Quando alguém quer navegar na internet, costuma recorrer a buscadores como o Google, Bing ou Ask.fm. Mas os dados que percorrem a rede mundial de computadores vão além do que é mostrado nessas ferramentas conhecidas como Crawlers (motores de busca). Muito do que não aparece nos resultados de busca, desde arquivos científicos, livros raros ou até mesmo novos vírus estão presente na “Deep Web” (Web Profunda).
No mundo online, existe um grande receio de que a Deep Web seja um espaço arriscado, com conteúdos ilegais e que atentam contra os direitos humanos. Para explicar como funciona esse “lado B” da web, o Portal EBC ouviu ciberativistas e membros de associações que lutam pelo uso seguro da internet. Eles desmitificam o ambiente, mas não deixam de alertar para os usos indevidos que ocorrem nas profundezas da internet.
Mas o que é a Deep Web?
A internet é formada por computadores com conteúdos conectados entre si por meio de uma rede de cabos espalhados pelo mundo. Por essa rede, pode-se chegar a qualquer máquina desde que se conheça o endereço da outra máquina. Na web, esse endereço é um protocolo chamado TCP/IP. O IP dá um número único a um computador (ou roteador) como se fosse um CEP.
Mas, em vez de decorar números, optou-se pelo uso de servidores de nomes (servidores de DNS), máquinas que possuem uma lista com as correspondências entre o IP e um endereço nominal. Por exemplo, o site da Receita Federal está hospedado em uma máquina com o IP 161.148.25.177, mas quem quer encontrá-la não precisa digitar os números e sim o endereço www.receita.fazenda.gov.br, que aponta para o IP 161.148.25.177.
Assim, os buscadores web acessam esses servidores de nome e rastreiam (detalhadamente) todos os conteúdos com permissão para serem acessados. Em síntese, a Deep Web seria, então, tudo aquilo que está disponível em máquinas e que não estão identificadas com um DNS, nem pelos motores de busca. Ao mesmo tempo, é comum ouvir que o que pode ser acessado facilmente está na superficie da internet.
Rodrigo Troian, integrante da Associação Software Livre Brasil, desmente a ideia da Deep Web ser uma segunda rede. Troian explica que o conteúdo da Deep Web está ligado diretamente na Internet, mas que somente são acessados se a pessoa souber o endereço da máquina. “A Deep Web não é nada mais que um gueto. Para você entrar, tem que fazer parte, tem que ter características específicas”, compara.
Uma pesquisa de 2000 da empresa internacional BrightPlanet, especializada no assunto, apontou que 95% dos dados disponíveis nesse lado oculto da Web são páginas públicas, normalmente oriundas de órgãos públicos, universidades e empresas – que guardam na rede documentos públicos, artigos científicos etc.
Navegação anônima
Uma das formas mais comuns de se navegar em parte da Deep Web é a feita pelo navegador Tor, que dificulta a embaralha a identificação dos computadores ao acessarem determinado conteúdo. O site foi criado pela Marinha dos Estados Unidos em 1996 e é mantido, atualmente, por voluntários pelo mundo.
Rodrigo Troian explica que o Tor dificulta o rastreamento, pois utiliza várias máquinas que ficam no meio do caminho. “Se eu quero ir de A para B, eu passo primeiro de A para D, de D para Z, etc”. O ativista alerta, entretanto, que os dados e a identidade da máquina de quem acessa não são invioláveis. “As pessoas confundem muito o Tor com navegação anônima. Ele tem o objetivo de dificultar a identificação do IP de onde você está. Em tese seria anônima, mas a navegação não é criptografada e pode ser rastreada na volta”, destaca.
Os usos e riscos na Deep Web
Por não ser encontrada em buscadores, a Deep Web traz diferentes conteúdos como livros raros, artigos científicos e fóruns de discussões específicas. Mas também pode ter computadores com propagandas para venda ilegal de drogas, textos preconceituosos e crimes diversos.
“A Deep Web era um incógnita até o ano passado. Mas esse ano caiu na boca do povo com tutoriais, fóruns e reportagens sobre o tema”, conta Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil, organização sem fins lucrativos que atua pelo uso seguro da internet.
A ONG realiza ações de conscientização e atendimento psicológico para combater a crimes de pedofilia e de ódio racial que acontecem na rede, o que se torna mais difícil de identificar quando não pode ser pesquisada. De acordo com Thiago Tavares, a SaferNet já recebeu denúncias e identificou links de crimes na Deep Web. A organização possui uma parceria com a Polícia Federal e 17 ministérios públicos, para quem encaminha todas as denúncias.
Contudo, Tavares ressalta que é preciso entender melhor a Deep Web. “Ela foi criada, inclusive, para a defesa dos direitos humanos. Mas, como qualquer ferramenta, pode ser usada para o bem ou para o mal”. Sobre os possíveis uso do espaço, ele aponta que ela é “usada também por jornalistas investigativos, militantes de direitos humanos, pessoas que precisam se comunicar sem o risco de serem monitoradas”, aponta.
Tavares cita, por exemplo,o caso do WikiLeaks, que divulgou vários conteúdos secretos do governo-americano e que começou na Deep Web. “Todo o ativistmo digital utiliza conexões seguras”.
Já Troian, integrante da Associação Software Livre, lembra o ditado “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose” ao citar os riscos da Deep Web. Ele destaca que existem várias pessoas fazendo a manutenção de máquinas e alimentando o conteúdo para fins diversos e que tanto a Polícia Federal quanto o FBI ou outras polícias do mundo estão infiltradas “analisando o que está sendo publicado”.
Mesmo com as diferenças, o presidente da Safernet alerta que a Deep Web não é um lugar interessante para adolescentes e crianças. “A dica que dou é se o seu filho anda por lá, você precisa conversar com ele porque não tem nada de interessante pra ele”, coloca. Ele explica que muitas organizações criminosas perceberam que esse ambiente era um lugar de difícil investigação por causa do anonimato e criptografia.
Além disso, Tavares afirma que, independente de ser na superficie ou nas profundidades da internet, é importante avaliar bem o que se coloca na internet. “Tudo que se coloca na rede é para sempre e o que você coloca dificilmente pode ser retirado”, conclui.
A matéria completa, incluindo um infográfico sobre o tema, pode ser encontrado no post original, no Portal EBC.
Com informações de EBC.
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