Em 2006, o governo brasileiro decidiu pela implantação do sistema japonês de TV digital para o Brasil, aliado ao Ginga – camada de software intermediário (middleware) que permite o desenvolvimento de aplicações interativas para a TV digital – para interatividade com os programas que estariam sendo exibidos. Desde então, a tecnologia evoluiu separadamente e de duas maneiras bem distintas: enquanto a maioria dos canais nacionais já possui transmissão em HD e se prepara para a transição definitiva, o uso do middleware ainda patina.
Em texto publicado no site Notícias da TV, o jornalista Gustavo Gindre decreta o abandono completo do Ginga, cuja implementação obrigatória vinha sendo adiada e, agora, está previsto para aparecer em todos televisores vendidos no Brasil apenas em 2015, apesar de já ser considerado um padrão pela Associação Nacional de Normas Técnicas (ABNT). Desde o ano passado, sua presença é obrigatória em 75% dos aparelhos.
São diversos os problemas que teriam levado o governo brasileiro a abandonar o Ginga pouco a pouco. E o principal deles é a pressão das emissoras e fabricantes de televisão, que não desejam ver mudanças no modelo atual de negócios ou, então, criar seus próprios, gerando lucro e valor exclusivo para seus próprios modelos de televisão.
É o caso, por exemplo, das smart TVs de marcas como Samsung e LG. Com suas próprias lojas de aplicativos e eventuais ofertas exclusivas, tais aparelhos contam com vantagens que levam os consumidores às lojas. A entrada do Ginga, porém, acabaria gerando uma concorrência das empresas consigo mesmas, já que o sistema de código aberto trabalharia com o das próprias TVs.
De outro lado, estão as transmissoras de canais de TV, que não desejam ver nenhuma mudança no modelo acontecendo. Gindre cita o início da adoção do Ginga, quando tais empresas acreditavam que modelos de interatividade e informações adicionais como as oferecidas poderiam distrair o espectador, levando-os para outras mídias e reduzindo a audiência.
No final das contas, o Ginga permaneceu com um único aliado, o próprio governo federal, que já cedeu a pressões das empresas para adiar sua implementação. E, aos poucos, a coisa só vai ficando mais difícil, com pouquíssimas empresas apostando na tecnologia e desenvolvendo aplicativos para ela, tornando o sistema cada vez menos interessante.
Se implementado, o Ginga será o middleware que fará a interface entre os hardwares das televisões digitais e sistemas de interação. O sistema permitiria o acesso à internet, compras diretas de produtos exibidos em programas de TV em uma loja virtual, o uso de aplicativos de streaming e diversas outras opções de softwares compatíveis.
Um outro dado vale a pena ser lembrado, e foi citado por Gindre em seu texto. Em 2003, o governo investiu cerca de R$ 100 milhões em universidades brasileiras para a realização de pesquisas sobre a digitalização da TV aberta. O Ginga, porém, acabou sendo a única solução oriunda dessa iniciativa a acabar aprovada, já que o sistema digital escolhido foi o japonês.
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