das principais foi o sistema de metas inflacionárias – instituída no país pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
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Seus princípios são os seguintes:
1. A autoridade monetária define uma meta para a inflação nos próximos 12 meses.
2. Depois, consulta o mercado, para saber quais as expectativas dos agentes financeiros em relação à inflação.
3. Se as expectativas estiverem acima da meta, aumentam-se os juros; se estiverem abaixo, reduzem-se os juros.
O princípio por trás desse movimento é a presunção de que inflação mais alta significa descompasso entre a oferta e o consumo. Aumentando os juros, espera-se que ocorram os seguintes fenômenos na economia:
- Com o crédito mais caro, os consumidores irão comprar menos.
- Vendendo menos e com o capital de giro mais caro, as empresas reduzirão o nível de seus estoques.
- Esfria-se a economia e, com menos vendas, haveria redução de preços geral, até a inflação chegar às metas fixadas pela política monetária.
Para consolidar ainda mais o poder das metas, definiu-se que caberia ao implementador (o BC) mirar a inflação como alvo único, deixando de lado sequelas que pudessem ocorrer na economia pelo uso desmedido dos juros.
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No Brasil, devido ao enorme diferencial entre as taxas de juros na ponta (para o consumidor) e a Selic, ela jamais exerceu impacto sobre o consumo, mas enorme impacto negativo sobre a oferta.
Na prática, ocorreu sempre o inverso.
- Taxas de juros elevadas não alteraram o comportamento da demanda, nem de consumidores nem de empresas.
- Porém afetaram drasticamente a decisão de investir por parte das empresas.
- Com menos investimentos, aumentou a defasagem entre oferta e demanda.
Vamos entender melhor esse descompasso.
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Teoricamente a Selic atuaria sobre o consumo através do canal do crédito. Para avaliar sua eficácia, portanto, a melhor maneira é analisar a seguinte correlação:
Aumento da Selic-> Aumento dos juros do crediário -> Redução da demanda -> Redução dos preços.
Nas últimas décadas, raras vezes o crédito ao consumidor foi inferior a 4% ao mês (equivalente a 60% ao ano).
Como a Selic é uma taxa anual, 2% ao ano significará 0,17% ao mês.
Mesmo se fosse totalmente repassada para a taxa de financiamento, o impacto sobre o valor da prestação final seria ínfimo, sem afetar de forma significativa a decisão do consumidor.
A cada redução de meio ponto, um ponto na Selic, o mercado regurgitava previsões catastróficas sobre os rumos da inflação.
Confira esse terrorismo à luz dos números demonstrados:
No caso de redução de 0,5 ponto na Selic, mesmo se repassada integralmente para o financiamento, o valor da prestação subiria de R$ 47,17 para R$ 47,51, ou 34 centavos a mais. Mesmo no caso de uma elevação radical, de 4 pontos percentuais ao ano, o valor da prestação aumentaria em R$ 2,62, ínfima perto do estrago que 4 pontos percentuais na Selic provocaria nas contas públicas.
O efeito Selic na prestação
O crédito e as medidas prudenciais
O mesmo financiamento, com o prazo máximo reduzido para 48 meses. O valor da prestação subiria para R$ 43,30, ou 8% a mais. Se se exigisse 20% de entrada, o consumidor necessitaria poupar o equivalente a cinco meses da prestação anterior, para poder adquirir o bem.Um IOF de 0,5% elevaria a prestação do financiamento original para R$ 47,17, ou 17,7% de alta. Por que são mal vistas no mercasdo? Porque prescindem do aumento de juros da dívida pública.
O efeito da Selic sobre o capital de giro - 1
Teoricamente, a Selic poderia então impactar as empresas, já que encareceria seu capital de giro. Teoricamente, as obrigaria a reduzir os estoques e, com isso, reduzir as compras da indústria que, por sua vez, reduziria as compras dos seus fornecedores. Trata-se de outra falácia. De suas uma: ou a empresa repassaria para os preços (aumentando a inflação) ou absorveria a elevação do custo financeiro.
O efeito da Selic sobre o capital de giro – 2
Se a elevação da taxa de juros encarecesse a formação de preços do produto, de duas uma:
- Mantida a demanda, a empresa repassaria a alta para os preços, caso em que o aumento de juros provocaria também aumento na inflação.
- A empresa absorveria, por insignificante, a elevação do custo financeiro dos estoques.
O aumento da Selic sobre o capital de giro – 3
Aí aumenta-se a Selic em expressivos 4 pontos percentuais. O impacto de um aumento (brutal) de 4 pontos na taxa Selic no custo financeiro da empresa será de R$ 3,28 por produto. Se o preço final é R$ 1.000,00, esses R$ 3,28 correspondem a apenas 0,33%. Ou o empresário aumenta o preço de R$ 1.000,00 para R$ 1.003,33 ou simplesmente absorve a elevação do custo financeiro. O impacto será mínimo sobre o preço e sobre a demanda.
O aumento da Selic sobre investimentos
O empresário planeja investimento em uma fábrica que lhe renda R$ 1 milhão de lucro por ano e um retorno em 20 anos. Com a Selic a 12% ao ano, ele poderá investir no máximo R$ 7,5 milhões, para que aqueles R$ 1 milhão/ano. Se a Selic cair para 8%, ele passará a esperar uma taxa de retorno similar. Para ter um retorno de 8% ao ano, seu investimento poderá ser de R$ 9,8 milhões.
Blog: www.luisnassif.com.br
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