Hoje faz seis meses que nos falamos pela última vez.
Ainda lembro de maneira vívida a primeira vez que saímos. Ela estava linda, com aquele sorriso contido, meio sem jeito, sem saber onde enfiar as mãos ou o que dizer. Não. Ela sempre sabia o que dizer. E assim me desconcertava, com aquele ar de contrariedade.
O telefone dela tocou. A voz de Chet sussurrava "I fall in love too easily..." Mau agouro. Dos dois, eu tinha o coração mais fraco. Eu fiquei apaixonado. Ela não. Fim da história. Não precisaria escrever mais nada. É banal.
Mas vivemos bons momentos. Ficávamos em hotéis baratos do centro. Ela se divertia como uma criança. Eu ficava acabrunhado por ela não me querer como eu a queria. Até que um dia ela não quis mais, aquilo que nunca tinha sido um querer.
A última mensagem foi dela. Respondia, num domingo à noite, aos meus votos de ótima noite e ótima semana com um lacônico "boa noite."
Com um ponto final. Se fosse somente o boa noite, talvez fosse somente mais uma das tantas indiferenças dela. Afinal, ela parecia mesmo viver em um mundo à parte, flutuando imperceptíveis milímetros acima do chão. Ela flutuava. Eu ficava cada vez mais pesado. "I fall in love too fast..."
Aquele maldito ponto final...
Tudo que restou foi o número dela anotado em um papelzinho recortado por uma daquelas tesouras dentadas.
Fica no fundo da gaveta. O contato já foi deletado da agenda do celular há muitos meses. Volta e meia abro a gaveta, pego o papelzinho - sem olhar muito para não correr o risco de decorar o número - e adiciono novamente. Só para ver se ela está on-line no whats ou a última vez que visualizou suas mensagens.
"I fall in love too terribly hard..."