O COMPORTAMENTO PSICOPATA DAS GRANDES CORPORAÇÕES
O documentário “The Corporation” (2003), super atual, milhões de acessos na internet, foi produzido por 200 pessoas em 8 anos, o mais popular do Canadá, recebeu 10 prêmios internacionais; entrevista grandes intelectuais e jornalistas, tais como Noam Chomsky, Jeremy Rifkin, Michael Moore, Vandana Shiva (ativista ecológica indiana) entre outros.
O documentário examina a natureza, a evolução, o impacto e o possível futuro da corporação moderna. Há 150 anos atrás as Grandes Corporações tinham um papelinsignificante, hoje elassão ONIPRESENTES. No início era um grupo licenciado pelo Estado para explorar uma tarefa; como um grupo reunido para construir uma ponte; havia poucos desses grupos nos EUA . Tinham regras muito claras colocadas pelo Estado: por quanto tempo operavam, qual o valor do capital, os grupos não faziam nada mais do que estava contratado; não podiam possuir outra corporação; podiam ser responsabilizados, tanto na lei quanto nos fatos. As corporações eram consideradas um presente do povo para servir o bem público.
A 14a Emenda foi aprovada no final da Guerra Civil dos EUA, para dar direitos iguais aos negros. O Estado não podia tirar a vida a liberdade e a propriedade dos negros. As corporações aproveitaram e disseram que você não pode tirar a vida a liberdade de uma pessoa, “nós somos uma pessoa” e a Corte Suprema aceitou isso. Um grupo quer investir seu dinheiro numa empresa, então ele pede licença para ser uma corporação. O governo concede essa licença e a corporação opera legalmente como uma pessoa, uma pessoa jurídica. tem muitos dos direitos de uma pessoa – pode comprar e vender propriedades, fazer empréstimos. Pode processar e ser processada. Pode conduzir um negócio. Tendo ela obtido os direitos de uma pessoa, a pergunta é: “que tipo de pessoa é uma corporação?”. Corporações tem os direitos de pessoas imortais, mas são pessoas especiais, pessoas sem consciência moral, são um tipo especial de pessoa. O problema com os cidadãos corporativos é que eles são diferentes de nós, como disse o barão inglês Thurlow “elas não tem alma a salvar e nem corpo a ser preso”. Elas tem uma característica perturbadora: a lei exige que os interesses financeiros dos donos estejam acima dos demais interesses, uma corporação é obrigada a por seus interesses acima de tudo. Até do bem público. Não é uma lei da natureza é uma decisão específica, judicial. As corporações só querem crescer e serem lucrativas. Agindo assim, elas se tornam mais lucrativas, pois fazem os demais pagarem por seu impacto na sociedade.
Há uma palavra terrível usada pelos economistas: “externalidades” : externalidade é o efeito da transação de duas pessoas sobre outra que não consentiu ou participou da transação. Sem dúvida, há grandes problemas nesta área: conduzir um negócio é difícil, há sempre custos a serem cortados, a uma certa altura a corporação diz : que alguém mais faça isso : que alguém mais forneça poder militar ao Oriente Médio, para proteger o petróleo na fonte, que alguém mais construa as estradas para nossos automóveis, que alguém mais cuide desses problemas, pois tenho os meus próprios. Para determinar o que leva a corporação a agir como uma máquina externalizadora podemos analisá-la como um psiquiatra faria com um paciente. Podemos elaborar um diagnóstico tendo como base casos típicos de males causados a terceiros selecionados de um universo de atividade corporativa.
Lista de Diagnóstico da Personalidade, segundo a Organização Mundial da Saúde e o Manual de Distúrbios Mentais: 1) “Descaso pelos sentimentos alheios” ; 2) “Incapacidade de manter relações duradouras” ; 3) “descaso pela segurança alheia”; 4) insinceridade: “repetidas mentiras e trapaças para obter lucro” ; 5) “Incapacidade de sentir culpa” ; 6) “incapacidade de seguir as normas sociais de conduta dentro da lei”. ...
Dr. Robert Hare, Ph.D. (consultor do FBI sobre psicopatas): uma das perguntas recorrentes é até que ponto uma corporação pode ser considerada PSICOPATA. Podemos analisar as características que definem esse distúrbio e ver como elas podem se aplicar às corporações. Em muitos aspectos a corporação é o psicopata típico. Se a instituição dominante de nosso tempo foi criada à imagem de um psicopata, quem é o responsável moral por suas ações ?
O documentário em seguida apresenta uma série de externalidades que comprovam a Psicopatia das Corporações. Entre elas : 1) exploração de mão de obra barata e infantil no Terceiro Mundo, pagando salários aviltantes, sem se importar com direitos humanos, exploração de menores e mulheres e homossexuais ; 2) Mal à saúde humana. Samuel Epstein: “não tenho dúvidas, tenho documentos que comprovam, que a grande indústria é a responsável por essa avassaladora epidemia onde um em cada dois homens contraem câncer, onde uma em cada três mulheres contraem câncer”. Resultado do consumo de produtos tóxicos, produtos químicos sintéticos (DDT, rBGH, Posilac) : DDT e produtos petroquímicos para aplicar na lavoura como fungicidas, pesticidas,etc. geram câncer, defeitos de nascença e outros efeitos tóxicos. As empresas sabem disso. Pelo menos a maioria sabe e tenta banalizar esses riscos. 3) Mentiras. Existe um processo de dois jornalistas da Fox que provaram os efeitos nocivos no leite, contra a Monsanto e foram demitidos, porque não aceitaram mentir sobre o caso. O nome comercial Posilac, é usado em mais de 25% das vacas leiteiras dos EUA, segundo a Monsanto. O leite é bebido por grande parte dos americanos pois o FDA declarou que é seguro por vacas e humanos. Enganaram o FDA, apresentando diagnósticos alterados, ou eles se deixaram enganar. Na época a Monsanto dizia: “não há provas de efeitos nocivos, não usamos antibióticos.” E isto mostrou claramente que eles mentiram. ….O Canadá e a Europa mantiveram a proibição do rBGH, mas ele continua escondido na maior parte do leite dos EUA. …..A Monsanto perdeu o caso do agente Laranja, para soldados americanos que participaram da guerra na Indochina (a população nativa não foi indenizada) mas nunca admitiu a culpa ; 4) praticamente todas as grandes corporações já pagaram multas por diversos abusos: poluição, monopólio, abuso trabalhista, etc. Novamente temos o problema da capacidade de seguir as normas e a lei. A questão é o custo. Se a chance de ser descoberto e a multa forem menores do que o custo de seguir a lei, as pessoas vêem isso como uma decisão comercial. Incapacidade de seguir as normas sociais de conduta dentro da lei.
Dra. Vandana Shiva (ativista ecológica indiana): “A corporação não é uma pessoa, ela não pensa. As pessoas nela pensam e para elas é legítimo criar uma tecnologia exterminadora. Para que fazendeiros não consigam salvar suas sementes – sementes que se autodestruirão através de um gene suicida. Sementes criadas para produzir somente uma colheita por estação. É preciso ter uma mente brutal. É uma guerra contra a evolução pensar nesses termos. Para eles o lucro tem muito mais importância.” …
Chomsky: “a corporação precisa transformar a população em consumidores inconscientes de produtos que não desejam. É preciso desenvolver desejos. Então é preciso criar desejos. Impor uma filosofia da futilidade.O ideal é ter indivíduos desassociados entre si, cuja concepção de si mesmos, o senso de valor é a quantidade de desejos que consegue satisfazer. ” ...
Michael Moore : “a incrível falha do capitalismo. O ditado diz que o rico venderá a corda para se enforcar se ele achar que lucrará com isso. Sou parte da corda. Eles também acham que quando as pessoas assistirem este filme... elas verão o filme e não farão nada....porque fizeram um bom trabalho entorpecendo suas mentes.... tornando-as idiotas, e elas jamais farão algo....não deixarão o sofá para tomar uma ação política. Eu acho o oposto. Estou convencido de que alguns deixarão o cinema sairão do sofá e farão algo para retomar o mundo.” …
Em Arcata, Califórnia, 61% da população votou pela discussão pública sobre se a democracia é possível com as corporações tendo tanta riqueza e poder. Eles votaram pela formação de um comitê para assegurar o controle democrático sobre as corporações.
Daniel Miranda Soares é economista, administrador público aposentado, ex-professor universitário.
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