Desalento
15 de Agosto de 2014, 9:14 - sem comentários aindaÀs vezes oiço rir, é ’ma agonia
Queima-me a alma como estranha brasa
Tenho ódio à luz e tenho raiva ao dia
Que me põe n’alma o fogo que m’abrasa!
Tenho sede d’amar a humanidade…
Eu ando embriagada… entontecida…
O roxo de maus lábios é saudade
Duns beijos que me deram n’outra vida!
Ei não gosto do Sol, eu tenho medo
Que me vejam nos olhos o segredo
Que só saber chorar, de ser assim…
Gosto da noite, imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!
Florbela Espanca
Tome cinco
15 de Agosto de 2014, 8:59 - sem comentários aindaVi na postagem de um amigo nas redes sociais. Acho que vale a pena o registro aqui.
Tome cinco, camarada,
tome cinco dedos magros
dessa mão encaliçada,
que trabalha desde moça
pra se manter levantada,
símbolo de luta e de greve
da classe assalariada.
Tome cinco, camarada,
por soltar a voz no ar,
livre, despreocupada,
ganhar a vida na foice,
no martelo, na enxada;
te digo de coração:
tome cinco, camarada.
Tome cinco, camarada,
tome cinco pela vida,
mesmo sendo desgraçada:
fome, chuva, sede, sol,
tal criança abandonada.
Por cima de pau ou pedra,
tome cinco, camarada.
Tome cinco, camarada,
pela xícara de café
no frio da madrugada;
dizer-me palavra amiga
na hora mais esperada;
pelo teu companheirismo,
tome cinco, camarada.
Tome cinco, camarada,
por acreditar em mim,
quando eu era desacreditado;
pelo piso, pelo teto,
pela comida esquentada,
pela queda do regime,
tome cinco, camarada.
Tome cinco, camarada,
pela dose de cachaça
que nunca a mim foi negada;
pela passagem do ônibus,
quando eu estava sem nada,
pelo " vinte " do cigarro,
tome cinco, camarada.
Tome cinco, camarada,
por uma reforma agrária,
nova política aplicada,
pão e terra para aqueles
que nunca tiveram nada:
por um Brasil sem censura,
tome cinco, camarada.
(Costa Senna)