Coluna Econômica - 12/06/2013
Há uma enorme dificuldade na gradação da crítica econômica.
É evidente que há problemas na condução da política econômica. Aqui mesmo tenho apontado esses problemas.
A partir dessa constatação, não há limites para se forçar a barra.
A manchete principal da Economia do Estadão de ontem é sobre a relevante informação de que o "risco Brasil" é o maior... desde junho do ano passado, refletindo o aumento da desconfiança em relação aos fundamentos da economia.
Se em junho do ano passado, em perfeitas condições de vôo, o risco Brasil era superior ao de hoje, certamente o fato que estimulou o risco é externo à economia brasileira.
O "risco Brasil" é a diferença entre a remuneração dos títulos do Tesouro americano e os brasileiros.
RBr = T Br - T EUA
Onde RBr é o Risco Brasil, T Brasil é a remuneração do título Brasil e T EUA a remuneração do título nos EUA. Vou montar o exemplo em cima de números redondos, para facilitar a explicação.
Como estava antes? O RBr estava em 173 pontos (ou 1,73 de diferença). O T EUA em 1,00 e o T Br em 2,73:
1,73 = 2,73 - 1,00
Com os dados da recuperação da economia norte-americana, há a expectativa de que o FED (o Banco Central dos EUA) deixe de lado a política monetária expansionista - e de juros baixos - e comece a elevar os juros. Prevendo esse movimento, os investidores internacionais passam a analisar o "risco" dos demais países em relação ao futuro patamar dos títulos norte-americanos.
Digamos que eles estimem que a taxa dos títulos dos EUA aumentarão para 1,37. Imediatamente eles farão o ajuste e estimarão um novo piso para o título Brasil:
Voltemos à nossa formulinha básica:
RBr = TBr - TEUA
ou T Br = RBr + TEUA
Se o mercado acredita que o T EUA passará para 1,37, mudará o que ele espera pagar pelo
T Br:
T Br = 1,73 + 1,35 = 3,08
Ou seja, mantido o mesmo risco Brasil de 1,73, a remuneração básica do T Br teria que aumentar para 3,08 meramente para acompanhar o aumento da T EUA.
Acontece que, na hora de medir o "risco Brasil", o mercado não faz esse ajuste. Compara a expectativa dos agentes com o novo cenário com os juros americanos antes da elevação.
A conta fica assim:
R Br = 3,08 - 1 = 2,08
Para o mercado não há problema porque ele sabe fazer a leitura. Sabe que esse aumento do risco Brasil reflete apenas a expectativa de elevação dos títulos norte-americanos.
Como nossa imprensa tem dificuldades para tanto, considera que esse aumento de 173 para 208 significou "aumento da desconfiança" em relação ao Brasil. Mas o fenômeno alcançou todos os mercados emergentes.
Nos últimos 30 dias, o risco Colombia subiu 45%, o do Peru 35%, o da África do Sul 31%, o do México 26% e o da Rússia 19%.
***
É evidente que a elevação das taxas norte-americanas traz um complicador adicional para o Brasil. Encarecerá a atração de capitais externos, em um momento em que a queda do superávit comercial, as perspectivas de queda ainda maior com as exportações de commodities, exigirão recursos cada vez maiores.
Mas esta percepção ainda não foi incorporada ao chamado "risco Brasil". A única coisa incorporada foi o terrorismo econômico midiático.
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