Eis um dos momentos mais inspirados e inspiradores da música brasileira em todos os tempos: a histórica polêmica entre Noel Rosa e Wilson Batista ocorrida na década de 30, mais precisamente em um período de três anos, entre 1934 e 1936.
Tudo começou quando, em 1934, um sambista ainda desconhecido - Wilson Batista - compôs um samba, de certa forma ousado, chamado "Lenço no pescoço", no qual fazia a apologia da malandragem. O já famoso Noel Rosa parece ter ficado muito incomodado com a exaltação da figura do malandro e compôs como resposta o samba "Rapaz folgado", onde ridiculariza não somente o samba de Batista, como a malandragem e o autor:
"Malandro é palavra derrotista...
Que só serve pra tirar
Todo o valor do sambista.
Proponho ao povo civilizado
Não te chamar de malandro
E sim de rapaz folgado"
Pronto, a polêmica estava lançada e renderia ainda outros 7 sambas, alguns famosos até hoje como "Feitiço da vila" e "Palpite infeliz", ambos de Noel - de fato um compositor maior que Wilson Batista. Aliás, este último acabou por ganhar notoriedade mesmo devido à polêmica na qual se envolveu com Noel.
Um fato interessante é que, à época, quase ninguém tomou conhecimento da disputa criativa entre os dois sambistas. Somente em 1956, em produção da gravadora Odeon, é que a polêmica se tornou um sucesso, ao virar disco, com Roberto Paiva e Francisco Egydio fazendo as vezes de Noel e Wilson defendendo seus gloriosos sambas.
Desde então a polêmica vem sendo recriada, por iniciativas como as do Instituto Moreira Salles que em 2012 realizou espetáculo, com Monarco e Nelson Sargento, em homenagem a este acontecimento saboroso da história do samba e também em 2013 com os cantores Criolo e BNegão.