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Star Trek: Renegades: o sacrifício não honrou

18 de Setembro de 2015, 22:34 , por Eduardo Freitas - | No one following this article yet.
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A premissa de Star Trek Renegades é interessante: uma grave ameaça ao fornecimento de cristais de Dilithium à Federação expõe o que parece ser uma conspiração envolvendo seu alto comando. Até aí tudo bem, afinal é completamente verossímil o fato de que qualquer organização - mesmo aquelas da evoluída sociedade do século 24 do universo de Star Trek -  possam conter elementos que destoem do restante do grupo. Por sinal, já vimos isso em Star Trek Into Darkness, quando o militarista Almirante Marcus conspirou no sentido de provocar a guerra total contra os klingons, a despeito do caráter pacífico da Federação.

O filme, dirigido por Tim Russ (Voyager), que também volta a interpretar Tuvok, nos apresenta a formação de um grupo de “renegados”, dez anos após o retorno da nave Voyager ao quadrante beta. O objetivo do grupo será enfrentar o terrível Borrada - uma mistura de Khan, Shinzon e Nero -,líder do planeta Syphon, que vem destruindo planetas inteiros, coincidentemente grandes fornecedores de Dilithium. De mãos atadas, devido a impossibilidade de atacar diretamente Borrada em seu planeta, por conta da Primeira Diretriz, o almirante Pavel Chekov (Walter Koenig), agora com 143 anos, pede ajuda a Tuvok (Tim Russ), responsável pela Seção 31, para a organização de um grupo de mercenários que possa salvar a Federação desta ameaça.

E é justamente por aí que Star Trek Renegades começa a resvalar, jogando na lata do lixo os ideais de Gene Roddenberry presentes quando este, há quase 50 anos, criou a franquia.

Nesta produção atual, investe-se na violência e nas batalhas espaciais, em detrimento dos diálogos inspirados e inspiradores, construídos sobre a diplomacia e sobre o lema “pesquisar novas vidas, novas civilizações”, que caracterizaram Star Trek por tantos anos. Star Trek Renegades é um filme feito para uma geração que mais valoriza as imagens do que as falas; que prefere a violência gratuita aos aborrecidos ideais humanistas, que sempre nortearam Jornada nas Estrelas. É notória a opção pela ação, deixando-se a ficção científica de lado.

No entanto, estes são apenas alguns dos aspectos negativos de Star Trek Renegades.

Muitas cenas são extremamente prosaicas, revelando problemas de roteiro e de direção. A cena na qual Lexxa (Adrienne Wilkinson), após ser resgatada de uma prisão por Tuvok, retoma o controle da nave Icarus  a fim de liderar o grupo dos renegados, é patética. Ao invadir a nave, simplesmente vaporiza o capitão usurpador, senta-se em sua cadeira e diz: “Mais alguém se opõe que eu comande minha nave de novo?”. Ao que Ragnar (uma espécie de Hans Solo) responde: “Muito bom tê-la de volta!”. Tudo muito simples e sem o menor dilema em relação ao extermínio de vidas. Apesar de Lexxa afirmar que não é parecida com o seu pai (é filha de Khan Noonien Singh!), estes são os novos heróis, nem um pouco éticos, de Star Trek. Porém, há um acerto na construção da personagem Lexxa: o uso do poema vitoriano "Invictus", de William Ernest Henley, que tem a função (um pouco didática demais) de apresentar  ao público o seu perfil.

Outro problema do filme é carregar as tintas no sentimentalismo, como fica evidente nas cenas que mostram o relacionamento do Almirante Chekov e sua tataraneta. A cena na qual é descoberta uma nano-bomba implantada em sua mão, havendo a necessidade de decepá-la com um phaser, ganharia qualquer prêmio na categoria “melhor cena piegas”, devido ao abusivo uso do slow, que por sinal já havia sido usado equivocadamente em cena de Lexxa, fazendo-a parecer uma supermodel desfilando.

Mas nem tudo são horrores.

Um dos pontos positivos de Star Trek Renegades é apresentar, embora de maneira superficial, os conflitos entre as diferentes raças: bajorianos, cardassianos, betazóides e borgs desassimilados nos convidam a uma reflexão (dentro dos limites de Renegades, obviamente) sobre as relações de alteridade, sobre o convívio com o outro.

Positivamente surpreendente também, é o fato do filme possuir uma personagem LGBT, a hacker andoriana Shree, interpretada por Courtney Peldon - contudo é uma personagem muito sexualizada e, nesse sentido, ajuda a reforçar estereótipos. Igualmente interessante é a participação de diversos medalhões de Star Trek, como Walter Koenig, Tim Russ e Robert Picardo, dentre outros, além da atriz Sean Young, de Blade Runner, que, contudo, não conseguem salvar a produção.

Respeito muito toda produção relativa à Jornada nas Estrelas, sobretudo as que não se tratam de produções oficiais dos grandes estúdios. Star Trek Renegades demonstra muita boa vontade por parte dos realizadores em fazer algo bem feito. Porém, existem muitos problemas, que descaracterizam a produção como uma produção que leva o nome de Star Trek. Espero que a ideia do filme - que também é o piloto de uma nova série - não seja comprada pela CBS. Não seria nem um pouco interessante o retorno de Star Trek à televisão com uma história tão pobre.

O vilão Borrada, antes de matar seus inimigos, sempre diz "seu sacrifício o honrará". Infelizmente, com Star Trek Renegades o sacrifício não honrou o legado da franquia.


Tags deste artigo: crítica star trek renegades star trek jornada nas estrelas