O "Tico-Tico", há cem anos comendo todo o fubá...
julio 6, 2017 17:36
O tico-tico está comendo todo o fubá há 100 anos.
Isso mesmo.
Uma das músicas brasileiras mais conhecidas em todo o mundo, na verdade, um clássico universal, o choro "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu, foi apresentado pela primeira vez em 1917, num baile na cidade natal de seu autor, Santa Rita do Passa Quatro, no Interior paulista, com o nome de "Tico-Tico no Farelo".
Demorou 14 anos para o pequeno pássaro decolar - a primeira gravação do choro é de 1931, pela Orquestra Colbaz, já com o nome que o consagrou, modificado porque existia um outro tico-tico, de autoria do violonista Canhoto (Américo Jacomino, autor de "Abismo de Rosas"), fazendo a farra no farelo.
Depois, ele voou alto e para bem longe.
O "Tico-Tico" atingiu o auge de seu sucesso na década de 40 do século passado - fez parte de seis filmes de Hollywood naquela época.
As gravações de Carmen Miranda (1945) e a de Ademilde Fonseca (1942), a Rainha do Chorinho, têm letras diferentes: a de Carmen é de autoria de Aloysio de Oliveira, o líder do Bando da Lua, e a de Ademilde, de Eurico Barreiro.
Em 1941, a organista americana Ethel Smith lançou o "Tico-Tico" para o mundo.
E o passarinho percorreu todo o planeta: entre muitos outros, o chorinho foi gravado por Dalida, Michel Legrand, Mantovani, Roberto Inglez, Ray Conniff, Perez Prado, Orquestra Tabajara, Henry Mancini, Stan Kenton, Charlie Parker, Tommy Dorsey, Paco de Lucia, Desi Arnaz, Les Brown, David Grisman, Waldir Azevedo, Garoto, Daniel Barenboim, Moreira Lima, Jacques Klein, Liberace, Lou Bega, Oscar Alemán, Paquito D'Rivera, Raphael Rabello, Armandinho, Paulo Moura, Pixinguinha, Ray Ventura, João Bosco, Benedito Lacerda, Orquestra Filarmônica de Berlim, Percy Faith, Marc-André Hamelin, Edmundo Ros, Klaus Wunderlich, Xavier Cugat, Edson Lopes, Ney Matogrosso e Roberta Sá.
O autor desse clássico, Zequinha de Abreu (José Gomes de Abreu - Santa Rita do Passa Quatro, 19 de setembro de 1880 — São Paulo, 22 de janeiro de 1935), teve a sua vida contada - e romanceada - no filme "Tico-Tico no Fubá", dirigido pelo italiano Adolfo Celi, com Anselmo Duarte, Tônia Carrero, Marisa Prado e Ziembinski no elenco, lançado em 1952.
Zequinha compôs inúmeros outros choros e diversas valsas que se incorporaram ao riquíssimo acervo da música popular brasileira, como "Os Pintinhos no Terreiro", "Branca", e "Tardes em Lindoia".
Mas nenhuma música se igualou, nem de longe, ao sucesso do travesso e comilão passarinho.
No vídeo, o Trio Boa Maré homenageia esse clássico centenário, com a letra de Eurico Barreiro:
Um tico-tico só
O tico-tico lá
Está comendo
Todo, todo, meu fubá
Olha, seu Nicolau
Que o fubá se vai
Pego no meu pica-pau
E um tiro sai
Então eu tenho pena
Do susto que levou
E uma cuia
Cheia de fubá eu dou
E alegre já voando e piando
Meu fubá, meu fubá
Saltando de lá para cá
Houve um dia porém
Que ele não voltou
O seu gostoso fubá
O vento levou
Triste fiquei quase chorei
Mas então vi
Logo depois não era um
E sim já dois
Quero contar baixinho
A vida dos dois
Tiveram ninhos
E filhinhos depois
Todos agora pulam ali
Saltam aqui
Comendo todo o meu fubá
Saltando de lá para cá
Mas afinal, quem elegeu esse bando?
julio 6, 2017 17:32Tem horas em que vejo pensando com os meus botões: mas, afinal, por que existe tanta gente indignada com os deputados, com os senadores, com o governador, com presidente da República, ou mesmo com o prefeito e os vereadores de sua cidade?
Está certo que, descontando as exceções, os parlamentares e os chefes de Executivo do Brasil são, com a maior boa vontade que possamos ter, deploráveis.
Num chute bem dado, é possível dizer que 90% deles são semialfabetizados, defendem seus próprios interesses, não fazem distinção entre o público e o privado, foram eleitos sem respeitar a legislação eleitoral, e usam o cargo como mero balcão de negócios - são corruptos, ou picaretas, como queiram.
Mas, insisto com os meus botões, quem votou nessa súcia, ou seja, quem botou essa corja nas câmaras municipais, assembleias legislativas, Congresso Nacional, governos estaduais ou nas prefeituras?
O povo brasileiro, responde o Grilo Falante, aquela voz interior que existe para nos apoquentar sempre que dúvidas desconfortáveis nos assaltam.
"Eles não são fruto de geração espontânea", me explica o hóspede indesejado.
Daí em diante, o comichão me rói o cérebro e, vítima de enorme desconforto, chego à conclusão que, se esse povo vota nesses desclassificados, eleição após eleição, é porque confia neles, acha que eles merecem representá-lo, está contente com o "trabalho" que fazem - ou então não dá a menor importância a eles ou à sua atuação.
Seja como for, os parlamentares e os chefes de Executivo brasileiros representam o que é o povo deste imenso país - uma nação, afinal, é formada por seus cidadãos, com suas virtudes e defeitos.
A essa altura, meus botões me viram as costas, tampam seus ouvidos, e se recusam a ouvir a minha peroração.
Não querem ser cúmplices, nem mesmo testemunhas, de tamanho sacrilégio.
Afinal, quem sou eu para criticar o povo brasileiro, tão elogiado por poetas, escritores, intelectuais, pessoas de muito mais valor do que este ordinário indivíduo?
E, sem essa audiência, me calo, certo de que, se falei muita bobagem, sempre haverá um Tiririca, um Bolsonaro, um Dória, qualquer um desses ilustres representantes da classe política, para me contrariar com seus notáveis exemplos. (Carlos Motta)
Mitos da austeridade: o caso de Portugal
julio 6, 2017 10:41“A austeridade foi um fracasso para Portugal, como também representou para todos os outros países em que se tentou esta mesma política.”
Essa é a conclusão do prêmio Nobel em Economia, Joseph Stiglitz, ao analisar o período em que Portugal aplicou ao “pé da letra” a cartilha da austeridade.
Para “salvar” a economia e as contas públicas, devastadas pela crise econômica mundial de 2008, o governo português recorreu ao empréstimo de 78 bilhões de euros concedido pela troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI) e implantou o seu pacote de ajustes de 2011 a 2014, executando medidas que diminuíram o gasto público, aumentaram a carga tributária, reformaram o mercado de trabalho, dificultaram o acesso ao crédito e ainda cortaram vários benefícios sociais e o número de seus beneficiários.
Assim, seguindo a lógica da contração fiscal expansionista, o governo português cortou em até 10% os salários dos funcionários públicos, cortou parte do fornecimento de medicamentos e de transporte de doentes, aumentou em 20% o preço dos transportes públicos, aumentou o imposto de renda e o imposto sobre o valor adicionado, congelou o salário mínimo por 4 anos, facilitou a demissão de funcionários nas empresas privadas, reduziu o prazo e o valor do seguro desemprego, aumentou a idade mínima para a aposentadoria além de muitas outras medidas de austeridade.
Como consequência do ajuste, Portugal agravou ainda mais a sua situação fiscal: a dívida pública aumentou de 96,2% do PIB em 2010 (antes do pacote) para 130,6% em 2014 e o déficit público, apesar de menor do que no auge da crise mundial (2009 e 2010), não se reduziu de maneira significativa, ficando na média de 6,3% entre 2011 e 2014.
Além disso, o desemprego aumentou durante o período da austeridade, atingindo 16,4% da população economicamente ativa em 2013 e a economia, que estava se recuperando em 2010, entrou em recessão, com o PIB apresentando taxas negativas em três anos seguidos, sendo a maior queda em 2012, de -4,0%.
A situação econômica portuguesa só começou a melhorar depois que o país abandonou o programa de ajuste da troika, em junho de 2014, e após a eleição do primeiro ministro António Costa em 2015, com um programa de governo contrário à austeridade.
Desde então as medidas passaram a ser de estímulo à economia, com destaque para o descongelamento do salário mínimo, a recomposição dos salários do funcionalismo público, a retomada de alguns benefícios sociais excluídos entre 2011-2014, o incentivo ao consumo, a revisão dos aumentos nos impostos, o aumento dos subsídios para as empresas contratarem pessoas há muito tempo desempregadas, além de medidas para fortalecer os bancos públicos portugueses.
Ao contrário do que a cartilha da austeridade fiscal defende, são as medidas de estímulo econômico que tanto têm feito a economia portuguesa crescer, quanto têm melhorado as contas públicas do país e seu nível de emprego. O PIB português cresce há 14 trimestres consecutivos, atingindo 2,8% no primeiro trimestre de 2017, o desemprego se reduziu a 10,1% nesse mesmo trimestre e o déficit público caiu em mais de 5 pontos percentuais do PIB desde a supressão das medidas de austeridade e, em 3 anos, chegou a 2,0% do PIB – o nível mais baixo desde a transição de Portugal para a democracia, em 1974. (Brasil Debate/Fundação Perseu Abramo)
Crédito está cada vez mais difícil
julio 5, 2017 17:47O Indicador de Uso do Crédito, apurado pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), revela que 25% dos brasileiros tiveram crédito negado no mês de maio ao tentar fazer uma compra a prazo ou contratar algum tipo de empréstimo ou financiamento. A principal razão para a negativa foi o fato de estarem com o nome inserido em cadastros de inadimplentes (10%) ou a falta de comprovação de renda (4%).
Dado que reforça o comportamento mais restritivo por parte dos credores é que 46% dos brasileiros consideram "difícil ou muito difícil" contratar empréstimos ou linhas de financiamento. Apenas 13% dos consumidores avaliam o processo como fácil.
De forma geral, seis em cada dez (58%) consumidores brasileiros não utilizaram nenhuma modalidade de crédito no mês de maio, como empréstimos, linhas de financiamento, crediários e cartões de crédito. O restante (42%), porém, mencionou ao menos uma modalidade a qual tenham recorrido no período. Os cartões de crédito (35%) e os cartões de loja e crediário (16%) foram as modalidades mais usadas no último mês. O cheque especial foi citado por 7% da amostra. Há ainda, 5% de consumidores que recorreram à empréstimos e 4% que buscaram financiamentos.
Em maio, o Indicador de Uso do Crédito, que mensura a propensão ao consumo, marcou 27,5 pontos, estável em relação aos 27,6 pontos observados em abril. A escala do indicador varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, maior a disposição do consumidor e tomar crédito.
“Com a inadimplência em patamar elevado, desemprego crescente e recessão ainda longe do fim, tanto bancos como financeiras têm restringido o crédito no mercado, o que dificulta a contratação por parte do consumidor. Além disso, as taxas de juros, ainda muito elevadas, acabam inibindo o apetite do brasileiro na busca de recursos financeiros para consumir”, explica o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior.
Brasileiro vive de "bicos"
julio 5, 2017 17:40A taxa de desocupação foi estimada em 13,3% em maio de 2017, permanecendo relativamente estável em relação ao que foi apresentado em 2017 até o momento. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, quando a taxa foi estimada em 11,2%, o quadro foi de elevação (2,1 pontos percentuais). Essa foi a maior taxa de desocupação para um período terminado em maio desde o início da série da pesquisa, em 2012. Infelizmente, ainda levará algum tempo para que o mercado de trabalho se recupere da crise, na realidade, será uma das últimas variáveis macroeconômicas a mostrar resposta à recuperação da atividade econômica.
O que chama mais atenção nesse número são os detalhes, envolvendo as pessoas empregadas (população ocupada, na terminologia do IBGE). Desde os primeiros efeitos da crise sobre o mercado de trabalho, a população ocupada com carteira de trabalho (emprego formal) caiu consideravelmente, enquanto as pessoas que trabalham por conta própria (vivem a base de "bicos", autônomos), têm crescido muito: em maio de 2014, havia 21,08 milhões de pessoas trabalhando dessa forma, enquanto maio de 2017, 22,37 milhões.
Em 2017, entre abril e maio, a população que trabalha por conta própria cresceu 0,4%, mas ao comparar o número de maio com o mesmo mês do ano anterior, observa-se uma queda de 2,6%. Isso pode ser um bom sinal se for analisada a população que se intitula empregador (trabalha explorando o seu próprio empreendimento, com pelo menos um empregado): aumentou em 9,3% entre 12 meses. Ou seja, muita gente está se ocupando ao abrir empreendimentos.
Pontua-se que a agricultura, construção civil e indústria foram os ramos que mais perderam trabalhadores, e não tiveram nenhuma reação até o momento.
O rendimento médio real efetivo do trabalho principal foi de R$ 2.047, um aumento de 1,4% ao comparar com maio do ano passado, o qual mostra que em alguma medida, os rendimentos nominais estão aumentando mais do que a inflação. (Francisco Lira/Lafis Consultoria)








