Coluna Econômica - 10/06/2013
A decisão da agência de risco Standard & Poors – de sinalizar a possibilidade de rebaixar a nota de risco do Brasil – é a chamada crônica da trombada anunciada.
É apenas ameaça de rebaixamento e não consta que – com exceção das contas externas – a economia brasileira esteja às portas da UTI. Mas reflete o desconforto geral com a falta de estratégia e de comunicação do Ministério da Fazenda e do Banco Central.
Há meses alerta-se, aqui, para essa desmoralização gradativa da Fazenda, pela insuficiência do discurso de Guido Mantega, pelo amadorismo das decisões pontuais.
Mas o governo Dilma Rousseff desenvolveu uma insensibilidade para as críticas e para os alertas que já beira a irracionalidade. Assim como em determinado período do governo Itamar, ficarão apenas os que criticam por criticar. Os que pensam a crítica como instrumento de aprimoramento estão prestes a desistir, por inútil.
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A opinião da S&P é relevante, ao menos para Mantega, Tanto que a agência o alertou em maio e, imediatamente, Mantega deu início a uma série de procedimentos, visando impedir a revisão sobre o Brasil.
Um dos procedimentos mais polêmicos da Fazenda foi em relação ao superávit primário (a economia feita para pagamento de juros) em 2012 e 2013. A taxa Selic havia caído, o PIB estava quase se arrastando. Qualquer teoria econômica racional justificaria a redução do esforço fiscal – em uma tentativa de atuar anti-ciclicamente, isto é indo contra o movimento de resfriamento da economia.
Dentro da equipe econômica, o Secretário de Política Econômica Nelson Barbosa defendeu a explicitação da redução do esforço fiscal. Ou seja, definir-se-ia uma meta menor e Guido explicaria essa decisão racionalmente ao mercado.
Em vez disso, Guido optou pela sugestão do Secretário do Tesouro, Arno Augustin, de mascarar a redução do superávit com uma série de manobras fiscais. Com os olhos do mundo sobre a economia brasileira julgaram ser possível passar a perna no mercado global.
Quando as manobras vieram a público, mataram o principal atributo de um Ministro da Fazenda: sua credibilidade.
Em um governo racional, Guido seria substituído por um novo Ministro, técnica e operacionalmente mais sólido, que anunciaria como primeira medida a volta à realidade fiscal.
Em vez disso, Guido conseguiu a demissão de Nelson Barbosa – apesar de até as pedras do Palácio do Planalto saberem que o que motivava era ciúme intelectual.
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A saída de Barbosa foi o petardo final na credibilidade da Fazenda. Mesmo assim, Guido insistiu na manutenção dos expedientes toscos. Como o de inflar as expectativas de crescimento do PIB, para trabalhar em cima de uma meta fiscal mais alta – e ilusória.
Quando soube da possível reavaliação da S&P, com a falta de convicção dos fracos, imediatamente deu meia volta. Nas discussões seguintes, Arno foi voto vencido.
E Guido falou da intenção de voltar ao realismo fiscal preconizado por Barbosa.
Em vão. Na quinta-feira saiu a nota da S&P. Longe de representar uma condenação da economia brasileira, a decisão representou a condenação da equipe econômica.
Uma troca inteligente da equipe mataria de imediato a onda que começa a se formar contra o Brasil. Mas a teimosia é maior que a prudência.
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