Coluna Econômica - 27/8/2013
É curiosa e assustadora a incapacidade dos partidos políticos brasileiros de intuírem os novos tempos. Nem mesmo quando os novos tempos aparecem de frente, mortais e fulgurantes como um iceberg gigante.
A Constituição de 1988 consagrou – no papel – formas expressivas de participação popular através das Conferências Nacionais, do modelo SUS (Sistema Único de Saúde) e outros estatutos de cidadania.
Os primeiros anos da Nova República foram tomados pelo fantasma da hiperinflação. Mesmo assim, houve respiros de organização na sociedade civil, gradativamente bebendo os ares democratizantes e se organizando.
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Fernando Collor foi o primeiro a intuir os novos tempos, de descentralização, abertura para o exterior, manifestação dos “descamisados”. Mas, com seu voluntarismo, foi um desastre político.
Já Fernando Henrique Cardoso pegou a bandeira da estabilidade econômica. O Plano Real empalmou de tal maneira as aspirações nacionais do momento, que a oposição não conseguiu encontrar um discurso minimamente eficiente.
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A insensibilidade social de FHC – mais os erros de gestão na questão energética – abriram espaço para o novo discurso, calcado no social e na inclusão. Lula foi eleito sob essa bandeira e consolidou-a com a universalização dos programas sociais.
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Nesse ínterim, a sociedade civil foi ganhando cada vez mais consistência, agora impulsionada pelo fenômeno das redes sociais. Desde os anos 90, movimentos sociais ganharam força com a Internet. Nos anos 2.010 foi a vez da classe média se mostrar participante.
Desde o advento da chamada nova classe C, discute-se nos dois lados – PT e PSDB - o próximo tempo do jogo. Ao construir o mercado de consumo de massa, o lulismo definiu o jogo e o vencedor dessa etapa. Mas abriu as portas para a segunda etapa, um novo quadro político radicalmente diferente do anterior.
Esta é a riqueza dos processos sociais e econômicos. Há milhões de excluídos. Montam-se programas de inclusão. Incluídos, os novos cidadãos não tem a mesma natureza do pré-inclusão. Tornar-se-ão cada vez mais exigentes, cada vez mais ansiosos por democracia – isto é, pela participação nos destinos do país. Ora, essa é a dinâmica histórica das democracias.
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As manifestações de junho deixaram esse quadro bem à mostra. Mas todos – repito TODOS – os atores políticos, da presidência aos pré-candidatos, reduziram as manifestações meramente à questão da mobilidade e da qualidade dos serviços públicos.
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É muito mais que isso.
No governo Lula houve alguns ensaios de participação popular ou participação qualificada.
Esse novo modelo – aberto (ainda que de forma limitada) à colaboração externa - tornou obsoletas as políticas de gabinete praticadas na imensa maioria da administração pública.
Mas não se avançou. Houve um refluxo no governo federal e nenhum avanço nos governos estaduais. Além de Dilma Rousseff, nenhum dos pré-candidatos – Aécio Neves, Eduardo Campos ou Marina Silva – entendeu a nova voz das ruas e das redes sociais.
Não se quer apenas mais ônibus; o que se quer é participação.
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