A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional recebeu na quarta-feira, 6/4, a visita de Pierre Krähenbühl, comissário-geral da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA).
No encontro com a presidente da Comissão, deputada Jô Moraes, Krähenbühl destacou a gratidão daquela comunidade ao Brasil, pela ajuda humanitária enviada e reiterou a importância da continuidade deste apoio para a manutenção da dignidade humana dos refugiados.
Confira abaixo a entrevista feita com o comissário-geral da UNRWA:
Qual a real situação vivida hoje nos territórios palestinos?
Primeiramente há que se compreender que a situação no Oriente Próximo e nos territórios palestinos é muito crítica. São 50 anos de ocupação, há na Faixa de gaza um bloqueio militar imposto por Israel, há as consequências do conflito do ano passado – 120 mil pessoas sem casa, destruídas durante o conflito, cuja reconstrução não consegue avançar.
Há, portanto, muitos problemas que a comunidade palestina não consegue resolver, sobretudo os relativos à nossa Agência para os Refugiados Palestinos. Eu creio que não se possa deixar uma situação deste tipo sem nenhuma ação política para tentar resolvê-la. Porque a cada ano que passa o quadro e apresenta mais grave, mais crítico em relação aos direitos humanos. Falamos de completa falta de dignidade, de respeito aos mais básicos direitos. São todos problemas muito importantes.
A Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), tem como responsabilidade cuidar de 5 milhões de refugiados palestinos que vivem na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria. Estes são os territórios de operação da UNRWA e comemoramos, agora em maio, 65 anos. Conseguimos resultados muito importantes ao longo deste tempo.
Por outro lado temos que pensar no que conseguiremos fazer em termos de educação, saúde, segurança e isto nos faz lembrar também da falta de uma solução política para o problema. O tempo passa e vemos gerações e gerações de palestinos que não têm uma perspectiva de ter um Estado próprio, de ter uma resposta, uma solução justa e digna para esta situação.
De que forma o Brasil poderia contribuir para mudar esta realidade?
Então, nossos esforços são todos no sentido humanitário de desenvolvimento, mas também de uma ação que se pode chamar de influência e de construção de relações com a comunidade de Estados para nos apoiar no campo diplomático e financeiro. Evidentemente há muito trabalho: temos 700 escolas com carências de todos os tipos; temos 22 mil professores e outros profissionais da área de educação que são necessários para executar estes serviços, além de 1 milhão de crianças – meninos e meninas – que frequentam estas escolas. Para conseguir administrar tudo isto é claramente necessário apoio diplomático e financeiro dos demais Estados.
Aqui no Brasil, minha visita é uma maneira de reconhecer o progresso importante que conseguimos com o Brasil nestes últimos anos e estou muito agradecido à presidência, ao Itamaraty, ao Congresso, a todos os que apoiaram este desenvolvimento em distintas etapas.
Nossa presença é modesta, pequena, aqui no Brasil, mas é importante para estabelecer um diálogo diplomático e político sobre o apoio e iniciativas possíveis, sobretudo em termos financeiros, sobretudo na educação, mas também alimentar. Tudo isto é muito importante.
Estamos pensando agora que o Brasil é o primeiro país latino-americano a entrar para os BRICS, em seu conselho e comitê consultivo. Então penso que valha a pena intensificar perspectivas de visitas, por exemplo, de membros do congresso brasileiro, do mesmo modo que estabelecer acordos e buscar formas de apoio mais regulares em termos orçamentários, em um movimento de solidariedade ao povo palestino de forma a mantermos a identidade e dignidade desta comunidade.
Sabemos que no Brasil as questões de Direitos Humanos e justiça são muito importantes e creio que temos uma perspectiva muito interessante de buscar este apoio e creio que o Congresso e seus deputados podem exercer um papel muito importante neste apoio. Porque no Oriente Médio, vemos isto diariamente, é uma região muito instável e com todos os problemas existentes esta seria uma forma de contribuição para a estabilidade e a dignidade de uma comunidade que está muito vulnerável.
Por: Cláudia Guerreiro