“Chatô - O Rei do Brasi” é um filme que tem a história de sua produção quase tão interessante quanto a história contada na tela.
Foram diversas polêmicas - envolvendo desde denúncias de mau uso de dinheiro público, passando por condenações judiciais e até mesmo a participação do renomado cineasta Francis Ford Coppola - que rechearam as duas décadas de produção da película - iniciada em 1995 pelo diretor Guilherme Fontes - concluída e lançada nos cinemas no último dia 19 de novembro.
No entanto, a espera valeu a pena.
O temor, devido a todos os problemas pelo qual o filme passou, era de que a obra seria uma espécie de colcha de retalhos, sem nexo e cheia de remendos. Felizmente o filme surpreende positivamente. Sobretudo aos interessados na figura do grande magnata do jornalismo brasileiro da primeira metade do século 20, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, o Chatô.
Guilherme Fontes se revela um grande diretor, que espero não demore mais duas décadas para fazer outro filme. Apesar de que Chatô já se candidata a ser sua obra-prima.
Já o ator Marco Ricca talvez tenha realizado uma das maiores interpretações da história do cinema brasileiro. Bem como Andréa Beltrão, que também atua vigorosamente. Não posso esquecer do Getúlio hipercaricato de Paulo Betti. Deliciosamente bizarro.
Por fim, como pano de fundo, vemos a história do Brasil da Era Vargas e suas relações com a grande imprensa - devedora de sua "modernização" naquele período à verve do canalha-mor Assis Chateaubriand - esteticamente embalada numa farsa brilhante.
A história de Chatô, tortuosamente contada por Guilherme Fontes, revela a essência do Brasil: um carnaval delirante, triste e mal-ajambrado.