“Espaço: a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise. Em sua missão de cinco anos... para explorar novos mundos... para pesquisar novas vidas... novas civilizações... audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve.”
Raras são as pessoas que não reconhecem estas palavras, religiosamente repetidas a cada abertura da série original de Jornada nas Estrelas (EUA, 1966). O seriado, que na semana passada completou 49 anos, arrebata até hoje corações e mentes de aficcionados pelo gênero ficção científica em todo o mundo.
Star Trek, ou Jornada nas Estrelas na versão brasileira, é um fenômeno cultural de quase cinco décadas que continua mais vivo do que nunca. Basta lembrarmos da verdadeira comoção que se instalou nas redes sociais em fevereiro deste ano quando faleceu o ator Leonard Nimoy, intérprete do Sr. Spock.
O gesto característico do personagem, com a mão levantada e os dedos separados, formando um “V”, ao desejar “vida longa e próspera” é tão conhecido quanto à frase inicial deste texto. Aliás, este gesto tem origem na letra hebraica Shin e Nimoy, que era judeu, gostava de contar que viu, durante a infância, um rabino fazer o gesto e decidiu anos depois incorporá-lo ao seu personagem, talvez o mais querido pelos trekkers (fãs de Jornadas nas Estrelas) até hoje.
A missão original da Enterprise, prevista para durar cinco anos (e que durou apenas três, devido ao cancelamento da série no ano de 1968) chegou ao século 21 e mantém seu legado em cinco séries derivadas e em doze longas metragens, com o 13º filme sendo realizado neste momento e com estreia prevista para 2016, na ocasião que a franquia comemorá seus 50 anos. Tudo isto e mais as incontáveis produções realizadas por fãs, muitas delas com qualidade profissional e com histórias que merecem espaço no cânone das melhores já contadas por Jornada nas Estrelas.
E por que a razão de tanto sucesso?
Os ideais humanistas de liberdade, igualdade e fraternidade impressos na série por Gene Roddenberry, criador de Jornada nas Estrelas, talvez sejam uma boa explicação. Em plena guerra fria, a Enterprise original era composta por uma tripulação multiétnica, com homens e mulheres em condições de igualdade nas posições de comando. Na década de 60 os direitos dos negros nos Estados Unidos não eram garantidos e Jornada nas Estrelas foi o primeiro programa de TV a transmitir um beijo interracial, entre o Capitão Kirk (William Shatner) e a Tenente Uhura (Nichelle Nichols). Aliás, Nichols, quando decidiu deixar o seriado, foi convencida por Martin Luther King em pessoa a prosseguir e continuar sendo uma inspiração para a juventude negra norte-americana.
E funcionou, pois uma menina que assistia aquele seriado espacial e comentava com sua mãe ter visto uma atriz negra que não fazia um papel de empregada acabou, duas décadas depois, interpretando a personagem Guinan em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração.
Seu nome? Whoopi Goldberg.