As revelações de Edward Snowden, ex-colaborador da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, criaram muitas dúvidas sobre a confiabilidade das comunicações na internet, elevando o interesse por ferramentas como o The Onion Router (Tor), I2P e Freenet, que prometem criar ambientes anônimos na rede. Na semana passada, o Google anunciou a ferramenta uProxy, que deve ajudar pessoas a burlarem a censura da internet criando “pontes” de acesso com amigos.
O uProxy cria canais criptografados de segurança, o que, em alguns casos, pode dificultar o monitoramento do acesso. É claro que o amigo que autorizar seu uso como “ponte” para acesso à internet terá acesso aos dados transmitidos, a não ser que esses utilizem outro meio de proteção. O mesmo vale para a rede Tor. Mas qual a diferença entre as duas tecnologias?
Um computador intermediário do Tor não autoriza individualmente cada um dos computadores que usarão sua conexão. O acesso é livre. E um acesso do Tor pode passar por diversos outros intermediários, o que dificulta a rastreabilidade da comunicação. O computador “ponta”, que vai liberar os dados para a internet, não sabe de quem são aqueles dados – diferente do amigo que liberou o acesso do uProxy.
A diferença é que, embora a rede do Tor seja bem mais anônima, já que envolve diversas partes que não se conhecem, ela também não exerce nenhum controle. É por isso que sites disponíveis exclusivamente na rede Tor são conhecidos pela oferta de conteúdos ilegais, que incluem a pornografia infantil e a venda de drogas. Diversos sites do gênero foram fechados por autoridades norte-americanas recentemente, entre eles o Silk Road, que realizava comércio de drogas.
Essas diferenças ilustram o problema com qualquer rede descentralizada. Redes diretas, como é o caso de redes do tipo “mesh”, sem a interferência de governos ou provedores, em que qualquer pessoa poderia abrigar seu próprio conteúdo e transmiti-lo diretamente a outros usuários, acabam tornando todas as pessoas em transmissores de possíveis conteúdos ilegais ou em censores.
Não há meio de escapar: se não sabemos qual conteúdo estivermos transmitindo na internet, se o monitoramento for zero, conteúdos com os quais discordamos serão repassados por um sistema sob nosso controle. Não é possível construir uma rede que seja, ao mesmo tempo, aberta, anônima e livre de crime.
Um exemplo mais concreto: imagine o serviço de uProxy do Google, porém sem a necessidade que você autorize pessoas específicas a utilizá-lo. Você pode garantir que ninguém na internet transmitirá conteúdos ilícitos através do seu computador? Infelizmente, não é possível um monitoramento que só observe aquilo que não nos agrada.
Na prática, governos que praticam monitoramento excessivo, como é aparentemente o caso dos Estados Unidos, incentivam um movimento que leva mais conteúdo para redes anônimas e de difícil controle. Quem o governo pode culpar, além de si próprio?
A relação dos cidadãos com o governo deve ser estabelecida de tal maneira que promova a confiança mútua. As pessoas concordam em ser monitoradas, desde que o governo concorde em monitorar o mínimo necessário e apenas as pessoas cujas evidências apontarem para a prática de um crime.
O abuso do poder cedido ao governo leva naturalmente para uma postura mais defensiva de diversos internautas. Talvez não seja possível defender a ideia de uma “internet sem lei”, mas os governos do mundo todo precisam, antes, comprometerem-se a seguir uma lei que seja justa com os usuários da rede. Só então é possível exigir que internautas sejam justos com o controle e monitoramento.
Por Altieres Rohr.
Fonte: G1
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