Coluna Econômica - 23/8/2013
O que está ocorrendo agora nada tem a ver com eventual inadimplência de países emergentes. Trata-se de um ensaio, tendo em vista a expectativa do FED (o Banco Central dos EUA) retirar os chamados estímulos monetários.
Esses estímulos consistem no resgate periódico de títulos da dívida dos EUA. Em vez de rolar a dívida, paga-se em dólares, inundando o sistema financeiro internacional com a moeda e mantendo as taxas de juros (em dólares) em níveis historicamente baixos.
Deflagra-se então um movimento de saída de recursos dos EUA, especialmente dos grandes fundos de investimento e, principalmente, de pensão, cujos cálculos atuariais embutem taxas mínimas de remuneração, para dar conta dos compromissos futuros, não atendidas pelos juros em dólares.
Ao mesmo tempo, essa revoada de dólares provoca a valorização de todos os ativos expressos em outras moedas, dentre os quais o real foi dos mais expressivos.
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O fim dos estímulos monetários reverte o processo. Haverá um aumento das taxas de juros nos EUA, um refluxo dos investimentos norte-americanos, de volta para o país. Essa reacomodação da poupança global provocará uma desvalorização nas moedas e nos ativos dos emergentes.
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É o chamado jogo do mico-preto. Quando se inicia o processo de desvalorização do real, que sai por último paga a conta.
O cálculo é simples:
- O investidor tem, suponhamos, R$ 100 milhões aplicados aqui.
- Com o dólar a R$ 2,20, fará a conversão e ficará com US$ 45,5 milhões.
- Com o dólar a R$ 2,40, seus R$ 100 milhões valerão apenas US$ 41,7 milhões.
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Esse é o mote inicial da corrida.
O mote final será o segundo tempo do jogo, quando se concretizar, de fato, o fim dos estímulos monetários e a fuga de dólares se tornar maciça.
Nesse momento, os emergentes terão dificuldades em financiar seus déficits em contas correntes. As empresas enfrentarão dificuldade para rolar suas dívidas em dólares. Escassearão as linhas de crédito às exportações e importações. A estilingada do dólar pressionará os preços e o Banco Central aumentará os juros.
Depois, será questão de tempo para a moeda se acomodar em um novo patamar e se administrar os prejuízos: empresas endividadas em dólares e inflação pressionada.
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Há trunfos para tornar a transição menos traumáticas que em outros momentos de cataclisma global.
A primeira, a existência de reservas cambiais para garantir a oferta imediata de dólares.
A médio prazo, o plano de investimentos em infraestrutura que, se bem estruturado, significará investimentos consideráveis nos próximos anos.
A relativa estagnação da economia poderá amortecer os impactos sobre os preços.
Por outro lado, colidirá com os aumentos reais de salários dos últimos anos. As empresas exportadoras se beneficiarão do reajuste cambial e da recuperação da economia norte-americana. Aquelas que operam no mercado interno - especialmente o setor de serviços e comércio - não.
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